quarta-feira, 30 de outubro de 2013

A revolução e o trabalho

A entrevista concedida pelo ator Russell Brand a Jeremy Paxman, no programa Newsnight, da BBC, 23-10-2013, prévia ao seu artigo «Russell Brand on revolution», na revista New Statesman, na edição de 24-10-2013 (da qual foi editor convidado), merece análise porque se inclui num quadro atual de alienação juvenil da política institucional.

A plataforma ideológica de Russell Brand consiste, resumidamente, na luta contra a corrupção de Estado e promiscuidade financeira, o «climate change» e o igualitarismo de rendimento e de riqueza decretado pelo Estado. Combato, há muito, com sacrifício e risco, a corrupção de Estado, e denuncio há bastante tempo a subjugação do Estado aos bancos e agentes financeiros. Não acredito no credo do aquecimento global, nem que atualmente não se não levem a sério os problemas ambientais reais e concretos. E também não creio na imposição pelo Estado do igualitarismo de rendimento e de riqueza.

No final do século XX e princípio do século XXI, a «underclass», que Russell Brand pretende defender, é principalmente o produto socialista do assistencialismo e do desemprego, isto é da desocupação. É o trabalho que promove. Não há nada de mais revolucionário na sociedade atual do que a reabilitação do trabalho.

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

«José Carvalho Pinto de Sousa» - tout court

Ainda sobre o «mémoire» de Sócrates, agora que, como Vasco Pulido Valente assinalou no Público, de 25-10-2013, o ex-primeiro-ministro lançou, em 23-10-2013, a sua pré-candidatura presidencial em 23-10-2013, com o pretexto da apresentação do seu livro no Museu da Eletricidade (da EDP), com segurança garantida pelo seu anfitrião e amigo António Mexia.

Em 21-9-2013, o diretor do Expresso, Ricardo Costa, publicou a notícia «Sócrates conclui mestrado com tese sobre tortura», na página 5 do caderno principal do semanário, com informação direta do próprio José Sócrates, que era citado na peça. Nessa notícia, que repito foi escrita com base na informação direta de José Sócrates, diz-se:
«Foi por isso [pela importância atual do tema da tortura] que José Sócrates escolheu este tema para a sua mémoire (tese de mestrado), que defendeu em julho na Sorbonne, em Paris, e que agora vai publicar em Portugal. (...)
Um livro de filosofia dificilmente será um livro de grande público. Mas, pelos vistos, não era esse o objetivo de Sócrates, que apenas quer fechar o ciclo iniciado com a ida para Paris em 2001 e concluído com a defesa da tese em julho.»
Importa conjugar estes dois trechos da notícia com a manchete da mesma («Sócrates conclui mestrado com tese sobre tortura») e ainda com o excerto da entrada para esta notícia na primeira página do jornal, «Ex-líder do PS terminou mestrado em julho» - uma notícia que o dá . As falsidades da notícia foram expostas por mim no poste «O mémoire de Sócrates», de 23-9-2013, nomeadamente: Sócrates não podia ter defendido a «tese» na Sorbonne (a Sciences Po não pertence à Sorbonne...); e o trabalho que Sócrates apresentou, em rigor, e apesar do que ele próprio lhe chamou na notícia de 21-9-2013, «tese de mestrado» (sic), é um «mémoire» (um «estudo de viabilidade de uma tese», de «formato bastante reduzido») e não uma «tese» («thèse») palavra que a lei francesa guarda para a dissertação de doutoramento.

Note-se ainda que na entrevista à revista do Expresso (Clara Ferreira Alves), de 19-10-2013, p. 29, Sócrates disse: «Escrevi este livro em francês. E traduzi para português». Notei a evolução da sua performance no meu poste de 24-10-2013:
«Veja-se, a propósito, a sua confissão do seu nível de francês, na conferência "Quelques clés pour comprendre le Portugal actuel", no Amphithéatre Bolivar do Campus de Poitiers da Sciences Po, em 3-11-2011: «Mon français c'est três mauvais, comme vous pouvez voir...» (7:45 da gravação da conferência) - aliás nessa entrevista ao Expresso, de 19-10-2013, p. 29, o ex-primeiro-ministro diz que "tinha um conhecimento do francês, muito insuficiente, tive de graduar-me" (sic). Todavia, não é humanamente impossível que José Sócrates tenha evoluído num ano (de novembro de 2011 até ao início de 2013) do nível aflitivo de francês apresentado dos 6:14 minutos até aos 8:49 minutos dessa conferência de novembro de 2011, em Poitiers, em que arranhou a língua gaulesa, até ao nível superlativo de domínio da língua para redigir, ele mesmo, um "mémoire" de mestrado e em "Ciência Política - Menção Teoria Política".

A rapidez do primeiro-ministro na redação do seu «mémoire» de mestrado fica ainda mais evidente na referida notícia de Ricardo Costa, de 21-9-2013, quando este, com base na informação direta de Sócrates, escreve: «O tema da tese foi escolhido no final do ano passado». Então, desde o final de 2012, quando escolheu o tema, até julho de 2013 quando diz que defendeu o «mémoire», em cerca de nove meses (?), José Sócrates planeou, pesquisou, analisou e redigiu um trabalho que, traduzido para português, o que disse, em 19-10-2013, também ter feito pelo seu punho, chega às 192 páginas do livro «A Confiança do Mundo», apresentado em 23-10-2013 - a que se deve descontar o prefácio de Lula da Silva. Mas o tamanho do «mémoire» foi o feito mais leve... A parte mais dura é ter feito em francês um trabalho académico de teoria política, disciplina em que o comando da língua, e da subtileza do francês, é ainda mais exigente. E Sócrates adquiriu esse domínio superlativo da língua francesa em apenas um ano face ao «muito mau» francês confessado na conferência de Poitiers, de novembro de 2011. A obra sobre a tortura pode ser negra, mas a prestação é rosa, de choque.

Todavia, o recorrente problema com a verdade de que Sócrates tem sofrido não lhe permite o estatuto que merecia D. Madalena de Vilhena no «Frei Luís de Sousa»: «D. João de Portugal morreu no dia em que sua mulher disse que ele morrera»... E, assim, cabe verificar tudo quanto diz e clama e também completar as suas habituais lacunas de informação. Questão:
  • Quando foi realmente apresentado, discutido e aprovado, o «mémoire» de mestrado de José Sócrates, na Sciences Po de Paris, data na qual o ex-primeiro-ministro adquiriu o grau de mestre por aquele instituto universitário francês?
É que o mais próximo que ficamos desse facto intrigante (como são muitos relativos ao percurso académico rocambolesco do ex-primeiro-ministro) - e por mais que se tente iludir quem procura sempre acaba por se encontrar... -, é o registo no sítio Theses.fr, da francesa Agence Bibliographique de l'Enseignement Supérieure (ABES), do «projeto de tese» de doutoramento, desde 1 de outubro de 2013, em Ciência Política no Institut d'Études Politiques (vulgo «Sciences Po»), sob a direção da professora Astrid von Busekist (que é a diretora de estudos doutorais em Teoria Política da Sciences Po), de «José Carvalho Pinto de Sousa» (sic):


«La torture et l'exception en démocratie
par José CARVALHO PINTO DE SOUSA
Projet de thèse en Science politique
Sous la direction de Astrid von Busekist.
Thèses en préparation à l'Institut d'Études Politiques, dans le cadre de Institut d'Études Politiques (Paris). École doctorale depuis le 01-10-2013.»

«José Carvalho Pinto de Sousa». Tout court... Porque lhe falta «Sócrates».


Limitação de responsabilidade (disclaimer): José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa não é aqui imputado de qualquer ilegalidade ou irregularidade; Astrid von Busekist, ép. Sadoun, não é aqui imputada de qualquer ilegalidade ou irregularidade.

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

O socialismo partido em três S



Os socialistas estão partidos em três «S»: Seguro, Santos da Costa (ou Santos Costa, sem a contração da preposição «de» com o artigo «a», segundo o Geneall) e Sócrates. Três eixos divergentes de um carro desconjuntado.

Apesar de o presidente da CMLisboa, nas pisadas de Jorge Sampaio, estar melhor posicionado, existem dúvidas nas hostes socialistas de que santos da costa façam o milagre de manter a festa rosa no seu pleno fulgor. Nesse sentido - contrário ao dos ponteiros do relógio... -, é interessante que Soares venha acompanhando Sócrates.

No baile socialista, o desconfiado (in)Seguro assiste no cadeirão do Rato, enquanto Sócrates e Costa dançam o vira nos salões da sociedade. António José Seguro não foi à tomada de posse de Costa na CMLisboa, em 24-10-2013, na qual, porém, esteve José Sócrates acompanhado por Mário Soares. Contrariado, Sócrates teve de ir ao baile de Costa, que, todavia, não foi ao seu. Mas Sócrates deve a António Costa a entrevista glamour...rosa, de 19-10-2013, ao Expresso do seu mano Ricardo... Sócrates amarga o desprezo com a mesma sede de vingança que teve perante a aristocracia socialista («raios vos partam, vou vencer-vos a todos», como disse na entrevista ao Expresso, de 19-10-2013, sobre a sua ascenção no partido).

A estratégia de Sócrates face a Costa é o envolvimento: um abraço de gibóia. O ex-primeiro-ministro ainda não abandonou o palco político. Invertendo sucessivamente, em poucos dias (!), uma e outra vez, o seu rocambolesco percurso académico, de atalhos mal desenfiados, sombras lisbonenses e penumbras parisienses. Anunciou aos quatro ventos do País ter terminado a sua vida académica, na notícia do Expresso, de 21-9-2013 («fechar o ciclo iniciado com a ida para Paris em 2001 e concluído com a defesa da tese em junho»...), sinalizando uma semana antes das eleições autárquicas, a sua pré-candidatura presidencial. Nocateado pelo resultado que deu a Costa um score superior a 50% na câmara de Lisboa, a Seguro um salvo-conduto até às próximas eleições legislativas e a Passos uma derrota sofrível que o arrastará até ao início de 2015, Sócrates viu fechada a via presidencial ou de comissário europeu (o CM, de 25-10-2013, diz que também até o cargo prestigiante de curador da Fundação Champalimmaud que o seu amigo Proença de Carvalho lhe queria entregar) e, na tal atitude sobranceira de dispensar o «favor popular», vira-se novamente para o refúgio da academia: «eu fui e ainda sou estudante de Sciences Po»... Contudo, num «repente» como é da sua personalidade, empolgado pelas reações às entrevistas de lançamento do livro do negro «mémoire» sobre a tortura, e mais ainda pelo milhar de dependentes que, com medo e sem vergonha, lá foram ao frete pseudo-intelectual do Museu da Eletricidade (cedido pela EDP do amigo ausente Mexia), nas imediações simbólicas do Palácio de Belém, posiciona-se como candidato sistémico às presidenciais de 2016. Um passo em frente, outro atrás, e mais outro para diante: tem-te, não caias!...

Devagar, Sócrates vai enrolando Costa, com o intuito subreptício de disputar o recontro florentino das pré-primárias presidenciais com um apoio sistémico mais forte. Sócrates crê que, se conseguir consolidar esses apoios sistémicos e com as informações de que dispõe, Costa nem irá ao concurso... Veremos como evoluem os dançarinos, agora que se aproxima o corridinho.


Atualização: este poste foi emendado às 11:41 de 26-10-2013.

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

A apresentação do livro de Sócrates

(Atualizado)

José Sócrates apresentou ontem, 23-10-2013, o seu livro «A confiança no mundo - Sobre a tortura em democracia»
, editado pela Verbo (de Paulo Teixeira Pinto). Primeiro uma nota sobre o livro, seguida de comentário sobre o evento. Faço-o porque embora Sócrates já pareça neutralizado polititcamente para os próximos anos, ainda não está...

Sobre o livro. Segundo o afortunado Sócrates, o livro é a tradução para português, do original em francês, do seu «mémoire» de mestrado em «Ciência Política - Menção Teoria Política» na Sciences Po parisiense. O livro, tem prefácio desse outro vulto das letras, que é o ex-presidente brasileiro Lula da Silva, mesmo que avesso à leitura... Nas palavras do próprio na entrevista à revista do Expresso (Clara Ferreira Alves), de 19-10-2013, p. 29: «Escrevi este livro em francês. E traduzi para português». Veja-se, a propósito, a sua confissão do seu nível de francês, na conferência «Quelques clés pour comprendre le Portugal actuel», no Amphithéatre Bolivar do Campus de Poitiers da Sciences Po, em 3-11-2011: «Mon français c'est três mauvais, comme vous pouvez voir...» (7:45 da gravação da conferência) - aliás nessa entrevista ao Expresso, de 19-10-2013, p. 29, o ex-primeiro-ministro diz que «tinha um conhecimento do francês, muito insuficiente, tive de graduar-me» (sic). Todavia, não é humanamente impossível que José Sócrates tenha evoluído num ano (de novembro de 2011 até ao início de 2013) do nível aflitivo de francês apresentado dos 6:14 minutos até aos 8:49 minutos dessa conferência de novembro de 2011, em Poitiers, em que arranhou a língua gaulesa, até ao nível superlativo de domínio da língua para redigir, ele mesmo, um «mémoire» de mestrado e em «Ciência Política - Menção Teoria Política».

Procurei no catálogo da biblioteca da Sciences Po, mas o «mémoire» de José Sócrates não se encontra ainda mencionado. Telefonei para a biblioteca daquele instituto parisiense, hoje, 24-10-2013, e foi-me dito que é o autor que entrega dois exemplares impressos à biblioteca, que depois os cota, cataloga e disponibiliza, a quem os queira consultar in loco. A consulta é possível já que são trabalhos públicos. Portanto: ou o autor (José Sócrates) ainda não entregou os dois exemplares do «mémoire» na biblioteca; ou Sócrates já os entregou, como era da sua obrigação, e o seu«mémoire»ainda não está disponível para consulta na biblioteca.

Mas, de maior relevo do que um livro sobre a tortura do chefe máximo das operações negras (e suaves), o ex-primeiro-ministro mais antidemocrático da III República portuguesa, foi o evento organizado para louvar o autor.

Um evento no qual se prometeu estarem mais de mil pessoas. E com presenças de primeiro plano político. Começando pelos apresentadores: Mário Soares que o terá apresentado como licenciado (sic!) pela Universidade de Coimbra (sic!); e Lula que lhe recomendou que continuasse a «politicar» - a recomendação é dispicienda, porque Sócrates não tem feito outra coisa...

Chegando à lista de convidados que reuníu a grossa flor do sistema.

Nos socialistas, as personalidades iam desde os seus ministros Pedro Silva Pereira, Vieira da Silva, Mário Lino, Maria de Lurdes Rodrigues, Isabel Alçada, Jorge Lacão, Jorge Coelho, Alberto Costa, Vera Jardim, Gabriela Canavilhas, aos ex-adversários Manuel Alegre e Ferro Rodrigues, a António Costa, a Jaime Gama, a António de Almeida Santos, a Carlos César, a Vital Moreira e Edite Estrela, a João Galamba, Renato Sampaio, Fernando Serrasqueiro, Isabel Santos, Manuel Pizarro, e Rui Santos,  Idália Serrão, e João Proença, até António Campos e Edmundo Pedro. Vá lá Seguro não esteve...

Das grandes empresas estiveram, Henrique Granadeiro, António Mota (Mota Engil) e António Almeida (ex-presidente da EDP). Onde andavam Zeinal e Mexia?...

E da justiça, além do seu advogado Daniel Proença de Carvalho, compareceram o ex-Procurador Geral da República Pinto Monteiro e o ex-presidente do Supremo Tribunal de Justiça Noronha Nascimento, além do chefe do SIRP, Júlio Pereira.

Na linha do José da Porta da Loja, importa perguntar: por muito grande que seja a sua dependência de Sócrates, depois do que o ex-primeiro-ministro fez ao povo português, esta gente não tem vergonha?!...


Pós-Texto (15:53 de 25-10-2013): Em emenda e adenda à análise da sessão de lançamento do livro de José Sócrates, em 23-10-2013:
  1. De acordo com um relato de alguém que esteve presente e os viu, compareceram também o spymaster José Almeida Ribeiro, o diretor de Informação da RTP Paulo Ferreira, Rui Pedro Soares, Paulo Teixeira Pinto, António Vitorino e Carlos Zorrinho.
  2. Não se confirmou a prevista presença de António Costa. E António José Seguro não esteve.
  3. No evento terão estado mais de mil pessoas (ao contrário do que referi neste poste, com base em relato do Jornal de Negócios, que referia, trezentas no piso de cima e outros convidados no piso inferior).
  4. Vasco Pulido Valente faz uma recensão demolidora do livro de Sócrates no Público, de 25-10-2013:
«Ora Sócrates, protestando o seu desinteresse pela vida pública e as suas novas tendências para a filosofia, com a convicção de um adolescente analfabeto, só pensa em abrir o caminho para um memorável ajuste de contas. Uma entrevista justificatória na RTP, um programa de "opinião" também na RTP e, agora, o lançamento de um "livro", para inaugurar um estatuto de "intelectual", a que nem sequer faltou Mário Soares, Lula da Silva e uma assistência de "notáveis", seleccionados por convite. O supracitado "livro", absolutamente desnecessário, é de facto uma prova escolar (uma "tese" de mestrado), sem uma ideia original ou sombra de perspicácia, que assenta na larga citação e paráfrase de - vá lá, sejamos generosos - 30 livros, que se usam pelo Ocidente inteiro, e em algumas fantasias francesas (Sciences Po oblige). O extraordinário não é que Sócrates se leve a sério, o extraordinário é que o levem a sério. Mas claro que o "lançamento" não foi de um "livro".»

Atualização: este poste foi atualizado às 1:07 de 25-10-2013; e emendado e atualizado às 16:39 de 25-10-2013.

sábado, 19 de outubro de 2013

A entrevista de Sócrates ao Expresso, de 19-10-2013

O conteúdo da entrevista de José Sócrates a Clara Ferreira Alves, na revista do Expresso, de hoje, 19-10-2013, pp. 24-34, obriga-me ao comentário, distribuídos por vinte cansativos pontos:
  1. Uma entrevista de um José Sócrates blasé, nas fotografias de modelo - tiradas por Tiago Miranda, com roupas e botas da moda, halo mítico, com céu e Tejo por fundo - e no discurso ambivalente filosófico-escatológico, désabusé do «favor do povo» ingrato, com uma atitude de superior arrogância sobre adversários e amarga displicência sobre a política do género são-verdes-não-prestam...
  2. Uma entrevista narcisística - que outra poderia ser?... - com pretexto de episódios da sua vida e da ruína popular, como a sua inscrição no PPD, a sua ascensão no PS, o Governo Guterres, a tomada do poder, a campanha de 2005, o Freeport, a nacionalização do BPN, o despesismo do seu primeiro Governo, os voos da CIA pelo território português, a freudiana justificação filosófica da sua atitude perante a verdade, o luxo e o dinheiro, as escutas à Presidência da República, o PEC IV e o pedido de resgate financeiro à União Europeia e ao FMI.
  3. Uma entrevista de favor, à mesa de restaurante italiano (de que outro lugar gostaria mais?), combinada pelo mano Ricardo (Eu-Sou-Controlado - o linque foi apagado, mas a gente não esquece...) do Costa, de compensação pela pré-candidatura preterida a Presidente da República, com a simone-de-oliveira Ferreira Alves, no forro, tão eixo do bem (apesar de se vangloriar de «advogada do diabo»), de uma casaca sebenta, ela tão aborrecida por ter de «remexer em mexericos a par das questões patrióticas» (sic), tão dada que até vê «alguma candura» (!...) no entrevistado, cujo mémoire de mestrado tornado livro, que diz ter escrito «em francês» (técnico?) e traduzido «para português», a crítica literária avalia como «bem escrito e bem argumentado», a quem pergunta pelo «exame de Inglês Técnico ao fim de semana» (sic!?... com medo de lhe perguntar pela licenciatura domingueira), que questiona, com o eufemismo da perseguição da liberdade de informação e de opinião, o «desejo de litigância» (sic!?...) e que lhe pergunta pelo «mail do primo» Hugo, mas jamais pelo primo José Paulo Bernardo Pinto de Sousa, alegadamente aka «Bernardo» ou «O Gordo».
  4. Um Sócrates esquivo, falacioso nas respostas, e com versões seletivos de factos indiscutíveis, todavia, amargurado pelo seu recorrente problema com a verdade, «Essa questão da verdade...», que freudianamente procura justificar, enquanto vítima que se crê desse deontologismo. Intentando sublimar a verdade, põe a política numa categoria diversa - «o reino da opinião» -, dizendo que «só pretensos políticos pretendem fazer da política uma luta entre a verdade e a mentira». 
  5. O tardofilósofo, no qual se percebe algum fascínio por Carl Schmitt, argumenta com a «ética da responsabilidade» e pretende que sempre se filiou nas correntes do consequencialismo e do utilitarismo, o utilitarismo de Bentham e Stuart Mill». Contesta o deontologismo de Kant de «nunca mentir», mas gloria-se de que já leu a sua (Fundamentação da) Metafísica dos Costumes» (196 páginas) «umas dez vezes».
  6. Passa como raposa pela vinha vindimada do caso da licenciatura, sem responder à questão domingueira sequer, nem ao Inglês Técnico - «se quiser falar disso... falo» (mas não falou...). Tal como com o caso da «Face Oculta» (e o alegado plano governamental para o controlo dos meios de comunicação social antes das eleições de 2009).
  7. Sócrates justifica a sua inscrição no PSD por «convicção doutrinária». E afirma: «Não tinha nenhuma simpatia por Sá Carneiro, pelo contrário, e a única coisa boa foi a liderança do Guerreiro». Porém, José Sócrates apresentou o seu pedido de inscrição no PPD em 5 de novembro de 1974 (cf. o meu livro «O Dossiê Sócrates», pp. 218-219) e Emídio Guerreiro só foi secretário-geral do PPD em 1975, durante os meses em que Francisco Sá Carneiro se deslocou a Inglaterra para se tratar de doença inesperada. 
  8. A sua oratória alterna entre a pretensa elevação filosófica e a ostensiva rasteira escatologia. A expressão bem pensante - e até o gosto peculiar pelo adjetivo «horrível» -, contrasta com o discurso de merda-para-aqui-merda-para-acolá (com desculpa dos leitores): «a merda de um moderado»; «a merda da política». A questão da sujidade das mãos («calcular o mal menor... é isso sujar as mãos», «alguém que tem as mãos sujas, que passou toda a sua vida a sujar as mãos na política para escolher o mal menor») parece também perseguir o seu espírito no exercício da política.
  9. O «animal feroz» descreve-se agora como «um tipo que sempre foi a merda de um moderado»...
  10. Dando aparentemente razão à minha hipótese de que planeia o doutoramento conjunto possivelmente com Universidade da Columbia, do seu amigo Manuel Pinho (e daí o teste do IELTS que teve de realizar, em 29-8-2013) e a Sciences Po, agora que o projeto presidencial (e o de ser comissário europeu) se esfumou na noite das eleições autárquicas de 29-9-2009, apesar do anúncio no Expresso, de 21-9-2013, de que, com a publicação do livro com o «mémoire» sobre a tortura, «fechar o ciclo iniciado com a ida para Paris em 2001 e concluído com a defesa da tese em junho», vai ter de voltar à desculpa académica para a continuação do prudente exílio. Pois, na entrevista responde: «eu fui e ainda sou estudante da Sciences Po»... Ora, se terminou o mestrado, a única razão para dizer que ainda é estudante da Sciences Po, é que vai continuar para doutoramento ao contrário do que consta da notícia de Ricardo Costa, no Expresso, de 21-9-2013.
  11. Diz que tem agora uma vida boa: «nem sabia que existiam vidas assim, vidas tão boas. Nunca tinha tido uma vida dessas». Sabia, sabia; tinha, tinha. E procura justificar essa vida com a «fortuna» da mãe, de «muitos prédios (sic), «andares». Manda, todavia, a sabedoria popular que se desconfie da fortuna, tal como da santidade: «riqueza e santidade é sempre menos de metade da metade»... 
  12. Sobre o fausto paririsiense, alega que telefonou à sua «gestora de conta» (na CGD?) e pediu «um empréstimo ao banco de 120 mil euros», para «um ano sem nenhuma responsabilidade e levando um filho comigo», confessando «gastei o dinheiro todo». Realmente, vidas assim, e ainda para mais na esquerda-tão-esquerda de que se reclama nesta entrevista, há muito pouco... A esse luxo dos 120 mil euros na Paris das luzes e sombras, chama, todavia, a «vida contemplativa que tive nestes dois anos» - o que deve, na realidade, ser a nossa a contemplar tal fausto. Embora, depois, já fale nas «misérias da minha conta bancária» (sic) - não se percebe se o gasto dos 120 mil euros, se dos outros rendimentos e despesas.
  13. Justifica que agora trabalha para uma «empresa suíça, porque fui convidado a trabalhar na América Latina».
  14. E, se não tem guarda-costas ou seguranças desde que saí de primeiro-ministro, tem «o motorista de sua mãe»!... Portanto, nada de confusões, o motorista que usa não é seu. 
  15. Alega que não soube («só soube a posteriori»...), quando estava no poder, dos voos da CIA por território nacional (e aeroportos de bases militares portuguesas como a das Lajes, nos Açores), com prisioneiros da Al-Qaeda para lugares secretos onde eram torturados. Pelo sim, pelo não, defende-se: «Se fizeram isso... é preciso haver provas»...
  16. Nem sabia do buraco do BPN (para além dos «600 milhões de euros») - «não sabia o que aquilo era» e que o nacionalizou para evitar o contágio financeiro. Portanto, não se confirma a tese de que foi para ficar dono de Cavaco Silva, através da informação que o banco possuía sobre compra e venda de ações da SLN pelo Presidente e família.
  17. Justifica a festa do despesismo das PPPs no seu primeiro governo com a «boa doutrina económica»...
  18. Desculpa-se que só pediu o resgate financeiro, que nos traz agrilhoados, porque o PSD se opôs ao PEC IV, ainda que no final da entrevista confesse: «a alternativa era o default», «assinei».
  19. Alega que «a campanha das escutas» («o primeiro-ministro está a escutar o Presidente») que as suas operações suaves puseram nos média na véspera das eleições de 2009, dezassete meses depois de os factos terem ocorrido, foi pensado por um assessor do Presidente (que não nomeia, mas se percebe querer dizer Fernando Lima»), dizendo que se tratou de «uma conspiração da direita política com ligações á Casa Civil do PR para me impedirem de ganhar em 2009». Esqueceu-se, porém, da queixa do seu sucessor socialista, António José Seguro, sobre escutas em «telefones, computadores e outros meios» na sede do Largo do Rato...
  20. Finalmente, aproveita, esta ocasião do pergaminho académico, a que por cuidado, embora incida freudianamente sobre a tortura, dá o título de «A confiança no mundo», para atacar os adversários políticos e os média, que não reconheceram, o que se percebe crer, numa interpretação alienada da sua persona, o seu valor superlativo enquanto «chefe». Sem pejo, diz: «eu sou o chefe democrático que a direita sempre quis ter» (sic!!). O chefe que já não é de uma esquerda que o dispensou... E ataca, com insulto e rancor, os inimigos: «raios vos partam, vou vencer-vos a todos» (os rivais e aristocratas do PS); «pulhas»; «o bandalho» do Santana Lopes; Teixeira dos Santos que «se foi abaixo»; «o estupor» e «filho da mãe» do Schäuble; o «traste de um político» (Passos Coelho?) que «invoca a razão de Estado para pôr em causa a Constituição e a lei» (em contraste com essas duas «linhas vermelhas que nunca ultrapassarei, como político»); «os filhos da mãe da direita»; os «pistoleiros» do Correio da Manhã («fui alvo de uma perseguição política e pessoal de uma direita hipócrita»); além de Miguel Relvas que tuteava (e «achava-o um gajo decente»), mas, depois do episódio da campanha de 2005, «nunca mais falei com o Relvas» (nem agora, presume-se no regresso aos écrans); e até ao episódio, que mais lhe custou, do rumor posto a circular sobre uma alegada relação homossexual sua com Diogo Infante, «pessoa que nunca conheci e com quem nunca falei na minha vida» (note-se, aliás, que o ator Diogo Infante casou-se civilmente com o seu agente Rui Calapez, segundo o CM, de 19-10-2013, com quem vivia «há vários anos»). Em suma: um ajuste socratino de contas com os inimigos e com o povo mas, como sempre, seletivo na memória.




Nota: o José da Porta da Loja publica e comenta a entrevista de José Sócrates no poste «José Sócrates: Filosofia de almanaque e outros contos para papalvos». Leia-se também o poste de Paulo Guinote, «A Clara lava mais branco», ainda de 19-10-2013.


Pós-Texto (11:37 de 13-11-2013): O costume da metafísica socratina
Em resposta à crónica do comendador Marques de Correia (Henrique Monteiro) de 2-11-2013, no Expresso (falta-me o linque), José Sócrates, no Expresso, de 9-11-2013, no meio de uma redação hermenêutica sobre a justificação moral da mentira - que o atormenta... -, indica que o livro de Kant que menciona nesta entrevista ao Expresso, de 19-10-2013, não era a «Fundamentação da Metafísica dos Costumes» mas efetivamente, como disse, «A Metafísica dos Costumes».

Importa, então, corrigir, porque fiz o mesmo erro. Fica aqui dito: Sócrates não leu «umas dez vezes» o livro de Kant «Fundamentação da Metafísica dos Costumes» (196 páginas); desse mesmo autor, José Sócrates leu «umas dez vezes» o livro «A Metafísica dos Costumes» (de 507 páginas).


Atualização: este poste foi atualizado às 2:47 de 20-10-2013 e às 11:37 de 13-11-2013.



Limitação de responsabilidade (disclaimer): José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa, objeto da entrevista ao Expresso, de 19-10-2013, e de notícias que comento, não é aqui imputado de qualquer ilegalidade ou irregularidade.

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

A força da imunidade

A propósito do enviesado documentário Crimewatch, da BBC, de 14-10-2013, sobre a farsa do rapto da menina Madeleine (Maddie) McCann, em 3-5-2007, na Praia da Luz, no Algarve, é altura de novamente saudar o trabalho persistente feito pela Joana Morais na desmontagem da mistificação. Ao mesmo tempo, importa manifestar o nojo da cidadania perante a adesão acrítica dos média portugueses (briefados pelas contratadas agências de comunicação e temorosos de processos)à farsa do «rapto» - salvo raras excepções, como o CM.

O caso Madeleine McCann/Gerald e Kate McCann insere-se num conjunto de casos judiciais internacionais que provocam a urticária da honra nacional, como o de Meredith Kercher/Amanda Knoxx, na Itália, ou até o caso de Alexandra Zarubina em Portugal. É legítimo discutir se esses casos, indepentemente da culpa que aqui não se apura, teriam o mesmo desfecho se ocorressem com cidadãos nacionais no próprio país, inclusivamente em comparação com imputados de grande notoriedade ou prestígio local.

Quando não existe uma ostensiva smoking gun de vergonha, estes casos judiciais que acontecem num país estrangeiro, desencadeiam rapidamente uma campanha mediática de resgate da honra nacional do país mais poderoso ou considerado mais civilizado (!...), como nos exemplos acima referidos, a Grã-Bretanha, os EUA ou a Rússia. Sem grande demora, o Governo do país mais poderoso adota o assunto popular através da indiscutível razão de Estado aliada fácil da imprensa desse país, uns e outros objetos da ação sistemática das agências de comunicação contratadas com recurso ao dinheiro angariado pelas famílias dos imputados. Esse poder político-mediático do país dos imputados torna-se demasiado poderoso para a jurisdição do país onde o caso aconteceu, pressionada também ela própria pelo próprio poder político interno para que se ceda ao interesse estrangeiro, sem grande consideração pelos investigadores abandonados à condição de bodes expiatórios do caso.

Na prática, independentemente da responsabilidade nos factos, qualquer que ela efetivamente seja, estabelece-se uma espécie de imunidade dos cidadãos dos países mais poderosos relativamente a factos passados noutros países mais débeis.


* Imagem picada daqui.


Limitação de responsabilidade (disclaimer): As entidades referidas neste poste, objeto das notícias que comento, não são aqui imputadas de qualquer ilegalidade ou irregularidade.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

O julgamento dos delinquentes políticos




Mário Soares deu uma gravíssima entrevista à TSF, de 13-10-2013, na qual disse:
«uma parte do Governo, não são todos, claro, uma parte do Governo é um Governo de delinquentes. Delinquentes, é a palavra. (...)
«Estes senhores têm que ser, depois de saírem do poder, têm que ser julgados».
(Transcrição minha)
Do anterior conluio com Machete na sua FLAD, onde este foi seu serviçal, agora atira-o às feras. Longe vão os tempos da aliança tácita com Pedro Passos Coelho, para proteger a herança socratina e evitar julgamentos judiciais de governantes socialistas, discutidas em jantares privados e abençoada pelo convite para discursar na «Universidade de Verão» do PSD, em 2-9-2011, em Castelo de Vide, que terminou com um apoteótico coro desta JSD de «Soares  é fixe!». Embaraçado o PSD passoscoelhista, ignora o relevo jurídico da ofensa e a própria ofensa - se disfarçar, talvez não se note muito o consentimento...

Essa entrevista na TSF, de 13-10-2013 - a que se soma a intervenção em almoço da Associação 25 de Abril, em 16-10-2013, na qual questionou, segundo o Jornal de Notícias, a propósito do caso BPN, por que é que «o Presidente da República [Cavaco Silva] não é julgado» -, suscita o consequente comentário patriótico. Não são apenas os «delinquentes» (sic) deste Governo, ou o Presidente Cavaco Silva, que devem ser julgados, mas também Mário Soares, o padrasto da democracia portuguesaMário Soares deve ser julgado por:
  • a sua responsabilidade no genocídio da descolonização (em Timor, em Angola, em Moçambique e na Guiné), que ceifou centenas de milhar de vidas e arruinou milhões de famílias;
  • as suas negociatas particulares e dos seus governos e suas presidências - ver Mateus, Rui (1996). Contos proibidos - Memórias de um PS desconhecido. Lisboa: Dom Quixote. 457 páginas;
  • o seu enriquecimento pessoal em contraste com a penúria anterior à revolução do 25 de abril de 1974.
  • e a paternidade da doença infantil do socialismo português.

Como tem sido evidente, não haverá julgamento judicial da sua conduta nociva para com o povo português. O julgamento possível, e inevitável, é o escrutínio legítimo a que procedem os cidadãos e que a História, na sua versão livre politicamente incorreta, registará.


Atualização: este poste foi atualizado às 18:33 de 16-10-2013.

Limitação de responsabilidade (disclaimer): As entidades referidas neste poste, como membros do Governo português, Mário Alberto Nobre Lopes Soares ou Aníbal António Cavaco Silva, objeto das notícias que comento, não são aqui imputadas de qualquer irregularidade ou ilegalidade.

terça-feira, 15 de outubro de 2013

A liquidação da dignidade




A crise nas relações do Estado angolano com o Estado português, que culminou - por enquanto... - com o discurso de hoje, 15-10-2013, do presidente José Eduardo dos Santos, sobre o estado da Nação, depois de uma campanha continuada  com auge em 13-10-2013, logo a seguir à humilhante visita a Luanda do inábil secretário de Estado da Cooperação, Luís Campos Ferreira, em colunas virulentas no «Jornal de Angola» - que os média portugueses ignoraram, destacando apenas os editoriais suaves... - contra o Ministério Público, políticos portugueses (com maior realce para Ana Gomes, intitulada «rainha das zaragatas»...) e o próprio País, não distinguindo entre o Estado e o povo, carece aqui da concretização de princípios de dignidade moral prévios à eclosão desta etapa:
  1. Portugal não é o Grupo Espírito Santo.
  2. O problema maior das relações externas de Portugal não é a conclusão (ou não...) da venda da Escom à Sonangol (Estado angolano), que justifique a nomeação do atual ministro dos Negócios Estrangeiros, Rui Machete.
Nas relações internacionais, como na vida, quem muito se abaixa, descobre-se-lhe o traseiro. Porque a debilidade governativa principal surge da vontade de obter vantagens em negociatas para as quais são os dirigentes estrangeiros convidados.

E quanto mais se curva, mais se é humilhado. Então, não é vergando com pressão política, através de reuniões e telefonemas, o Ministério Público, que a posição do Estado português melhora. É através do respeito que se faz respeitar.

Portugal está numa situação ruinosa devido à corrupção política dos últimos anos. Por outro lado, a economia e a sociedade portuguesa dependem largamente das exportações para Angola e do emprego e do estabelecimento de empresas e das remessas de dinheiro dos portugueses aí residentes. Essa circunstância torna o poder negocial português, em condições normais - e abstraindo das comissões dos governantes - muito diminuto. Que ainda mais se reduz - ao contrário do que se pensa -, se o País for mais envergonhado pelo Governo. Portugal precisa muito da rica Angola e Angola precisa pouco do pobre Portugal. O regime atual angolano precisa apenas de Lisboa (nem sequer do resto do País), para bênção dos capitais, diversão e recuo, em condições que não encontra noutro lado - a deferência noutras países ocidentais não é a mesma.

Mas se assim é - e é mesmo! -, ou se modifica a lei do Estado português, se torna a praça de Lisboa uma offshore cega do trânsito abençoado de capitais, se firma por diploma legal a imunidade e a impunidade de cidadãos angolanos nos fluxos e aplicações financeiras no nosso País, se leiloa o resto dos ativos e dos média!... Porque não se deve transferir para os tribunais a responsabilidade de subrepticiamente aplicarem duas leis em solo pátrio, resolvendo eles as questões de natureza política. E, assim se acaba, de vez com a farsa e assuma o Governo que perdeu a independência nacional e que o executivo é apenas o liquidatário de credores e financiadores estrangeiros.

Ou se recupera do arcaz da História a perdida dignidade. Que, à vista deste caso (e apesar do pseudoarrependimento de última hora), não parece existir no poder político português. E que resolveria o imbroglio através do respeito de cada Estado pela autonomia do outro.


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sábado, 12 de outubro de 2013

O naufrágio da consciência



Novo naufrágio, a sudoeste da ilha italiana de Lampedusa, com mais 34 mortos, fora os desaparecidos, ontem, 11-10-2013, que se segue a outro de 328 mortos confirmados, na semana passada, e a outros mais. De mar de união, o Mediterrâneo regressa a cemitério - de novo. Empilham-se os mortos subsaarianos e do corno de África no trânsito para a Europa, no estreito da Sicília ou de Gibraltar, que crêem um canal direto que os livre dos senhores da guerra e os redima da miséria. Como, ceteris paribus, na fronteira mexicana dos EUA e nas praias de Cuba. Como disse o Papa Francisco, em Lampedusa, em 8-7-2013, «a globalização da indiferença torna-nos a todos "inominados", responsáveis sem nome nem rosto» - mas essa indiferença não varre a responsabilidade da nossa carga humana.

Agora, por contradição política, existe um problema humanitário grave que tem de ser resolvido por outro meio que não o naufrágio ou a expulsão imediata dos refugiados e imigrantes. Porque nem serve esta política europeia de imigração, ainda que com nuances por país, com notificação para tribunal (e clandestinidade) ou centros de detenção e deportação, nem uma política de imigração europeia norte-americanizada, do estilo «wet foot/dry foot» é humana, porque arrisca um êxodo maior, mais naufrágios e dificuldades de integração. Nem, por mais que se gostasse é viável uma política de portas abertas.  A solução não é fácil, mas certamente não deve ser hipocrítica. Não podem os europeus e os norte-americanos querer que os países vizinhos da Síria, e de outras guerras e fomes, acolham os refugiados e despejar os seus no oceano. Nós, portugueses, ontem emigrantes a salto para França e Alemanha e hoje turistas de andaime em Angola e Moçambique, temos uma obrigação moral ainda mais presente, porque não podemos querer um tratamento na casa dos outros que não demos na nossa.

O problema humanitário urgente ocorre porque os povos mais ricos, mais instruídos e mais poderosos, negligenciaram o seu «fardo» (que não é apenas do «white man», como no poema de Kipling, de 1899) perante os outros, uma responsabilidade que incumbe a cada homem, independentemente da sua pele, cultura ou religião, face ao seu semelhante. A contradição política é o resultado da hipocrisia politicamente correta. Em fuga à miséria e  à insegurança, subsaarianos (magrebinos e asiáticos) procuram a bela Europa da abundância e dos subsídios. Mas os mesmos políticos politicamente corretos que erguem o Estado socialista, que culminou o Estado social do século XX, são os que, à parte o discurso público humanitário de ajuda ao desenvolvimento e a confissão privada do eles-que-se-entendam, in loco, lhes desprezam o sofrimento nos países de origem, com passividade militar, e trocam a exploração económica dos territórios pelo financiamento dos ditadores, e, internamente, lhes fecham as fronteiras e os tratam como gado no mar e nos centros de asilo ou oscilam, ao compasso do metrónomo eleitoral, entre a indiferença e a perseguição.

A autonomia política de territórios cujas fronteiras foram desenhadas a esquadro pelas potências europeias na Conferência de Berlim de 1885, e garantidas a ferro de fogo desde então, separando povos e tribos e forçando convivências culturais e religiosas adversárias, não foi suficiente para a paz e o desenvolvimento. África tornou-se um corno de corrupção, de guerra e de fome, perante a raison d'État europeia, americana e asiática, numa mistura egoísta de negócio, hipocrisia e desprezo. É na origem que os êxodos se resolvem, através da pacificação e da organização da economia e do trabalho. Mas as potências mundiais, com os EUA à cabeça, abdicaram da intervenção nos territórios sem recursos naturais, e, desde o genocídio do Ruanda e o risco de Black Hawk Down da Somália, recuaram para um cerco marítimo, no Índico contra a pirataria e no Mediterrâneo sustendo a imigração, com raides esporádicos contra bases terroristas, como os recentes na Líbia e na Somália, ao mesmo tempo que aliviam a consciência, com o julgamento seletivo em tribunais penais internacionais de líderes e oficiais caídos do poder.

O esforço de nation building e de exportação da democracia representativa, e a própria intervenção humanitária, desde logo impregnados de avidez de exploração mineral, restringem-se à carne suculenta dos territórios ricos, deixando os cornos do mundo baldios para o fratricídio e o terrorismo. Que dogmatismo ideológico, comunista, socialista ou liberal, pode aguentar um resultado de massacre e de inanição?!... Não há uma maxima culpa, de que importa penitenciar, quando se ignorou, e ignora, a degeneração brutal dos paradigmas ideológicos na redução ao modelo local despótico do chefe-que-tudo-manda-e-tudo-tem?...

A ajuda monetária ao desenvolvimento, principalmente a estatal, apenas sinaliza o interesse perante a opinião pública para aliviar as consciências do povo. Veja-se, a propósito, citado por D. Soriano no Libertad Digital, de 12-10-2013, o livro «Dead aid», de Dambisa Moyo, em 2009, no qual a autora explica que a sobreconfiança na ajuda internacional gerou nos países pobres um «círculo vicioso de dependência externa, corrupção, distorção de mercado e maior pobreza, deixando-os sem mais nada do que a necessidade de mais ajuda». Uma grande parte da ajuda estatal é canalizada para os dirigentes corruptos dos Estados e a dependência entranha-se como vício - porém, manda a verdade que se diga, que este não é apenas um problema africano...

O desenvolvimento social carece do desenvolvimento económico e esse deve ser facilitado pelos Estados dos outros continentes - e pelos próprios africanos, quando ascendem a posições de poder ou apoiam os dirigentes. Em vez do modelo de nós contra o Outro devemos implantar um paradigma de nós com o Outro, evitando assim o naufrágio da consciência. À beira de novo tumulto ideológico, mas em circunstância diferente da encíclica Populorum Progressio, do Papa Paulo VI em 1967, agora, desde que efetiva e justa, a paz é o novo nome do desenvolvimento.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Machete e a dignidade do Estado

para apaziguar os incidentes do chamado «1, 2, 3»


O caso do ministro Rui Machete explica-se pela usurpação do Estado por interesses privados dos governantes e pela posição de súbdito em que o Governo português se colocou face ao poder reinante em Luanda
. Não basta, o facto de que, revelado pelo jornalista João Pedro Henriques, no DN, de 6-10-2013, o agora ministro Machete trabalhava antes para a firma judiceal PLMJ que «defende angolanos investigados na PGR», pois tem havido, desde há muito, uma cumplicidade  não apenas política, mas negocial, entre os máximos dirigentes portugueses e o poder de Luanda.

Já era suficiente para que Rui Machete não fosse nomeado ministro a sua ligação à SLN/BPN e a sua «incorreção factual» (sic) de 2008 sobre as ações da SLN, que afinal tinha, e que admitiu, sem pudor, em 21-9-2013, ter sido um falhado desmentido-que-não-desmente:
«No momento em que escrevi esta carta, em 5 de novembro de 2008, não tinha quaisquer ações ligadas ao Banco Português de Negócios (BPN). Aliás nunca tive, em qualquer momento, ações do BPN. Equivocadamente escrevi então que nunca tinha tido ações da Sociedade Lusa de Negócios (SLN). É bom sublinhar que este é o único ponto da minha carta em que existe uma incorreção factual».

Agora, foi caçado num vergonhoso pedido de desculpas às autoridades de Luanda, em entrevista à Rádio Nacional de Angola, de 18-9-2013, e na justificação atrapalhada que deu quando foi interpelado sobre isso. A Procuradora-Geral da República, Dra. Joana Marques Vidal, viu-se forçada, em 4-10-2013, a desautorizar o ministro, que foi professor de Direito, lembrando-lhe a lei e a separação de poderes.

No Parlamento, ontem, dia 8-10-2013, embaraçou-se («as minhas afirmações, que não têm nada a ver com subserviência, não são interpretáveis em termos estritamente jurídicos»...) entre as questões do Bloco de Esquerda (como «Quem é que pediu informações genéricas à procuradora geral da República?», a que não respondeu), o aperto socratino (Pedro Silva Pereira preocupado com «os direitos humanos»!...)  -- quem esperava que o ex-primeiro-ministro se zangasse com os ex-parceiros da tomada socratina do BCP e de outros negócios de Estado?!... -- e a cumplicidade tácita com outros deputados (como Maria de Belém).

Ora, ao contrário do que disse o ministro Machete, não foi «a violação do segredo de justiça» que «causou problemas diplomáticos» em Portugal, mas a realização do próprio inquérito -- instaurado em Lisboa a pedido das autoridades de Luanda, como recorda o José --, eventualmente para resolver desequilíbrios de poder na sua macroestrutura que a maneira habitual local não conseguia solucionar e que se alongou a outras personalidades de muito maior relevo. Em tempo, escrevi aqui que este caso tinha o efeito pedagógico de demonstrar às autoridades de Luanda que não podem/devem usar as instâncias judiciais portugueses para desempatar os seus desafios internos de poder porque arriscam-se a que, como explicava Leonardo Sciascia, em «Il giorno della civetta», a cadeia alonga-se tanto, tanto, que até pode ser implicado «il padreterno»...

É que não basta às autoridades de Luanda uma espécie de extraterritorialidade judicial de facto em Portugal dos seus cidadãos proeminentes, pois o que se pretende, no limite é uma extraterritorialidade da praça financeira portuguesa para os seus cidadãos. Porque a opção do poder de Luanda por outras praças financeiras, como a de França, foi demasiado arriscada, e outras praças europeias ou mesmo os EUA são demasiado «burocráticas» para utilizar a expressão desculpabilizadora do ministro Machete. E assim, porque existe a possibilidade de exercer o controlo e mandar em Lisboa, o poder reinante em Luanda pretende garantir essa imunidade financeira e judicial. E, verdade seja dita, que se não existisse a regulamentação financeira supranacional da União Europeia e o chato Moneyval, não demoraria até que Portugal, num género de Chipre da Europa Ocidental, fosse transformado num offshore de jure, como já acontece de facto no registo de entrada de dinheiros de Luanda nos bancos portugueses, com aparente vista grossa do Banco de Portugal (BdeP).

Vi na TVI24, no sábado, 5-10-2013, o Dr. Joaquim Aguiar a defender tese da unidade do Estado, em detrimento da doutrina da separação de poderes, com a justificação de que o Estado é só um. É verdade. Mas deve ser entendido nessa trindade santíssima (passe a blasfémia!) de poder executivo, poder legislativo e poder judicial. Porque não pode ser, então, o poder judicial, os seus juízes e os seus procuradores, a obedecer ao poder executivo (o Governo) no exercício concreto da investigação e ação penal, mas o Governo a respeitar integralmente o poder judicial nesse exercício próprio. O Dr. Joaquim Aguiar explicava a situação de extrema dependência do País nesta altura como contexto dessa conformação do poder judicial pelos interesses estrangeiros, neste caso a imunidade judicial. Mas esta situação de «colonização invertida» -- como o Dr. Joaquim Aguiar lhe chamou e que também encontra fundamentação nas atuais relações luso-brasileiras, como se verifica no caso do negócio PT/Oi --, deve ter resolução no plano legislativo, se é vontade do poder político consagrar essa extraterritorialidade judicial e financeira, uma espécie de couto financeiro. Façam-se, então -- sem qualquer vergonha! -- as leis que estatuam o País como couto financeiro alheio: não se atire para o poder judicial a responsabilidade de fazer vista grossa a indícios de crime!...

A procuradora-geral da República portuguesa não pode ser sujeita, e não só agora (entreveja-se a reportagem de António José Vilela, na revista Sábado de 4 de julho de 2013), à pressão do Governo, e do Presidente da República, para uma solução política desses processos em curso. Não fez o poder político, como noutro plano ainda mais vergonhoso no processo Casa Pia, um diploma legal para livrar de consequências penais os esquemas de subtração de dinheiro ao Estado identificados na Operação Furacão?... Faça agora outra, se ousa - já que o novo DCIAP, menos cândido, não parece colaborar.... Não busque safar-se o Governo à pala da vista grossa do poder judicial.

A situação de dependência externa do País é terrível e a subserviência o seu efeito político. Portugal carece dos investimentos angolanos e, com muito maior relevo económico e social, das exportações para Angola e do acolhimento em Angola dos cidadãos portugueses que aí se estabeleceram e dos que lá trabalham, muitos deles com vistos precários e infelizmente descritos como «turistas de andaime». Mas a relação com a praça financeira de Lisboa tem de ser ditada pelas leis nacional e internacional, desde logo com a resolução em Angola, pelos operadores angolanos, da «burocracia» (para usar a expressão do «formulário» Machete) das transferências de dinheiro, em vez de quererem que ela seja solucionada, a posteriori, em Portugal.

Por fim, importa destacar que, por maior que seja a sua ruína, um Estado deve evitar perder a sua dignidade -- no que incorreu o Governo, através do ministro Machete «pedindo diplomaticamente desculpa» em direto na Rádio Nacional de Angola, em 18-9-2013, relativamente à consequência de um inquérito judicial mandado abrir pelas próprias autoridades de Luanda. Não existe neste caso perigo semelhante ao do motim comunista do 1, 2, 3 em Macau, no auge da Revolução Cultural, em 1966, que ameaçava fazer cair o território mais cedo do que foi firmado na Constituição portuguesa de 25-4-1976 e consumado em 20 de dezembro de 1999. E não creio que o Rui Machete se tenha excedido face à humilhação do País, que combinou com o primeiro-ministro e eventualmente foi discutido com o Presidente da República. O erro está, portanto, nessa falta de respeito que o Estado português se dá e que é insuportável.


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segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Respeito

Com a mesma indiferença com que se baralha e volta a dar os cortes desiguais das pensões no baralho do poder - não impondo, como exemplo, o corte também retroativo nas pensões dos políticos -, vai-se transmitindo, gradualmente e com voz melíflua, a inevitabilidade da continuação do protetorado em que os portugueses vivem sob a vigilância da União Europeia/FMI, para além do prazo de maio de 2014 deste «programa de ajustamento». Se não houver mudança da política corrupta para uma política patriótica, como este resgate falhou - porque Portugal continuará usurpado da sua soberania financeira, económica e social -, será fornecida outra pílula no dia seguinte, numa continuidade da austeridade desigual em curso.

Creio que nos aproximamos do momento em que o povo se cansa e exige respeito. A ideia de que o povo se resigna perante um regime corrupto de longa duração é falsa.

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Veja a Oi, a PT, mais o PT, na CorpCo

A fusão da Portugal Telecom (PT) com a brasileira Oi, em 2-10-2013, justifica grande indignação patriótica. Por isso, comento o negócio. E publico, através de fac-simile, uma inesquecível história, e inédita deste lado de cá do mar, de uma reportagem da revista Veja, de 28-8-2013, sobre a Oi, que os média portugueses, certamente por ignorância da notícia não referiram. Ficam, como sempre, para memória, os documentos.

A PT perdeu em 2010 um ativo económico muito importante (na poderosa Vivo); e agora, nesta fusão fria, a PT tem de mobilizar recursos (cerca de 2,33 mil milhões de euros?!...), para acudir a uma empresa dita falida (a Oi), além da posterior subscrição pública. A manchete da primeira página do Estado de São Paulo, de 3-10-2013, é clara: «Endividada, supertele nacional se une a portugueses»; e a manchete da Folha de São Paulo, do mesmo dia, também, «Em meio a dívidas, Oi se funde à Portugal Telecom - brasileira receberá até R$ 14 bi». Veja-se também a notícia desenvolvida da Folha de São Paulo e a coluna de Vinicius Torres Freire, na Folha, em 3-10-2013, que enquadra historica e politicamente a circunstância da Oi. É que a génese da Oi, sucessora da Telemar, deve ser compreendida no trânsito de poder e de dinheiro ente o poder partidário do PT e os políticos-empresários que gravitavam em redor do presidente Lula - veja-se, por exemplo, o escândalo do investimento da Telemar na empresa Gamecorp do Lulinha (como é conhecido no Brasil o filho do ex-presidente Lula) por 5,2 milhões de reais.







Na anunciada fusão, os acionistas da PT vão ter «38,1% da nova empresa» (apesar da entrada fresca de dinheiro na empresa podre). Como se lê na notícia acima da primeira página do Estado de São Paulo, de 3-10-2013, o Governo brasileiro «chancelou a operação para a criação da multinacional». Em troca, a sede da nova empresa, provisoriamente CorpCo, vai para o Brasil - e lá ficará, por mais que se desminta, a correspondente maioria da riqueza e rendimento, emprego, contratos, subsídios e impostos... Em compensação, acordou-se um conselho de administração de tutti quanti, até com os ressuscitados ongoings Nuno Vasconcellos (da loja Mozart da GLLP) e o agente operativo Rafael Mora. Zeinal Bava será o CEO.

Percebe-se também agora que um talvez o principal objetivo da visita da presidenta Dilma a Portugal, em 9 e 10 de junho de 2013, que aqui tratei. E não creio que a preocupação derivasse da «enorme dívida que a holding Telemar Participações», da banda de Lula, «tem com o BNDES» do Governo brasileiro por causa do BNDES, mas da situação financeira dessa holding e eventualmente de outras sociedades que participam no capital social da Oi.

O chairman da PT, Henrique Granadeiro, disse no 2-10-2013, que uma «companhia multinacional como a que acabamos de criar não é uma companhia de bandeira». Pois eu acho que é uma companhia de bandeira... brasileira. Um festim em que Portugal contribui com a carne e o lulismo brasileiro entrega ossos roídos, mediante uma taxa e a casa.

A revista Veja, de 28-8-2013, trouxe, da página 56 à 60 e com chamada na primeira página, sem qualquer eco nos média lusitanos, uma reportagem intitulada «Proposta indecente», sobre uma alegada tentativa de compra, em agosto de 2013, através de «honorários» (a «propina»), pelo deputado federal Vicente Cândido, do Partido dos Trabalhadores (outra sigla PT...) de São Paulo do conselheiro Marcelo Bechara da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) para que este intercedesse a favor do perdão de multas e da diminuição de encargos da Oi, uma empresa que a Veja diz que o ex-presidente Lula teme a «bancarrota» (multas de 10 mil milhões de reais, ou cerca de 3,3 mil milhões de euros ao câmbio de hoje, para cerca de 8 mil milhões de reais, ou 2,7 milhões de euros, de valor de mercado estimado da companhia, e que segundo a Folha de São Paulo, de 2-10-2013, tem uma dívida equivalente a 9,98 milhões de euros, à taxa de câmbio de hoje) - além de festas em mansões com um diretor da Oi, lobistas e o presidente da dita Anatel.

Note-se que Zeinal Bava terá sido empossado «em 4 de junho de 2013» no cargo de «presidente executivo do Grupo Oi» (ainda que a Folha de São Paulo, diga que Zeinal «assumiu a Oi em abril» de 2013), acumulando com o mesmo cargo na PT Portugal. Estes alegados factos passam-se em agosto de 2013. Contudo, na mesma reportagem da Veja, «a Oi nega que Vicente Cândido esteja oficialmente autorizado a defender os interesses da companhia».





















Recordo que em julho de 2010, a Portugal Telecom vendeu à sua sócia espanhola Telefónica (na Brasilcel), da brasileira Vivo de telefonia móvel, na qual a PT detinha 30% e a empresa espanhola a mesma quota, no culminar de um muito estranho negócio ao qual o Governo de José Sócrates se opôs, com a utilização da «golden share», em 25 de junho de 2013 por motivo do invocado «interesse estratégico do País», e apenas cerca de um mês depois, em 28 de julho de 2013, aceita essa mesma venda, com a justificação da compra, com metade do dinheiro do negócio (3,75 milhões de euros, sendo a outra metade distribuída pelos acionistas da PT, como o grupo Espírito Santo), de uma operadora de telecomunicações, descapitalizada e cheia de problemas, de telefonia fixa, de que se queria desfazer a banda de Lula que a tinha conglomerado a partir de empresas regionais. Uma pipa de massa e um gato faminto em troca de uma lebre gorda. Mas todos felizes, especialmente os principais protagonistas: Ricardo Salgado (e a sua testa de ferro Ongoing), Sócrates e Lula.

Sobre este assunto do Governo Passos, «apropriadamente avisado», não se ouviu ai, nem ui... Se a corte de D. João VI foi para o Brasil em 1807, e se o almirante Sarmento Rodrigues, em 1962 (eventualmente na linha de Vicente Ferreira, que mudou o nome de Huambo, do general Norton de Matos, para Nova Lisboa) chegou a sonhar com a capital portuguesa em Angola ou Moçambique, por que não há-de a economia nacional funcionar como uma espécie de império exógeno, em que os portugueses são governados de fora, as suas empresas detidas por estrangeiros e a sua riqueza alienada aos forasteiros?!... Há-de ser um altruísmo moderno, mesmo se parece a evidência de uma cobiça antiga...


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quinta-feira, 3 de outubro de 2013

As ameaças do passoscoelhismo

As vaias e os insultos que o Dr. Paulo Rangel sofreu no Conselho Nacional do PSD, de 1-10-2013, que se terá visto forçado a encurtar a sua legítima intervenção (segundo me informaram), não são só uma expressão de estalinismo trauliteiro, mas também de desespero. As ameaças de José Pedro Aguiar Branco (que tristeza...), de Miguel Pinto Luz, de Ribau Esteves e de Marco António Costa, de expulsar quem não se resignou perante as opções impopulares não passarão. Nem os patriotas do País o consentiriam, nem creio que o passoscoelhismo debilitado se atrevesse a concretizar a purga interna contra dissidentes da linha ruinosa do partido.

A culpa dos péssimos resultados das autárquicas não está na inconformação com a linha passos-coelhista desses militantes, que lançaram candidaturas independentes ou as apoiaram - e que o povo plebiscitou. A culpa reside na sede de uma política passoscoelhista prejudicial ao País, e ao partido, de austeridade desigual e de promiscuidade com grupos de interesses (uma continuação do socratismo por outros meios) e com o poder anterior, a escolha absurda de ideologia ultraliberal num tempo novo de solidariedade e de opções autárquicas realmente fraccionistas, como as do Porto, de Gaia e de Sintra. Em vez da preservação do caciquismo o que a direção do partido deveria ter decidido eram eleições primárias no partido para a escolha dos candidatos a presidentes de câmara.

Proceder à defenestração dos militantes que ousaram erguer-se contra o arbítrio teimoso de Passos Coelho apenas agrava a alienação do povo perante o PSD e levará o partido para um buraco fundo. Os comportamentos que importa sancionar politicamente com o afastamento de funções (pois a liberdade de opinião dos militantes jamais deve provocar a sua expulsão) são os de quem pactua com os socialistas, como o de Pedro Pinto, uma escolha de Passos Coelho para Sintra, e que, em troca de lugar na vereação, coligou o PSD ao PS três dias após às eleições!... É esse blococentralismo passoscoelhista, subserviente ao PS, que o PSD de matriz sá-carneirista ressente.

Por mais que ameace, discarce e se arraste até ás eleições eurpeias de maio de 2014, Passos Coelho já é passado. O futuro próximo do PSD e do Estado está em Rui Rio.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Balanço das eleições autárquicas e suas consequências

Após serem conhecidos os resultados eleições autárquicas de 29-9-2013 é hora de um balanço, em dez pontos:
  1. Os resultados agregados a nível nacional do número de votos para as câmaras municipais constituem uma vitória do Partido Socialista, ainda que tenha descido em número de votos e percentagem, uma queda do PSD, consolidação, em baixa, do CDS (apesar da subida do número de câmaras), a continuação da descida do Bloco de Esquerda e uma recuperação assinalável do PC na Grande Lisboa e no Alentejo.
    O PS e as suas coligações (PS; PS-BE-PND-MPT-PTP-PAN; e PS-PTP-PND-BE) alcançaram 36,71% dos votos para as câmaras; enquanto o PSD, CDS-PP e as suas coligações (PSD; PSD-CDS; CDS-PP; PSD.CDS-MPT; PSD-CDS-PPM; PSD-PPM; PSD-PPM-MPT; PSD-CDS-MPT-PPM; PSD-MPT-PPM; CDS-MPT-PPM; PSD-CDS-PPM-MPT; CDS-PSD; CDS-MPT; PSD-MPT) receberam 34,81% dos votos - note-se que se as contas forem feitas em número de mandatos a percentagem sobe, porque os votos nos partidos pequenos perdem expressão e não valem os votos brancos e nulos... Fora coligações, o PSD reteve agora 16,69% dos votos contra 22,95% em nas eleições de 2009. Assim sendo, há uma vitória do PS, mesmo se, face às autárquicas de 2009, diminuí o seu número de votos e a sua percentagem (1.810.744 votos e 36,25% contra 2.084.382 votos e 37,67%). Além disso, o PS terá ficado com 150 câmaras municipais, o PSD com 106 e o CDS com 5. A vitória do PS, mesmo se esquálida, é condição de sustentação da sua fraca liderança até às legislativas.
    O PCP-PEV (CDU) subiu em percentagem para 11,06 e em votos. O Bloco, quase sem implantação local, e descoligado do PS, caíu para 2,42%! E o CDS manteve a sua percentagem de votos, ganhou 4 câmaras, avançou noutras com a sua tática de guerrilha e coligações e deu a aparência de ter ganho o Porto no camião de Rui Moreira...
    Destaque ainda para o aumento de votos brancos e nulos face às eleições autárquicas de 2009: de 2,97% passou-se a 6,82!... E ainda para a abstenção record de 47,39%!... Este voto, e ausência, de protesto deveriam fazer refletir os políticos para a necessidade de caminhar para a democracia direta, através de eleições primárias nos partidos (auditadas por organizações independentes), na escolha dos candidatos de cada partido em vez da imposição de aparelhistas e paraquedistas que alienam a vontade popular.
  2. O mapa autárquico do País (ver infografia no Expresso, de 30-9-2013) relativamente às câmaras municipais, tingiu-se de rosa, com um ângulo vermelho da península de Setúbal ao Alentejo (e com relevo para a reconquista dos concelhos de Loures, de Évora e de Beja). O PSD fica com: uma coroa de Bragança a Chaves; umas ilhas no Minho; Aveiro litoral e uma faixa em Viseu; um laivo de Pombal ao Sabugal; Oeste Norte, Rio Maior e o concelho de Santarém; parte do distrito de Portalegre; na área metropolitana de Lisboa somente o bastião de Mafra e Cascais em minoria; abaixo de Lisboa apenas quatro câmaras isoladas no Algarve; e quatro câmaras nos Açores e redução para somente quatro na Madeira. O PC tem um crescimento significativo e recuperação na Grande Lisboa e aperta a sua tenaz sobre a península de Setúbal e Alentejo, mantendo Peniche, Constância e Alpiarça e conquistando Silves.



  3. Houve uma derrota do PSD sistémico e uma resistência, apesar deste Governo, do PSD sociológico. Passos Coelho e a sua fação sistémica, baseada internamente na militância trauliteira e nos sindicatos de voto, em troca de benefícios sociais, das áreas metropolitanas do Porto e de Lisboa, perderam. Esse PSD, passista-menezista, Miguel-Pinto-Luz/Marco-António-Costa, perdeu. Há uma derrota da piratização de Estado, que Passos - no seu modelo de vendas a pataco de ativos do Estado (veja-se o caso do BPN Brasil vendido por 12,3 milhões ao angolano BIC, na véspera das autárquicas) -, tem continuado do seu amigo pessoal Sócrates, face à resistência de um PSD com imagem de rigor e de administração cuidada, de matriz patriótica. Nestas eleições, o povo puniu a corrupção notória, os candidatos das negociatas e dívidas, os aparelhistas vindos de longe e os caciquitos locais, a fação dirigente PSD maçónica, com saudades de um futuro de respeito pela matriz sociológica sá-carneirista e serviço efetivo do povo.
  4. Não se trata apenas de uma derrota do PSD passista, mas também uma derrota do Governo Passos-Portas e da política promíscua de austeridade desigual que tem sido praticada. Sem sentido de Estado, da história e sem sabedoria para compreender os desafios, Passos fez do PSD um partido liberal num País pobre e em crise, num tempo em que o liberalismo é condenado ubiquamente, pelo beco social a que nos trouxe e com maior destaque para o Papa Francisco. Leia-se veja-se a entrevista do Papa a Eugenio Scalfari no Repubblica, de hoje, 1-10-2013, recriminando o «chamado liberalismo selvagem» que «faz os fortes mais fortes, os fracos mais fracos e os exluídos mais exluídos» da grande mesa de Deus, com idosos isolados e que traz os jovens «esmagados no presente», «sem memória do passado e sem desejo de se projetarem no futuro» - além dos adultos, eles também na mesma amargura. É também contra essa deriva ultraliberal e de prioridades face ao PSD sá-carneirista que aconteceu este resultado.
  5. Rui Rio tornou-se o novo vice-rei do Norte, correndo o risco do seu apoio ao candidato independente Rui Moreira, numa vitória histórica sobre o menezismo (mal apoiado por José Pedro Aguiar Branco, que afinal se perdeu nessa adesão). Uma espécie de um plebiscito à sua gestão, que ultrapassa a fronteira do concelho e do distrito e cujo efeito desce até Lisboa. Por mais que o PSD passista, sistémico e caciqueiro, estrebuche (como Miguel Pinto Luz e o menezista Ribau Esteves) e Marco António Costa ameace os dissidentes com expulsão, Rui Rio será, se tudo continuar como se espera, o novo líder do PSD, eleito no Congresso Extraordinário do PSD que há-de suceder às eleições europeias de maio de 2014 e há-de determinar o candidato às legislativas antecipadas de fevereiro de 2015, apesar do apoio da troika. A defenestração que deve acontecer no PSD não é dos resistentes, do PSD maquisard destas eleições e de matriz sá-carneirista, mas dos traidores dos anseios de recuperação patriótica e de limpeza do Estado, viciados em negociatas e nepotismo.
  6. Derrota de Alberto João Jardim, com perda de sete câmaras em onze. O eleitorado parece transitar para uma nova geração liderada por Miguel Albuquerque, que havia perdido as primárias da região. Embora ainda não se tenha visto ainda a última cartada de Jardim... E, se corra o risco, nesse processo instrumentalizado pela Maçonaria, de os votos transitarem por essa nova liderança pós-Jardim, no médio-prazo, para os socialistas - como aconteceu nos Açores.
  7. Outro protagonista foi António Costa, em Lisboa, cujo resultado de 50,9% lhe permite a habitual catapulta para uma candidatura presidencial. E, na sombra, José Sócrates, cujo projeto presidencial se esfumou e que, apesar do anúncio no Expresso, de 21-9-2013, de que, com a publicação do livro com o mémoire sobre a tortura «quer fechar o ciclo iniciado com a ida para Paris em 2001 e concluído com a defesa da tese em junho», vai ter de voltar à desculpa académica para um exílio dourado norte-americano, com a justificação de doutoramento possivelmente na Universidade da Columbia. E lá virá depois tentar corrigir o passado, dizendo que não disse o que disse, esclarecendo que os seus estudos não tinham terminado nada com a publicação do livro como terá dito ao Expresso.
  8. Alguns resultados específicos a assinalar, além da magna vitória, contra tudo e todos, portuense, de Rui Moreira: a derrota de Junqueiro, em Viseu, que perdeu para o sistémico relvista António Almeida Henriques, que, mesmo assim, mal por mal, ainda perdeu um terço dos votos; a perda do PSD sistémico de Moita Flores, em Oeiras, para o homem de palha de um presidiário... no concelho mais instruído do País, e do passista Pedro Pinto em Sintra, com o PSD Marco Almeida a quase ganhar; a vitória de Ricardo Rio na Braga que foi de Mesquita Machado; e, jáa agora, o bom resultado do Prof. Norberto Pires em Condeixa-a-Nova, em condições muito adversas.
  9. Não chega agora, em desespero, a Passos aceitar um Congresso Extraordinário do PSD, para refazer a sua base de apoio interna, recuar alguns operacionais sistémicos (como Marco António Costa) e puxar Rui Rio para um combate prematuro. Aconteça esse congresso, ou não, outro líder lhe sucederá após a débâcle das europeias de maio de 2013, eventualmente já sem Passos, refugiado no exílio dourado das areias brasileiras, como Miguel Relvas. Como diz um amigo meu, um líder só dura enquanto é eterno» - e Coelho deixou de ser, passando, noutros passos, a evanescer-se como um fogo fátuo da troika. Quiçá Passos teime, como nestas próximas eleições europeias apreesentar uma lista de candidatos constituída por: Fernando Seara, Luís Filipe Menezes, Marco António Costa, Carlos Abreu Amorim, José Pedro Aguiar Branco, Miguel Pinto Luz e Pedro Pinto...
    O Congresso Extraordinário do PSD, que eu e outros patriotas ousámos propor num Pronunciamento Patriótico em 4 de dezembro de 2012, irá, realizar-se mais cedo ou mais tarde. Tínhamos, e temos, razão nos motivos e nas propostas. Mais cedo eventualmente do que cheguemos às 2.000 assinaturas necessárias. Se Passos ceder, esse congresso servirá para a discussão da linha do PSD e do Governo e para erodir a base de apoio passista. Um passo mais para o calvário do senhor (passe a blasfémia!).
  10. Realce ainda para a enorme demora e dificuldade de acesso aos resultados eleitorais: servidor em bloqueio frequente e com confusão e erros nos números (o refresh do computador provocava, muitas vezes, um retorno aos números passados nos números de freguesias e votos!...), demora no conhecimento dos resultados até á tarde do dia seguinte! Nem tudo se explica pela junção de freguesias e pela extinção dos governos civis. Um enorme fiasco informático e organizativo do Ministério da Administração Interna (e dos seus dirigentes socratinos), que tiveram muito tempo para evitar este colapso, que abaixo documento no printscreen da página oficial de resultados.


Pós-texto (9:14 de 2-10-2013): Marco António Costa anunciou, nesta noite, a realização de eleição direta do presidente do PSD em janeiro de 2014 e de Congresso do PSD para fevereiro de 2014. É inconsequente para aquilo que o passimo pretende: por efeito do previsível mau resultado do PSD nas europeias de maio, haverá um Congresso Extraordinário do PSD no outono de 2014 para a escolha de novo líder e nova equipa dirigente para concorrer às eleições legislativas necessariamente antecipadas, provavelmente em fevereiro de 2015. Confirma-se, então, o Congresso, que por mais que se disfarce, é extraordinário.


Atualização: este poste foi atualizado às 9:14 de 2-10-2013 e 8:31 e 9:29 de 3-10-2013.
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