sábado, 29 de setembro de 2012

Notícias da frente da justiça

O diário i, de 27-9-2012 («Procuradoria-Geral da República - Cândida Almeida não está na lista do governo»), e o ExpressoPassos quer remodelar o mais depressa possível») e o JN, de hoje, 29-9-2012 («Vozes laranjas engrossam contestação à ministra» da Justiça), trazem informação sobre a batalha da nomeação do próximo procurador-geral da República, que importa interpretar em comparação com a notícia da Visão, de 21-9-2012 («Cândida Almeida na calha para PGR»).

Ponho os dados em cima do poste e interpreto:
  1. A Visão, de 21-9-2012, dava como assente a Dra. Cândida Almeida na cadeira da procuradoria-geral. Passos/Relvas/Portas (e socialistas) entronizavam-na - mas reconheciam que Belém se opunha à sua nomeação.
    A informação assinada por Francisco Galope, disfarçada de «fontes judiciais», parece provir de fonte governamental. A não ser que fossem o Dr. Cluny e o Dr. Almeida Santos que, embora tenha mandado na justiça do País nas últimas décadas, não é fonte judicial - e nem António Marinho e Pinto é fonte judicial....
    A mensagem era patética: Cândida Almeida «parece ser o mais consensual entre o Governo e a Presidência da República, se bem que em Belém terá encontrado algumas reticências»... A notícia não parece ter provindo originariamente de outrém que o poder governamental.  De acordo com a Visão enviesada,  Cândida Almeida seria o nome mais consensual entre Governo e Presidente da República, ressalvada a oposição... do próprio Presidente, que é quem, em última instância decide!... A notícia devia ser lida como um tentativa do Governo consolidar esse nome. O Presidente teria, então, de se conformar com a vontade sistémica.  
  2. Porém, dada o temor de levantamento de rancho dos procuradores, a indignação mediática da sociedade civil (na blogosfera e no Facebook), o desagrado dos setores não sistémicos do PSD, e a oposição do Presidente, Passos/Relvas/Portas tiveram de emendar a mão e puxar o tapete a Cândida Almeida. Saíu a notícia do i, em 27-9-2012: Cândida Almeida «não está na lista do Governo». A notícia, assinada por Luís Rosa e Sílvia Caneco, admite que Miguel Relvas «é um grande defensor do seu nome» (de Cândida Almeida) e que a ministra da Justiça, Paula Teixeira da Cruz, tem «uma boa relação com a magistrada». Porém, danado com a oposição dos magistrados, da opinião pública e do Presidente, o Governo ameaça irresponsavelmente com sede vacante, prolongando artificialmente o mandato do contestadíssimo Dr. Fernando Pinto Monteiro, numa manobra semelhante à dos postos diplomáticos vazios, quando o país anfitrião não acredita o embaixador que o Governo estrangeiro pretende nomear:
    «A Presidência da República e o governo continuam à procura de um consenso, admitindo-se mesmo, ao que o i apurou, que o processo possa não estar terminado no dia 9 de Outubro – data em que termina o mandato de Pinto Monteiro» (sugere a notícia).
    Mas a notícia do i, de 27-9-2012, traz outras mensagens sublineares (debaixo da linha...).

    A primeira: a Dra. Francisca van Dunem era um nome de recurso governamental para procuradora-geral, «dadas as suas relações com Angola» (sic!! esta mudança da glória do mundo merece dois pontos de exclamação, embora não nos admire a submissão negocial). Note-se bem o nível de dependência inédito do poder político em Portugal relativamente ao cargo de... procurador-geral da República!...
    O Dr. Henriques Gaspar, pelo-sim-pelo-não, é visto de forma neutra...
    Além do Dr. Euclides Dâmaso, aparece também agora o ex-procurador-distrital de Coimbra, Dr. Braga Themido, que acompanhou os magistrados de Aveiro a Lisboa em 24-6-2009 à célebre reunião relativa à extração de certidão do processo Face Oculta para inquérito autónomo do então primeiro-ministro José Sócrates relativamente aos indícios de atentado contra o Estado de direito, e que não terá querido pactuar com Pinto Monteiro.
    E, a contragosto, mas mencionado pelo prestígio intocado na classe: o conselheiro Santos Cabral. Mas percebe-se que, famigerado para Passos/Relvas/Portas, ele é o visto como o perigo: «De todos, Santos Cabral é o que recolhe menos apoio nos vários sectores do MP». Não sendo «os vários setores do Ministério Público» (sublinado meu) o ex-comunista Dr. António Cluny (como a simpatizante Cândida Almeida?), nem a a ex-maoísta Dra. Maria José Morgado, nem muito menos o  reformado Pinto Monteiro, terá de se reduzir novamente os «setores» desta notícia, às prováveis «fontes judiciais» da outra: o setor sistémico do Governo. Ora, se mais preciso fosse do que a sua isenção, rigor e coragem, bastava a oposição sistémica ao seu nome para compreender que o Dr. José António Santos Cabral é o homem certo para a chefia de um Ministério Público autónomo e vigilante do poder político. E como é patriota, e não se mancomunou, por ação ou omissão, com o socratismo, o seu nome... não convém. Mais, insidiosamente, atira-se, sem indicar fontes, que o seu prestigiado nome não tem apoio dos «vários» (?) setores do Ministério Público...
  3. A corajosa declaração da pródiga ministra Paula Teixeira da Cruz, em Caxias, em 26-9-2012, propositadamente mal citada pelos média de influência maçónico-socratina (veja-se a transcrição que fiz da declaração oral da ministra) assustou-os, pela determinação evidenciada:
    «Houve um tempo de impunidade e não estou a referir-me agora a nenhum caso concreto. Houve um tempo de impunidade, que acabou.» (sublinhado meu)
    E mais afligiu o sistema porque este sabe que Cavaco deve ter imposto como interlocutor no processo delicado de escolha do procurador não o polícia-mau do Governo (Miguel Relvas) nem sequer o polícia-bom (Passos Coelho), mas a ministra da Justiça, como a peça do i, de 27-9-2012, reconhece: «Cavaco Silva tem discutido o assunto com a ministra da Justiça».
  4. Por conseguinte, para tão grande mal, um grande remédio: uma apressada remodelação governamental. É o que estipula o Expresso, na sua primeira página, em 29-9-2012, na mesma linha Sócrates-Passos/Relvas-Portas: «Passos quer remodelar o mais depressa possível». Mas não por causa da manifestação de hoje, 29-9-2012, na qual os comunistas tentam cavalgar a onda da indignação generalizada contra a corrupção e a incompetência do poder político. E nem por causa de Vítor Gaspar, uma espécie de delegado da União Europeia e do FMI no Governo, queimado (quase tanto...) como Passos, com a questão da transferência de dinheiro dos empregados para os patrões na questão da Taxa Social Única (TSU), mas que muito dificilmente Schaüble e os outros admitem que seja substituído.
    O motivo da urgência da remodelação é o receio por parte do poder sistémico da escolha de um procurador-geral isento e independente do poder político. Na mesma linha, vem o JN, também de hoje, 29-9-2012: «Justiça - Vozes laranjas engrossam contestação à ministra - Paula Teixeira da Cruz está sob fogo cruzado do PS e bastonário». A conjunção «e» distingue artificialmente o PS e o bastonário; e, por PS, o JN deve querer dizer «Paulo Campos»... No mesmo sentido de urgência, se deve compreender a violenta contestação soarista e dos setores socratinos contra o Governo (que inclui a ministra).
    O setor sistémico do Governo aproveita-se da contestação socratina à ministra por causa da sua declaração sobre as buscas aos socialistas das PPPs, na qual afirmou que ninguém está acima da lei (como esteve no tempo do fugitivo), e de algumas vozes internas dissonantes (como o infeliz Rui Rio, em 28-9-2012...), para defenestrar Paula Teixeira da Cruz, substituí-la por um ministro da Justiça sistémico e escolher um procurador-geral obediente ao poder político iníquo, vencer a oposição de Cavaco Silva, que quer salvaguardar perante o povo a sua imagem manchada com a colaboração com o socratismo. Recordo que Paula Teixeira da Cruz já havia sido removida da Comissão Política do PSD no congresso de março de 2012.


Expresso, 1.ª página, 29-9-2012 (realce) -
«Passos quer remodelar o mais depressa possível»


JN, 1.ª página, 29-9-2012 (realce) -
«Vozes laranjas engrossam contestação à ministra» da Justiça


Limitação de responsabilidade (disclaimer): As entidades referidas nas notícias dos média, que comento, não são arguidas nem suspeitas do cometimento de qualquer ilegalidade ou irregularidade; e mesmo se, e quando, arguidas gozam do direito à presunção de inocência até ao eventual trânstito em julgado de sentença condenatória.

To be or not to be

«O social-democrata Rui Rio criticou hoje o "julgamento na praça pública" de ex-governantes socialistas no inquérito às Parcerias Público-Privadas (PPP)» - DN, 28-9-2012. O Dr. Rui Rio perdeu uma esplêndida oportunidade de estar calado.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Para além da imunidade


No CM, de 26-9-2012:
Investigação
Políticos alvo de buscas nas PPP
Ex-governantes socialistas debaixo da mira das autoridades por causa das PPP
26 Setembro 2012
Por: Eduardo Dâmaso/Tânia Laranjo

Os ex-ministros Mário Lino e António Mendonça, o ex-secretário de Estado Paulo Campos e a ex-vogal do Conselho de Administração da Estradas de Portugal Ana Sofia Tomaz foram ontem alvo de buscas domiciliárias e a escritórios, numa investigação que visa apurar crimes de gestão danosa, corrupção e branqueamento de capitais. Foram apreendidos documentos e informação bancária.
Estão em causa suspeitas do pagamento de luvas a ex-governantes socialistas, nos contratos de parceria das antigas Scut. O processo está a cargo do Departamento de Investigação e Acção Penal de Lisboa (DCIAP) que é coadjuvado pela Judiciária.
As autoridades investigam violações das regras de controlo e de gestão quando os ex-governantes optaram pelas Parcerias Público Privadas sem terem feito estudos prévios e fazendo depois revisões ruinosas dos contratos para o erário público. Os negócios em causa dizem respeito às antigas Scut no Interior Norte, Beira Alta e Litoral, Grande Porto, Litoral centro e Grande Lisboa.
As buscas foram acompanhados por magistrados, entre os quais o juiz Carlos Alexandre, que tem o processo a seu cargo.
Há pouco mais de um mês, o Governo renegociou as Parcerias Público Privadas Rodoviárias, tendo o presidente da Estradas de Portugal, António Ramalho, divulgado que se a renegociação não fosse feita o endividamento cresceria 600 milhões de euros por ano. Os números para o custo das PPP em 2020 ultrapassavam os 14 mil milhões (quase 10% do PIB).

Procurador lidera
Vítor Magalhães, um dos procuradores que assinou o polémico despacho de arquivamento no caso ‘Freeport', onde se deixavam no ar várias perguntas a José Sócrates, é o titular, no Ministério Público, da investigação que agora volta a atingir o coração dos socialistas. O processo já está há vários meses a seu cargo, sendo intensa a colaboração com uma das brigadas da Polícia Judiciária que investiga os crimes económicos.
O CM sabe que há uma brigada que exclusivamente investiga o dossiê das PPP rodoviárias, grupo esse que é acompanhado pelo juiz Carlos Alexandre, do Tribunal Central de Instrução Criminal.
A investigação está, no entanto, longe de estar terminada e poderá ainda atingir outras figuras no mundo da política.
Ontem, foram apreendidos documentos em casas e escritórios dos visados, que agora terão de ser analisados. Há ainda informação bancária apreendida que poderá confirmar o rasto das supostas luvas.

Falta o principal. Mas começa bem. Creio que é uma questão de método. Veremos como segue este caso de relações turvas. Pode haver alguma canária claustrófoba que chilreie.

E nada de medo das palavras duras, como as da ministra Paula Teixeira da Cruz, em 26-9-2012, em... Caxias (transcrição minha da declaração oral da ministra):
«Tudo deve ser investigado. Ninguém está acima da lei. (...) Houve um tempo de impunidade e não estou a referir-me agora a nenhum caso concreto. Houve um tempo de impunidade, que acabou. (...) Ninguém está acima da lei, sejam 'ex', sejam atuais. Ninguém está acima da lei. É muito importante que as pessoas entendam isto.»


* Imagem picada daqui.



Limitação de responsabilidade (
disclaimer): As entidades referidas nas notícias dos média, que comento, não são arguidas nem suspeitas do cometimento de qualquer ilegalidade ou irregularidade; e mesmo se, e quando, arguidas gozam do direito à presunção de inocência até ao eventual trânstito em julgado de sentença condenatória.

A drenagem de cérebros e de empreendedores


A drenagem de cérebros é um dos efeitos diretos da corrupção e da ruína económica-social de um País. «Noruega procura 5.000 engenheiros portugueses!», titula o Dinheiro Vivo, de 25-9-2012.

Prevenia-me um amigo da perda generalizada de espírito empreendedor, numa situação de crise económica prolongada. Os mais aventureiros e os melhores tentem a ceder a oportunidades de aplicação do seu capital humano em países mais livres e prósperos. Uma grande parte do estrato empreendedor e de mérito das novas gerações vai perder-se e o País ficar ainda mais atolambado.

O poder corrupto e incompetente não prejudica apenas o bem-estar das gerações adultas: destrói o futuro da nação pela fuga de cérebros e vontades das gerações mais jovens.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Democracia direta - ou o caos

Apertado como antes - mais ainda, porque a esquerda prefere os ditacorruptos deles do que os negociantes dos outros... -, o poder tenta de novo fugir à sorte com que o povo o quer amargar.

Na ânsia de mais uns meses de negócio e no temor de prossecução judicial futura, o Governo ameaça o Presidente e o Conselho de Estado com demissão, à beira do envio de novo envelope financeiro da União Europeia/FMI. E junta ainda outra ameaça velada, como se percebe da notícia do i, de 21-9-2012, sobre uma alegada investigação da Autoridade da Concorrência ao negócio do Pavilhão Atlântico.

Também na véspera da reunião do Conselho de Estado, de 21-9-2012, com manifestação fronteira, a fazer relembrar o 12 de novembro de 1975, , o Governo firmou um pacto fraterno com o socialismo, operacionalmente liderado - como sempre! - por Almeida Santos: manutenção do poder político e da procuradoria sob controlo da Maçonaria em troca de mais uns meses de grandes (e pequenos) negócios de Estado. Veja-se a entrevista do venerável socialista, ao i, de hoje, 21-9-2012. A Maçonaria está apavorada com a hipótese de largar o poder que conquistou depois da morte de Sá Carneiro e do tabu de Cavaco. E Sócrates continua a manobrar (e a pagar, que os resultados obtidos pelas equipas profissionais on-line não ficam de borla!...) para suceder a Cavaco - arrependido de ter abdicado, no verão de 2009, do salto de primeiro-ministro autoritário para presidente-ditador.

Habituados aos pactos dos palácios sicilianos, aos passos ganhos das lojas, que os reproduzem, e aos jogos jóticos, que os epigonizavam, os incompetentes okupas do poder político, julgam que ainda mandam, já não por respeito dos cidadãos mas por causa de serem delegados de serviço da troika estrangeira (que salvaguarda, em primeiro lugar, os créditos/investimentos estrangeiros nas parcerias público-privadas). Mas os folguedos dos torneios e saraus da corte faustosa, enquanto o povo desesperado briga pelas côdeas, são apenas a ilusão fugaz de um bando condenado ao ostracismo judiciário. Melhor fora que os homens e mulheres de bom senso que ainda têm alguma influência no poder se pronunciassem sobre a proximidade do abismo social para onde a corrupção conduz desgovernada o País, debaixo da orquestra desafinada da esquerda irresponsável. Uma esquerda entusiasmada com o velho leninismo de superioridade de forças em cascata, agora sob a fórmula peculiar de democracia participativa, em que como costumo dizer a organização Abraço vale tantos votos quanto a Igreja Católica. Para não falar da utopia da democracia real, uma fórmula neo-trotskista em que os braços alçados na agitação da rua valem por milhões de cidadãos nas suas casas.

Na verdade, o povo está à beira de reclamar, de novo, o poder político. E não poupa os partidos mais ou menos sistémicos - e sustentados, todos!, por financiamentos eleitorais indecorosos, como tem sido durante anos também o PC, sempre à espera de uma aliança frentista com o PS. Veja-se a indignação dos manifestantes contra o Bloco de Esquerda, na manifestação de 21de setembro de 2012, em frente ao Palácio de Belém, onde decorria o Conselho de Estado. E não se trata de uma preferência do povo pela pseudo-esquerda corrupta ou utópica sobre a pseudo-direita corrupta e degenerada. Trata-se de uma revolução embrionária contra a degeneração da democracia representativa em corrupção de Estado e analfabetismo técnico. Uma degeneração em que o povo só tem direito prático de escolher entre os candidatos das ementas partidárias cozinhadas por caciques corruptos.

Precisamos cada vez mais da reforma de instauração de uma fórmula moderada e viável de democracia direta: eleições primárias nos partidos, referendos efetivos e responsabilização política. Ou isso - ou o caos.


* Imagem picada daqui.


Limitação de responsabilidade (disclaimer): As entidades referidas nas notícias dos média, que comento, não são arguidas nem suspeitas do cometimento de qualquer ilegalidade ou irregularidade.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

O controlo sistémico da procuradoria-geral da República

A Visão, de hoje, 21-9-2012, numa notícia assinada por Francisco Galope, dá como certa a nomeação da Dra. Maria Cândida Almeida como próxima procuradora-geral da República. A revista afirma, com base em fonte que não indica, mas que se percebe facilmente ter origem governamental, que a Cândida Almeida terá ganho a corrida a António Henriques Gaspar, Eduardo Vera-Cruz Pinto, Francisca Van-Dunen, Euclides Dâmaso e José António Santos Cabral. É no conselheiro Santos Cabral que reside a esperança patriótica de independência e vigilância do Ministério Público sobre o poder político corrupto. Mas parece ser uma carta fora deste baralho - tal como o Prof. Eduardo Vera-Cruz Pinto, que também me foi gabado.

A notícia da Visão parece tratar-se de um contra-ataque sistémico, governamental, para impor ao Presidente da República, a atual coordenadora do DCIAP. Segundo se percebeu da notícia de 10-9-2012, no Público, o preferido do Presidente da República era o conselheiro António Henriques Gaspar, um nome bem aceite no Ministério Público e que me foi descrito como homem sério e rigoroso. Ainda que se avente ter sido ele, que não confirmou nem desmentiu, a pessoa não identificada a que Noronha Nascimento disse em entrevista televisiva de 11-2-2010, ter recorrido para a invenção da fórmula da «extensão procedimental», usada pelo presidente do Supremo, no processo Face Oculta, uma fórmula que evitou que fosse aberto um inquérito específico sobre eventual crime de atentado contra o Estado de direito, alegadamente cometido pelo primeiro-ministro de então, José Sócrates, na tentativa de se assenhorear, por testas de ferro e homens de palha, dos órgãos de relevo da comunicação social independente (TVI, Público, Correio da Manhã) em vésperas de eleições legislativas de 2009.

Cândida Almeida é agora caucionada pelo setor de Passos-Relvas (polícia bom/polícia mau) e de Portas (e Paula Teixeira da Cruz?!...) com o facto de ter sido «a primeira mulher magistrada em Portugal» e de ser «a procuradora mais antiga», num processo inédito de escolha do procurador-geral, como prémio de consolação e baseado na antiguidade de tipo militar... A notícia justifica ainda a sua preferência por ser «tida nos meios judiciais como uma figura próxima do PS, reunir também apoios nas áreas do PSD e do CDS» (sic). Tendo sido conotada com o PC durante os anos de chumbo, faltaria à Dra. Cândida (de nome e de pose) também uma proximidade ao Bloco, de Louçã... Mas, como é uma figura geralmente associada ao socratismo, esse elo bloquista também fica ligado.

Em 1-9-2012, em Castelo de Vide, na Universidade de Verão da JSD, onde foi convidada pelo setor relvista/coelhista, respondeu aos jornalistas quase como se já tivesse sido co-optada pelo Governo. Agora força-se a barra de Belém, para dobrar o cabo do Ministério Público. Se faltava alguma prova para convencer os crédulos, basta o apoio de Almeida Santos ao Governo, declarado hoje, 21-9-2012, no i, para se perceber o desenho fraterno do sistema.



Cândida Almeida e Almeida Santos (s.d., s.l.)


A Dra. Cândida Almeida (assinalada por círculo rosa) na assistência ao lançamento
 do «Novo Dicionário de Termos Europeus»
 (detalhe), 
evento da agenda do PSD durante a pré-campanha
 das eleições legislativas de 2011, 
apresentado pelo Presidente do PSD, Pedro Passos Coelho,no Centro Cultural de Belém, Lisboa, em 9-5-2011. Clique na fotografia, ou no linque, para aumentar.



Limitação de responsabilidade (disclaimer): As entidades referidas nas notícias dos média, que comento, não são arguidas nem suspeitas do cometimento de qualquer ilegalidade ou irregularidade.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Damage control



Contou-me a minha irmã uma história que presenciou há muitos anos numa carruagem do Metro, em Lisboa. Um jovem,  de aparência estrangeira e sotaque norte-americano, apercebeu-se que um indivíduo lhe tinha roubado a carteira. Não se ficou e começou a gritar na carruagem para o indivíduo: «Give me my wallet!». E insistia, enquanto o indivíduo se desculpava que não tinha carteira alguma. Mas o americano teimava - «Give me my wallet!», berrando cada vez mais alto. Os passageiros da carruagem fitavam o indivíduo alvo da ira do espoliado. A pressão aumentava e, às tantas, outro indivíduo, virou-se para o suspeito carteirista e ralhou-lhe: «Dá, pá! Dá!!». E ele... deu. Até à paragem, alguns passageiros, olhando de frente o carteirista e o colega vigilante, atiravam-lhes: «O que vocês mereciam... bem nós sabemos!...». Estes ouviam-nos, em silêncio e cabisbaixos, uns minutos que lhes devem ter parecido dias. Perderam a carteira, mas safavam a pele. Na estação seguinte, mal as portas se abriram, saltaram da carruagem e fugiram, ligeiros.


* Imagem picada daqui.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Na gaiola



Mário Soares pretende um governo de bloco-central. Mas sem eleições, pois teme que a memória da corrupção cobre o preço justo ao PS. Assim, quem foi defenestrado pelos portugueses - o Sócrates da licenciatura rocambolesca, que ele protegeu - poderia voltar, com o seu estado-maior, ao anterior poleiro. Mas o povo quere-o na gaiola, respondendo como Hosni Mubarak pela ruína e abuso de um País. Impende sobre o próximo procurador-geral da República a responsabilidade de não deixar impune o ex-primeiro-ministro.
Atualização: este poste foi emendado às 7:21 de 20-9-2012.

domingo, 16 de setembro de 2012

A legitimidade da luta patriótica



A manifestação de 15 de setembro de 2012, constituíu uma reação popular, de centenas de milhar de pessoas em 40 cidades do País contra a situação política de Portugal, com maior destaque para Lisboa e Porto. Foi também uma manifestação de unidade e de patriotismo - ainda que tenha sido a primeira vez que ouvi os políticos da esquerda internacionalista a pronunciar a palavra «patriotas», depois de Mário Soares nos tentar usurpar o conceito em 4-9-2012, em Loulé. O poder político não aprendeu a lição da manifestação da «Geração à Rasca», do 11 de março de 2011, e a indignação alastrou.

À parte o aproveitamento partidário da esquerda radical, do partido e sindicato comunista, da UGT e do PS (este sem vergonha de ser o principal responsável por década e meia de corrupção, abuso e ruína), o descontentamento do povo não pode ser menosprezado. Nem podem ser reduzido os protestos de gente de todas as ideologias ao slogan «Que se lixe a troika! Queremos as nossas vidas!» ou à TSU. A manifestação foi contra a corrupção, a inequidade dos sacrifícios, a austeridade incompetente, o desgoverno, as parcerias público-privadas (PPP) ruinosas, a imunidade e impunidade dos políticos. A tudo isso, o povo disse: basta!

O que fazer agora? Substituir este governo promíscuo com o socratismo, a maçonaria e os interesses económico-financeiros corruptos, por um governo patriótico, numa fórmula semelhante ao Governo Monti, sem dissolver o Parlamento e com o seguinte programa patriótico de 10 pontos:
  1. Reequilibrar as finanças, e pagar o passivo, sem afundar a economia e enterrar os cidadãos.
  2. Nomear um procurador-geral da República patriota.
  3. Ordenar uma auditoria geral das contas públicas.
  4. Enviar para investigação judicial todos os contratos de parcerias-público-privadas, com prioridade na investigação às rodoviárias e ferroviárias.
  5. Revogar, com efeito retroativo, os tribunais arbitrais nos contratos do Estado, nomeadamente das parcerias público-privadas.
  6. Suspender os pagamentos de todas as parcerias público-privadas até ao trânsito em julgado do apuramento da sua legalidade e regularidade.
  7. Limpar o Estado de todos os dirigentes socratinos e substituí-los por patriotas, reduzindo ao mínimo os cargos dirigentes, fringe benefits e salários.
  8. Queimar a canga dos quangos (como a ERC), institutos públicos e fundações públicas sem objeto útil e só financiar as fundações e associações privadas socialmente indispensáveis com dinheiros do Estado  (como as de solidariedade social, saúde, bombeiros, etc.)
  9. Incentivar o trabalho, através da redução do rendimento social de inserção aos doentes escrutinados por juntas médicas como impossibilitados de trabalhar e redução do subsídio de desemprego a seis meses.
  10. Eliminar exceções aos sacrifícios, e à austeridade, dos políticos, dos organismos e empresas públicas e dos gabinetes governamentais.

A tentação do poder político vai ser fechar os olhos e continuar com a mesma política de promiscuidade com o socratismo (que, gozando do salvo-conduto Passos-Portas, já organiza o regresso, conforme notícia no CM, de 16-9-2012), fazendo negócios, protegendo interesses, esmagando as famílias e as empresas. Mas essa atividade delituosa contra a Pátria é agora bastante mais perigosa. A indignação não será desmobilizada com um Conselho de Estado, de 21-9-2012, marcado pelo Presidente da República para uma catarse reparadora de consensos rotos. É nestes alturas de comoção nacional que se vê se existe - ou não! - coragem cívica e responsabilidade patriótica.

A solução patriótica pode ser adiada. Mas, daqui por um ano, com uma situação mais miserável da barca do País, batida pela voragem da incompetência e de mais uns negócios de Estado, a solução patriótica de governabilidade responsável já não será possível. E, devido à atual poupança passos-coelhista/cavaquista do socratismo inimigo, arcando com as súbitas culpas próprias e a ruína provocada pelos socialistas alheios, Portugal estará engolfado no desgoverno pró-comunista da unidade demagógica da esquerda. E nós, agora e sempre no combate, nas batalhas todas, com quem connosco quiser juntar-se e lutar legitimamente pela Pátria.

sábado, 15 de setembro de 2012

Engolir em seco

O primeiro-ministro deu ontem, 14-9-2012, uma entrevista à RTP-1. Foi preparado, surgiu com um discurso conciliador, um tom ainda mais melífluo do que o habitual, mas não pôde disfarçar o receio. Apesar do aspeto, da postura calma, o medo transpareceu: Passos Coelho passou a entrevista a engolir em seco. E quem assistiu ainda mais...

A comunicação não-verbal é decisiva no discurso político - e mesmo que para a avaliação imediata de um discurso público não valha a desmontada regra Mehrabian (de 1967) da eficácia do discurso (7% Verbal, 38% Vocal, 55% Visual), a impressão visual é muito importante. Segundo Allan e Barbara Pease (The Definitive Book of Body Language, 2006), numa apresentação visual, o impacto no cérebro da informação dos sentidos é o seguinte: a vista vale 83%, a audição 11%, o cheiro 3%, o tato 2% e o gosto 1%. Portanto, para lá da «modelação» das (mal) medidas de austeridade, da promessa de abertura ao diálogo, ficou-nos o medo do primeiro-ministro. Ora, se a confiança do primeiro-ministro está assim, como fica a dos portugueses todos neste governo?...

Para além desta impressão, sobraram as explicações falaciosas do primeiro-ministro sobre as parcerias público-privadas:
  1. Confusão entre valor atual líquido e custo total.
  2. Referência apenas a algumas das parcerias nas quais foram feitas pequenas reduções de pagamentos.
  3. Justificação mal amanhada sobre redução de pagamentos por desobrigar o concessionário da manutenção: que sem manutenção das estradas o Estado poupa dinheiro... 
  4. Declaração sobre impossibilidade de resolução de contratos porque na concessão estão envolvidos bancos estrangeiros e a troika não deixaria que isso acontecesse.

A União Europeia-FMI não impede, nem poderia impedir, que a legalidade e regularidade dos contratos sejam investigadas pelos tribunais. E, para lá dos bancos estrangeiros credores, porque financiaram indiretamente algumas concessões, usados como desculpa para todos os contratos, existem acionistas nacionais das grandes construtoras que também devem suportar sacrifícios face aos ganhos astronómicos negociados com o socratismo. Os donos e administradores das motas-engis não são os coitadinhos que os sistémicos nos querem fazer crer. Portanto, enviem-se para inquérito criminal todos os contratos de parcerias público-privadas e suspendam-se os pagamentos até ao apuramento judicial da legalidade e regularidade desses contratos. A prioridade governativa tem de ser a subsistência do povo português: não as carteiras dos magnates das parcerias público-privadas.


* Imagem picada daqui.



Atualização: este poste foi emendado às 14:29 de 16-9-2012.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

O chumbo



O Sol titulou, 14-9-2012, na primeira página que «Troika empurrou Passos», e no lead dessa notícia informa que
 «A iminência de uma má avaliação da troika levou o 1º ministro a antecipar-se e a falar na 6ª feira. Para mostrar a determinação do Governo em tentar cumprir as metas. As medidas foram combinadas só entre ele e Vítor Gaspar. O CDS ficou irritado e Belém também não gostou.» (Gratos pela transcrição do interessante projeto da Guimarães TV).
Porém, o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho disse na entrevista de ontem à noite, na RTP-1, que nenhum Governo fecha uma negociação externa e internacional que não seja do conhecimento e não possa ter o acordo do ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros. Passos dá a entender, como diz a Renascença que «Portas deu aval às novas medidas de austeridade». E na mesma entrevista disse que tinha informado o Presidente da República - para além do líder do PS. O que não contou na entrevista é a ameaça que o CM ontem veiculava: em 2013, o Estado dispensará 100 mil funcionários públicos contratados a prazo...

Mas Belém não gostou do pacote, como se percebe das mensagens fortíssimas de próximos do Presidente. Falta ao Presidente explicar a sua posição perante o pacote - depois de uma declaração preparatória sobre a necessidade de austeridade, em evento, na sexta-feira passada, antes da comunicação do primeiro-primeiro ao País. Parece mais que o Presidente tenha sido surpreendido pela reação geral, da esquerda à direita, de sindicatos a patrões (Belmiro de Azevedo, para lá do socialista António Saraiva e de João Vieira Lopes, presidente da Confederação de Comércio e Serviços) e tenha passado da distanciação para uma oposição ainda reservada (mesmo se Alexandre Relvas, seguido de Eduardo Catroga, seguido de Manuela Ferreira Leite. O Governo conseguiu uma espécie de milagre ao contrário: pôs todos contra, e inclusivamente a troika lava as mãos... Não é apenas a endémica promiscuidade bloco-centralista, nem falta de experiência: é também incompetência, mal disfarçada de solenidade oca.

Mas o mais importante da notícia do Sol não é isso: é a informação de que o novo pacote fiscal foi uma jogada de emergência para responder à «iminência de uma má avaliação da troika». Uma jogada de improviso, de última hora. Todavia, a troika que, em 3-9-2012, já havia alijado a responsabilidade do «Memorando de Entendimento» para o Governo português (de Sócrates, de Sócrates...) e, em 3-9-2012, e alijado para o atual Governo o falhanço do programa de ajustamento, veio, pela voz do seu chefe de missão, o etíope Abebe Selassié, dar uma rara entrevista ao Público, em 12-9-2012, para dizer que a descida na Taxa Social Única (TSU) à custa dos empregados) não foi «exigência da troika» e que «se houver apenas austeridade, a economia não vai sobreviver».

Passos e Gaspar são governantes de Portugal e não delegados da troika: é para os portugueses que devem governar. E mesmo que governassem para a União Europeia e FMI, como afinal dão a entender que governam, projetam mal e executam pior. Os bons alunos - Passos e Gaspar - afinal eram cábulas: e só a direta na véspera lhes permitiu uma positiva à tangente na quinta avaliação da troika. Passos passou no exame de recurso da troika, mas chumbou na frequência dos portugueses.

É altura de Cavaco Silva quebrar o silêncio cúmplice com este Governo, falar ao País e resolver o impasse atual do Governo. Não queremos novas eleições que entronizarão o PS, o partido que arruinou Portugal com um regime corrupto. Portugal precisa de um governo patriótico, integrado também por personalidades de reconhecido patriotismo, aproveitando a mesma base parlamentar de apoio.


* Imagem picada daqui.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

A prioridade da Pátria



Para lá de ter da reclamação de uma auditoria imediata das contas públicas, de enviar para inquérito judicial todo e qualquer grande negócio dos dois governos anteriores e de limpar o Estado de todos os dirigentes socratinos, o desafio que o Governo tinha pela frente logo que tomou posse em 21-6-2011, era resolver o abuso das parcerias público-privadas (PPP) do socialismo corrupto. Nem sequer as arranhou, nem lhes trouxe os ganhos, de negócios sem risco, para os valores próximos da taxa de juro dos depósitos: fez-lhes cócegas, em negociações amigáveis, sem informar o povo do valor atual líquido dos descontos obtidos (nem da percentagem atualizada de descontos obtida, nem da redução por motivo de os desobrigar de manutenção ou de determinadas obras ou cedência de troços de acesso). O povo continua sem quase nada saber.

Passados cinco trimestres, nenhum destes quatro vetores do programa patriótico foi cumprido. Não foi, portanto, o povo que rompeu com o Governo: foi o Governo que rompeu o pacto moral (eleitoral) de que o povo não o desobrigou. E posto perante uma opção de vida ou de morte, nesta beira do precipício onde o País se reencontra, não parece que o Governo se emende. O Governo não acaba com os abusos das PPP: as PPP é que acabam com o Governo. Aliás, o que o povo desonfia é que mais rapidamente Passos Coelho, Miguel Relvas, Vítor Gaspar ou Paulo Portas, deixariam o Governo do que decretariam a suspensão dos pagamentos das parcerias público-privadas até ao apuramento judicial da legalidade e regularidade de todos os contratos, das «cláusulas secretas»  (alô, Dr. António Barreto, por que não denunciou isso há quatro anos, quando soube?!...), dos estudos de tráfego manhosos e dos anexos decisivos, e trânsito em julgado dessas decisões judiciais. Além da imediata revogação das instâncias arbitrais desses negócios ruinosos.

Não se diga que isto não se pode fazer: o império da lei pertence ao Estado. E este momento de aflição nacional não vejo partido, nem Presidente da República, nem Tribunal Constitucional que tivesse a desfaçatez de se opor à revogação dos tribunais arbitrais especiais (todos de lá de casa...) e à suspensão dos pagamentos até à verificação da legalidade e regularidade dos contratos das parcerias público-privadas.

Engana-se quem mente ao veicular que os patriotas não querem o reequilíbrio orçamental. Querem, ainda mais do que qualquer socialista ou moralmente corrupto bloco-centralista. Um sacrifício temporário, equitativo (não aquele em que os sobrinhos têm tudo e os bastardos zero) e justo (com responsabilização judicial dos prevaricadores). Lembro que eu defendi, aqui ,orçamento com défice «zero»: com suspensão dos pagamentos das PP e correção de abusos na subsidiodependência de (des)inserção e nos prazos ociosos, além do encerramento de serviços inúteis do Estado (ERC, etc.) e fundações sorvedouro.

O futuro pessoal dos governantes atuais pode depender do cumprimento dos compromissos pré-eleitorais - quando se deu o assalto ao PSD -, mas o futuro imediato do povo depende da suspensão das PPP. Convém lembrar a prioridade de Francisco Sá Carneiro: primeiro o país, depois a democracia e só depois o partido. Quem pretende a solidariedade partidária à frente da obrigação com o País e até com a democracia, desmerece o partido de Sá Carneiro.

Por aqui, agora e sempre, não cedemos à chantagem moralmente corrupta: apoiar estes, apesar de se recusarem a mudar de política, para evitar que venham os outros. Não consentimos no abuso, simplesmente porque «são os nossos»... Nossos são os patriotas que põem o País e o povo, antes de qualquer compromisso pré-eleitoral com banqueiros, construtores e financiadores. Não apoiamos estes porque governam mal e não se emendam; e não aceitamos que a demissão destes (Passos, Relvas, Portas , Gaspar, etc.) implique eleições antecipadas e o regresso dos anjinhos socialistas. Creio ser possível nomear um Governo de salvação nacional no quadro da atual maioria ideológica, com personalidades independentes, todos imbuídos do espírito patriótico e a aplicação do programa mínimo que apresentámos.


* Imagem picada daqui.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Fi(a)sco

A conferência de imprensa, desta tarde de 11-9-2012, do ministro das Finanças, Prof. Vítor Gaspar, para apresentação das conclusões da quinta avaliação da troika ao programa de ajustamento económico português de medidas adicionais de auteridade, foi um fi(a)sco.

Em resumo:
  1. Mais impostos, nomeadamente sobre os trabalhadores independentes, cuja Taxa Social Única passa para uns estratosféricos 31,7%, e taxas de solidariedade com os banqueiros-construtores.
  2. Corte adicional nas pensões.
  3. Ameaça de despedimento de funcionários públicos contratados.
  4. Promessa não específica de evitar a tripla penalização dos funcionários públicos e a penalização dos empregados do setor privado, através do IRS e abstração sobre a mudança nos escalões do IRS, com a justificação de que se trata de «proteger 2,6 milhões de famílias».
  5. A habitual demagogia da tributação pesada de aviões, iates e carros de luxo, bem como dos prédios de valor acima de um milhão de euros (por um instante ainda pensei que pusesse os valores no meio milhão de valor dos apartamentos de luxo onde vivem) e de mais-valias de acções (em 1,5%). 
  6. Adiamento e atenuação das metas do défice, aparentemente ainda irrealistas no vácuo do consumo e do investimento. 

E o Ctrl+F dos relatos da conferência (este, aquele e aqueloutro) dar resultados zero nos termos «parcerias público-privadas», «PPP» e «rendas»...


Atualização: este poste foi alterado às 20:03 de 11-9-2012.


Inequidade nos sacrifícios


A falta de equidade na distribuição dos sacrifícios é o motivo principal de descontentamento com as políticas de austeridade do atual Governo.

No mix de sacrifícios exigidos pelo Governo aos portugueses, ficam de fora as parcerias público-privadas, cujos contratos se respeitam (para lá da  renegociação embusteira), ao mesmo tempo que se derrogam, e ab-rogam, os contratos que o Estado tem com os demais portugueses. E nos sacrifícios pedidos aos cidadãos a inequidade mantém: enquanto a generalidade dos empregados do setor público e do setor privado sofrem uma insuportável penalização fiscal, outros há que não vêem alterados os seus salários ou exceções de grelha salarial - desde empresas públicas, como CGD, TAP, ANA, NAVE, CTT, Parque Expo, EMA a institutos públicos, como o IGCP e até ao pessoal dos gabinetes ministeriais (em 2012). E mantém-se, em desfavor do trabalho, sem alteração significativa o assistencialismo pródigo à (des)inserção e os prazos excecionais no desemprego.

Como tenho salientado, o desprezo político através do assistencialismo negligente é o contraponto do abuso nos escalões dos donos do poder. Apertada fica a classe média, esganada e muda, e a pobreza trabalhadora, não reivindicativa e envergonhada da sua condição de pobre.


* Imagem picada daqui.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

A marosca fiscal

O Governo arriscou, com o pacote fiscal anunciado em 7-9-2012, numa presumida iliteracia fiscal e numa presumida dificuldade de cálculo aritmético dos portugueses. E saíu-se mal: os portugueses sabem fazer contas e as primeiras que fazem é ao seu rendimento. Escrevo antes dos telejornais das 13 deste dia 10-9-2012 e, muito provavelmente, virá neles um alvoroço de desmentido governamental da marosca que engenhou. Mas a marosca foi feita e o povo não esquecerá. Se a marosca tiver de ser disfarçada, será compensada por outra via.

«Governo procura evitar aumento da retenção de IRS para funcionários públicos», título do Jornal de Negócios, em 10-9-2012 (sublinhado meu). O título podia ser: «Governo procura evitar aumento do IRS para funcionários públicos. Mas não é esse o título: está lá a palavra «retenção»... O que significa que o Governo pode diminuir a retenção mensal, passando o impacto para a liquidação anual, recebendo os contribuintes a fatura deste pacote, aquando do acerto anual do IRS.

O primeiro-ministro Pedro Passos Coelho declarou, em 7-9-2012, na comunicação ao País do novo pacote fiscal :
«A subida de sete pontos na contribuição dos trabalhadores será igualmente aplicável aos funcionários públicos e substitui o corte de um dos subsídios decidido há um ano. O subsídio reposto será distribuído pelos doze meses de salários para acudir mais rapidamente às necessidades de gestão do orçamento familiar dos que auferem estes rendimentos. Neste sentido, o rendimento mensal disponível dos trabalhadores do setor público não será, por isso, alterado relativamente a este ano.» (Transcrição manual minha da p. 12 do pdf manhoso - nunca tinha visto coisa assim, mas não há problema, seus marotos, copiou-se à unha...).

Todavia, o «rendimento mensal disponível dos trabalhadores do setor público» é mesmo alterado, pois como se empola artificialmente o rendimento bruto (que se lhes tira através do aumento equivalente da contribuição para a Caixa Geral de Aposentações), aumenta o IRS, em termos absolutos e relativos com a subida de escalão. Ora, como diz nos tribunais, o Governo sabia e não podia deixar de saber, porque o estudou, que esse empolamento artificial tinha o efeito redução no rendimento até um salário adicional de desconto pelo IRS e aumento correspondente da receita fiscal (apesar do desprezo dos mercados - a taxa de taxa de juro das obrigações do Estado português a dez anos abriu a 8,46% , nesta manhã de 10-9-2012). Assim, a justificação do primeiro-ministro «o rendimento mensal disponível dos trabalhadores do setor público não será, por isso, alterado relativamente a este ano» (de 2013) é moralmente inaceitável. E

O Negócios havia prevenido, logo em 8-9-2012, que, com o novo pacote fiscal, anunciado em 7-9-2012, os empregados do setor privado podiam perder até dois salários e os funcionários públicos até três, devido à incidência do IRS sobre o salário bruto. No caso dos funcionários públicos, o aperto é agravado pela esperteza saloia do empolamento artificial do rendimento bruto em 7%, através da distribuição de um dos subsídios na folha salarial mensal, uma quantia que o trabalhador não aufere por lhe ser retirada através da equivalente subida da contribuição para a Segurança Social, aumentando-lhe o IRS, em termos absolutos e em termos relativos pela subida de escalão. Isto sem contar com o novo aumento de impostos decorrente da anunciada revisão dos escalões do IRS.

Face à vergonha de ter sido apanhado com as calças na mão na borrada do toma-lá-dá-cá do empolamento artificial dos salários dos funcionários públicos para lhes cobrar mais IRS, é provável que o Governo recue. Como recuou na reforma draconiana das freguesias. Ou cederá na prevista entrega da taxa (140 milhões de euros/ano) aos privados que irão receber a concessão da RTP, enquanto se prepara o público para a concessão a sociedades europeias... de empresários luandenses, conforme se percebe da notícia exposta, em 8-9-2012, no relvado do novo i).

Um Governo fraco faz dos portugueses ainda mais fracos. Apesar de cinco trimestres de amargura, gostava de lhe dar a este o benefício da dúvida e acreditar na possibilidade real de inversão da política extorsionista dos cidadãos para proteção maçónica dos políticos promíscuos e dos magnates da finança e das grandes construtoras. Não posso. Nem devo. Do Portugal Profundo, onde me finco, não há dois pesos para as mesmas medidas.


Atualização: este poste foi emendado às 13:30 de 10-9-2012.

sábado, 8 de setembro de 2012

O saque



Ontem à tarde, num café da encosta da Nazaré, perante a vista fabulosa da baía, onde fui ao fim da tarde, com minha mulher, comover a angústia patriótica perante o mar sereno, dizia um nazareno para a jovem esposa: «vou ouvir o que diz o ladrão». «Ladrão» era o cognome que ele atribuía ao primeiro-ministro, que os média haviam anunciado ir fazer, oportunamente antes da prevista cabazada da seleção contra o Luxemburgo, uma comunicação ao País, com novas medidas de austeridade para conter o desvio orçamental. Refleti. A classificação é dura: ladrão é alguém que rouba com violência. Na opinião popular franca, o Governo parece-se cada vez mais com os coletores medievais de impostos, que saqueavam aldeias para o fausto da corte no castelo, enquanto a plebe amargava a miséria e a justiça, ao serviço do tirano, protegia os crimes dos poderosos. Não podemos ignorar, e os dirigentes políticos menos, que esta é a classificação que cada vez mais o Povo atribui ao Governo: uma entidade que lhe rouba o sustento. Aquilo que, de forma mais elaborada se chama extorsão fiscal. Uma extorsão que é violenta.

O primeiro-ministro Pedro Passos Coelho fez ontem, 7-9-2012, uma declaração ao País, informando, e justificando, um novo pacote de aumento de impostos:
  1. Aumento da Taxa Social Única (TSU) paga pelos trabalhadores do sector privado de 11% para 18% (equivalente a um mês de salário). 
  2. Redução da contribuição das empresas para a Segurança Social de 23,75% para 18%. 
  3. Manutenção do corte de um dos dois subsídios extra salário mensal e distribuição do outro subsídio pelos 12 meses; simultaneamente ao aumento em 7% (relativamente ao valor do salário) do salário da Taxa Social Única dos funcionários públicos (o que corresponde ao corte desse subsídio. O aumento do rendimento bruto taxável, ainda antes da anunciada revisão dos escalões do IRS, provoca um aumento do IRS pago pelos funcionários públicos de cerca de 3,5% para um salário bruto de 1.050 euros (ver Negócios, de 8-9-2012), um valor que crescerá em quem tenha salário mais alto. 
  4. Manutenção do corte dos dois subsídios de Natal e Férias, para os reformados do sector público e privado, enquanto vigorar o Programa de Assistência Económica e Financeira da União Europeia e FMI.
  5. Promessa de um crédito fiscal (devolução) no IRS para proteger os trabalhadores com rendimentos mais baixos do agravamento da TSU para 18% - não está especificado até que valores de rendimento mensal bruto.
Comento primeiro o pacote fiscal e depois a violação do contrato político entre Governo e Povo.

Dois comentários sobre o pacote fiscal: sobre as empresas e sobre os empregados.

  1. Se a empresa fizer refletir no trabalhador o impacto do agravamento da Taxa Social Única, há a poupança de 5,75%. Mas, para muitas empresas, no que respeita ao salário líquido do trabalhador, com estas alterações na contribuição para a Segurança Social, paga pelas empresas, e na Taxa Social Única, paga pelos empregados, em vez de crédito, há aumento dos custos: entre os 34,75% (23,75%+11%) e os 36% (18%+18%) há um agravamento de custos de 1,25%... Isto é, as empresas que queiram proporcionar ao empregado o mesmo salário líquido que tinham antes da entrada em vigor deste novo pacote, têm um agravamento de 1,25% nos custos do trabalho.
  2. Para a generalidade dos empregados públicos e privados, há um aumento da carga fiscal. Corte de dois salários (os subsídios), mais agravamento do IRS para os do público; corte de um salário (um subsídio) para os do privado; corte de dois salários para os pensionistas.


Oito comentários sobre a violação do contrato político entre o Governo Passos Coelho e o Povo:
  1. O povo aguenta austeridade temporária desde que veja justiça nos sacrifícios. Sacrifícios de todos - o que inclui grandes construtores, banqueiros e donos e administradores de oligopólios. Se são revistos os contratos com os empregados, com os pensionistas, com os subvencionados, também devem ser revistos, pelo menos na mesma proporção, os contratos dos grandes negócios das parcerias público-privadas. Falta ao Governo expor o valor atual líquido das poupanças na renegociação das parcerias público-privadas (não das cócegas nos pagamentos ao longo de dezenas de anos de concessão), bem como o aumento dos custos com as estradas de acesso recebidas, com a manutenção de vias concessionadas pelo Estado e com as obras de que o Estado desobriga as construtoras sem lhes reduzir os pagamentos por ele realizados.
  2. Este pacote fiscal, envolto numa justificação de combate ao desemprego, é um sofisma de esperteza saloia. Esse sofisma é evidente na maldade de dar com uma mão e tirar com a outra, aumentando o rendimento bruto dos funcionários públicos para lhes sacar mais IRS.
  3. Este Governo foi eleito para resolver a corrupção e limpar o Estado, equilibrar o orçamento de Estado, desenvolver a economia e reduzir o desemprego. Nada disto conseguiu, nada disto está a conseguir. E por falta de vontade própria.
  4. O Governo parece ter as mãos tolhidas por compromissos pré-eleitorais com interesses financeiros e económicos que impedem a resolução da corrupção e o equilíbrio orçamental pela  resolução dos abusos: 
  5. O Governo não promoveu a auditoria geral das contas públicas (com exceção daquela realizada com celeridade, em setembro de 2011, ao Governo Regional da Madeira). Nem a averiguação (a partir dos contratos ocultos, formais e anexos...) da corrupção de todas as Parcerias Público-Privadas celebradas pelo poder anterior, com suspensão dos pagamentos dessas parcerias até ao apuramento judicial, com sentença transitada em julgado, da legalidade e regularidade desses contratos (revogando toda e qualquer cláusula de arbitragem, manhosa, neles íncita). Nem, na outra ponta do espectro, o cancelamento dos abusos nos subsídios do Estado, repondo a necessidade do trabalho e da equidade.
  6. O que está em causa não é a falência de construtoras, nem de bancos: o que está em causa é a falência das famílias, provocada pela prioridade do Governo a bancos e construtoras. Não vale a desculpa de que esse apoio se destina evitar a falência de construtoras e de bancos. Não existem construtoras, existem obras; e sem obras, como agora não há, não há construtoras ativas no País. E nem a justificação dos apoios bancários para aumentar o crédito é válida: o dinheiro vai para tapar buracos antigos e é rara a concessão de crédito às empresas por bancos descapitalizados, e até aos particulares. Vigora a bancocracia, que permite taxas de usura absurdas no crédito aos consumidores : «Cartões de Crédito, Linhas de Crédito, Contas Correntes, Bancárias e Facilidades de Descoberto» de 37,2% e «outros créditos pessoais» de 20,9%, mais comissões e impostos, no terceiro trimestre de 2012, quando a Euribor a três meses, em 7-9-2012, era de 0,265%!... - e no crédito à habitação nem sequer existe taxa máxima.
  7. O aperto nos salários e o aumento da carga fiscal degradam o consumo, a poupança e o investimento, agravando a situação da economia e o desemprego.
  8. Portando, este Governo rompeu o contrato que tinha com o Povo

Os patriotas não aceitam a proteção, pelo Governo, da promiscuidade financeira e o sacrifício inglório do Povo - de que o Presidente da República não se deve abstrair. Resta ao Governo a demissão. E tem de ser erguida uma alternativa patriótica, não socialista, para a reforma política do Estado e a condução isenta do País.

Um homem de bem

Relativamente ao poste «Lista de membros do Grande Oriente Lusitano», de 1-9-2012, recebi do Dr. José António Barreiros, na caixa deste blogue, em 6 de setembro, o seguinte comentário que devo transcrever:
«Boa noite. Permito-me comentar para esclarecer.

Com menção elogiosa à minha pessoa, que agradeço, sou dado como pertencente à Maçonaria no elenco em que os alegados membros estão classificados por profissões. Sucede que um leitor atento verificará que depois, na enumeração por lojas e na lista alfabética dos membros, não me encontro mencionado. Esta discrepância permitiria dar como possível a interpretação segundo a qual eu não teria integrado tal organização.

Como a verdade é um valor que prezo, aqui fica pela minha boca o seguinte: integrei em 1985 a Maçonaria dita irregular, pela Loja Estrela d'Alva [de cuja enumeração no post não consto, pois esta lista é também ela desactualizada], de onde saí, bem como um significativo grupo de outros membros, para integrar a Grande Loja Regular de Portugal. A razão teve a ver com o esperado carácter alegadamente espiritualista desta e na decorrência do que vivera em Macau. Por ter concluído que essa expectativa não era satisfeita abandonei definitivamente qualquer ligação semelhante em 1992.

Nunca neguei este momento do minha vida. Disse-o em várias ocasiões, quando foi feita uma revelação de nomes pelo defunto jornal "Independente" - então dirigido por Paulo Portas - e mais recentemente quando o mesmo sucedeu pela voz da revista Sábado. Afirmei-o detalhadamente numa "entrevista de vida" ao jornal Sol, o que me permito citar:

«Estive nas duas maçonarias, se assim se pode simplificar: primeiro no Grande Oriente Lusitano (GOL), depois na Grande Loja Regular de Portugal (GLRP). Julgava a maçonaria um clube filosófico, uma sociedade filantrópica. A certa altura, no GOL, começou a desenhar-se uma profanização, uma lógica ostensiva de tomada de poder, a tentar-se tornar a maçonaria num contraponto à Opus Dei, o que achei muito perigoso e com o que não tinha nada a ver. Rompi com o GOL porque em Macau vi onde estavam, cá e lá, muitos que se diziam maçons e de uma agremiação de `bons costumes’. Depois, surgiu a GLRP, com maior incidência nos valores filosóficos – mais ritualizada, aparentemente mais apta a ser uma via iniciática de enriquecimento simbólico. Mas os problemas vieram também ali na forma de escândalos públicos. Mas, note, há gente boa, generosa e séria na maçonaria, pessoas que tentam vivê-la como uma mística laica, ou como uma forma de esoterismo gnóstico, como um instrumento de socorro social, a par de outros para quem aquilo é uma central de interesses, empregos e negócios.»

No volumoso livro "Os Espanhóis em Portugal", da autoria de José Freire Antunes sou várias vezes citado nessa qualidade pela minha própria voz, comentando a influência real e a imaginada da maçonaria em Portugal.

Aqui fica a verdade de um passado que vivi com a decência da busca de valores nobres e do qual nenhum benefício pessoal tirei. Quanto à regra «uma vez maçon, maçon sempre», vale o que valer o carácter indeclinável do Baptismo para os católicos, com uma diferença: este é um sacramento irresolúvel e que prescinde da livre escolha do baptizado, a filiação maçónica é um acto livre e livremente revogável pelo "atestado de quite". Comigo não há pendências. Grato, pois, meu caro Balbino Caldeira, pela menção e pela oportunidade. Aceite um abraço do jab».

Com efeito, destaquei um conjunto de personalidades de maior destaque na lista, aos quais somei alguns nomes referidos publicamente como maçons, alguns deles tendo-o assumido. Todavia, embora tenha assumido corajosamente (como mencionei no poste a propósito do texto «Pedradas entre a pedreiragem», que publicou no seu blogue A Revolta das Palavras, em 6-1-2012), o Dr. José António Barreiros não consta deste rol seletivo de nomes filtrados de membros  e lojas da maçonaria do Grande Oriente Lusitano (GOL). Eu devia ter assinalado especificamente isso, como fiz com outros que não constam da lista, embora tenham sido publicamente ligados ao GOL, e confirmando-o ou não o desmentindo: Nuno Magalhães, Germano de Sousa, Miguel Relvas, Carlos Carreiras, António Nunes, António Costa Pinto, José Adelino Maltez, Armando Vara, José Magalhães e Carlos Monjardino. Tratou-se de um erro, que fica agora corrigido e pelo qual peço desculpa ao Dr. José António Barreiros que é, além de advogado brilhante e combativo, um homem honesto e um patriota. O que nestes tempos de promiscuidade, faz toda a diferença.

É útil a apresentação de outras interpretações contrastantes, como é esta do Dr. José António Barreiros. A minha opinião sobre a Maçonaria é conhecida e tem sido exposta neste blogue: na perspetiva filosófica radica-se em  «El Secreto Masónico Desvelado», de José Antonio Ullate Fabo, 2007; na perspetiva política contemporânea portuguesa foi desenvolvida, entre muitos outros, no meu poste de 9-12-2008, «A influência da Maçonaria na III República portuguesa». Portanto, sobrepujando o caráter antidemocrático (elitista e secreto) e desumano (a preferência dos irmãos sobre os demais), para lá de pranchas e lojas, o maior problema são, como diz o Dr. José António Barreiros,  «os esgotos», que o terão levado a sair da organização. Um motivo e uma atitude que o classificam como um homem de bem. Um grande abraço.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

A escolha do próximo Procurador-Geral da República

(Atualizado)



A escolha do novo procurador-geral da República está em marcha. Sucedem-se movimentos de potenciais candidatos e de influenciadores e o reconhecimento e preparação do terreno pelos decisores. O que está em causa para os «patriotas» - conceito a que aderiu o Dr. Mário Soares, em 4-9-2012 é a isenção do candidato escolhido, nomeadamente a sua relação com o socratismo. Começo por uma questão prévia - a competência da decisão de escolha - e depois analiso dois potenciais candidatos: a Dra. Cândida Almeida e o Dr. Henriques Gaspar.

A competência da escolha do procurador-geral
As notícias que vão sendo publicadas sobre este assunto induzem o público em erro. Importa esclarecer. Precisa, ou não, o Governo PSD/CDS do acordo, do parecer, ou da consulta do Partido Socialista, para propor ao Presidente da República, o próximo procurador-geral da República, que irá suceder ao Dr. Fernando Pinto Monteiro (ligado à Maçonaria, segundo o CM, de 17-9-2006)?

Não: segundo a Constituição da República, que a esquerda tanto preza por causa da sua matriz comuno-socialista, na alínea m do seu art. 133.º, a competência de propor o nome do procurador-geral da República cabe ao Governo:
«Compete ao Presidente da República, relativamente a outros órgãos: (...)
«m) Nomear e exonerar, sob proposta do Governo, o presidente do Tribunal de Contas e o Procurador-Geral da República».
Assim, segundo a Constituição, o Governo propõe um nome para procurador-geral e o Presidente nomeia ou recusa. O Parlamento não intervém. Será que a Constituição só é para cumprir se convier aos socialistas? Ou será que o Governo é tão fraco que abdica até das competências próprias perante os socialistas?

Então, se Almeida Santos, o controleiro socialista do sistema judiciário, assim manteve o proceso de escolha, para o PS beneficiar dessa prerrogativa e imperar sobre o sistema, há-de o Governo PSD/PS acordar com o PS a escolha do procurador, como se lança do seguinte balão, no DN, de 17-8-2012?
«Antes das férias, o assunto foi discutido entre Passos Coelho e Paulo Portas. Fonte da coligação disse ao DN que mais do que nomes os dois líderes discutiram a estratégia para envolver os socialistas no processo de escolha. Um acordo com o PS na justiça podia ajudar a reaproximar Passos e Seguro num momento crucial da aplicação do memorando e em vésperas da entrega do Orçamento. De acordo com uma fonte próxima do líder socialista, Seguro aguarda pacientemente por um contacto do primeiro-ministro ou do Presidente da República.»
Seguro «aguarda» - porquê?!... Dá a Constituição o direito a António José Seguro de ser consultado pelo primeiro-ministro?!... Não dá. Mas quem procura condicionar a escolha para a seleção de um candidato próximo do Partido Socialista, insiste naquilo que chamam consenso.


Candidatos ao lugar de procurador-geral
Os candidatos mais bem posicionados na corrida parecem ser: Cândida Almeida e António Henriques Gaspar.

Francisca van Dunem, procuradora distrital de Lisboa com decisões polémicas favoráveis a José Sócrates e aos socialistas, apontada como candidata do influente Dias Loureiro, que chegou a ser apontada como favorita, tem o óbice da ligação à ubíqua Maçonaria (mesmo se não consta das listas de de membros do Grande Oriente Lusitano recentemente divulgadas) do marido, o advogado/professor bloco-centralista Eduardo Paz Ferreira, cuja sociedade jurídica é uma das grandes prestadoras de serviços jurídicos ao Estado, e ainda da sua pertença a uma das famílias políticas mais poderosas do poder de Luanda. Van Dunem não é só o Nito, do golpe de Estado ultracomunista e pró-soviético, do 27 de maio de 1977, pois é considerada uma das mais poderosas famílias da antiga colónica portuguesa, com «ligação à Newshold», de que se fala como parceira de compra da RTP, e com o maior destaque político. E se a prudente Isabel dos Santos nada quer ter a ver com a evidência da RTP, menos ainda seria bem visto por esse poder, ou por Miguel Relvas apontado como o membro do Governo com mais íntimo relacionamento com as autoridades de Luanda, essa preponderância  (e motivo de fragilidade).

O juiz-conselheiro António Henriques Gaspar seria o candidato principal. Mas parece ter sido preterido por uma hipótese mais segura: Cândida Almeida. Henriques Gaspar, é oriundo do Ministério Público, tem experiência internacional, e é reconhecido como um dos maiores especialistas de direito penal do País. Jurista de assinalável craveira intelectual, e atento à filosofia contemporânea (Bauman, etc.), parece, pela análise dos textos que consultei, de filiação moral católica e situar-se à esquerda, numa linha socialista, obreirista, sem concessão liberal, opositor do «cinismo dominador da finança», desconfiado da ciência económica («A economia não é senão uma disciplina de explicação e de possível e tentativa interpretação ex post»), garantista face à pressão de eficiência da justiça, defensor, como é ainda dominante no direito e jurisprudência penal portugueses, da velha honra sobre a nova liberdade (ver a sua argumentação, em 30-5-2000, enquanto «Agente» do Governo Português no caso Vicente Jorge Silva contra Estado português a propósito da condenação do jornalista, por difamação, por texto contra Silva Resende), e crítico da «metáfora da corrupção» e dos «condicionamentos mediáticos».

Henriques Gaspar tem contra si ter sido apontado como o magistrado a quem o presidente do Supremo Tribunal de Justiça, Noronha Nascimento, que não o identificou, afirmou em entrevista televisiva de 11-2-2010, recorreu para a invenção da rocambolesca figura da «extensão procedimental» (que aqui glosei, na altura, como extinção pre-sedimental). Fernanda Palma, mulher do ministro socialista Rui Pereira, chamou a esse artigo 9.º da lei n.º 34/87, num artigo no CM, em 14-2-2010, uma «norma adormecida», que só poderia «ser "acordada" por factos muito graves que o justifiquem», e que accionar aquela norma seria «mudar o curso da história». A história não mudou: a TVI foi controlada antes das eleições legislativas de setembro de 2009, José Eduardo Moniz e Manuela Moura Guedes foram corridos da estação, o jornal Público (ainda antes da substituição de José Manuel Fernandes...) foi dominado e a Presidência da República foi neutralizada pela «encomenda», mediante intrusão eletrónica num jornal, da banda de operações  negras do socratismo (como em Espanha...) que resuscitou, a poucos dias do sufrágio,  um caso passado quinze meses antes... Henriques Gaspar, que é vice de Noronha Nascimento no Supremo Tribunal de Justiça desde 2006, nunca confirmou, nem desmentiu, ter sido esse magistrado-sombra. Embora, cerca de uma semana depois, em 19-2-2010, tenha sido publicado, no blogue Sine Die pelo conselheiro Eduardo Maia Costa, um texto de Henriques Gaspar, intitulado «O que é um atentado contra o Estado de direito?» que constitui uma resposta indireta, e crítica, à interpretação dos magistrados de Aveiro, João Marques Vidal e António Costa Gomes, que haviam extraído certidão do processo Face Oculta para investigação da responsabilidade do primeiro-ministro José Sócrates em eventual crime de... atentado contra o Estado de direito. Lido o texto do conselheiro Henriques Gaspar, que incidia sobre a avaliação judicial de um caso gravíssimo de manobra de Sócrates/Bava para controlo da parte restante dos meios de comunicação social de referência independentes face ao regime socratino (TVI, Correio da Manhã, Público...) a três meses de eleições legislativas, carentes como todas de imprensa livre para que fossem livres e justas, os argumentos que o conselheiro do Supremo alinha deveriam ter conduzido a conclusão diferente da que tomou:
«A interpretação dos elementos do tipo do artigo 9º [artigo 9º da Lei nº 34/87, de 16 de Julho, "Atentado contra o Estado de direito"], mediada também pela razão das correlações valorativas de homogeneidade material, não pode deixar de apontar, como se salientou, para uma alteração, desfiguração, destruição ou impedimento de exercício, em geral, das liberdades [e garantias, e garantias...] constitucionais, de modo que se verifique uma alteração na substância do Estado de direito.» (As expressões entre parênteses retos são minhas).
Apesar do respeito intelectual com que fiquei por Henriques Gaspar (pese embora nessa avaliação a eventual colaboração com Noronha Nascimento no caso Sócrates/TVI), o candidato proposto pelo Governo para procurador-geral da República, sem transigir perante o sistema socialista e em ordem à patriótica limpeza e isenção do Estado, deveria ser um outro juiz conselheiro da 3.ª secção criminal do Supremo Tribunal de Justiça...

Mas, por agora e por mais que custea procuradora-geral adjunta Cândida Almeida parece ser quem goza de apoio unânime do poder: de Paulo Portas, de António José Seguro, de Miguel Relvas e da própria ministra Paula Teixeira da Cruz (καὶ σὺ τέκνον;)...



Cândida Almeida e Almeida Santos (s.d., s.l.)



coordenado pelo eurodeputado Carlos Coelho e apresentado pelo Presidente do PSD, Pedro Passos Coelho (conforme se podia ler coordenado pelo eurodeputado Carlos Coelho e apresentado pelo Presidente do PSD, Pedro Passos Coelho (conforme se podia ler no convite), no Centro Cultural de Belém, Lisboa, 9-5-2011. A Dra. Cândida Almeida está assinalada a por um círculo rosa na fotografia, atrás do Prof. João de Deus Pinheiro e da Doutora Assunção Esteves. Este foi um evento da agenda do PSD, durante a pré-campanha das eleições legislativas de 2011. Clique na fotografia, ou no linque, para aumentar. Esta fotografia foi colocada num poste que escrevi neste blogue, em 22-7-2011, intitulado premonitoriamente «A última passageira»:
«A singular presença da Dra. Maria Cândida Almeida neste evento da agenda do PSD, sobre matéria que não é do seu foro, não constitui um apoio formal da candidatura, mas não pode ser ignorada, nem entendida como fait-divers. Nem uma pessoa com a sua experiência política e do Estado, ali foi por engano, antes sabendo ao que ia, como a sua presença seria interpretada e que se cruzaria, ali, naquela altura e naquele contexto, com o Presidente do PSD, que iria ouvir, o secretário-geral do PSD, e outras figuras desse partido, para além das televisões, rádios e jornais.»


Recordo que a Dra. Maria Cândida Almeida é viúva do procurador António Rodrigues Maximiano responsável pelo inquérito do caso Emaudio/Fax de Macau, de 1999. Agora, Cândida Almeida participou (!) como conferencista convidada na Universidade de Verão do PSD, em 1-9-2012, onde a procuradora-geral adjunta, que coordena o DCIAP, garantiu que «os nossos políticos não são corruptos», além de distinguir entre «corrupção» e «tráfico de influência». E, numa manobra mais arriscada, para consolidar a sua candidatura perante a magistratura do Ministério Público, que lhe é hostil, e ao pov,o que não perdoa as decisões favoráveis a José Sócrates e aos socialistas, nesse mesmo dia 1 de setembro, em Castelo de Vide, respondeu à pergunta da sua disponibilidade para suceder a Pinto Monteiro: «Não vou responder a isso, parece que me estou a oferecer»...

Aliás, Paulo Portas tem-se movido para, mediante o argumento de um acordo gobal do Governo com os socialistas, conseguir determinar a escolha do procurador, que proviria assim da secular aliança portista com o PS. Tendo em conta a pendente fragilidade socialista e portista, esse deve ter sido o tema principal (fora da agenda) do almoço público de 2 de agosto de 2012, entre Portas e Seguro... Recordo que uma linha política constante da política portistadesde os tempos de Cunha Rodrigues, é procurar ter um procurador-geral amigo.

A prova de fogo da independência de Passos Coelho face ao lóbi sistémico é a escolha do próximo procurador-geral da República. Tendo em conta a debilidade familiar, Cavaco Silva não se poderá opor ao nome escolhido pelo Governo. Passos Coelho tem assim toda a liberdade de escolha do próximo procurador-geral, que irá suceder a Fernando Pinto Monteiro. O País verá a verdadeira face de Passos: se Passos escolhe uma pessoa isenta ou propõe alguém relacionado com o socratismo.


Atualização: este poste foi atualizado às 2:04 de 7-9-2012.


* Imagem do lema editada daqui.


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