quinta-feira, 31 de julho de 2014

Caso Sócrates-Monte Branco: contra-informação, ponto! - e vírgula





«Et absterget omnem lacrimam ab oculis eorum, et mors ultra non erit, neque luctus neque clamor neque dolor erit ultra, quia prima abierunt.» - Ap 21: 4

Abordo neste poste o caso do alegado envolvimento de Sócrates no caso Monte Branco referido pela revista Sábado, de 31-7-2014, e as suas sequelas, em cinco capítulos: a notícia da Sábado do alegado envolvimento de Sócrates no caso Monte Branco; o «esclarecimento» da Procuradoria-Geral da República; o comentário da entrevista de José Sócrates à RTP, em 30-7-2014; a vírgula sistémica; e a motivação deste caso. O poste é longo, mas creio que é melhor para o leitor ter a informação junta

Recomendo ainda a leitura do poste do José, no blogue da Porta da Loja, «A Visão está Segura...e a Sábado especula com boatos. José Sócrates foi logo à RTP1...», de 30-7-2014.


A notícia do alegado envolvimento de Sócrates no caso Monte Branco

A revista Sábado publicará hoje, 31-7-2014, uma reportagem intitulada na capa «Sócrates é suspeito no caso Monte Branco», e desenvolvido em páginas interiores com o título «Sócrates apanhado na rede do Monte Branco». Na capa, o lead aponta para que
«Depois de Ricardo Salgado, o Ministério Público pondera deter o ex-primeiro-ministro para interrogatório. Está sob vigilância há vários meses e já lhe quebraram o sigilo bancário e fiscal».
Baseado nesta reportagem, o Expresso, de 30-7-2014, avança:
«Contra Sócrates existirão "indícios de crimes de natureza fiscal e económica".
A equipa de investigadores junta, segundo a revista, peritos das Finanças e vários procuradores, liderados pelo procurador Rosário Teixeira. Têm trabalhado neste caso "sob rigoroso sigilo". Na origem da investigação estarão "fluxos financeiros que se suspeita atingirem milhões de euros".
 Apesar do título "Sócrates apanhado na rede do Monte Branco", "a Sábado não conseguiu apurar se este dinheiro suspeito, ou parte dele, que foi sobretudo encaminhado para contas na Suíça, é efetivamente de José Sócrates", lê-se no texto em causa.
Também estará sob suspeita José Paulo Bernardo Pinto de Sousa, primo de José Sócrates que foi ouvido no âmbito do caso Freeport, e um amigo do ex-líder socialista, seu conterrâneo da Covilhã, que "comprou as casas da mãe de Sócrates". Trata-se do empresário Carlos Manuel dos Santos Silva, que em 2011 e 2012 comprou três casas da mãe do ex-PM.»

Portanto, mais uma notícia que envolve os três da vida airada: José Sócrates; o seu amigo testa-de-ferro da Cova da Beira Carlos Santos Silva; e o seu primo José Paulo Bernardo Pinto de Sousa, aka «o Bernardo» ou «o Gordo».


O «esclarecimento» da Procuradoria-Geral da República

Pouco depois da reportagem da Sábado ser conhecida, a Procuradoria-Geral da República (PGR) emitiu, ontem, 30-7-2014, ao fim da tarde, o seguinte comunicado, cujo fac-simile publico abaixo:
«Esclarecimento
Processo Monte Branco – José Sócrates
Na sequência de notícias vindas a público nas últimas horas, e ao abrigo do disposto no art. 86.º, n.º 13, al. b) do Código de Processo Penal, esclarece-se que José Sócrates não está a ser investigado nem se encontra entre os arguidos constituídos no Processo Monte Branco.

Lisboa, 30 de julho de 2014»

O Gabinete de Imprensa



Vamos, então, ler com atenção e ver o que o «esclarecimento» da PGR diz e o que não diz, em oito pontos:
  1. O «esclarecimento da PGR tem por título «Processo Monte Branco - José Sócrates». O esclarecimento, com este título, não parece abranger, por exemplo, qualquer processo que tenha eventualmente resultado de uma certidão extraída desse processo. E nada nos diz sobre outros eventuais processos: apenas sobre este.
  2. A nota atesta que «José Sócrates não está a ser investigado nem se encontra entre os arguidos constituídos no Processo Monte Branco». Isto é: no Processo Monte Branco, José Sócrates não está a ser investigado nem foi constituído arguido. Isso não significa que Sócrates não está a ser investigado noutro processo. Mas se, sistemicamente, se torcer o esclarecimento da PGR e se introduzir uma vírgula (a vermelho) -
    «José Sócrates não está a ser investigado, nem se encontra entre os arguidos constituídos no Processo Monte Branco».
    então, nesse caso, indicar-se-ia que Sócrates não estava a ser investigado neste e em qualquer outro.
  3. O «esclarecimento» atesta que, no processo Monte Branco, José Sócrates não está a ser investigado: isso não significa que não tenha sido investigado nesse processo ou que não virá a ser.
  4. O esclarecimento é omisso sobre o amigo e conterrâneo Carlos Manuel Santos Silva e o primo José Paulo Bernardo Pinto de Sousa - referidos na reportagem da Sábado, e o beneficial owner de quaisquer empresas offshore, de títulos ou de fundos, que tenham sido alegadamente transferidos para o estrangeiro ao arrepio da lei, dada a sua natureza, ou quaisquer outros factos de relevo judicial referentes a estes indivíduos.
  5. Não se pode concluir, finalmente, que os factos que justificariam a eventual detenção para interrogatório, no acautelar da eventual imposição de medidas de coação por juiz de instrução, sejam estes que a revista refere ou outros que, no decurso de eventual investigação, tenham ressaltado do comportamento deste indivíduo oude outro qualquer.
  6. O esclarecimento é omisso sobre qualquer quebra de sigilo bancário e de sigilo fiscal que tenham sido, ou não, mandada executar por juiz de instrução habilitado, a pedido do Ministério Público, relativamente a José Sócrates, pessoas a si ligadas ou qualquer outra pessoa.
  7. O esclarecimento é omisso sobre a existência, ou não, de qualquer mandado de busca da casa (ou da casa de recuo em que este, ou qualquer, indivíduo pernoite), ou de outras instalações, de quem quer que seja, no âmbito deste processo ou de outro.
  8. O «esclarecimento» é ainda omisso sobre a iminência, ou não, de qualquer detenção, de qualquer pedido de detenção pelo Ministério Público ou da emissão de um mandado pelo juiz de instrução de qualquer processo que seja.

Comentário da entrevista de José Sócrates à RTP, em 30-7-2014

Encadeado nesta sequência, José Sócrates foi ao Telejornal das 20 horas na RTP (30-7-2014 - dos 5'15'' aos 15'45''), com um intervalo para outra peça pelo meio, contestar a notícia da Sábado perante o pivot do jornal, José Rodrigues dos Santos. Sócrates já tinha sido confrontado diretamente pelos jornalistas daquela revista, como é deontológico fazer. Comento a entrevista em vinte pontos:
  1. Sócrates estava bastante mais inseguro do que é costume (aliás, cerca dos 6'30'' do video do telejornal vêm-se as mãos de Sócrates a revolverem-se nervosamente).
  2. Na entrevista, perante José Rodrigues dos Santos, pareceu conhecer bem a reportagem. 
  3. Mesmo assim, Sócrates começou por manifestar a sua estupefação com as notícias. Aquilo que designou de «campanhas de difamação». «Uma verdadeira canalhice» queixou-se, no registo grosseiro do costume quando responde a factos críticos.
  4. Sintomaticamente, descreveu a reportagem, dizendo que se tratava de inventar uma história, colocá-la nos jornais para ser desmentida pelo Ministério Público logo a seguir...
  5. A terminologia de código penal que empregou na explicação que deu do que é o caso Monte Branco sugere apoio jurídico cuidado.
  6. Desmentiu que tivesse contas em países estrangeiros e paraísos fiscais. Diz que apenas tem uma conta em Portugal na CGD e teve outra em Paris também na CGD, quando esteve em Paris a estudar. Acrescentou: «eu só tenho uma conta bancária, há mais de 25 anos». Os «25 anos» parecem querer acomodar o facto dos 263 cheques em branco de uma conta sua no Totta e Açores, datados de 1991, encontrados pelo agricultor Nuno Caçador, escondidos na escrivaninha de uma casa que pertenceu ao seu primo Bernardo, alias «o Gordo» - segundo revelou o semanário Sol, de 5-4-2014. Já antes, em entrevista à RTP,  segundo o CM, de 5-4-2013, Sócrates insistiu no que agora repete: que há mais de 25 anos que só tem uma conta bancária, na CGD. Se essa notícia do Sol está certa, e não foi desmentida que eu visse, abstraindo da conta de Paris, mais uma vez Sócrates não disse a verdade.
  7. Diz que passada a 'sabática, está «de novo a trabalhar). Não disse em quê. Será como «presidente do Conselho Consultivo para a América Latina da Octapharma» (sic), empresa do seu vizinho Paulo Castro na Braancamp, como explica o José..
  8. Por cautela, justifica: «porque admitindo... admitindo... admitamos que pudesse ser verdade. Se fosse verdade, era absolutamente injusto porque eu não tenho capitais, nunca tive contas no estrangeiro, não conheço ninguém da Akoya, não conheço ninguém de que... que costuma ser referenciado a propósito do no caso Monte Branco»... E mais à frente, aproveita, para dizer que,
    «mesmo que fosse verdade, é um completo absurdo, porque se estamos a falar de um caso de 'ocultação de capitais', é preciso ter capitais para os ocultar. Eu nunca tive capitais. Sempre vivi do meu trabalho, como vivo hoje. Só tenho uma única conta bancária»...
  9. Refere que na campanha que descreveu sistematicamente como «canalhice», o pretendem associar ao caso Ricardo Salgado... E mais à frente identifica como culpado um grupo ligado à comunicação social (a Cofina, do CM, Sábado, etc., grupo que, todavia, não nomeia). E novamente o papo jurídico de que o CM o pretendeu afetar na sua honra, na sua consideração.
  10. Sócrates não aceitou responder sobre alguns factos que Rodrigues dos Santos citou da notícia da Sábado (a empresa do seu amigo Carlos Santos Silva alegadamente envolvida e o alegado envolvimento do primo). 
  11. À pergunta sobre o alegado envolvimento, segundo a revista, do amigo, diz sobre Carlos Manuel Santos Silva que «sobre a sua vida empresarial nada tenho a ver». Recorde-se que, segundo José António Cerejo, no Público, de 17-10-2011, José Sócrates não foi acusado, nem sequer arguido no famoso caso do aterro sanitário da Cova da Beira, onde a Conegil do seu amigo Carlos Manuel Santos Silva é referida; como também nada teve a ver como assim diz, nada teve a ver com adjudicações de empreitadas à dita Conegil e à Constrope do seu amigo Santos Silva quando Sócrates era secretário de Estado do Ambiente e ministro do Ambiente no primeiro e segundo Governo Guterres.
  12. E sobre o primo, diz que tem a certeza de que a sua família (de Sócrates), «não faz tráfico de capitais nem movimenta largas somas»... Todavia, o CM, de 6-9-2011, refere, com base em extratos de contas, que a família (um tio, uma tia e primos, Carvalho Monteiro) de Sócrates tinha movimentado 383 milhões de euros no offshore de Gibraltar... Ainda que o ramo da família seja outro, parece difícil, mesmo a um José Sócrates, avaliar 383 milhões de euros como pequena soma...
  13. Diz que um jornalista (da Sábado, presume-se) lhe telefonou a dizer que estava a ser investigado pela Polícia Judiciária. E argumenta que se constrói uma notícia falsa com o objetivo de o envolver num caso que está agora a ser divulgado (Monte Branco).
  14. Diz que o Correio da Manhã o procurou apresentar como «alguém que tinha uma vida luxuosa em Paris», o que, alega, «não é verdade». Mas note-se que bitola de Sócrates parece muito enviesada: ele considera que 383 milhões de euros movimentados pela sua família não são «largas somas» - de outro modo não diria o que disse agora.
  15. Diz que a campanha se fez para «meter um socialista qualquer nesta história do Monte Branco». Ora, como atacou, finalmente com força, António José Seguro, em entrevista à revista Visão, que sai nesta quinta-feira, 31-7-2014:
    "Há, em Portugal, um partido invisível, que tem secções sobretudo nos partidos de Governo, que capturou partes do Estado, que tem um aparelho legislativo paralelo através dos grandes escritórios de advogados e influencia ou comanda os destinos do País. (...)
    Muita gente, logo no início, disse: "com o Costa é que a gente lá chega". Não interessam o projeto, as ideias, o que as pessoas fizeram durante três anos, a disponibilidade... Para algumas pessoas, no interior do PS, interessa é aquele que dá poder e o distribui.
    Comigo, há uma separação clara entre política e negócios. Não tolerarei que qualquer membro do meu Governo tenha a mínima suspeita. Na dúvida, deve demitir-se." "Não podemos ter um País de meias-tintas, meias verdades, de "uma mão lava a outra". Isso adensa o clima de podridão. (...)
    A minha linha de fratura é entre a nova e a velha política. A velha política que mistura negócios, política, vida pública, interesses, favores, dependências, jogadas e intriga. O que existe no PS mais associado a essas coisas é apoiante de Costa.»
  16. Diz que não conhecvia a empresa que terá feitro esses movimentos de capitais. E quando José Rodrigues dos Santos ia mostrar o nome da «empresa do seu amigo »(Carlos Santos Silva», atalhou para lhe dizer, tecnicamente, que «não estou em condições de lhe confirmar isso»... Diz que não leu a notícia. E justificou-se: «isso tem de perguntar ao meu amigo, mas eu tenho a certeza que entre os meus amigos não estão criminosos...». 
  17. À pergunta se vai processar a empresa da Sábado que publicou a notícia é evasivo: «Bom... bom... eu... sabe uma coisa... repare...». E menciona que a campanha o pretende associar a Ricardo Salgado e a outros que estão a ser investigados. E repuxa, negando pela terceira vez, que são «coisas absurdas». «eu nunca tive capitais para serem transferidos para o estrangeiro; nunca tive contas no estrangeiro», a não ser essa conta na CGD em Paris.
  18. E, face á insistência do jornalista sobre se tenciona processar a Sábado, diz: «eu tenciono e vou usar todos os meios para me defender». 
  19. Diz que veio ao telejornal das 20 horas da RTP porque «sabia que vocês iam divulgar essa notícia». Uma notícia que realça e brandindo o atestado equívoco, «foi imediatamente desmentida pela PGR».
  20. E conclui que «isto são puras campanhas de difamação que fazem lembrar outros métodos que não o jornalismo». Talvez trabalho de contra-informação?

A vírgula sistémica

A dúvida metódica sobre a posição dos média relativmente a este caso foi rapidamente esclarecida pela vírgula sistémica anfibológica.

Atente-se que no «esclarecimento» da Procuradoria-Geral da República sobre o alegado envolvimento de Sócrates no processo Monte Branco, de 30-7-2014, não existe vírgula na frase:
«esclarece-se que José Sócrates não está a ser investigado nem se encontra entre os arguidos constituídos no Processo Monte Branco». 

Porém, essa vírgula marota, de ambiguidade sintática (ao modo de Eats, Shoots and Leaves, 2003), aparece nalguns meios, modificando o sentido da frase: Rádio Renascença (Et tu, Brute?!...), Expresso e DN. Noutros meios não há ambiguidade: CM e Observador. Conforme demonstro abaixo.









 


A motivação

Após a série de elementos que se juntaram neste poste, é o momento de procurar discernir a motivação deste caso. E a pergunta a fazer é: cui bono (a quem beneficia)?

Não são inéditos os fenómenos preventivos de vitimização por parte de alvos possíveis da polícia e do Ministério Público em função de denúncias ou de meios de prova a que se aceda por investigações conexas. Lembro o caso das entrevistas chorosas de Carlos Cruz (a primeira - que não consegui descobrir e a segunda na SIC), antes de ser detido e presente ao juiz de instrução. Portanto, não é simplesmente o protesto de inocência que determina que seja vítima quem se apresenta como tal.

Releia-se o comentário acima e notem-se os factos da entrevista de José Sócrates na RTP, de ontem, 30-7-2014. Suponha-se, por hipótese, que existe realmente uma investigação a pessoas muito próximas do ex-primeiro-ministro por factos relacionados com branqueamento de capitais ou quaisquer outros do universo jurídico da corrupção. Valorizem-se ainda as informações que correm nos círculos socialistas da capital de que com a queda de Ricardo Salgado, se aperta o cerco ao amigo de Paris de quem Ricardo não se devia esquecer (CM, 21-10-2012), o ex-primeiro-ministro José Sócrates, que seria o próximo a ser detido. Creia-se, então, por um instante que, sobre este assunto específico, ou qualquer outro que tenha resultado de denúncias, buscas ou elementos de prova, relativos ao BES/GES ou um galho do Monte Branco, se aproxima o seu emaranhamento nas malhas da justiça.

E desdobro a pergunta: a notícia da Sábado, aproveita à investigação do caso ou aproveita ao alvo? Creio que aproveita ao alvo.

Registe-se que a notícia forçou a emissão de um esclarecimento da própria PGR, certamente após consulta ao procurador Rosário Teixeira ou outro procurador do DCIAP que dirija um eventual inquérito. Note-se que, no atual contexto jurídico-político-social, não se verifica um constrangimento da investigação do Ministério Público e da polícia a setores sistémicos do tabuleiro do poder, que levasse qualquer interveniente a jogar para nulos uma cartada que pode ganhar o king.

Ora, em qualquer caso, lançar para os média informação prematura  e incompleta sobre o caso, pode provocar o aborto do processo, elimina, desde logo, o efeito de shock and awe da busca (na casa de recuo onde pernoitar) e detenção e, principalmente, granjeia apoio dos indefetíveis no palco dos média, onde a verdadeira batalha se trava e decide.

Mas se esta é a conjetura, e sem desperdiçar, na entrevista que acima tentei descodificar, as pistas sobre a realidade dos factos de que é padrão um certo comportamento face à verdade exibir, por catarse humana do sentimento de implicação, existem casos recentes em que a contra-informação oficial de controlo socialista forneceu indícios enganosos e falsos, para transtornar investigações judiciais e virar a opinião pública a favor dos entalados? Sim. No processo Casa Pia isso foi uma constante; e já no consulado socratino, nos processos da licencaitura na Universidade Independente, Freeport e Face Oculta. No processo Face Oculta, nas fases mais duras de decisão, nomeadamente sobre o inquérito-crime de atentado contra o Estado de Direito (com a tentativa de compra, a três meses das eleições legislativas dos meios de comunicação social independentes, TVI, CM e Público, pelo socratismo atuante), a contra-informação oficial chegou ao cúmulo de forjar - e publicar em 3-12-2009, através do blog Random Precision (ver poste do André Azevedo Alves, no Insurgente, de 6-12-2009) para abafar o efeito da divulgação das escutas verdadeiras de conversas delicadas entre Vara e Sócrates que o semanário Sol viria a fazer três meses depois, e novamente em 21-3-2012, como denunciei neste blogue - , um suposto documento de transcrição policial de escutas em que teria sido apanhado o primeiro-ministro, e até tentou colocá-las, através de emissário de confiança, em meio do adversário!...

Portanto, se não se tratou de uma operação da contra-informação de matriz socratina, é bem apanhada(o). De uma maneira ou de outra, com mais ou menos manobras defensivas para criar confusão, o cerco aperta-se. E pode até haver uma janela de oportunidade de alguma limpeza do Estado.


Limitação de responsabilidade (disclaimer): As entidades referidas nas notícias dos média, que comento, não são suspeitas ou arguidas do cometimento de qualquer ilegalidade ou irregularidade nestes casos, com excepção daqueles pelos quais estão indiciados. E mesmo quando arguidas gozam do direito à presunção de inocência até ao trânsito em julgado de eventual sentença condenatória.

quarta-feira, 30 de julho de 2014

terça-feira, 29 de julho de 2014

Em defesa da justiça e contra a bancocracia


A.B.C. (2011). Masmorras da Prigione Nuova, Palazzo Ducale, Venezia.


Está em curso uma campanha para demonizar o juiz Carlos Alexandre por causa da detenção para interrogatório do banqueiro Ricardo Espírito Santo Salgado, em 24-7-2014 e das justificadas medidas de coação que lhe aplicou - «caução, no montante de três milhões de euros, proibição de ausência do território nacional e proibição de contactos com determinadas pessoas» - por, segundo nota da Procuradoria-Geral da República, estar «em causa a eventual prática de crimes de burla, abuso de confiança, falsificação e branqueamento de capitais». Esta campanha sucede à reação inicial de lavar as mãos sujas e os protestos enjoativos de que há muito tinham reclamado contra a promiscuidade entre o poder político e o BES.

Nessa campanha orquestrada participam entalados e avençados. Os entalados para demonstrar solidariedade, com medo de que o banqueiro dê com a língua nos dentes sobre os negócios de Estado e políticos; os avençados nos média para compensação de pagamentos e tachos e suplementos atuais pagos, direta e indiretamente, pela agência de comunicação contratada.

É uma campanha estúpida, por dois motivos. Em primeiro lugar, o juiz Carlos Alexandre, tem um prestígio heróico, singular entre os magistrados portugueses. Em segundo lugar, porque o povo já conhece algumas, poucas, manigâncias praticadas a nível nacional e internacional, e sente que vai arcar com o seu custo, na bancocracia (domínio do Estado pela promiscuidade entre políticos e banqueiros) que sofremos, e ainda acha leves as medidas de coação o que os factos já apurados e a lei consente.

Se Ricardo Salgado quiser proteção pessoal, colabore plenamente com a justiça e cante o que sabe.

O povo apoia a ação da justiça e opõe-se à bancocracia:
  1. Deve ser responsabilizado judicialmente todo e qualquer que tenha incorrido em crimes no universo de papel BES/GES ( mais ESFG, Rio Forte e todos os tentáculos offshore).
  2. O Estado apenas deve assumir perante os depositantes do BES apenas o que a lei estipula: cobrir os depósitos até 100 mil euros. 
  3. Nem um chavo deve ser posto pelo Estado - nem devia ter sido posto nenhum, como já foi (Jornal de Negócios, 29-7-2014) - para cobrir o buraco no BES que no começo vai em três mil milhões de euros (28-7-2014) e não se sabe até onde chega. 
  4. Nem um cêntimo deve ser entregue pelo Estado para cobrir as dívidas das demais empresas do Grupo Espírito Santo, para que não aconteça o mesmo que na SLN, que continuou a sugar a teta do Estado/CGD após a criminosa nacionalização do BPN (oito mil milhões de euros para cobrir aplicações financeiras arriscadas, depósitos vultuosos e as participações dos acionistas, mais os créditos e negócios feitos depois da nacionalização).
  5. O Estado não tem de pagar aos acionistas e investidores em papel comercial da ESI, ESFG, Rio Forte e quejandos. Muito menos com a justificação de que se paga aos acionistas e investidores angolanos para que Angola, que na prática vai tomar conta do BESA (onde o BES tem 57,5% do capital) pague os três mil milhões de euros emprestados para o arranque e expansão deste banco. Não creio que Ao Estado aangolano e os acionistas locais paguem realmente a dívida ao BES, a não ser que lhes ofereçam contrapartidas de maior valor: roubaram-lhes um chouriço na venda de ações e obrigações de sociedades falidas (ESI, ESFG, Rio Forte), ficam-lhes com a vara de porcos - e é muito bem feito. Para os subscritores de papel comercial aos balcões do BES em Portugal - que o Banco de Portugal (BdP) deveria ter impedido - basta a provisão que o BdP obrigou o BES posteriormente a fazer.
Não tenho expetativa de que assim aconteça: Mas é isto que a Pátria precisa. E é isto que os patriotas devem exigir. A bancocracia corrupta só dura o tempo que o povo a consentir.


Limitação de responsabilidade (disclaimer): As entidades referidas nas notícias dos média, que comento, não são suspeitas ou arguidas do cometimento de qualquer ilegalidade ou irregularidade nestes casos, com excepção daqueles pelos quais estão indiciados. E mesmo quando arguidas gozam do direito à presunção de inocência até ao trânsito em julgado de eventual sentença condenatória.

sábado, 26 de julho de 2014

A ponte





Em junho de 1982 foi encontrado o corpo de Roberto Calvi, ex-presidente do Banco Ambrosiano, enforcado sob a Blackfriars Bridge, em Londres - tendo no bolso cerca de 14 mil dólares em notas (de três moedas) e cinco tijolos. O Banco Ambrosiano estava em pré-falência com dívidas superiores a mil milhões de dólares e Calvi tinha fugido para Londres dois dias antes, de ser encontrado pendurado em andaimes colocados especialmente debaixo da ponte para a operação. A queda do Banco Ambrosiano quase arrastava para a falência o IOR da Santa Sé e aconteceu no âmbito do escândalo da loja maçónica italiana Propaganda Due (P2), à qual Calvi também pertencia, bem como políticos de topo (por exemplo, Silvio Berlusconi) e gente ligada à Mafia. A simbologia, além dos bolsos cheios de notas para significar a sua ambição, é apurada ainda pelo facto de a ponte do Tamisa, onde Calvi foi suspenso, a Blackfriars Bridge, se traduzir para italiano, como Ponte dei Frati Neri e Frati Neri (irmãos negros) ser precisamente como se chamavam entre si os membros da loja maçónica P2, onde preponderavam políticos e gente do poder de quem a Mafia se sentia enganada. Calvi fu suicidato por credores da Mafia que não lhe perdoaram o desfalque no banco e terem sido burlados em operações financeiras realizadas pelo banqueiro para tapar buracos nas contas e que queriam evitar que, apertado pela justiça ou zangado com quem não o protegeu, divulgasse os segredos terríveis das relações da Mafia com políticos italianos, também na P2. No filme Godfather III, de 1990, que se inspira nesse escândalo, e lhe junta o incenso do Vaticano, Calvi é representado pelo banqueiro Frederick Keinszig (Helmut Berger), cujo excerto coloquei acima. O filme I banchiere di Dio, de Giuseppe Ferrara, de 2002, também trata desse escândalo.

Em 16 de setembro de 1982***, três meses depois de Roberto Calvi ser encontrado pendurado na Blackfriars Bridge, foi assassinado, numa casa no Holland Park, ironicamente perto daquela ponte, Agelli Vaccari, um colaborador do banqueiro nas burlas e trapaças cometidas.


* Video cortado daqui

quarta-feira, 23 de julho de 2014

A queda dos irmãos siameses Salgado e Sócrates


«Seria um privilégio para o país poder ter o engenheiro António Guterres como Presidente da República».

A queda de Ricardo Salgado arrastou a queda do seu irmão siamês José Sócrates, o «amigo» de Paris (CM, 21-10-2012). Não é uma simples coincidência, António Costa trocar Sócrates por Guterres enquando candidato presidencial, na exata altura em que Ricardo Salgado perde o controlo do poder financeiro do BES e o GES se aproxima da falência. E note-se que a ligação de António Costa à família Espírito Santo é tão estreita que tem, na câmara municipal de Lisboa, o primo direito de Ricardo, o arq.º Manuel Salgado, como o todo poderoso vereador do urbanismo. Agora, Ricardo Salgado também já não lhe serve.

Sem o músculo financeiro de Salgado, o beirão Sócrates resistirá a aplicar a sua fortuna no serviço da sua clientela. Além de que a tralha socratina sabe que é Costa, se ganhar, quem pode distribuir a quinquilharia.

O impulso da campanha de António Costa, fornecido pelos média de confiança socialista (como Eduardo Cintra Torres apontou, em 20-7-2014, no caso da SIC) deu-lhe maior confiança. Por outro lado, e ainda que, no confuso organograma das informações, se mantenha o dr. Júlio Pereira como secretário-geral do Sistema de Informações da República Portuguesa (SIRP), deve atender-se à substituição do juiz Antero Luís (conterrâneo de Armando Vara) como secretário-geral do Sistema de Segurança Interna, cargo que coordena todas as forças de segurança, pela procuradora-geral adjunta Maria Helena Pereira Loureiro Correia Fazenda (prestigiada pela Operação Noite Branca no Porto, em 2007, e que não creio ser familiar do dirigente do Bloco de Esquerda, Luis Emídio Lopes Mateus Fazenda). E, bem ou mal, perpassa a expetativa de perda do controlo absoluto dos serviços de informação pelos responsáveis do socratismo.

A quebra desta laica aliança, assente no apoio de António Costa à candidatura de José Sócrates à eleição presidencial inevitavelmente vai abrir a guerra entre os dois clãs - a não ser que a declaração de Costa de apoio a Guterres seja uma farsa (Costa veio defender, em 22-7-2014, a antecipação do calendário das eleições legislativas para Abril de 2015). Porém, Sócrates não admite traições como esta, muito menos ser ostracizado da política durante dez anos. Mesmo que agora, preventivamente, ande desenfiado, quiçá por causa das sequelas, na região norte da América do Sul, da queda do GES...


* Imagem composta a partir daqui e dali.


Limitação de responsabilidade (disclaimer): As entidades referidas nas notícias dos média, que comento, não são suspeitas ou arguidas do cometimento de qualquer ilegalidade ou irregularidade nestes casos.

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Máquina de lavar BES-IGCP?



Se existiu uma gigantesca máquina de lavar dinheiro BES-IGCP durante o regime socratino, ela tem de ser investigada judicialmente sem demora.



* Imagem editada daqui, dali, dacoli e dacolá.


Limitação de responsabilidade (disclaimer): As entidades referidas nas notícias dos média, que comento, não são suspeitas ou arguidas do cometimento de qualquer ilegalidade ou irregularidade.

sábado, 19 de julho de 2014

O caso Lurdes Rodrigues e o efeito pedagógico-político da pena de prisão


ABC (julho de 2014). Porta de ferro. Ponte de Lima.

«Omnia tempus habent, et momentum suum cuique negotio sub caelo» (Ecl 3: 1).


Enquanto a ex-ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, num processo cujos factos são cristalinos, goza com a acusação do Ministério Público (Expresso,17-7-2014) a si e outros co-réus, demonstrando uma vez mais o desprezo a que vota o Estado de direito, é indispensável ler o poste do José, na Porta da Loja, de 18-7-2014, «Prisão para Maria de Lurdes Rodrigues. Efectiva. Assim se fará Justiça».

terça-feira, 15 de julho de 2014

A Operação Maria João Rodrigues

«No life, no life without a fall». 
                                                     Madrugada (1999). Salt.


Está em curso uma operação para colocar Maria João Rodrigues como comissária europeia. É uma operação montada por Durão Barroso com a colaboração da fação ferrosa do PS. Passos e Seguro são vistos neste filme, como os otários de serviço.

Um pouco de história recente - aquela que se vai agora apagando da net no disparatado «direito ao esquecimento», uma eutanásia seletiva de factos incómodos apesar do efeito Streisand, como dantes se queimavam os livros.

Maria João Rodrigues é filha de Joaquim Ângelo Caldeira Rodrigues, ligado aos movimentos comunistas no pós-II Guerra Mundial e depois militante do MDP, nomeado presidente da Câmara Municipal de Lisboa, cargo que desempenha entre agosto de 1974 a novembro de 1975. A filha sai mais à esquerda. No ISCTE, onde cursa Sociologia (what else?) era a controleira do MRPP. E no ISCTE, depois de doutoramento em Economia em Paris, se inscreve na fação ferrosa do socialismo (Ferro, Vieira da Silva, Pedroso). Com a vitória de Guterres em 1995 ascende a ministra da Qualificação e Emprego onde fica até 1997. Fica como consultora dos governos socialistas e é recuperada pelo seu ex-correlegionário para sua colaboradora na Comissão Europeia («conselheira especial») e se faz notar como «mãe da Estratégia de Lisboa» (sic!) apresentada no Conselho Europeu de março de 2000. Esta estratégia megalómana da presidência Guterres da União Europeia queria fazer da União, em dez anos, «a mais dinâmica e competitiva economia do mundo baseada no conhecimento», com «crescimento económico sustentado com mais e melhores empregos e maior coesão social», e redundou num fracasso gigantesco: crise económica, maior desemprego, estagnação da despesa em Investigação e Desenvolvimento (1,82% do PIB em 2000 e 1,9% em 2008), maior desagregação social.

Durão Barroso, de saída de Bruxelas,  consegue colocá-la em março de 2014 como número dois da lista de candidatos socialistas ao Parlamento Europeu, em aliança com a fação ferrosa do PS. Seguro não percebe a tramóia e aceita-a. O objetivo de Durão e de Ferro era dar-lhe visibilidade para a catapultar para comissária europeia. Durão quer manter um braço seu na nova comissão, uma forma de ainda exercer alguma influência política; e a fação ferrosa quer fazer de MJRodrigues a sua agente em Bruxelas.

Dirá o leitor, desconfiado, da conjetura, que é de esperar que o comissário português, que é indicado pelo Governo, pertença à sua área política - Portas, aliás, queria muito o lugar. E até consta que, antes da urgência Sócrates-Ricardo Salgado, esteve feito o acordo entre o PS e o PSD para despachar António Costa como comissário para Bruxelas, o que este teria aceite.

Todavia, se Passos quer pôr, Durão dispõe. Para conseguir a eleição do democrata-cristão Juncker como presidente da Comissão, acordou-se a paridade no órgão entre populares e socialistas e entre homens e mulheres. A Portugal, por manobra de Durão, parece que saíu esta fava: o lugar de comissário tem de caber a alguém socialista e mulher. No perfil indicado, só faltou pôr uma fotografia de mulher alta, cabelo maoísta e ar misógino...

Todavia, mesmo a fava se pode escolher. Não tem de ser uma maoísta, por dentro e por fora. No PS, há, por exemplo, Elisa Ferreira, que também tem experiência governativa e internacional de relevo; e no PSD, por exemplo, Isabel Mota.

A campanha que por aí vai na imprensa - de uma ponta à outra, onde chega a influência do socratismo e também a de Durão - até envergonha quem a faz, de tão explícita e destacada é... Não é necessário lincar as primeiras páginas e o charivari de entrevistas, op-eds e artigos a lembrar da urgente necessidade do Governo Português decidir rapidamente e por ela, a única candidata possível.

Não tem de ser assim. Passos não é parvo e Seguro tem de romper o compromisso com os ferrosos que o cercam e querem lugares, desde a presidência da Assembleia (para Ferro) e a comissaria europeia e agora a Rodrigues para comissária. E mesmo que Seguro não se liberte do poder socratino-ferroso, por que motivo Passos abdicaria de nomear alguém da sua confiança para comissário europeu?...

sábado, 12 de julho de 2014

Necessidade de investigação judicial ao vórtice do Grupo Espírito Santo



À beira do perigo, como sempre. Perante o risco de nos transformarmos em estátuas de sal, como a mulher de Lot, por saudade de um tempo doce. Procurando seguir, analisando e revendo, na esperança de recriar um tempo novo, sem amargura.

O vórtice do Grupo Espírito Santo não é apenas uma questão de supervisão bancária, nem política, nem financeira (as largas dezenas de milhares de milhões de euros que a intervenção do Estado custará, em vez de o deixarem falir...), nem económica e nem social (o povo que paga as favas podres): é uma questão judicial. Muito para lá da alegada prática do crime de abuso de informação privilegiada na compra de ações da EDP e da EDP renováveis em 2008, que são arguidos Morais Pires e José Maria Ricciardi (e este também de manipulação de preços de mercado) e ainda do caso Monte Branco.

É fundamental que o Ministério Público português abra inquérito judicial aos seguintes sete factos:
  1. Venda de papel comercial (títulos de curto prazo) da Espírito Santo International aos balcões do BES, em Portugal, e no estrangeiro a investidores privados e institucionais em empresas do Espírito Santo Financial Group. Ao todo, esses empréstimos de curto prazo a taxas elevadas totalizam cerca de 6,039 mil milhões de euros (Negócios, de 10-7-2014). A Maria Teixeira Alves explica muito bem este imbroglio nacional e internacional no seu poste, de ontem, 11-7-2014, «Um efeito de dominó». Para onde foi esse dinheiro?
  2. A compra, em data recente, pela comissão executiva da PT de 897 milhões de euros de papel comercial da Rio Forte, uma das holdings do Grupo Espírito Santo, aparentemente sem que o conselho de administração da própria PT tivesse sabido da operação e veiculando-se que o grupo Espírito Santo (que é acionista da PT e indiretamente através da fachada ricardina da Ongoing) não tem dinheiro para a pagar. O Expresso, de 12-7-2014, para desvalorizar este contributo financeiro de 897 milhões de euros, noticia na primeira página que a «PT já investe na Espírito Santo International desde 2012» - o que apenas agrava a irresponsabilidade da administração da PT (ao mesmo tempo que entala Zeinal Bava, que agora, em 9-7-2014, jura nada saber da ajuda ao Grupo Espírito Santo). Não basta a investigação da CMVM, noticiada em 9-7-2014. Tem de haver investigação judicial. Para onde foi o dinheiro?
  3. A situação financeira, agravada pelo incumprimento do resgate de títulos de dívida, da Espírito Santo International, e ainda a situação financeira da Espírito Santo Financial Group, sempre que a legislação portuguesa, de acordo com o direito internacional privado, permite a jurisdição portuguesa. Ver ainda a análise, ainda que enviesada (e vinda de alguém que o Ministério Público pede mais de cinco anos de prisão, por alegada burla qualificada no BPP) de João Rendeiro «Os credores do Grupo Espírito Santo», de 29-6-2014  Um descalabro que contagia o sistema financeiro português, a bolsa portuguesa e o rating da República. Para onde foi o dinheiro?
  4. A operação de aumento de capital do BES em junho de 2014, no valor de 1045 milhões de euros. Para onde foi o dinheiro?
  5. A operação de empréstimo da Nomura para que a família Espírito Santo acorresse ao aumento de capital do BES e na qual a família terá entregado como colateral 5% do BES e que agora, face à queda das cotações, a Nomura terá executado, segundo o Expresso, de 11-7-2014. Uma notícia simpática do semanário de Francisco Balsemão e do mano Costa para conseguir simpatia popular para com os coitadinhos banqueiros da família (e amiga da deles), que empenhariam a jóia para salvar a honra. Mas como foi mesmo a operação? E para onde foi o dinheiro sobrante?
  6. Em 30-6-2014, o Negócios noticiou que o chefe da Casa Militar do Presidente angolano, o general Manuel Hélder Vieira Dias Júnior Kopelipa, era acionista, desde 2011 (pelo menos), ele próprio da Espírito Santo International (ESI), agora em situação de falência técnica. Constava também que Álvaro Sobrinho era o uomo di paglia de Kopelipa no BES e no BESA (Banco Espírito Santo de Angola). Note-se que Kopelipa detem 24% do BESA (através da sua empresa Portmill), além de uma participação no Banco BIG (7,9%), de Carlos Rodrigues, em Portugal e de outras empresas e propriedades no nosso país, para além, de, indiretamente, da gigante Prébuild (cuja operação colombiana é alegadamente dirigida por Pedro David, filho do eurodeputado Mário David, amigo e ex-assessor político de Durão Barroso). O BES tinha até agora 55,7% do BESA. O problema é que a falência da ESI, e a ruína do BES provocará a perda de valor das suas ações, o que necessariamente implicará uma resposta em Angola, com a nacionalização do BESA e a sua transformação em Banco de Fomento, e a evaporação da quota do BES no BESA. De modo que a ambição da administração Salgado, e as negociatas da venda de participações e papéis comerciais das holdings do Grupo, podem ter como consequência a perda do BESA, que representa um importante instrumento financeiro em Angolano na projeção do poder finaceiro e económico português. Por isso, importa investigar judsciailmente esses negócios de venda de ações e de papel comercial nos quais os angolanos podem ter sido vítimas. E finalmente perguntar: para onde foi o dinheiro?
  7. A venda de «várias centenas de milhões de euros» de papel comercial por empresa do Grupo Espírito Santo (Rio Forte?)  à Petróleos da Venezuela-PDVSA (que funciona como uma espécie de fundo soberano do país), segundo descobriu o Negócios, em 1-7-2014. O Público, no dia seguinte filtrou a informação da possível «reconversão da dívida em capital ou por novos investimentos que possibilitariam à petrolífera assumir uma participação relevante, ainda que inferior a 50%» (sic!).  Veja-se ainda a análise de Rodrigo Constantino, da brasileira Veja, em 3-7-2014. Qual foi o montante e qual a contrapartida? E quem foi o intermediário, o facilitador, o comissionista, que pôs em cheque o Estado português (e a ele próprio...) na venda de papel de uma empresa em pré-falência aos amigos da Venezuela? E para onde foi o dinheiro da comissão deste negócio?

É agora que os alguns documentos e registos informáticos ainda existem, e alguns fundos também, que o inquérito judicial tem de ser realizado. O Estado apresta-se para entrar num buraco muito maior do que o do BPN (8 mil milhões de euros) julgado já nos seus 2% do mercado too big to fail, quando mais o BES que tem próximo de 20%. Um buraco que resultou da promiscuidade político-financeira entre o socratismo e a família Espírito Santo, com Ricardo Salgado à cabeça. Era bom que o poder atual não se atolasse nesse pântano de acionistas e credores preferenciais e de pequenos investidores e depositantes preteridos. Era bom que a bancocracia fosse erradicada de vez, com banqueiros reduzidos à administração prudente das suas instituições e cumpridora escrupulosa da lei, afastados do financiamento dos políticos e da intervenção política, e políticos independentes dos banqueiros - sem «amigo» de Paris (CM, 21-10-2012) e terceiras pessoas devedoras. Mas não tenho nem uma ponta de esperança que seja possível agora.

Cá estarei também para, como tenho feito, e com mais informação, escrutinar a atuação do primeiro-ministro, Passos Coelho, da ministra das Finanças e do governador do Banco de Portugal, Carlos Costa (obrigado, para além da supervisão bancária, ao controlo da idoneidade dos membros dos órgãos de administração dos entidades financeiras), que parecem ter intervindo por reação.


Limitação de responsabilidade (disclaimer): As entidades referidas nas notícias dos média, que comento, não são suspeitas ou arguidas do cometimento de qualquer ilegalidade ou irregularidade. E, mesmo quando arguidas, gozam do direito constitucional à presunção de inocência até ao trânsito em julgado de eventual sentença condenatória.

quinta-feira, 10 de julho de 2014

#LuísMontez#AntónioCosta#JoséSócrates#RicardoSalgado

O Presidente Cavaco Silva brinda com a Rainha Letícia, de Espanha,
no almoço de Estado, em 7-7-2014 - excerto de foto, do DN, 8-7-2014


O apoio a António Costa de Luíz Montez, marido da filha Patrícia do Presidente Cavaco Silva, declarado à imprensa nono Mercado da Ribeira, de Lisboa, em 7-7-2014, numa sessão da candidatura do presidente da câmara da capital à liderança do Partido Socialista na eleição primária de 28-9-2014, confirma os factos que neste blogue se têm acumulado sobre a ligação do genro à fação socratina do PS.

Apontado como informador d' «O Independente», nos tempos do confronto entre esse semanário e Cavaco Silva, circula para os negócios dos espetáculos, enquanto soma dívidas de monta em empresas suas. Mas enquanto o sogro era referido pelo socratismo, depois da nacionalização BPN e sua tomada de controlo do BPN pela Caixa de Francisco Bandeira, no negócio de compra e venda fora de bolsa de ações da SLN (holding detentora do BPN), a filha, e o genro, foram poupadas, como nunca foi referida qualquer dívida do genro que eventualmente existisse nesse banco - por crédito aberto (quando alegadamente segundo informação filtrada pelo banco de um relatório interno existiriam «dívidas a bancos de mais de cinco milhões de euros» (poste de Maria Conceição Banza, de 16-1-2011 - http://mariaconceicaobanza.blogspot.pt/2011/01/familia-cavaco-silva-e-o-banco.html) - ou até noutro (BCP?).

Luís Montez foi envolvido naquilo que foi na quente temporada primavera-verão de 2009, o «plano governamental para controlo dos meios de comunicação social visando limitar as liberdades de expressão e informação a fim de condicionar a expressão eleitoral»,
segundo o despacho do corajoso procurador Dr. João Marques Vidal, coordenador do Departamento de Investigação e de Acção Penal (DIAP) de Aveiro, e extração de certidão para inquérito-crime autónomo, datado de 23-6-2009, publicado no semnário Sol, de 5-2-2010 (p. 5). Essa análise foi reforçada pelo juiz de instrução de Aveiro, Dr. António da Costa Gomes, publicado pelo Sol, de 5-2-2010, página 6, no despacho de autorização e validação das escutas, dos relatórios e despachos. Tal como tinha sido antes objecto da informação reflectida, no mesmo sentido, datada de 12-6-2009, do intrépido inspector Teófilo Santiago, da Polícia Judiciária de Aveiro, que coordenava a equipa policial do caso Face Oculta (ver p. 6 do Sol, de 5-2-2010).

De acordo com o Sol, de 5-2-2010, alegadamente como contrapartida da compra da TVI pela PT, Luís Montez, genro do Presidente, ficaria com as rádios do grupo Media Capital, o que seria «o preço da paz», pois, assim, Cavaco «cala-se logo, fica a cuidar dos netos»... Todavia, Cavaco roeu a corda, em 25-6-2009, quando esta já estava na máxima tensão e Sócrates nunca lhe perdoou a traição, repuxando, em 18-9-2009, como represália, um caso de 17 meses antes.

Em 26-7-2012, é noticiado que Luís Montez comprou em conjunto com outros, mais o patrocínio da PT e o crédito do grupo Espírito Santo, o Pavilhão Atlântico do Parque das Nações, em Lisboa (ver o meu poste «O preço do Pavilhão Atlântico», de 1-8-2012). Apesar da situação financeira muito preocupante, publicada pelo semanário O Crime, de 19-7-2012, citando relatório da empresa Informa D e B.

E em 13-9-2013, os jornalistas Luís Rosa e António Ribeiro Ferreira, no i, sobre a nova estrutura do grupo de média Controlinveste (TSF, DN, JN, O Jogo, Dinheiro Vivo, etc.) escrevem sobre o novo sócio do grupo: Luís Montez, dono de várias rádios e empresário de espectáculos, foi uma escolha do BES e do seu presidente Ricardo Salgado, a exemplo do que tinha acontecido na compra do Pavilhão Atlântico». Na Controlinveste, onde prepondera o angolano António Mosquito (27,5%) representando alegadamente interesses mais altos, Luís Montez passa a administrador e fica com 15% do capital. Mais uma vez, apesar da situação financeira anteriormente descrita com detalhe n' O Crime, de 19-7-2012, ninguém nos média portugueses (nem no blogue oficial das operações suaves do socratismo, adversários do Presidente) lhe perguntou de onde lhe veio o dinheiro para a compra.

Finalmente, em 7-7-2014, soltou-se a capa e tirou-se a venda. Montez, que se obriga a garantir «ninguém me faz a cabeça» (creio que fala de Sócrates...) e que disse «ao Expresso, em 2010» que votou em Costa para a Câmara de Lisboa, declara agora, segundo o i, de 7-7-2014, no comício de apoio ao candidato socialista, que António Costa, o aliado de Sócrates, «é um político da champions league e não da distrital» e que «temos homem para tomar conta disto»!... Professado independente - honny soit... -, puxaram-lhe a guita e, qual marioneta desarticulou-se.

Todos diferentes: todos iguais... E ligação transparente, como a água que quase tudo lava: #Genro Luís Montez#António Costa#José Sócrates (o «amigo» de Paris, de Ricardo Salgado, de quem este não se devia esquecer - CM, de 21-10-2012)#Grupo Espírito Santo. No meio dos hash (salvos sejam...) onde fica a tag de um Presidente debilitado?!


Limitação de responsabilidade (disclaimer): As entidades referidas nas notícias dos média, que comento, não são suspeitas ou arguidas do cometimento de qualquer ilegalidade ou irregularidade.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

O fogo do Espírito Santo

As últimas notíciass conhecidas sobre o incêndio do Grupo Espírito Santo fazem temer uma intervenção pública que poderá custar ao Estado mais do que a nationalização do Anglo-Irish Bank (52 mil milhões de euros) na Irlanda, que determinou o resgate financeiro deste país.

O que se veio a conhecer de mais relevante:
  1. Que a PT por decisão de Henrique Granadeiro (velho protegido de Ricardo Salgado), presidente da comissão executiva da PT, tinha emprestado 900 milhões de euros a empresas do grupo Espírito Santo, seu acionista. Agora, como o grupo não tem condição de pagar quer converter esse empréstimo em capital, quiçá de uma sociedade em pré-falência... Este empréstimo de alto risco levou à demissão dos administradores brasileiros da PT, em processo de fusão com brasileira Oi, na CorpoCo, e à reinvindicação dos brasileiros de que querem maior fatia da Corpco.
  2. A ESI do grupo Espírito Santo (sociedade do grupo, que está em falência técnica) apertada pelos credores que quiseram, sem sucesso, resgatar o papel comercial que lhe tinham comporado, previniu o mercado, ontem, dia 7-7-2014, de que não tinha condição de honrar os seus compromissos com os credores, nomeadamente aqueles que tinham subscrito papel comercial do grupo, e que iria entrar em reestruturação.
  3. Vítor Bento, da SIBS, ex-Unicre e conselheiro de Estado, foi designado em 5-7-2014,, após pressão do Banco de Portugal, e presume-se do Governo, novo CEO do BES; e como novo CFO, o presidente do Instituto de Gestão do Crédito Público (IGCP) que coloca e gere a dívida do Estado, João Moreira Rato.
  4. A nova administração do BES prepara-se para liquidar ativos, vender anéis, salvar os dedos (o próprio BES).
Como é evidente o Governo, o Banco de Portugal e a União Europeia/FMI, querem evitar a perda de confiança do mercado, e pretendem recuperar a reputação, que é o principal capital de qualquer entidade financeira. Não será fácil, pois as notícias inquietam quem tem títulos de investimento do grupo (papel comercial, obrigações, fundos de investimento) e depósitos. Os jornais noticiam um corropio de credores que procuram resgatar imediatamente os títulos e depósitos. Não se espere um bank run, porque este, na verdade, já começou, ainda que sem as cenas de bichas à porta e quebra de vidros.

Como aqui chegámos? Promiscuidade do Governo socratino, omissão do Banco de Portugal e silêncio do Presidente da República. Agora, far-se-á o que puder, como todas as cautelas, esperando que os credores do banco, do papel comercial aos fundos de investimento e aos depósitos, não resgatem o que é seu. Mas pode calharmos um segundo resgate excepcional para resolver a ruína que derivou da aliança maléfica entre o Estado-socratino e um banco de alguém que foi DDT (Dono Disto Tudo) e pode acabar como OMO (O Mais Obediente) da Carregueira.


Atualização: este poste foi emendado às 8:34 de 11-7-2014, para correção do socorro do BdP a holding da grupo Espírito Santo - é o que dá escrever sem linque imediato...

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Lendas e narrativas

José Sócrates prepara a sua lenda para a candidatura à presidência da República. Brevemente, numa revista social perto de si.

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Religar

Na hora em que o Padre Manuel Morujão S. J. termina, por limite de mandato, a sua função de secretário e porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa, para passar a outra função de responsabilidade na direção dos jesuítas em Braga, além de outras tarefas nacionais, para as quais rogamos a proteção divina, devo salientar o notabilíssimo serviço de Deus, da Igreja e do País, que desempenhou nestes anos duros de experimentalismo social e de bancocracia do poder, num contexto de crise económica dramática. Desejamos bom trabalho e a graça de Deus para o seu sucessor, o padre dehoniano Manuel Barbosa.

Vulgarmente, olha-se apenas para a cabeça das instituições, neste caso, para o presidente da conferência episcopal (D. Jorge Ortiga, D. Manuel Clemente), ignorando o trabalho preparatório, de organização, de sacrifício, que nem sempre é compreendido, e de harmonização, que lhe diariamente lhe subjaz e que o padre Manuel Morujão assumiu com coragem e determinação. A afirmação pública da Igreja portuguesa nestes anos deve muito ao seu espírito, à sua inteligência fulgurante e à excecional experiência nacional e internacional. Se a Pátria é ingrata, pela sua natureza, fica pelo menos o agradecimento deste rincão do Portugal profundo.

terça-feira, 1 de julho de 2014

Redescobrir e potenciar o talento: a necessidade de uma reforma do futebol português



Ausente, mas sempre presente. Porque não fugimos de nós mesmos, na identidade orquídica gerada e criada, acumulando sonhos e dores, nem a nossa circunstância nos consente desistir. Somos - e vivemos no ser. Nessa Outra que nos consome. Jogamos, perdendo mais do que ganhando - ganhando quanto mais perdemos... -, sublimando mágoas, assumindo culpas e mantendo sonhos, apesar de tudo e do nada. A vida continua a sua roda. Mesmo que a ressaca nos encrave.

Caíu a seleção portuguesa na primeira fase do excecional Mundial do Brasil 2014. Perdeu como tinha de perder, por falta de «qualidade», à parte o colendo Ronaldo, por mais que o aborrecimento lusitano lhe degrade o valor nas alturas em que não consegue puxar a equipa até ao seu limiar celeste. Com o pior meio-campo dos últimos quarenta anos. Sem talentos como Alves, Oliveira, Jaime Pacheco, Sousa, Rui Costa, João Vieira Pinto ou Figo; e com trincos sem tranca, sem habilidade e nem força (e desperdiçando, quem os tinha, como William Carvalho). Sem avançados. E com defesas velhos e sem força. E guarda-redes banal. Espremidos por época exigente, com (sem...) motivação de fim de carreira, dirigidos por homem honesto mas receoso e preferindo os jogadores em quem confia há muito... e que o apoiam - mesmo que não dêem já rendimento suficiente (como assinala o Prof. Daniel Matos da Team of Future) -, esta seleção de Paulo Bento é apenas o resultado de uma política desportiva errada. Uma política que abdica da formação, preferindo contratar estrangeiros talentosos naquilo que talvez se possa chamar o «modelo Jorge Gomes», antigo olheiro do FCPorto e atual olheiro do Benfica, responsável pelas suas notabilíssimas contratações, mas de estrangeiros). Uma política que acontece num país que tinha valorizado a formação para o mundo e cujo modelo foi copiado há trinta anos. Precisamos de uma reforma do tipo daquela que os alemães decidiram depois do tricórnio do Sérgio Conceição, no Euro 2000, em Roterdão, ou desta que fizeram os belgas quando outra geração dourada se acabou ou daquela realizada pela geração Queiroz de treinadores/gestores e atletas no final dos anos 80 e anos 90. Todavia, apesar do atual modelo estar gasto, não creio que o presidente da Federação, Fernando Gomes, e muito menos os presidentes do grandes clubes, estejam disponíveis para a travessia do deserto de que o futebol português carece. O problema das reformas é que reformam estruturas e... gente.