sábado, 27 de dezembro de 2014

Demissão já do diretor-geral dos serviços prisionais!

«President Snow (John Chamberlain): Hope, it is the only thing stronger than fear. A little hope is effective, a lot of hope is dangerous.»

O caso da devolução pela cadeia de Évora da encomenda com um livro enviado por António Arnault ao detido n.º 44 José Sócrates foi, desde o início, uma operação montada pelo socialismo maçónico. Segundo o art.º 127.º do do decreto-lei do Regulamento Geral dos Estabelecimentos Prisionais, que ele próprio aprovou em Conselho de Ministros em 3-2-2011, tinha direito a receber uma encomenda por mês, e de um remetente que não havia previamente autorizado como está estipulado nesse regulamento, mas neste primeiro mês de prisão já tinha recebido mais de 40!... E queixam-se porque não recebeu a 41.ª!...

Outras tentativas de vitimização já fez e outras fará. Se não resultarem para virar a seu favor a opinião publicada, que está pressionada pelo povo arruinado, a sua corte ainda lhe inventará uma doença de uma gravidade tal que aconselhe... a prisão domiciliária. Em casa, comandará o ataque contra o inquérito - mais do que já fez (sim, sim!). Sócrates é fraco e não aguenta a prisão, por mais que lhe atribuam direitos que a lei não lhe dá e de que os demais detidos nas cadeias portuguesas não gozam. E a esperança que acalenta ainda o deprimirá mais: a esperança é perigosa para quem está preso...

Como se fez a operação? O centro prepara o plano de ação: um envia a encomenda com o livro; o outro mandou devolver como previsto; e, imediatamente, ativam-se os editores de confiança nos média a clamar, em coro, que a pobre vítima sofreu um atentado aos direitos humanos... 

É urgente a demissão do espião-maçon-socialista Rui José Simões Bayão de Sá Gomes do cargo de diretor-geral de Reinserção e Serviços Prisionais.


Pós-Texto (16:17 de 27-12-2014): Pacotes há muitos
Pelo que se percebe deste poste do Vítor Cunha, no Blasfémias, de hoje 27-12-2014, a operação de vitimização é mais vasta e envolve a trupe do alibi social, com fotografia de instrumentos de tortura do tipo pano de waterboarding, neste caso um envelope rasgado num canto.... Vá lá, nós queremos mais testemunhos do género: eu-também-enviei-uma-encomenda-para-a prisão-de-Évora-e-eles-devolveram-ma-porque-o-nosso-mártir-só-pode-receber-quarenta-vezes-mais-pacotes-do-que-os-outros-detidos...

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

A pressão da vitimização

Um dia será. Isto mudará mesmo. Se não desistirmos. Se mantivermos a esperança.

O caso da devolução pela cadeia de Évora do livro enviado a José Sócrates por António Arnault, hoje, 26-11-2014, noticiado ubiquamente nos média nacionais, é mais um episódio patético no chorrilho de queixas de tratamento desumano que o preso n.º 44 sofre. Ele é o tempo das chamadas telefónicas, a temperatura da água do chuveiro (fria na cela, mas quentinha no balneário coletivo), a falta de uma máquina de secar - enfim, inferior à catedral de Pablo Escobar...

O maçon socialista Arnault deve queixar-se ao seu irmão maçon socialista Rui Sá Gomes, diretor dos serviços prisionais, mas é dos privilégios de que Sócrates goza no estabelecimento, face aos outros detidos, e que têm sido denunciados nos jornais.

A pressão da Maçonaria, do Partido Socialista e dos aliados nos outros partidos, sobre o sistema judicial, tem como objetivo a libertação do ex-primeiro-ministro. O que se pretende é que os juízes da Relação o libertem. Para tal precisam de o transformar de algoz em vítima, para que o alarme social seja sofrível pelo sistema político. Não é. A série de factos que têm sido noticiados nos jornais são de uma dimensão tão escabrosa que o povo jamais entenderia que fosse libertado. Mas vão, mesmo assim, tentar libertá-lo.

Todos temem que o desespero leve Sócrates a dar com  a língua nos dentes. É que está a demonstrar bastante menos resistência na prisão do que o seu arquirrival Paulo Pedroso demonstrou. E o sistema teme a retaliação que ameaçou.


Pós-Texto (0:08 de 27-12-2014): O João Moiranda no Blasfémias, de 26-12-2014, desmonta mais esta cabala contra a vítima Sócrates: afinal é do próprio Sócrates a referenda no Regulamento Geral dos Estabelecimentos Prisionais, de 2011, em que se estabelecem as condições de um detido receber encomendas...


Limitação de responsabilidade (disclaimer): José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa, indiciado, em 24-11-2014, pelos crimes de corrupção ativa por titular de cargo político, de corrupção ativa, de corrupção passiva para acto ilícito, de corrupção passiva para acto lícito, de branqueamento de capitais, fraude fiscal qualificada e de fraude fiscal (SIC, 26-11-2014), recluso detido preventivamente no Estabelecimento Prisional de Évora sob o nº 44, goza do direito constitucional à presunção de inocência até ao trânsito em julgado de eventual sentença condenatória.
As demais entidades referidas nas notícias dos média, que comento, não são suspeitas ou arguidas do cometimento de qualquer ilegalidade ou irregularidade.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Caminhar na esperança



Nasceu, sem apoio nem medo. E quando brotou, no ventre imaculado, não se reequacionou a sua vinda, se existiam meios de o criar, se atrapalhava projetos e sonhos. Surgiu como graça, vida e exemplo.

Apareceu no mundo numa humildade luminosa, na realeza de pobre, na dignidade de homem.

Não levantou a espada, não dividiu as gentes, não discriminou ninguém. Quis um mundo sem senhores e sem escravos, sem menosprezo das mulheres, nem perseguição dos não crentes. Insistiu no amor ao próximo, qualquer que fosse a sua condição ou cor. Censurou a indiferença pela dor dos outros, mas tem sido ignorado quando maior é o bem estar egoísta dos pecadores fartos.

Sabia ler, porque as Escrituras dizem que o fez entre os doutores, e escrever porque o fez na areia num julgamento de punição, como se não quisesse que a sentença durasse. Mas não se julgava superior aos demais, tanto que desceu à terra para conhecer o sacrifício.

Pregou que um só é bom. E esse é o caminho justo, onde os homens e as mulheres de bem persistem, apesar dos obstáculos, dos desvios e das quedas.

Conjurou a esperança como fé ativa numa pessoa melhor, num mundo melhor. Num homem novo, que se renova em cada dia nessa crença na Graça de Deus Menino.

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

X.


L., O Mosteiro e os monges. 2013. Hotel Real Abadia, Alcobaça.


Humano. Tremendamente humano (youtu.be/PpLydrSMeKE).

X. O senhor X. foi como um segundo pai. Desde os meus treze anos quando entrei no Escutismo, que assim foi. Explicou-me, em reunião com outro amigo, agora elevado a outra dignidade, como era. E nunca fiz a coisa por menos. Nunca faço, porque nunca mais deixei de fazer. Desde então, e talvez nos genes, certamente na educação reta.

Demorei a escrever porque não consegui fazê-lo mais cedo. O mais comum é vir de um funeral e escrever como catarse do sofrimento. Não pude. Lá onde está, no céu que brilha sobre cada um de nós, como referência de caminho, ele compreende... Várias vezes me agarrei às teclas e todas as larguei, por dor. Assim uma dor de uma cirurgia íntima que se sabe inevitável, mas que se adia, coisa de homem, que somos, no fundo, crianças, frágeis, por mais machos-alfa que nos ergamos.

Ascendeu, lá pelo final de outubro deste ano misto de 2014, com uma vida cheia de 88 anos, rijo e lúcido até ao fim. Fim que sabia ser o princípio de outra vida. De descanso e, finalmente, plenitude. Ele brincava comigo dizendo que o problema maior seria se, depois de tanta luta, não existisse céu: replicava eu, confessando-me condenado às profundezas do inferno, até minha irmã me ter censurado para parar com o disparate... Se é normal passar pelo Purgatório para largarmos, todos, algum lastro de vaidade, estimo que lá fique pouco tempo. Penitente como era, há-de chegar ao céu sem demora.

Tratávamos mutuamente por «meu comandante». A diferença de idade, que nada lhe dizia, não tinha efeito na deferência. Camaradas, veteranos de muitas guerras, e pazes, umas ganhas e outras perdidas. Saldo positivo, desde logo porque é no caminho que está a felicidade. O prazer é no combate. Como a honra.

Exerceu a atividade profissional de técnico de contas, escriturando livros com uma caligrafia impecável e tinha uma paciência de santo para patrões caprichosos que se incomodavam com diferenças de tostão até que ele lá descobria o erro de funcionários.

Mas onde ganhou evidência, apesar da humildade, foi no serviço do próximo, em Alcobaça. Começou cedo a trabalhar desinteressadamente para os outros, ainda jovem, no Asilo de Infância Desvalida Álvaro Possolo. E depois esteve nos órgãos sociais, frequentemente na direção ou no conselho fiscal, da maioria das associações da terra, de que destaco algumas entre muitas (Bombeiros, Ceeria, Clube de Campismo, Banda, Orquestra Típica) – falho provavelmente outras, pois escrevo de memória.

Foi indispensável no Agrupamento n.º 58 do Corpo Nacional de Escutas, de São Bernardo, em Alcobaça, onde serviu como secretário e supradirigente, mais chefe do que os chefes. E ainda na Junta de Núcleo do Oeste. Preferia a discrição e a influência, à evidência e ao mando. Perdeu o braço esquerdo num acidente, ao serviço do Escutismo. Mas durou-lhe pouco a consternação, fazendo tudo o que antes fazia, com exceção de dormir em campo e de tocar bandolim ou viola, como antes fazia - ficava-se por uma harmónica pequenina que usava para distrair lobitos... Gozava com a  própria situação e respondeu a uma senhora, que o confortava por ser melhor ter perdido o braço esquerdo do que o direito, que... realmente... se tivesse morrido… tinha sido pior!... Não se atrapalhava. Usava os dentes e um ponteiro para clicar no ctrl do teclado...

Teve uma função decisiva na Santa Casa da Misericórdia de Alcobaça, fundada por cristãos em 1563, mas que agora atravessa uma fase de pendor laical, que leva à embaraçada elisão do nome Santa Casa. Foi secretário da mesa administrativa - provedor funcional, na prática, durante os mandatos de Joaquim Augusto de Carvalho ou de Tarcísio Trindade. Perdido o hospital no furor estatizante - e ainda não devolvido à irmandade -, esteve depois na edificação do Lar. Recuperou a coroa real do timbre do brasão da Misericórdia, decapitado em 1974, e conseguiu repor-lhe o santo nome. Conservou o património, e preservou o arquivo, anos a fio, à parte a delapidação dos tempos revolucionários em que desapareceram peças de valor. Gostava de me mostrar, na Casa do Despacho, um livro de atas da assembleia, de onde tinham sido arrancadas folhas e mal coladas outras, num trabalho tosco de algum revolucionário arrependido. Trouxe o nosso amigo Prof. Gérard Leroux, um apaixonado por Alcobaça e pelo seu mosteiro, para organizar o arquivo da Misericórdia, e juntos dirigiram as obras de recuperação da Igreja homónima.

Esteve também no desenvolvimento da Caixa de Crédito Agrícola de Alcobaça, identificando e participando nas negociações de compra do espaço da sua sede e apoiando ao longo dos anos, na direção, a administração prudente, e de crescimento sólido, de José Fernando Maia Alexandre.

Cuidou muito do Mosteiro nos anos tumultuosos, em que ninguém protegia nada e os roubos foram muitos. Pintava a verde o contorno dos painéis de azulejos do antigo tribunal e dos painéis do exterior do Mosteiro, junto à capela de Nossa Senhora do Desterro, para significar aos larápios que estava a acompanhar o andamento dos furtos. Entendia que as pedras são importantes, mas as pessoas são mais. Vivas. E, por isso, acreditava no nosso projeto de retorno dos monges de Cister a um cantinho do seu mosteiro de Santa Maria de Alcobaça.

Gostava de cuidar do património público, antes de ter vindo a moda, e criou coleções,, que mandava encadernar, de publicações locais, que guardava carinhosamente numa dependência da sua casa antiga com vista magnífica para o Mosteiro: Empenhava-se a recuperar coisas e papéis, e vibrava a agricultar frutos e flores, no quintal e na sua quinta do Casal do Botas. Cuidava da natureza e do património como extensão da família, esposa e filhos e neto, e irmãos e descendentes, que acarinhava. Curioso da história, da cultura, das artes (caligrafia e fotografia), da música (tocava e cantava). Polifacetado, como são os grandes homens.

A sua Alcobaça foi uma terra de contrastes. Desenvolvida desde o século XVI à volta da cerca do Mosteiro, o burgo teve sempre com este uma relação de amor e de inveja, de orgulho e de despeito. A vila tinha a Fonte dos Talassas mas também a rua «Dezesseis de Outubro» que assinala a vergonhosa data em que foi assaltado o mosteiro pelas tropas napoleónicas, depois saqueado o pela população e queimados alguns bens, viu ser destruída à bomba a Igreja Matriz, ser demolida a capela da Senhora da Paz e dessacralizada a Igreja de Santo António. Alcobaça, núcleo geo-histórico de Portugal, cabeça da Ordem de Cister que consolidou a independência do País, com a organização económica e a criação de bem-estar nas populações, foi uma povoação doravante sujeita à divisão laica-religiosa, à moda das novelas de Giovannino Guareschi, com uma ativa maçonaria antirreligiosa aliada a um setor criptocomunista burguês, desejosa de correr com a Igreja do mosteiro. X. era um plebeu, avesso às linhagens velhas e novas da oligarquia local, e dizia que Alcobaça tanto era do senhor Dr. N. como da Maria dos Três Cus...

Foi por causa dessa divisão absurda, num povo desejoso de fazer a paz com a história, que tive a ideia, e promovi, com a ajuda dele, de outros conterrâneos amigos e de empresas, a edificação de uma estátua a São Bernardo, sem qualquer comparticipação do Estado, que a Câmara deixou, após peripécias várias e muita paciência nossa, pôr a meio quilómetro do Mosteiro que o santo mandou erguer. Brincava com ele: a Câmara desterrou o São Bernardo para a rotunda da escola D. Inês de Castro e quer colocar a D. Inês de Castro junto ao mosteiro que o santo mandou erguer…

Era muito atento às notícias locais e colaborou, durante décadas, na contabilidade e não só, no jornal «O Alcoa» - um quinzenário da paróquia, resistente ao recuo da Igreja para a sacristia, que mantém independência face ao poder político, e deve ter, por aí, metade da circulação do Diário de Notícias.

Depois de eu ter entrado para o Escutismo, esteve sempre comigo. Primeiro, acompanhando a formação, depois orientando e a seguir trabalhando em conjunto. Com a evangelização que o atual bispo D. José Traquina, fez enquanto seminarista e jovem padre, em Alcobaça, e que germinou, com o padre Mário Rui Pedras na criação do escutismo no Valado dos Frades e na Benedita, e a colaboração de António Soares e Diamantino Pascoal, consolidou-se o agrupamento. E então fomos semeando, ou ajudando a plantar, com outros irmãos de fé e de nós, agrupamentos em Alfeizerão, Vimeiro, Famalicão da Nazaré, São Martinho do Porto, Pataias e Maiorga. E liderando a resistência pacífica à invasão do IPPC/IPAAR e expulsão da Igreja do Mosteiro, mantendo instalações da catequese e garantindo uma sede para o Escutismo.

E, depois do Escutismo, quando a família precisou de uma atenção que a intensidade de trabalho não consentia, continuou comigo, nos iniciativas e projetos que eu realizava: a elevação de Alcobaça a Cidade; o Encontro Nacional de Mosteiros, Conventos e Igrejas afetos ao IPPAR que ergueu um «basta!» na tomada de espaços e de obras de arte pelo Estado à Igreja; a Associação para o Desenvolvimento da Região; a defesa da unidade do concelho de Alcobaça, a Academia de Cultura, a estátua de São Bernardo.

X. nunca teve qualquer cargo autárquico, nem foi candidato. Era cristão e homem de fé, antigo membro da Ação Católica e adepto da doutrina social da Igreja. E via com preocupação, como outros amigos bairristas - uns que já lá estão no céu à espera dele para uma festa e outros que nos havemos de lhes juntar -, a decadência de Alcobaça.

Quando a exigência moral da luta contra o estatal abuso sexual de crianças e o combate político nacional se sobrepôs, ficou triste por eu preferir abdicar de Alcobaça, um sonho que tive e se evanesceu. Mas compreendeu o esforço de me concentrar na Pátria. E, embora, nunca mo dissesse - nem eu lho perguntasse... -, acho que até comprou um computador com ligação à net para me ler. Havia coisas que não explicávamos um ao outro. Queria que eu me acomodasse um pouco para evoluir, pois achava um desperdício a luta nacional, que via inconsequente. Creio que, no fundo, compreendia a minha opção. Contactado telefonicamente, no auge do processo que me pôs o primeiro-ministro, por uma jornalista do DN, para opinar sobre mim, , fez-lhe uma série de confidências exageradas sobre o meu caráter e contou que eu já não desceria da quinta para a cidade, senão por toque de sino. Pediu que não publicasse. No dia seguinte, lá estava o folclore mal impresso. Percebeu o jogo de esgrima florentina em que nos cercam capas, capuzes, máscaras e sombras, e que nesse campo temos de ser ágeis na esquiva e furtivos na espada.

X. era a pessoa mais popular que conheci. Fazia amizades facilmente. Cumprimentava efusivamente, e falava com todos e com mais alguns. E toda a gente o estimava, mesmo adversários de convicções e de clube (era do Sporting, como eu). Tornava-se um exercício penoso, se houvesse pressa, atravessar a praça do mosteiro com ele, porque podia demorar três quartos de hora nos trezentos metros da farmácia aos correios. Uma vez perguntei-lhe quem era aquele indivíduo que o havia saudado e a quem perguntou pela família, errando na prole, e ele confessou-me que não fazia a mínima ideia,,, Nesses casos, improvisava, admitindo o engano e respondendo: «pois é, já me esquecia!...». Costumava sair-se bem...

Conservador nos princípios, era heterodoxo no estilo. Tinha um humor fulgurante e corrosivo. Crismava, com alcunhas terríveis, figurões patéticos. Inventou uma linguagem própria, que usava para espanto das companhias. Jamais cruel, possuía muito bom coração e comovia-se facilmente, inundando os olhos negros de lágrimas doces. Exibia uma energia física que contagiava gente mais nova e com genica presa. E, abraçada a iniciativa, demonstrava um empenhamento meticuloso nos projetos. Enganava-se, às vezes, nas pessoas que escolhia, e que o desiludiam por ambições pessoais, e lamentava-se com amargura, numa penitência muito sofrida. Compensava com histórias tragico-cómicas que contava com prazer descarado.

Visitava-o com frequência. Tocava à campainha do segundo andar, subia, na escada empinada os degraus dois a dois, o cachorrito enrodilhava-se nos meus pés, a senhora D. F. escancarava a porta, cumprimentava-me, perguntava pela família e invariavelmente dizia: «o teu comandante está no escritório». Ele recebia-me de gravata ou casaco de roupão, consoante fosse tarde ou noite, com um abraço apertado, olhos redondos vivos, que só caíram para mais mortiços nos últimos tempos mas sempre alegres e crentes. Aconchegava-me na cadeira de entrançado de palha, junto à guitarra pendurada no canto do pequeno escritório, ele defronte à secretária, onde amontoava, com aparência dispersa, mas por ordem que sabia, papéis, recortes, discos, lembranças, e uma lupa. Discutíamos o presente de modo acalorado e, quando excedíamos os decibéis de uso no lar, a senhora D. F. aparecia a dizer que quem não nos conhecesse suporia que estaríamos a ralhar. Ele desculpava-se: «ó 'Miga, estamos só a falar». Experiente das coisas e dos homens, era cético sobre a possibilidade de grandes mudanças nas instituições, mas isso não o impedia de se empenhar a fundo nos projetos em que participou.

Partiu. Mas gente como ele, fica sempre. Nas memórias e nos corações. Connosco. Não são carga. São lanternas para nos mantermos na estrada, a direito e sem desvios. Com fé e força.


X. merecia uma rua, pelo exemplo de trabalho pelos outros que a sua vida inteira foi. Preferencialmente, a sua, em vez do nome almirante Cândido dos Reis que povoa para-aí-metade das cidades e das vilas do País.... Mas entendo que, lá onde se encontra, verá este facto com ironia e consolo. Foi para Deus que trabalhou. Deus o guarde na Sua Glória!


Atualização em 27-7-2015.

Auto da feira

«E porquanto nunca vi
na corte de Portugal
feira em dia de Natal,
ordeno uma feira aqui
para todos em geral.» 
Gil Vicente (25-12-1527). Auto da feira. (Ortografia atualizada)

Desespero.

Regressou, contra todos os sinais prudentes de silvas, seixos e coelhos, do exílio de néon na cidade das luzes, da exibição do luxo da soberba penthouse no 16e, vue dégagée para a Torre Eiffel, decorada por architecte de renon, todavia apinocada de peças de nouveau riche, e com atendimento por majordome - oh là là!.. - para impressionar les amis et les nègres, abdicando, qual Jacinto («As noites são horríveis, hein, Zé Fernandes? Tudo negro, enorme solidão...»), do gozo de gourmand nos restaurantes da moda, das soirées com cheiros de êxtase e maneirismos de bon gré, para reviver, como admitia Carlos Queirós,
«O sonho maior, o mais sentido
seria triunfar na capital.
E depois de tê-lo conseguido
voltar à terra natal»,
como um volframista do poder, saudoso do ceptro e desejoso de vingança, para, como dizia Reinaldo Ferreira, se afogar no esterco do seu destino cumprido.

Perdeu-se. O poder é droga maior do que qualquer outra e a sua abstinência provoca um craving insuportável.

É no quadro de desespero desta tragicomédia política fantástica - de noites brancas em que teme ficar depauperado com o golpe Eliot Ness, que falta - que ocorrem três cenas patéticas lancinantes. A primeira é o rol de 81 friendly questions do Expresso da Costa, de 20-12-2014 (do género «[Carlos Santos Silva] é o seu melhor amigo?»...)... A segunda é a declaração de ontem, 22-12-2014, do advogado que representa o papel de bobo da corte do profeta Daniel, de que o recluso 44 não quer mais condições especiais de detenção e de visita do que o socialista maçon diretor-geral dos serviços prisionais já lhe proporciona... E a terceira é a romaria fraterna e profana à gloriosa prisão de Évora. Um mimo.


Atualização: este poste foi reescrito às 20:18 e 20:52 de 22-12-2014.

domingo, 21 de dezembro de 2014

Pelas costas

Silêncio! Grito abafado, que revela a verdade.

A situação da Câmara Municipal de Lisboa (CMLisboa) é um tabu mediático. Distribuindo côdeas pelos pobres médias e empregando alguns editores de confiança, António Costa garante uma omertà mediática.

Apesar de haver bastante matéria para explorar, o silêncio alastra. Veja-se este caso. Em 17-12-2013, o presidente da CMLisboa, António Costa, propôs-se transferir para as juntas de freguesia da capital 1.800 funcionários do quadro.  E em 10-11-2014, foi publicado no sítio da câmara, sobre o orçamento municipal para 2015: «Uma das mais importantes parcelas da redução é nas despesas com pessoal (8,4 por cento)»...

Dirá o leitor, como terão penado os munícipes da capital e os demais cidadãos, que este é o exemplo a seguir, na redução de despesa da administração pública. Costa é que é. Porém, a novidade é que Costa que consta tranferir mais dinheiro do que o custo dos salários e regalias. E as juntas vão aumentando a despesa, duplicando veículos de comunicação, aproveitando a subvenção extraordinária da Câmara. Assim, numa evidente manobra demagógica, Costa simula reduzir despesa com pessoal enquanto aumenta a despesa geral do município... 

sábado, 20 de dezembro de 2014

Costa

Amargo. Por enquanto. Outros dias serão mais doces. Até lá, trabalho e luta.

Usando emprestado (mesmo!) o estilo de um amigo... Costa, há muito, que o radical diderotiano, o socialista brâmane, o primo de José Castelo Branco, o estadista probo do SIRESP, o jurista ex-ministro da justiça («Pá, talvez o teu irmão seja altura de procurar o [procurador João] Guerra», como recomendou em 21-3-2003, no auge do processo Casa Pia), preza a terceira pessoa da trindade profana e os seus... costados.

Costa que consta andar a vender quartéis dos bombeiros municipais. Costa que os vende antes de os vender. Não apenas aquele junto ao Hospital da Luz. Vários. Para quê já se sabe.

Costa que destina os bombeiros a outros quartéis já sobrelotados. Os bombeiros ficaram enfurecidos. Costa que os promove e lhes ainda os presenteia com fatos ignífugos. Costa que não se preocupa com as contas, que alguém as há-de depois pagar. Consta. Costa...

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Uma janela de dez meses



«Danny Dalton (Tim Blake Nelson): Corruption charges!... Corruption?!... Corruption is government intrusion into market efficiencies in the form of regulation. That’s Milton Friedman. He got a goddamn Nobel prize. We have laws against it precisely so we can get away with it. Corruption is our protection. Corruption keeps us safe and warm. Corruption is why you and I are prancing around in here instead of fighting over scraps of meat out in the street. Corruption... is how we win.
Bennet (Jeffrey Wright): You broke the law, Mr. Dalton.
Danny Dalton: Oh, who gives a shit!».

Stephen Gaghan, Syriana, 2007.
Guião: Stephen Gaghan, Robert Baer (See no Evil, 2003). Nota: atualizei o texto, face ao script original, transcrevendo o que foi dito efetivamente na fita.

Para lá da dor e do sacrifício, existe a necessidade de prosseguir. Só há um caminho.

Um só é bom. Continua a farsa da comissão parlamentar de inquérito ao descalabro do BES/GES, em que uns simulam perguntar e os outros fingem responder. A promiscuidade nem sequer se disfarça e parece geral: desde a retórica de perguntas sofistas inócuas, à resposta desaforada e despudorada, ao tom familiar do tratamento, à iniludível comunicação não verbal dos protagonistas, à confrangedora geografia da sala, tudo enoja. Compare-se com a audição no Senado norte-americano, em 27-4-2010, dos gestores da Goldman Sachs sobre a atuação dos bancos de investimento durante a a crise financeira.




Veja-se que nas comissões de inquérito parlamentar portuguesas, qualquer testemunha (mesmo que arguido de crimes graves) se senta no lugar de honra (!), ao lado direito do presidente da comissão. Neste caso do BES, o advogado Francisco Proença de Carvalho (filho de Daniel) até tinha um lugar à mesa ao lado de Ricardo Salgado, na audiência de 9-12-2014, com a mesma dignidade formal dos deputados, em vez de se sentar atrás, como os assessores parlamentares. Não é por causa da falta de espaço, ou de orçamento, que o parlamento português não tem uma sala onde cada pessoa se sente na posição que deve: é por causa da promiscuidade entre os entalados e o poder político.

Ainda não chegou a conta da nacionalização do BES, sob a forma do mecanismo de resolução, inintelígel para o povo. A fatura chegará, pouco a pouco (quem vier atrás que feche a porta...) aos bolsos do povo, sob a forma de traça: impostos, taxas, redução salarial e inflação (que isto de fazer dinheiro não é uma solução mágica, como os defensores da teoria do controlo do «quantitative easing» julgam). Aquando da nacionalização encapotada do BE, disse-me um financeiro notabilíssimo, a quem consultei para averiguar a dimensão do custo que o povo teria de suportar, que eu não contasse a fatura do BES para o povo em dez BPNs (cerca de 80 mil milhões de euros), como supunha - o BES tinha dez vezes (cerca de 20%) a quota de mercado do BPN (cerca de 2%) -, mas em vinte vezes (160 mil milhões de euros), devido à exposição internacional do grupo, em contraponto com o doméstico BPN... Devagar, mas pesando o acumulado. a conta irá aparecendo na volta dos acórdãos dos tribunais portugueses (como nos processos após as nacionalizações de 1975), a obrigatoriedade do Estado português pagar as indemnizações decididas por tribunais estrangeiros e as indemnizações, em dineiro, dívida e géneros, obtida por pressão de outros governos (que mais venderemos: o chão pátrio?).

O edifício legal na regulação económica em Portugal foi construído especificamente para permitir, e proteger, a corrupção económica e financeira. Não há crime sem lei. E, como sublinha o José, o crime de gestão danosa, na lei portuguesa atual, só se aplica a organismos públicos. Neste estertor da democracia representativa, não há relação entre lei e moral. Que fazer? Recuperar o Estado para o povo. Para mudar, precisamos de semear a esperança. É isso que fazemos diariamente.

É bom começar pela justiça, que é sempre o nome da paz. Vivam os patriotas Carlos Alexandre, Rosário Teixeira e Amadeu Guerra, que assumem corajosamente a responsabilidade de julgar e de promover a justiça! Há um efeito pedagógico da justiça sobre a pusilanimidade dos abusadores. Não importa a pena, em si, de um ou de outro, muito menos a vingança, mas o efeito dissuasor que a mesma garante. Por isso, é decisiva a batalha do processo Marquês - como deveria ter acontecido na investigação do caso dos submarinos, arquivado em 17-12-2014 para consolo da antiga, e nova, aliança Portas-socialistas e da ala portista do PSD. Uma laica aliança engrossada proximamente com um pretenso de salvação nacional PS (Costa)-PSD (Rio)-CDS (Portas - who else?...).

Insisto que é decisivo descobrir o negócio manhoso da venda da Vivo (além do da compra da Oi...), no Brasil, pela PT - onde predominava Ricardo Salgado, através do BES e da Ongoing (um veículo próprio de Ricardo Salgado), e as chorudas comissões associadas. Não se pode dissociar do caso Marquês, este, e outros negócios de Estado, como as parcerias público-privadas da Mota-Engil e as outras. Precisamos de engaiolar canários para que se come a ouvir o trinado convulsivo.

Só se vive uma vez. Não precisamos de conforto, mas de estar à altura da missão que Deus destina a cada um. Para ganhar esta batalha, temos uma janela de dez meses, até às eleições legislativas de outubro de 2015. E tem de ser esgrima pública, em vez da desleal emboscada sistémica dos salões, onde impera o poder político corrupto e a Maçonaria. Até vir o golpe de Estado constitucional de mudança de leis e de magistrados para consolidar a corrupção de Estado... Ala!


Atualização: este poste foi atualizado ás 10:31 de 19-12-2014.


Limitação de responsabilidade (disclaimer): As entidades referidas nas notícias dos média, que comento, não são suspeitas ou arguidas do cometimento de qualquer ilegalidade ou irregularidade.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

O Santo Costa


Duas perguntinhas sobre o assunto tabu das relações da Câmara Municipal de Lisboa com o grupo Espírito Santo:

Atualização: este poste foi atualizado às 9:05 de 18-12-2014.


As entidades referidas nas notícias dos média, que comento, não são suspeitas ou arguidas do cometimento de qualquer ilegalidade ou irregularidade.

sábado, 13 de dezembro de 2014

O triunfo dos porcos?!...

Na CMTV, João Soares, socialista e maçon, está nesta noite de 13-12-2014, a repetir a regra do Animal Farm, de Orwell, a propósito do processo José Sócrates (Operação Marquês). Disse João Soares:
«Todos somos iguais - eu editei o Orwell, do Animal Farm... -, mas alguns são mais iguais do que os outros».

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

A maçada da prisão de José Sócrates

 
A.B.C.. Cerca de Vilar de Maçada. Dezembro de 2014.


Absolutamente...

Depois das histórias uníssonas de ordinaria follia da «moral fantástica», «determinado»,  da «moral elevada», «muito bem», da «força», que «está bem», do «ânimo» impressionante, e «bastante sereno»,sobre o estado emocional do recluso detido preventivamente no Estabelecimento Prisional de Évora, José Sócrates, todavia forçado à abstinência dos prazeres da sua vida, o ex-primeiro-ministro, afinal com antes desconhecidos «problemas de tensão arterial», está «em pânico» ou muda da ameaça para a tática da vitimização ao jeito de Pinochet e de Mubarak oara ver se é libertado rapidamente?


Limitação de responsabilidade (disclaimer): José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa, indiciado, em 24-11-2014, pelos crimes de corrupção ativa por titular de cargo político, de corrupção ativa, de corrupção passiva para acto ilícito, de corrupção passiva para acto lícito; de branqueamento de capitais, de fraude fiscal, e de fraude fiscal qualificada (SIC, 26-11-2014), recluso detido preventivamente no Estabelecimento Prisional de Évora sob o nº 44, goza do direito constitucional à presunção de inocência até ao trânsito em julgado de eventual sentença condenatória.
As demais entidades referidas nas notícias dos média, que comento, não são suspeitas ou arguidas do cometimento de qualquer ilegalidade ou irregularidade.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Reencontro



Mais cedo, que mais tarde é tarde, voltamos. Voltamos a nós. Voltamo-nos. Para dentro com saudades de fora. Voltamos a pele para a carne viva que nos renova e reúne. Voltamos. A um desígnio que nos conjura. A um destino onde fomos - e somos - felizes. Porque a felicidade não está no repouso do que se atinge, mas na ação da procura. Na esperança e na persistência. Voltamos. Portanto.

Estive por terras de Bragança, na apresentação do livro do meu amigo Padre Fernando Calado Rodrigues, «O Futuro da Igreja», editado pelo Clube do Autor. Padre Fernando Calado Rodrigues também é autor do blogue Igreja e Mundo. Um livro sobre estes tempos líquidos, composto de crónicas publicadas no Correio da Manhã, organizadas em capítulos e entretanto desenvolvidas. Um livro heterodoxo, alumbrado pela figura do Papa Francisco que foi descrito, como notou o padre Fernando Calado, pelo cardeal alemão Walter Kasper como um «conservador inteligente» (ver também, em abono dessa tese desmistificadora do dilúvio, o artigo «The Pope's true agenda», na First Things, de 1-12-2014). Um livro muito bem escrito e de leitura fácil - porque o autor tem essa qualidade rara de escrever em linguagem simplificada, e modo sintético, sobre questões complexas -, onde se abordam, sem receio da norma de aplicação doutrinária nem do ateísmo dominante, problemas concretos. Problemas, cujas soluções alternativas, como as propostas pelo autor em determinados assuntos, podem ser criticadas, como qualquer exercício de reflexão, mas que têm de ser respondidos por uma Igreja que está no mundo e não fora dele. É no debate, concordando ou discordando, aqui e ali, da opinião manifesta, mesmo que por um amigo, como o padre Fernando, que esclarecemos, que discernimos, que nos encontramos.

Uma viagem em tempos de confronto e de conceção. De Nossa Senhora da Conceição, que hoje celebramos, como padroeira de Portugal. E de conceção - esta «conceção» em vez de «concepção»!... - do tempo que nos espera. Um tempo que é sempre novo, ainda que eternamente retornemos à origem. Um tempo que toma novas qualidades e onde o exercício, sujeito à tensão íntima, à pressão dos raios e à força centrífuga, é o de nos mantermos no mesmo plano como eixo de uma roda em revolução, conforme referia um professor meu, de um trecho de Charles Morgan.

É nas fronteiras que Portugal é mais Portugal. Mais profundo do que na promíscua babilónia, mesmo que esta seja a cabeça, choca e chocha, de uma Pátria em saldo. Uma Pátria, agora em sobressalto judicial e cívico que pode criar as condições da mudança, mas que carece da união dos patriotas para a consolidar. Engana-se quem não conta as favas.

Na igreja de Gimonde, o cântico das mulheres rugosas toma o tom áspero de um lamento imprecativo, um brado metálico que reclama a ajuda divina para a dureza da vida, ao estilo rude das lavradoras de Graça Morais. Por aqui, mesmo com uma luz límpida de uma paiusa do outono triste, os campos ásperos, de pedras brutais, de árvores nuas e de lameiros verdes que parecem à distância, campos de golfe burgueses, despovoam-se de jovens, perdem algumas culturas, como o lúpulo, devido à concorrência chinesa, mas há sinais interessantes de recuperação. O Politécnico de Bragança, numa transformação do funcionamento habitual, cerrado e narcísico, da academia portuguesa, criou cursos em inglês, e atrai, com um programa ativo de promoção e visitas, anualmente cerca de 1.200 estudantes estrangeiros. Avança o projeto do parque de ciência e tecnologia (Brigantia EcoPark), os restaurantes regionais crescem à volta da cidade e sucedem e dois competentes e dinâmicos jovens locais tomaram de exploração a Pousada de São Bartolomeu, ao grupo Pestana, com evidente melhoria do serviço. Notam-se agora as casas mais arranjadas e cuidadas e menos imóveis à venda do que no centro do País. Mas para quebrar o isolamento, e apesar das vias rápidas, é preciso retomar a disponibilidade de voos para Lisboa (que o promissor bispo D. José Cordeiro reivindicou na apresentação do livro), pois de carro é um esticão bastante grande e os cidadãos do Nordeste não podem ser tratados pior do que os de Lisboa ou do Porto.

A viagem, qualquer uma, mas em especial aquela que nos leva às origens, culturais de resistência civilizacional de uma sociedade tornada fluida e gelatinosa pela corrupção das elites e o amolecimento relativista, funciona como retiro espiritual. Na terra, nas pedras, nas obras e nas gentes, sentimos a comunhão humana num destino único que temos de resgatar. Somos devedores desse sentimento antigo lusitano, rijo e firme, e devemo-lo integrar, humildes, na gesta moderna do Portugal profundo. Volto de longe, do lado de lá das serras - e se Deus quiser, a mim.

A.B.C.. Janela transmontana. Bragança. Dezembro de 2014.


sábado, 6 de dezembro de 2014

A mafia dos vampiros

Vem. Pode demorar, mas acaba por chegar. Vem! Sempre. A verdade pode assombrar, mas liberta.

Rapidamente, surgem novas revelações sobre José Sócrates. A Octapharma é referida como estando alegadamente envolvida em fraude no Brasil, na sequência do processo Máfia dos Vampiros, no qual foi acusada em 2008, tendo recebido cerca de 220 milhões de euros (700 milhões de reais) do Governo brasileiro, mesmo depois dessa acusação judicial (processo ainda por concluir) - noticiou em 28-11-2014, a associação brasileira Contas Abertas (agradeço ao Fernando, nosso colaborador do outro lado do Atlântico, pela indicação). O jornal i, em 25-11-2014, já tinha mencionado que «segundo o jornal “A Folha de São Paulo”, o ex-governante português “pode ter ligação com a corrupção no Brasil”».

Lembro que a Octapharma é a empresa para a qual o ex-primeiro-ministro português José Sócrates alegadamente trabalhou, como Presidente do Conselho Consultivo para a América Latina (sic!, com emissão de alegadas «faturas forjadas» de pagamento de lobying num esquema complexo de lavagem de dinheiro.

A ser assim, é correto que se explore, pela justiça portuguesa e pela justiça brasileira, a ligação entre Sócrates e Lula (puppet master de Dilma) e o Governo brasileiro, entre 2008 e 2011 como primeiro-ministro, e depois disso. Registe-se que, na notícia da Contas Abertas, diz-se que «em fevereiro de 2013, José Sócrates chegou a se encontrar como representante da Octapharma com o então ministro da Saúde, Alexandre Padilha, em Brasília». A notícia parece indicar que a atuação de Sócrates no lobying da Octapharma no Brasil também está a merecer atenção local.

A notícia da Contas Abertas, de 28-11-2014, é a seguinte:

«Laboratório envolvido em fraude recebeu quase R$ 700 milhões do governo
28 de novembro de 2014
Dyelle Menezes

A Octapharma, laboratório denunciado no escândalo da Máfia dos Vampiros e ligado ao ex-primeiro-ministro português, José Sócrates, preso na semana passada, recebeu cerca de R$ 700 milhões [220 milhões de euros] do governo brasileiro entre 2008 e 2014. Nesses últimos cinco anos, o Ministério Público Federal tenta impedir que novos contratos sejam assinados com o laboratório suíço.
De acordo com o levantamento do Contas Abertas, 2012 foi o ano que a Octapharma mais faturou em contratos com o governo brasileiro. Foram R$ 235 milhões [cerca de 74 milhões de euros]. Em 2013, recebeu R$ 118 milhões [cerca de 37 milhões de euros]. Este ano, pagamentos feitos pelo Ministério da Saúde já superam os R$ 124 milhões [39 milhões de euros].
Em 2008, o Ministério Público Federal acusou sete pessoas e três empresas de envolvimento no escândalo na Máfia dos Vampiros. Entre as empresas estava a Octapharma. As investigações apontaram que os acusados combinavam preços e fraudavam licitações do Ministério da Saúde para comprar remédios para o tratamento de hemofílicos. O esquema resultou em valores praticados bem acima do mercado.
Na ação civil pública, os procuradores do MPF pediram a anulação dos contratos firmados entre o Ministério da Saúde e a Octapharma, a devolução aos cofres públicos da verba supostamente desviada, e a proibição de negociações entre a empresa suíça e o governo brasileiro. Até hoje, não houve sentença sobre o caso.
Para o economista Gil Castelo Branco, da ONG, mesmo sem uma decisão da Justiça, impedindo a Octapharma de participar de licitações, os órgãos de controle do governo federal poderiam proibir novos contratos com a empresa no âmbito administrativo.
“É no mínimo estranho que uma empresa que está sendo processada por envolvimento em licitações no Ministério da Saúde receba dessa mesma pasta uma importância tão significativa sem que se saiba ao certo se ela estava ou não envolvida na tal operação vampiro. Se há provas de que ela havia de fato participado de fraudes em licitações públicas, os órgãos envolvidos, a começar pelo Ministério da Saúde, já deveriam tê-la colocado como inidônea para que ela não tivesse novos contratos inclusive com a própria pasta”, afirma Gil Castelo Branco, da Associação Contas Abertas.
Em 2013, a Octapharma contratou o ex-primeiro-ministro de Portugal, José Sócrates, como consultor para a América Latina. Sócrates está preso desde a última sexta-feira, acusado de crimes de corrupção, fraude fiscal e lavagem de dinheiro, no período em que esteve no governo português de 2005 a 2011. Em fevereiro de 2013, José Sócrates chegou a se encontrar como representante da Octapharma com o então ministro da Saúde, Alexandre Padilha, em Brasília.»

O caso do lobying na Octapharma junto do Governo brasileiro é uma outra frente que agora se abre contra o primeiro-ministro. Num momento em que o seu próximo colaborador, o deputado socialista Paulo Campos, ex-secretário de Estado das Obras Públicas, Paulo Campos também foi ontem alvo de pedido de levantamento da imunidade parlamentar (CM, 5-12-2014). Recordo que o Governo Sócrates foi responsável por cerca de 46% em valor do total das cerca de 120 parcerias público-privadas do Estado português.

O cerco aperta-se. Abrem-se mais frentes, sem que se fechem as que já existem. Perdeu a esperança nos intentados habeas corpus: o Supremo Tribunal de Justiça recusou tanto o primeiro pedido, por «manifesta falta de fundamento legal» e apoiado os procedimentos do juiz Carlos Alexandre, como o patético segundo. Sócrates, segundo a análise da caligrafia pelo perito Luís Philipe Jorge, divulgada pelo CM, de 5-12-2014, da carta enviada ao parceiro DN, em 4-12-2014, inusitadamente manuscrita a vermelho (!), cuja letra não parece ao perito a de alguém em que se possa «confiar», pois não é «autêntica e transparente», estará «em pánico», «com medo» e aflito. Mais ainda: a carta de 4-12-2014 (a terceira!) de Sócrates parece constituir uma ameaça à «cobardia dos políticos» para que o libertem, senão podem começar as revelações comprometedoras... A romaria socialista à prisão de Évora não parece ter senão tentativas sucessivas de o sossegar. Aliás, ainda que as cartas, a fazer de preso político, constituam um exercício penoso de enterramento, o detido Sócrates não pode beneficiar de direitos excecionais, nem de usar prerrogativas que a sua condição de arguido e de preso não lhe concede - mesmo que o diretor dos serviços prisionais seja o seu amigo socialista, maçon e ex-espião operacional, Rui Sá Gomes.

Quando se esperava que o primeiro canário a trinar fosse o motorista alegadamente cadastrado (Público, de 6-12-2014), correio dos alegados vícios que agora desesperam o patrão recluso, ainda veremos um Pinóquio a contorcer-se no cante alentejano de Évora, às quatro da madrugada.

O sistema está em dissolução e não é provável que se recomponha com a mesma perversidade ostensiva e corrupção generalizada. Nesse sentido, e ainda que embeiçado com uma aliança com António Costa, é chocante o «choque» de Rui Rio com a prisão de Sócrates e o seu ataque à Justiça. Todavia, convém conter a euforia à direita: a previsão do veredicto da eleição do outono de 2015 é uma vitória do PS (veja-se a sondagem da Aximage/CM, de 6-12-2014)... A derrota do socialismo-maçónico-radical-corrupto não virá dos festejos antecipados, nem dos braços, cruzados, mas do trabalho e luta dos patriotas.


Limitação de responsabilidade (disclaimer): José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa, indiciado, em 24-11-2014, pelos crimes de corrupção ativa por titular de cargo político, de corrupção ativa, de corrupção passiva para acto ilícito, de corrupção passiva para acto lícito; de branqueamento de capitais, de fraude fiscal, e de fraude fiscal qualificada (SIC, 26-11-2014), recluso detido preventivamente no Estabelecimento Prisional de Évora sob o nº 44, goza do direito constitucional à presunção de inocência até ao trânsito em julgado de eventual sentença condenatória.
As demais entidades referidas nas notícias dos média, que comento, não são suspeitas ou arguidas do cometimento de qualquer ilegalidade ou irregularidade.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Detenção de Sócrates: o mal e a caramunha

Ver bem é ver mais fundo. Para perceber (quase) tudo.

Em 21-5-2003, a SIC obteve dos socialistas a informação sobre a iminente entrega no Parlamento pelo juiz Rui Teixeira do mandado de detenção de Paulo Pedroso. Logo aproveitaram para se queixar da supina afronta que foi a reportagem que eles mesmos tinham encomendado para se vitimizar. Agora, como já se supunha, no caso da detenção do ex-primeiro-ministro, não foi o procurador, nem foi o juiz de instrução, quem telefonou para a SIC a prevenir de que ia ser detido, em 21-11-2014, no aeroporto de Lisboa. Segundo Felícia Cabrita, no Sol, de 30-11-2014, Sócrates, «terá ligado para a SIC, avisando que estava a sair de Paris» para poder, depois, invocar a suprema maldade de ter sido humilhado pelo circo mediático... que criou.


Limitação de responsabilidade (disclaimer): José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa, indiciado, em 24-11-2014, pelos crimes de corrupção ativa por titular de cargo político, de corrupção ativa, de corrupção passiva para acto ilícito, de corrupção passiva para acto lícito; de branqueamento de capitais, de fraude fiscal, e de fraude fiscal qualificada (SIC, 26-11-2014), recluso detido preventivamente no Estabelecimento Prisional de Évora sob o nº 44 (já saíu da ala feminina), goza do direito constitucional à presunção de inocência até ao trânsito em julgado de eventual sentença condenatória.
As demais entidades referidas nas notícias dos média, que comento, não são suspeitas ou arguidas do cometimento de qualquer ilegalidade ou irregularidade.

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Prisões, Partido Socialista e maçonaria

O diretor-geral de Reinserção e Serviços Prisionais - que tutela o Estabelecimento Prisional de Évora onde está detido preventivamente, na ala feminina sob o n.º 44 - o ex-primeiro-ministro José Sócrates, é Rui José Simões Bayão de Sá Gomes, que foi secretário de Estado da Administração Interna no primeiro Governo Sócrates (2008-2009), é membro da Loja Século XXI (Lisboa) da maçonaria do Grande Oriente Lusitano, e foi «diretor de serviços em área operacional do Serviço de Informações e Segurança (SIS)» de 1997 a 2006.

Factos, factos, factos! Vencemos pelos factos, não pela opinião. Disponho de pouco tempo, mas estou disponível para ajudar, e sempre no respeito da lei. Precisamos de organizar um Natal da Cidadania (como a nossa Páscoa da Cidadania, de 2007).  Há que defender a autonomia da justiça, a democracia e o Estado de direito. Recolham e forneçam informação na caixa de comentários deste blogue Do Portugal Profundo (se alguma for muito sensível, previnam-me e enviem para o meu mail ou outros contactos ou pessoalmente).


Limitação de responsabilidade (disclaimer): José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa, indiciado, em 24-11-2014, pelos crimes de corrupção ativa por titular de cargo político, de corrupção ativa, de corrupção passiva para acto ilícito, de corrupção passiva para acto lícito; de branqueamento de capitais, de fraude fiscal, e de fraude fiscal qualificada (SIC, 26-11-2014), detido preventivamente na ala feminina do Estabelecimento Prisional de Évora sob o nº 44, goza do direito constitucional à presunção de inocência até ao trânsito em julgado de eventual sentença condenatória.
 As demais entidades referidas nas notícias dos média, que comento, não são suspeitas ou arguidas do cometimento de qualquer ilegalidade ou irregularidade.

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Pressão política para a libertação do preso especial Sócrates




Em 28-6-2007, quando fui constituído arguido no processo aberto por queixa do «primeiro-ministro enquanto tal e cidadão» José Sócrates por causa do que eu havia escrito sobre o seu rocambolesco percurso académico, fui prevenido duplamente pela Dra. Cândida Almeida, no 6.º andar do DCIAP, de que estava obrigado ao dever de silêncio relativamente ao processo e aos factos em inquérito (conto essa história no meu livro «O dossiê Sócrates», de 2009). Cumpri esse dever, apesar das mentiras que eram propaladas do lado do primeiro-ministro, nomeadamente sobre os motivos invocados na queixa - que eram o MBA (sem grau) e a existência de um centro governamental de comando e controlo dos média (e nada sobre o facto de não ser, nem nunca ter sido, engenheiro, o facto de ter obtido o curso na Universidade Independente da forma como o obteve, e de não possuir a pós-graduação em engenharia sanitária que dizia ter). E quando passou a presidência portuguesa da União Europeia, e foi arquivado o inquérito-crime, e o primeiro-ministro não recorreu do despacho de arquivamento, nem deduziu acusação particular, pude finalmente dar a conhecer a verdade.

Todavia, o preso n.º 44 detido preventivamente na ala feminina do Estabelecimento Prisional de Évora, José Sócrates, indiciado, segundo a SIC, de 26-11-2014, pelo juiz de instrução Carlos Alexandre de sete tipos de crime - corrupção ativa por titular de cargo político (previsto e punido pela Lei 34/87), de corrupção ativa, de corrupção passiva para acto ilícito, corrupção passiva para acto lícito; de branqueamento de capitais, de fraude fiscal, e de fraude fiscal qualificada (previstos e punidos pelo Código Penal) -, julgando-se acima da lei, ditou por telefone ao seu advogado João Araújo, um «comunicado» (!) na noite de ontem, 26-11-2014, que este enviou para o Público e para a TSF.

Em minha opinião, o «comunicado» do preso preventivo Sócrates está mal redigido. Vou tentar corrigi-lo:
  1. Diz que as «fugas» de informação sobre o processo «são crime». Não é juiz para dizer o que é crime ou não, e já não manda. Mas ainda sonha que sim. Devia dizer quais fugas são crime: os tweets que a mulher do seu atual advogado João Araújo, Alda Telles, havia publicado, em 25-11-2014, e depois retirado com informações acerca do interrogatório do juiz Carlos Alexandre ao cliente do seu marido, ou a divulgação pelo seu atual advogado de alegada parte do mandado de detenção?
  2. Invoca a «legítima defesa» para incumprir a lei que lhe determina que, como arguido e ainda mais preso preventivo, esteja calado sobre o processo. 
  3. Diz que a sua detenção para interrogatório é um «abuso» (!?...). Mas devia explicar o «espétaculo» de ir para Paris para depois voltar, os alegados check-in não concretizados e a alegada troca de companhia de avaição à última hora.
  4. Diz que «as imputações que me são dirigidas são absurdas, injustas e infundamentadas». Não se chamam imputações mas «indícios». E, já que está a incumprir que o faça franca e não como neste comunicado. E em vez de usar o adjetivo frouxo de «infundamentadas», deve dizer que são uma completa e absoluta mentira: que é falsa a referência dos 20/25 milhões de euros no banco; que é falsa a transferência da conta do seu testa de ferro para chegarem à Octapharma de 12 mil euros mensais que depois me entregam a título de salário; que é falsa a manobra de venda a si próprio de imóveis de sua mãe; que é falsa a utilização sistemática de dinheiro vivo para fazer pagamentos; que é falsa a entrega frequente de mala de dinheiro vivo (12 mil euros mensais?) pelo seu motorista; que é falsa a movimentação de dinheiro para pagar o apartamento de 250 metros em Paris; que é falsa a utilização do RERT para benzer o dinheiro alegadamente depositado na Suíça - e já agora que é falso que tenha comprado 30 mil exemplares do seu livro que o levaram a aparecer no top de vendas...
  5. Sem o nomear, insulta o juiz de instrução de «prepotente» (é ele que tem «o poder de prender e de libertar»).
  6. Diz que o processo tem «contornos políticos» e que quer «o que for político á margem» daquilo que chama «debate». Ou seja, apela mas nega... E chama «debate» (!?...) ao que é... um processo-crime. A «Justiça democrática» que diz ir resolver o seu caso não é a do Parlamento, nem dos partidos, mas a dos tribunais...

O «comunicado» culmina um movimento orquestrado de um naipe seleto de concertistas, realizado em 26-11-2014, e de infelizes aliados do estilo. Justificam destaque:
  1. Mário Soares, que visitou a prisão de Évora, em dia proibido, e que acusou de «malandros» os magistrados (Ministério Público e juiz de instrução) que «estão a combater um homem que foi um primeiro-ministro exemplar», que «todo o PS está contra esta bandalheira». «Bandalheira» é um procurador ter pedido a prisão preventiva e um juiz a ter decretado relativamente a alguém sobre quem impendem indícios graves como os relatados?... E quem são os bandalhos na opinião do ex-presidente da República: o juiz de instrução e o procurador?... E onde está a separação dos poderes e o respeito da Constituição pelo poder judicial autónomo?...
  2. O advogado atual de Sócrates, João Araújo, que disse ir recorrer da decisão de prisão preventiva, primeiro sem pedido de habeas corpus (libertação imediata por prisão ilegal) e, depois, à noite, arriscando esse instrumento. E que acrescentou que é um processo com «contornos políticos». Um advogado que havia pedido, há um mês, as escutas de Sócrates com Vara, no processo face Oculta e que t
  3. Do rasPutin Proença de Carvalho, que parece o advogado de back-office do falso engenheiro pois criticou os motivos da prisão preventiva de quem tem representado e que insultou o juiz Carlos Alexandre com o epíteto de «superjuiz dos tablóides» (!).

Dois comentários:
  • O que se está a verificar neste caso, como, no processo Casa Pia, é uma política carcerária desigual: o preso preventivo comum vai para uma cela eventualmente atolada, o detido poderoso vai para uma cela individual numa ala resguardada; o preso comum recebe visitas nos dias e horas designados; o detido poderoso recebe visitas quando quer ou as personalidades pretendem; o  preso comum tem direito a «dois telefonemas de cinco minutos por dia», o detido poderoso para «ditar» por telefone comunicados para o seu advogado. Como diz o José, «é fantástico o que se passa no EP de Évora»... Fosse outra a política carcerária para os poderosos (igual à dos demais cidadãos!) e eles contariam tudo sobre este mundo e o outro... Sócrates parece estar a gozar de um estatuto carcerário especial, assim ao modo do traficante Pablo Escobar em «La Catedral», a luxuosa prisão colombiana que lhe foi concedida em 1991.
  • O efeito pretendido deste extremar socialisto-maçónico da estratégia da tensão é a tentativa de libertação do preso Sócrates, indiciado de sete tipos de crime, imediatamente através de habeas corpus ou por recurso normal,  . Isto é, uma pressão política sobre o Supremo Tribunal de Justiça para que liberte o faustoso causador da ruína em que o País está.

Entretanto, António Costa permanece calado perante esta pressão antidemocrática sobre o poder judicial. Afinal quem manda no PS: o débil Costa, o sombrio Vieira da Silva ou o decrépito Soares?


Limitação de responsabilidade (disclaimer): José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa, indiciado, em 24-11-2014, pelos crimes de corrupção ativa por titular de cargo político, de corrupção ativa, de corrupção passiva para acto ilícito, de corrupção passiva para acto lícito; de branqueamento de capitais, de fraude fiscal, e de fraude fiscal qualificada (SIC, 26-11-2014), detido preventivamente na ala feminina do Estabelecimento Prisional de Évora, goza do direito constitucional à presunção de inocência até ao trânsito em julgado de eventual sentença condenatória.
As demais entidades referidas nas notícias dos média, que comento, não são suspeitas ou arguidas do cometimento de qualquer ilegalidade ou irregularidade.

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Estratégia da Cabala - Parte II





O mesmo.

No processo Casa Pia, em maio de 2003, o Partido Socialista e a Maçonaria usaram a estratégia da cabala
. Essa estratégia consistia na denúncia de que as imputações de abusos sexuais de crianças eram absolutamente falsas, que as vítimas não eram as quarenta crianças orfãs de esfíncteres rasgados, mas os políticos e famosos, e de que existia uma espécie de golpe de Estado judicial contra o regime democrático. O tiro de partido foi a filtragem pelos socialistas para a SIC de que um juiz, Rui Teixeira, iria entregar no Parlamento um pedido de levantamento da imunidade parlamentar de Paulo Pedroso para que este fosse detido por alegados abusos sexuais de meninos. A estratégia da cabala baseava-se na strategia della tensione. Quando esta não resultou suficiente, ainda tentaram, sem sucesso, uma comissão de verdade e de reconciliação (ao modo da África do Sul) com o previsível corolário de poupar à prisão pedófilos que confessassem. No fim, viram-se forçados à habitual alteração da lei, com a redução de n abusos sobre a mesma criança a um só crime continuado.

Portanto, a Estratégia da Cabala - Parte II, a executar pelo PS e Maçonaria para proteger Sócrates e o sistema, terá o seguinte enredo:
  1. Denúncia de uma cabala da magistratura contra o Partido Socialista e o Estado de direito democrático. Isso implica vitimizar os vilões, desviando o debate da substância dos alegados crimes para dois fenómenos: a cobertura mediática, que eles próprios provocam ao filtrar informação para os média sobre locais e horas; para a questão marginal da forma da detenção, da medida de coação aplicada (prisão preventiva) e dos fundamentos da prisão preventiva, e do segredo de justiça que é violado descaradamente pelo lado da defesa. É uma campanha, orquestrada e ensurdecedora, protagonizada por figuras formalmente independentes, mas ligadas ao Partido Socialista: Marinho e Pinto e seus sucessores na Ordem dos Advogados, o advogado Magalhães e Silva, para simular uma unanimidade numa suposta indignação.
  2. Silenciamento dos primeiros elos (como lhe chamava Sciascia): o alegado testa-de-ferro de Sócrates, Carlos Manuel Santos Silva, e do motorista João Perna, aplicando-lhe o tratamento Charles Smith, e ainda do advogado Gonçalo Ferreira. Ainda que a pena de 17 anos e meio aplicada a Manuel Godinho no processo Face Oculta esteja a a assustar os colaboradores. Em casos do género é vulgar, quando algum servente quebra, retomar o seu controlo com promessas e entrega de sinal para a conta de algum familiar, utilizando uma tática salgada. Mas a entrega em mala tornou-se muito perigosa...
  3. Manobra sobre os juízes do Tribunal da Relação de Lisboa, que vão receber o recurso da larga defesa de José Sócrates (provavelmente do escritório de Proença de Carvalho...) para que libertem rapidamente José Sócrates da prisão preventiva, recusando os motivos invocados pelo juiz Carlos Alexandre. Veja-se Sócrates até foi a Paris e regressou, demonstrando que queria voltar...
  4. Alteração da lei para garantir a impunidade dos arguidos.

A diferença de agora face a 2003 é de que são
empenhadas na queixa de cabala, personagens aparentemente independentes. Com efeito, desde António Costa - «Pá, talvez o teu irmão seja altura de procurar o [procurador João] Guerra» (21-3-2003, até Ferro Rodrigues, «Estou-me cagando para o segredo de justiça», até ao ex-ministro mais próximo colaborador de Sócrates, Vieira da Silva, as ligações perigosas são muitas.

Mas a falta de vergonha dos envolvidos nesta estratégia, políticos, editores dos média e opinadores, é a de sempre: lembraria a alguém nos EUA, em vez de discutirem os crimes de Bernard Madoff passarem a discutir a cobertura televisiva ou os motivos da sua prisão preventiva?... Neste caso, importa perguntar sistematicamente:
o problema são os 20 milhões de alegadas luvas que o primeiro-ministro Sócrates terá alegadamente recebido ou a cobertura mediática do caso?


Limitação de responsabilidade (disclaimer): José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa, Carlos Manuel Santos Silva, detidos preventivamente por indícios de corrupção, branqueamento de capitais e fraude fiscal qualificada, João Perna, detido preventtivamente por indícios de branqueamento de capitais e fraude fiscal, e Gonçalo Ferreira, indiciado por branqueamento de capitais e fraude fiscal qualificada, todos arguidos na Operação Marquês, gozam do direito constitucional à presunção de inocência até ao trânsito em julgado de eventual sentença condenatória.
As demais entidades referidas nas notícias dos média, que comento, não são suspeitas ou arguidas do cometimento de qualquer ilegalidade ou irregularidade.

terça-feira, 25 de novembro de 2014

A prevenção da detenção

Autonomizando o poste de ontem. O TCIC comunicou cerca das 22:30 de 24-11-2014, em transmissão em direto das TVs, as diligências efetuadas na detenção e na inquirição dos arguidos da Operação Marquês, os crimes de que são acusados e as medidas de coação aplicadas, promovidas por Rosário Teixeira e decididas pelo juiz de instrução Carlos Alexandre. Note-se que a demora na comunicação há-de ter sido devida a incidências processuais e não pode ser sacada ao juiz e a referência aos tempos de inquirição úteis para a reação da legalidade observada.

Os crimes de que os arguidos foram indiciados são:
  • José Sócrates e o seu amigo Carlos Manuel dos Santos Silva estão indiciados dos crimes de corrupção, de fraude fiscal qualificada e de branqueamento de capitais.
  • O motorista João Perna está indiciado dos crimes de fraude fiscal qualificada e de branqueamento de capitais e ainda detenção de arma proibida.
  • O advogado de Carlos Santos Silva, Gonçalo Teixeira, está indiciado dos crimes de fraude fiscal qualificada e de branqueamento de capitais. 
As medidas de coação decretadas pelo juiz Carlos Alexandre foram:
  • a José Sócrates foi aplicada a prisão preventiva e vai cumpri-la no estabelecimento prisional de Évora;
  • a Carlos Manuel Santos Silva, amigo e alegado testa-de-ferro do ex-primeiro-ministro, foi aplicada a prisão preventiva;
  • ao motorista João Perna foi aplicada a prisão preventiva;
  • ao advogado de Carlos Santos Silva, Gonçalo Ferreira, foi aplicada a apresentação bissemanal no DCIAP e proibição de contacto com os arguidos do processo.

Nesta momento de vitória numa batalha muito longa e contínua, de nove anos e nove meses, é o momento de saudar os heróis da magistratura, o procurador Rosário Teixeira e a sua equipa de procuradores, os peritos da Autoridade Tributária e polícias envolvidos, e o juiz Carlos Alexandre. Procurador Rosário Teixeira que há-de ter tido a coragem de propor e o juiz Carlos Alexandre que assumiu perante o País a responsabilidade e a firmeza de decretar, sem medo, a prisão preventiva.

Há um juiz em Lisboa! Um juiz que só, isolado senão pelo apoio que os patriotas sem poder sempre mantiveram, arrostou com a perseguição sinistra e vigilância ditatorial dos serviços de informação, que sofreu intrusão em sua casa, de roubo e de ameaça de morte dos seus filhos, de tentativa de assassinato de sua mulher, de escutas, de assédio das antenas do PS e da Maçonaria, e seus aliados, nos órgãos superiores das magistraturas. Um homem sem medo, destemido perante suspeitos de corrupção nacionais e estrangeiros, objeto de perseguição pessoal de serviços estrangeiros em Portugal em ligação aos serviços portugueses (!), vítima de difamação em jornais de Luanda criados especificamente para o atacar, com textos claramente escritos em Portugal por defensores sem lealdade nem caráter.

Há procuradorers em Lisboa e no resto do País, como o paciente e obstinado Rosário Teixeira, sem ceder perante as dificuldades da própria lei enviesada pelo sistema, o resto da sua equipa, e todos aqueles procuradores e juízes que, ao longo dos anos, foram castigados por ter ousado pôr em causa o modus operandi do socratismo.

E há a desvergonha dos média controlados, dos editores dependentes do sistema, alguns sentindo o fim do seu poder, dos opinadores viciosos amigos que tentam desviar a atenção da gravidade das imputações de fortuna inexplicada e de corrupção para a forma da detenção, o mediatismo que eles próprios organizam para vitimização e da inquirição e das medidas de coação.

E há um Estado para recriar num País farto de corrupção, de falta de democracia e da perseguição da liberdade de informação e de opinião. É nesse trabalho cívico que temos de persistir, porque não temos ilusões: temos vontade. E temos uma missão de serviço da Pátria que nos move.


Limitaçãao de responsabilidade (disclaimer): José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa, Carlos Manuel Santos Silva, detidos preventivamente por indícios de corrupção, branqueamento de capitais e fraude fiscal qualificada, João Perna, detido preventtivamente por indícios de branqueamento de capitais e fraude fiscal, e Gonçalo Ferreira, indiciado por branqueamento de capitais e fraude fiscal qualificada, todos arguidos na Operação Marquês, gozam do direito constitucional  à presunção de inocência até ao trânsito em julgado de eventual sentença condenatória.