Sónia Trigueirão, Morais dá instruções a Arouca, CM, 28-3-2012, p. 30
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O CM, de 28-3-2012, «Morais dá instruções a Arouca» (linque parcial e sem o diálogo), através da jornalista Sónia Trigueirão, faz a transcrição de duas conversas telefónicas entre o reitor Luís Arouca e António José Morais (o velho amigo da Cova da Beira e professor de Sócrates no ISEL e na UnI), captadas pela Polícia Judiciária à ordem do Ministério Público, que constarão do processo da Universidade Independente (UnI), datadas de 17 e 20 de Março de 2012, quando o Público já andava à volta do material que investiguei e aqui pus em 2005 e em fevereiro/março de 2007. Arouca e Morais parecem saber que estão a ser escutados. Porque a conversa tem relevo para o caso da polémica licenciatura que obteve naquele estabelecimento o ex-primeiro-ministro José Sócrates, por causa do interesse público e patriótico, e ainda porque o CM, informou na sua edição de 25-2-2012, que as ditas escutas, de um processo que está em julgamento, já não se encontram em segredo de justiça, copio e publico. Comento.
- O professor Morais, com instruções do lado do seu velho amigo Sócrates («o José Sócrates»), instrui o reitor Arouca - o «pá» (rapaz...) sobre o que fazer!...
- Parecendo cientes de que estão a ser escutados pela Polícia Judiciária evitam identificar pessoas e factos: é o «tal», «ele», «o homem», «o gajo»...
- Morais está preocupado com uma alegada falta de registos de Sócrates na Universidade Independente que o jornalista (Ricardo Dias Felner?) lhe teria dito que Arouca admitiu. Arouca desmente: o jornalista é «um gajo filho da p...»...
- Morais preocupa-se em afirmar a lisura da licenciatura do seu amigo Sócrates: «Eu nem lhe chamo primeiro-ministro, é aluno José Sócrates».
- António José Morais quer que Arouca ameace o jornalista: «convém que tu sejas agressivo» e «telefona já e ameaça o gajo».
- E o socialista professor Morais descobre alguém que indica ter sido seu aluno na UnI, «com quem fiz amizade», o socialista Carlos Fernão Gomes Pereira, que identifica como «figura pública» (sic), e «director do departamento de segurança da Câmara Municipal de Lisboa». Mas Morais enfatiza que foi nomeado para aquele cargo «pelo Carmona» - um pseudo-atestado de não-socialistice, presume-se...
- Carlos Fernão Gomes Pereira é «um gajo nas mesmíssimas condições do gajo», isto é, teria vindo do curso do ISEL para a Independente e teria tido as mesmas equivalências e cadeiras do que o «aluno José Sócrates» e deve ser dito ao jornalista que foi tudo liso e que existem outros alunos com o mesmo percurso de Sócrates na UnI. Mas Morais não quer que Arouca mencione nomes. Aparentemente, a forma de responder é outra: uma entrevista a um meio insuspeito, o Correio da Manhã, e que saíu dois dias depois, em 24 de Março de 2007, do Público ter amplificado o caso da rocambolesca licenciatura do primeiro-ministro.
- Morais apenas refere que Carlos Pereira fez o curso nas «mesmíssimas condições» de Sócrates. Sabedor do que faz o amigo Carlos Pereira, Morais não diz, todavia, que este tinha sido colega de turma Sócrates, muito menos que tivesse feito o projeto final (coletivo!?...) do curso com Sócrates. Um projeto de que Maria Cármen Antunes, subordinada de Carlos Pereira na CMLisboa, e que depois também veio, no processo sobre a licenciatura (ver despacho de arquivamento) afirmar ter feito esse trabalhoso projeto com Sócrates, já não se lembrava o tema. Nem Sócrates referiu a questão do projeto final do curso na sua entrevista à RTP de 11-4-2007. A justificação sobre o projeto (que, a ter sido feito, como se alega, e apresentado, como se diz, desapareceu misteriosamente e não se encontrou na biblioteca da UnI, nem foi mostrada depois qualquer evidência dele pelos autores).
Na sequência do meu poste de 27 de fevereiro de 2012, «Sócrates: Mas eu fiz este projecto de dissertação?», o CM, por Sónia Trigueirão, em 1-3-2012, «Testemunha de Sócrates omite UnI do seu currículo», atualiza a informação sobre os ditos colegas de José Sócrates na UnI, Carlos Fernão Gomes Pereira e Maria Cármen Sobral Craveiro Antunes. Diz que são ambos membros da Ordem dos Engenheiros Técnicos, e que Carlos Pereira até omite ter passado pela Universidade Independente no seu currículo do Linkedin.
- No meu livro, «O Dossiê Sócrates», de Setembro de 2009, insiro o meu poste «Alibi», de 28-9-2007, onde descobri que, nessa altura, Carlos Fernão Gomes Pereira, alegadamente socialista, era «Director do Departamento de Segurança Rodoviária e Tráfego e Chefe de Divisão de Formação e Segurança Rodoviária da Câmara Municipal de Lisboa (CML)» e a Eng. Maria Cármen Antunes sua «subordinada directa». Essa filiação socialista já tinha sido por mim referida à procuradora-geral adjunta, Dra. Maria Cândida Almeida, quando ela me inquiriu no DCIAP, na tarde de 28 de junho de 2007, no âmbito do inquérito à alegada utilização de documento falso (o título de licenciatura), conforme conto no meu livro, p. 45 - de manhã tinha sido inquirido como arguido...
- No despacho de arquivamento do caso da licenciatura, datado de 31-7-2007, p. 15, as Dras. Cândida Almeida e Carla Dias, referem o certificado de habilitações como licenciado de Carlos Pereira, de 30-7-1996, mas que a consulta ao sistema informático da UnI, data a licenciatura destes dois colegas, de 31-12-1996. Concluem que Carlos Pereira e Cármen Antunes se licenciaram em 1996, tal como Sócrates (p. 16 de despacho). Ainda que, nessa consulta de Maio de 2007 ao sistema informático da Uni (Siscolar), «a aluna Maria Cármen Antunes em Maio de 2007 ainda não teria concluído a sua licenciatura em Engenharia Civil na Universidade Independente». No despacho as procuradoras, p. 28, relatam que Carlos Pereira afirma ter realizado, com Cármen Antunes e Sócrates, um trabalho final de projeto e dissertação, «a construção de uma estrutura especial de um edifício anti-sísmico»; mas Cármen Antunes, também com péssima memória de um trabalho necessariamente difícil, longo e custoso, não se recorda sequer qual era a cadeira, quanto mais o projeto; e Sócrates nem se lembrava de ter feito um projeto final, muito menos o misterioso trabalho que não se achava, como os demais, na biblioteca da instituição e jamais foi encontrado (nem apresentado no inquérito da licenciatura pelas testemunhas Carlos Pereira ou Cármen Antunes).
- Carlos Fernão Gomes Pereira, diretor municipal de Segurança e Tráfego na Câmara Municipal de Lisboa (e representante da CMLisboa no Conselho Geral da EMEL) foi candidato, como tesoureiro do Conselho Diretivo, à Secção Regional do Sul da Ordem dos Engenheiros... Técnicos (OET), em Outubro de 2011; e Maria Cármen Craveiro Sobral Antunes, agora «Chefe de Divisão de Gestão de Mobilidade» na Câmara Municipal de Lisboa, também está inscrita na Ordem dos Engenheiros... Técnicos. A Universidade Independente não obteve acreditação do curso para o reconhecimento na Ordem para os seus diplomados: será que estes dois colegas não se candidataram, nem fizeram o respetivo estágio e avaliação, para serem admitidos na Ordem dos Engenheiros e tiveram de se ficar pela dos Engenheiros... Técnicos?
Quanto mais se cava, mais minhocas aparecem.
Atualização: este poste foi atualizado às 13:03 de 30-3-2012.
Limitação de responsabilidade (disclaimer): José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa não é, nem chegou a ser, arguido no inquérito para averiguação de eventual falsificação de documento autêntico, no seu diploma de licenciatura em Engenharia Civil da Universidade Independente (Processo n.º 25/07.5.TE.LSB do DCIAP) e o inquérito foi arquivado, em 31 de Julho de 2007, pela procuradora-geral adjunta Dra. Maria Cândida Almeida e pela procuradora adjunta Dra. Carla Dias.
Luís Arouca, António José Morais e demais entidades referidades neste poste, referidos nas notícias dos media, que comento, não são arguidos por cometimento de qualquer ilegalidade ou irregularidade neste caso da licenciatura do ex-primeiro-ministro José Sócrates.
Os arguidos noutros processos, como Luís Arouca no processo daa gestão da Universidade Independente ou no processo do aterro sanitário da Cova da Beira, como António José Morais, gozam do direito constitucional à presunção de inocência até ao trânsito em julgado de eventual sentença condenatória.