terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Balanço para ano de resistência



A.B.C., Sermão de Santo António aos peixes -
pormenor de retábulo de capela da Sé Catedral de Lamego, novembro de 2013


Como é tradicional, é altura, mesmo quando rasa, de balanço de ação, por Deus e pela Pátria, que desenvolvi neste chão Do Portugal Profundo. A guerra de recuperação moral, política, social, económica e financeira, de Portugal, é longa. Creio que o próximo ano será ainda de resistência. Por agora, fica a memória de três dúzias de batalhas e a humildade do resultado:
  1. Combate à nacionalização dos prejuízos da banca privada: derrota. Por agora, a prioridade da política económico-financeira europeia é o financiamento da banca privada.
  2. Luta por moratória no pagamento das parcerias público-privadas até ao apuramento dda legalidade e regularidade dos contratos realizados: derrota. Toda a prioridade ao complexo bancário-construtor.
  3. Indignação por clásulas de esterilização forçada para mulheres pobres - caso Liliana Melo.
  4. Identificação do sistema promíscuo político-financeiro, transversal às fações dos partidos do chamado arco constitucional: o sistema continua de boa saúde...
  5. Chamada de atenção para a necessidade de aproveitamento imediato do efeito da onda da praia do Norte na Nazaré: passado um ano, a praia do Norte ainda nada tem...
  6. Insistência na demissão de da ex-ministra socialista Maria de Lurdes Rodrigues de presidente do Conselho Executivo da Fundação Luso-Americana (FLAD) depois de ser conhecido que fora pronunciada pelo crime de prevaricação de titular de cargo político: manteve-se até final do mandato e foi substituído por outro comparsa, continuando o sistgema em vigor e sem vergonha.
  7. Contra a expectativa sistémica, Carlos Cruz e outros condenados do processo de abuso sexual de crianças da Casa Pia, são forçados a cumprir pena de prisão. No fim da linha, para que o sistema político-judicial se mantenha.
  8. Indignação pelo agravamento da prejuízo do BPN após a nacionalização e pela política de crédito a sociedades da antiga SLN: siga a dança, que a música continua a tocar.
  9. Insistência na limpeza da Igreja e particularmente na Santa Sé e na Igreja portuguesa: ainda por completar.
  10. Defesa do Papa Bento XVI na sua decisão de renúncia - passou, apesar da crítica.
  11. Defesa do novo Papa Francisco nos ataques soezes lançados pela esquerda relativista e da tentativa dessa mesma esquerda de se apropriarem da nova mensagem do Santo Padre.
  12. Apoio à nomeação do Dr. Amadeu Guerra como novo coordenador do DCIAP, de Lisboa, em substituição da procuradora-geral adjunta Dra. Maria Cândida Almeida: a revolução está ainda pro concretizar.
  13. Combate à nomeação do ex-primeiro-ministro José Sócrates como comentador residente da RTP, empresa pública: com claro consentimento de Passos Coelho (ora-agora-entras-tu-ora-agora-entro-eu...), Sócrates lá continua nas suas arengas panfletárias dominicais.
  14. Após longa indignação e combate patrióticos, Miguel Relvas sai do Governo, para que o sistema continue - e continua.
  15. Combate ao sistema socialista no QREN - mantém-se em pleno vigor comanditário do bloco-centralismo passos-coelhista.
  16. Defesa da liberdade de imprensa na TVI - os tentáculos do sistema apertam...
  17. Apoio à participação ao Ministério Público junto do Tribunal Administrativo de Lisboa da nulidade da licenciatura de José Sócrates na Universidade Independente, feita pelo ex-reitor Prof. Rui Verde - o processo foi aberto...
  18. Exposição de várias manobras do sistema Costa na CMLisboa - por ora, nada deu, pois este continua com a maior benevolência judico-mediática...
  19. Denúncia dos votos e das faltas na votação par(a)lamentar da lei de co-adoção de crianças por casais homossexuais - vitória temporária, que o sistema não descansa e voltará ao ataque discreto.
  20. Congratulação pela nomeação do novo Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente,  também eleito presidente da Conferência Episcopal, culminando uma mudança há muito desejada de maior independência na ação da Igreja, e sua defesa perante o indigno ataque da «claque dos capangas» de Mário Soares, aliás reincidente.
  21. Insistência na criação de um jornal digital da direita moderada cristã - pendente...
  22. Combate pela investigação judicial dos swaps socratinos - outro armistício bloco-centralista; à custa do povo que sofre.
  23. Denúncia da continuação de operações rosa-choque, com deputados socialistas a mostrarem em pleno Parlamento, em 5-7-2013, mails trocados entre secretários de Estado... do Governo PSD-CDS - ficou em nada porque a coragem é pouca...
  24. Denúncia da negligência de Estado no triângulo dramático Portas-Passos-Cavaco na crise aberta pela demissão de Paulo Portas do Governo - tudo (quase) como dantes.
  25. Apoio às denúncias de António José Seguro sobre operações rosa-choque na sede nacional do PS - ficou em nada e as comadres continuam a dar-se...
  26. Exposição do desprezo pelos cidadãos da presidente da Assembleia da República, Dra. Assunção Esteves, por esta não ter respondido a missiva que lhe enderecei sobre as faltas de deputados no caso da co-adoção por casais homossexuais.
  27. Denúncia sobre a irresponsabilidade no tratamento dos esgotos das praias do Algarve, especialmente Armação de Pera.
  28. Desilusão Álvaro Santos Pereira - exposto por Mário Soares no seu afinal enfileiramento sistémico, debaixo da capa patriótica pública inicial.
  29. Publicação das falácias do «mémoire» de  mestrado de José Sócrates: segue para bingo, que a primeira linha já está consumida e a sua hagiografia acesa.
  30. Crítica aos resultados desastrosos das eleições autárquicas de 29-9-2010 - nada passou enquanto o rolo compressor do povo não passar...
  31. Denúncia do apelo à violência do frentismo de esquerda de Mário Soares (cujo passado tem sido sistematicamente branqueado) e de José Sócrates contra o Governo , que culmina no lançamento de um partido novo (PSS - Partido Soares-Sócrates) para partir os dentes de Seguro e permitir a volta do ex-primeiro-ministro à lidernaça socialista, agora que se consolida a candidatura de António Costa à Presidência da República.
  32. Revisitação da tomada do poder no BCP pelo socratismo - trazendo à luz sombras antigas.
  33. Atenção à política internacional e as consequências sobre o nosso País - pregando no deserto do agorismo mediático-sistémico.
  34. Denúncia do cerco de Mário Soares a Rui Rio: uma reedição do que havia feito a Passos Coelho.
  35. Campanha pela realização de um Congresso Extraordinário do PSD: juntámos 403 assinaturas de militantes do PSD. O congresso acabou por ser marcado a contragosto, na sequência dos resultados das eleições autárquicas de setembro de 2013. Ainda que o congresso possa ser um panegírico da ruína, constitui de qualquer modo um exercício de erosão. 
  36. Denúncia da perseguição da Igreja Católica no mundo - estamos sob martírio, mas não devemos sofrer calados e inativos.

Não há alternativa à afirmação cultural das nossas ideias, por muito que custe o sacrifício do combate. Continuemos, por tanto. Deus vos abençoe pela fraternidade e pela resistência, bem como às vossas famílias: um Bom Ano é um ano de saúde moral e física.

sábado, 28 de dezembro de 2013

Livros para tempos amargos

Quando se aproxima a passo da marcha do tempo o final do ano, aqui fica a sugestão de dez livros de não ficção, além daqueles que aqui fui assinalando:

Atualização: este poste foi emendado às 16:20 de 31-12-2013.

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Ecossistema político-empresarial

Tem sido muito citado, mas aqui fica também o registo do serviço público de identificação das relações entre empresas e políticos, diagramadas no Ecossistema Político-Empresarial, feito por Pedro Miguel Cruz: http://pmcruz.com/eco/.

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Sem medo



Expulso. E tão dentro. Isolado. E tão junto. Humano. E tão Livre.

Deus desce. Vem. Puxa-nos! Etéreo, tangilibiliza-se para conhecer, em carne, o nosso drama de imperfeição e de sacrifício. Humilha-se. E entrega-se para nos chamar.

E nós, vergados, pobres e rotos, como os pastores de Mantegna, afinal tão humildes debaixo da capa de arrogância e de egoísmo, percebemos. No fundo, imersos em tentações, todos sabemos. Ainda que não queiramos sentir logo, acabamos por aderir. Abrindo finalmente o coração à Liberdade. Uns mais cedo do que outros. Minoritários, como em todos os começos, tropeços e recomeços. E sem medo. Porque quem ama não teme.

Vamos. Compreendendo que só vencemos - só somos! -, quando nos livramos do peso do pecado. Errando, perdidos e amargurados, de falta em falta, de futilidade em futilidade, de vazio em vazio, mas em círculos cada vez mais concêntricos. Até que O achamos, seguimos e servimos. Em paz, mesmo que em combate. Resolvendo, então, a nossa ânsia d'Ele, que é o motivo da ansiedade ubíqua deste tempo.

Na margem, na solidão e na fragilidade, pedimos a Sua bênção sobre as nossas famílias. Rogando o seu auxílio para a fé. E louvando a graça do Seu perdão.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Nasceu o Partido Soares-Sócrates

Foi criado o partido Soares-Sócrates («"alternativa política" de esquerda "Pela Dignidade, pela Democracia e pelo Desenvolvimento"»), em 17-12-2013, para partir a espinha a António José Seguro e recuperar o domínio sistémico total do PS.

O movimento é para as eleições europeias e conta com o alibi de frente de esquerda, a cabeça de cartaz do pretenso intelectual burguês ex-sindicalista Carvalho da Silva (a reincidência de Soares em fazer dele o Lula português já tresanda...), um socratinizado Daniel Oliveira como operacional para os média e a tática populista de Beppe Grillo que Soares vem desempenhando e instrumentalizando Ricardo Araújo Pereira para o... socratismo?!...).

Mas, se correr bem o neopartido continua p'à quebrá, de derrota de Seguro em derrota de Seguro, até à vitória interna de Sócrates - que António Costa quer é ser Presidente. O neopartido não quer ganhar as eleições europeias, apenas dividir o PS troikano. No fim do processo, é tudo federado no PS socratino radical, seguindo o modelo da Plataforma de Esquerda que foi engolfada maioritariamente pelo guterrismo.

Seguro está condenado com a sua estratégia de neutralidade tem-te-não-caias face ao socratismo. O cerco mediático através do clown hype de Soares e da colocação, na RTP e noutros meios controlados por editores de confiança, de peões sistémicos (José Sócrates, Vítor Ramalho, Pedro Adão e Silva, Pedro Silva Pereira, Pedro Marques Lopes, etc.), esganá-lo-á. 

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Lendas negras e martírio

A.B.C., Maças cerimoniais (vulgo «porras») usadas em procissões,
Museu Diocesano de Lamego, dezembro de 2013

O relatório «Freedom of Thought 2013 - A global report on the rights, legal status and discrimination against humanists, atheists and the non-religious» («Liberdade de Pensamento 2013: Um relatório global sobre direitos, estatuto legal e discriminação contra humanistas, ateístas e não religiosos"), de 10-12-2013, foi objeto de notícia da Agência Lusa, em 11-12-2013, intitulada «Portugal discrimina livre-prensadores» (sic).

A IHEU é uma organização humanista secular, próxima dos valores da maçonaria. Esta federação internacional também está incomodada com a reação popular (com destaque para movimentos como o espanhol Hazteoir, e por cá, entre outros, o Portugal pro Vida) que provocou a derrota reiterada, em 10-12-2013, apesar dos insultos da proponente, da tentativa antidemocrática de aprovação soviética no Parlamento Europeu do «Relatório sobre saúde e direitos sexuais e reprodutivos», da autoria da socialista Edite Estrela, com a subtileza mal composta de ter um «cariz não legislativo e não impositivo» (sic) de 90 recomendações de ideologia do género para serem adotadas em todos os estados-membros (em detrimento do princípio da subsidariedade que acabou por triunfar), nomeadamente aborto livre e gratuito desde a adolescência e promoção da eleição do género e da identidade sexual para os menores.


Abaixo publico o excerto da p. 219 do relatório Freedom of Thought 2013 da IHEU, referente a Portugal, para análise e comparação com a notícia da Lusa.


O relatório é injusto na classificação e falacioso na interpretação:
  • Admite que a constituição, a lei e a sua aplicação, protegem a liberdade de pensamento, mas queixa-se da Concordata e da possibilidade dos grupos religiosos poderem negociar acordos desse tipo com o governo, o que não acontece com outros «grupos filosóficos». Presume-se que se refere ao tema da religião. Quererá o ateísmo militante beneficiar do estatuto de «religião» recentemente concedido à «Igreja da Cientologia» pelo Supremo Tribunal britânico?...
  • Na crítica à consignação do IRS para instituições religiosas (esquecendo-se de mencionar que aquilo que compara a dízimo é de apenas 0,5%...), o relatório ignora o número 6 do art.º 32.º da Lei n.º 16/2001, de 22/6 (Lei da Liberdade Religiosa). Se o n.º 4 dessa lei permite que
«Uma quota equivalente a 0,5% do imposto sobre o rendimento das pessoas singulares, liquidado com base nas declarações anuais, pode ser destinada pelo contribuinte, para fins religiosos ou de beneficência, a uma igreja ou comunidade religiosa radicada no País, que indicará na declaração de rendimentos, desde que essa igreja ou comunidade religiosa tenha requerido o benefício fiscal»,
o número 6 do mesmo art. 32.º estipula que
«O contribuinte que não use a faculdade prevista no n.º 4 pode fazer uma consignação fiscal equivalente a favor de uma pessoa colectiva de utilidade pública de fins de beneficência ou de assistência ou humanitários ou de uma instituição particular de solidariedade social, que indicará na sua declaração de rendimentos».
Portanto, basta, por exemplo, ao Grande Oriente Lusitano tratar internamente de candidatar-se ao desejado estatuto de utilidade pública, que tem adiado, para também beneficiar desse regime que já abrange mais de 1750 entidades neste ano de 2013. Não será difícil justificar a candidatura da maçonaria com a beneficiência, a assistência e o humanitarismo, que presta aos seus irmãos - a discriminação dos profanos (ao contrário da lei cristã expressa em Gálatas 3:28, de que «não há judeu nem grego, nem escravo nem homem livre») não há-de ser tema que importe à IHEU.
  • O relatório destaca o ensino religioso opcional nas escolas (art. 24.º da Lei da Liberdade Religiosa) ministrado por professores leigos contratados pelo Estado em acordo com representantes das igrejas. Mas estes também são formados pelas próprias igrejas, que também prepara os materiais didáticos. Pretendia a IHEU que a disciplina opcional de Educação Moral e Religiosa Católica fosse ministrada por um ateu militante?!...
  • Ao contrário do que o relatório propala a «discriminação sistémica» não é praticada contra os ateus, mas, como máximo exemplo, contra os cristãos e não apenas na versão dita-suave como em Portugal, no Estado, na saúde, na escola e nos média, onde a «proeminência» pública (e privada) que vemos é a de organizações ultra-minoritárias, como a Maçonaria que sequestrou o Estado que deve ser de todos. Veja-se o caso dos cristãos na Síria, relativamente aos quais o politicamente correto, com maior influência nos EUA, os desprotege em detrimento de fundamentalistas islâmicos que compõem a maioria dos grupos anti-governamentais. Veja-se o título «Islamist fighters move nuns from captured Christian village in Syria» - «Combatentes islâmicos mudam [sic!] freiras da aldeia cristã capturada na Síria» - da agência Reuters, em 3-12-2013 sobre as freiras ortodoxas raptadas do seu convento por rebeldes sírios que se somam a dois bispos e um padre que também estão desaparecidos, para além do  habitual vandalismo de igrejas cristãs nas zonas capturadas pelas forças de oposição ao regime da minoria aluaíta, ele também sanguinário. Nos séculos XX e XXI, são os cristãos os mártires da perseguição da liberdade de pensamento (muito lá da lenda negra da vergonhosa Inquisição espanhola - ver, a propósito, The myth of the Spanish Inquisition, BBC, 1994).
Se o relatório da IHEU é enviesado, a notícia da Lusa que o difunde ainda é mais antipapista do que os antipapas:
  1. A notícia começa por relatar que o relatório conclui que «Portugal privilegia a religião e discrimina, através da sua exclusão, os ateístas, os humanistas e os livres-pensadores». Ora, a dita «exclusão» só é mencionada relativamente à porção do imposto sobre o rendimento (IRS) que os contribuintes podem doar a entidades religiosas e que, segundo o relatório, não podem doar a grupos não-religiosos. 
  2. A classificação de «discriminação sistémica» é apresentada com a terceira mais grave entre cinco categorias... Se a alternativa terceira menos grave choca, o(a) jornalista poderia dizer que Portugal está a meio da tabela (torta).
  3. Diz que o relatório «assinala que o governo mantém um acordo com a Igreja Católica (Concordata) e acordos com outros grupos religiosos que lhes permitem, além de cobrar dízimos, receber uma percentagem dos impostos através da consignação voluntária de parte do reembolso do Imposto Sobre Rendimentos (IRS) para diversas instituições». Não é verdade que o relatório, na parte relativa a Portugal, afirme que a Concordata e acordos com grupos religiosos lhes permitem «cobrar dízimos». O relatório refere apenas que o contribuinte pode, voluntariamente, alocar uma percentagem do imposto sobre o rendimento (uma percentagem que compara a «dízimo») a entidades religiosas.
  4. Refere que o relatório conclui que existem em Portugal «taxas e dízimos que discriminam, através da exclusão, os grupos não religiosos». Porém, o que o relatório conclui é que «há uma taxa religiosa ou dízimo que discrimina ao excluir grupos não-religiosos».

Em suma: uma mentira. Mas por que assim corre, não pode ser consentida sem combate moral para afirmação da verdade.

domingo, 15 de dezembro de 2013

A teimosia da portugalidade


A.B.C., Portugalidade, Santuário de Nossa Senhora dos Remédios, novembro de 2013



A.B.C., Cúpula falsa em trompe l'oeil, de Nicolau Nasoni, Sé Catedral de Lamego, novembro de 2013


A.B.C., Janela de luz, CAM Graça Morais,
desenhado pelo arq. Eduardo Souto de Moura, Bragança, novembro de 2013



Vai tarde, como infelizmente costuma, mas sempre, como deve. Melhor do que as palavras, que mal clicam sentimentos, e pouco agradecem o acolhimento caloroso dos anfitriões em tempos e terras frios, fica o registo smartfónico de uma peregrinação interior numa incursão lusitana, de deslumbramento visual, relatos sábios do padre João Carlos Morgado (diretor do Museu Diocesano de Lamego e pró-vigário-geral) e do Dr. Jorge da Costa (diretor do extraordinário novo Centro de Arte Contemporânea Graça Morais, em Bragança, desenhado por Eduardo Souto de Moura para acolher a obra da pintora transmontana e que tem uma curiosa placa de inauguração, de 2008) e iguarias tangíveis (a bôla em Lamego; e o arroz de lebre e o Pudim do Abade de... Baçal no magnífico Solar Bragançano, de comida nacional e atmosfera british). Recomendo vi-va-men-te.

Debanda o Estado do interior (e da periferia) e leva o povo nesse êxodo vicioso, justificado com austeridade, mas realmente motivado pelo cosmopolitismo da provinciana Lisboa, com recursos de educação, investigação, saúde, serviços e comércio, desmesurados para os 10,5 milhões e 92 mil quilómetros afunilados de uma Nação à deriva. É de dentro que somos e é em Lisboa que efluímos. Perdemo-nos.

sábado, 14 de dezembro de 2013

O feitiço e o feiticeiro

«Família de Rui Pedro Soares sob ameaça fiscal», titula o DN, de 14-12-2013...

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

A coletivização académica de Sócrates

José Sócrates foi cooptado para membro do Conselho Geral da Universidade da Beira Interior (UBI) e já aceitou, segundo foi noticiado pela Rádio Renascença em 10-12-2013. Este órgão é presidido pelo soci(alista)ólogo madeirense, e ex-padre, José Manuel Paquete de Oliveira, jubilado do ISCTE, que explicou assim a cooptação:
«A proposta do nome do engenheiro [...] José Sócrates colectivizou-se»...
«A proposta do engenheiro [...] Sócrates enquadra as duas vertentes: por um lado porque, como se sabe, ele é dali e, por outro lado, pelo impacto público que ele tem. No fundo, é um filho da terra que é reconhecido em Portugal e no estrangeiro.»
Isso é verdade: em Portugal sabem bem quem ele é; e, no estrangeiro, lá no fundo dos fundos, também.

Sócrates vai-se aproximando da universidade e creio que acabará por entrar, por osmose... Até confesso a minha estranheza por o neofilósofo ainda não estar a lecionar numa pós-graduação pós-modernista uma sociologia qualquer no ISCTE, agora sujeito a uma guerra entre o grupo ferroso (representado por António Firmino da Costa, orientador da tese do ex-comunista Manuel Carvalho da Silva, e Rui Pena Pires, companheiro da ex-ministra Maria de Lurdes Rodrigues) e o atual reitor Luís Reto.

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

O cerco de Mário Soares a Rui Rio




Mário Soares está a cercar Rui Rio como fez a Passos Coelho nas vésperas das eleições de junho de 2011. A política de Rio que Soares teme é aquela praticada na CMPorto, de autonomia face ao sistema socialista. Por isso, procura envolvê-lo para a preservação do sistema. Não creio que Rui Rio precise da bênção de Soares ou que queira o mesmo destino de Coelho.


Atualização: este poste foi emendado às 7:55 de 11-12-2013. Agradeço a um leitor amigo pelo aviso.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Não há judeu nem grego, nem escravo nem homem livre

A África do Sul transitou, sem guerra civil nem genocídio, do poder do regime do apartheid para a democracia representativa, mesmo que mitigada. Tal deveu-se fundamentalmente ao extraordinário homem que foi Nelson Mandela, que faleceu ontem, 5-12-2013. Como todos os grandes vultos da História, a sua vida teve luzes brilhantes e sombras duras, mas o resultado de uma longa e sacrificada vida de estadista, mesmo antes de o ser formalmente, foi notabilíssimo. Esperemos que o seu exemplo de pacificação possa ser servido pelas gerações que ficam, e nomeadamente na redução da praga da violência. 

A lição da Ucrânia para o Musterschüler português



A recusa do presidente ucraniano Viktor Yanukovitch de assinar, em 29-11-2013, o acordo de associação (que inclui uma zona de comércio livre) negociado com a União Europeia, constitui uma derrota da política germanófila da União Europeia - e nomeadamente da chanceler Angela Merkel - e uma vitória da pressão russa de Vladimir Putin. A decisão desatou uma onda de protestos populares (Euromaiden) e de repressão policial, mas a suspensão do acordo mantém-se.

O motivo invocado é que a União Europeia não ofereceu um pacote de ajuda suficiente para o desenvolvimento da Ucrânia, nem garantiu um empréstimo do FMI em condições suportáveis. É de crer que o pacote russo tenha sido mais valioso... Outros motivos que pesam na balança negocial são o fornecimento de energia da Rússia à Ucrânia e o relacionamento comercial íntimo entre os dois Estados. Para além disso, há, como sempre na história do País uma divisão entre a parte oeste, virada para a Europa ocidental e a parte leste, e a Crimeia, vizinhas da Rússia. A preferência da maioria da população pela União Europeia, e a tendência política, não chegam para resolver a crise económica e o estrangulamento financeiro da Grécia ortodoxa (a maioria da população é ortodoxa) e de outros países da periferia da União Europeia assustam o poder político local.

O jogo disputa-se num tabuleiro geopolítico (político, religioso, cultural, económico e financeiro) muito complicado. Há uma grande divisão política interna, polarizada pela questão da aliança a oeste ou a leste, e uma líder da oposição, Yulia Timoshenko, na cadeia, favorável à aliança com a União Europeia. Mas até a oposição preferiria um melhor acordo com a União Europeia. Tendo em conta a teimosia de Merkel, será difícil a União Europeia remendar o acordo.

Pode a União Europeia, sob diretório germânico, queixar-se do veto russo ao acordo de comércio livre com a Ucrânia. Porém, isso é apenas a justificação piedosa de uma derrota geopolítica tremenda: a queixa sobre a continuação da «soberania limitada» (quando há estados da União Europeia, como Portugal, sob protetorado, apesar da ingenuidade governamental, como a do secretário de Estado Bruno Maçães na visita à Grécia, em novembro de 2013) é uma desculpa de mau pagador. A Alemanha não tem força política - principalmente porque não tem militar correspondente - para impor o domínio financeiro e económico que intenta, nem sequer agilidade negocial. O Spiegel foi impiedoso no comentário, titulando até antes (25-11-2013) da decisão do presidente ucraniano ser conhecida: «O gambito de Putin: como a União Europeia perdeu a Ucrânia».

A política de diretório germânico de Merkel está a conduzir a União Europeia para um abismo porque, ainda que se atinja o desejável equilíbrio orçamental, o peso da dívida (e dos juros) é tal que, sem decisão política de empréstimo aos Estados a juro baixo (inferior a 1%, já com taxas as taxas e comissões) - já para não falar do «quantitative easing» - não é possível amortizá-la. Esta política germânica de asfixia financeira e económica, que lhe garante uma supremacia política, e torna a União Europeia um zona de exclusão e repulsão, deveria provocar uma reação da França e da Inglaterra e não apenas da periferia sul da União, na qual se destaca o alinhamento Espanha-Itália. A ironia é que o Estado português degenerou do «good pupil» reivindicativo da britânica Thatcher para um obediente Musterschüler da germânica Merkel.

Na política internacional, a prioridade deve ser sempre geopolítica e não financeira. É bom que o próximo governo português não negligencie essa condição de soberania.


Atualização: este poste foi emendado às 0:22 de 7-12-2013.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Um modelo de jornal digital da direita moderada cristã


A inesquecível crónica de Helena Matos, no Económico, de ontem, 3-12-2013, intitulada «Decálogo do português mediático», sobre a presumida superioridade moral da esquerda, propicia uma reflexão atualizada sobre um jornal digital da direita moderada cristã, em que aqui tenho insistido para contrariar o domínio da ditadura mediática do politicamente correto leia sobre agenda settingpriming e framing e, ainda com maior relevo numa comunicação social portuguesa completamente enviesada à esquerda, sobre o gatekeeping.

Sem meios nós, na direita moderada cristã, não projetamos poder e não conseguimos a mudança. Não é uma questão de pessoas, porque pessoas existem, até heróis; não é uma questão de mensagem, porque mensagens existem; nem é uma questão de público, porque somos milhões ávidos de ler o que não temos. É uma questão de meio, média. A visibilidade e a projeção pretendidas não são alcançáveis com blogues, redes sociais ou mails.  Precisamos muito de um jornal digital da direita moderada cristã, como propus - e motivei -, desde 23-8-2011, quando escrevi o poste «A necessidade de um jornal digital da direita moderada cristã».

Que modelo de jornal digital da direita moderada cristã?
  1. Como o descrevi nesse poste de 2011: «um jornal digital de informação livre e opinião franca, de baixo custo». Independente e sem medo. Como em Espanha, o Libertad Digital, o Intereconomia, o Periodista Digital e El Confidencial, que são viáveis ao contrário da tentativa de televisão independente do poder político (que se tem provado impossível...). 
  2. Um jornal de arquétipo para lá de Huffington Post, de Deadlinede BuzzFeed e de Politico. Um jornal ao modo de Slugline (ver House of Cards, Episódios 5 e 13 desta primeira série), por muito que os saudosos dos broadsheets do séc. XIX, vejam, nesse paradigma de «liberdade e de exposição», um «futuro desafortunado». Não é o aspeto da redação open-space/bean bags que interessa (seguido já pelo Polygon), mas o estilo de produção que se pretende.
  3. Um jornal digital com poucos trabalhadores residentes e maior recurso a colaboradores voluntários ou remunerados a preço de favor. Com baixo investimento, equipamento barato (o bom equipamento video, por exemplo, é cada vez mais barato) e baixo orçamento. Financiado por independentes, eventualmente com recurso a crowfunding.
  4. Mas um jornal digital moderno: não a digitalização de um jornal impresso, ou seja, a transposição para o digital do velho modelo de jornal oitocentista, que tem sido mais ou menos o modelo em vigor até agora nos jornais portugueses. Trocaram a tinta pelos bites, sem mudança de conteúdo, de desenho, de estilo ou de linguagem. 
  5. Um jornal de estilo novo, não apenas gráfico, mas na linguagem, muito mais informal e próxima do que se usa nos blogues, redes sociais no dia-a-dia, fora do modelo oitocentista dos livros de estilo obsoletos. Acutilante e desassombrado (aproveitando o alargamento da liberdade que fomos fazendo, com sacrifício, nestes anos de ditadura opinativa). Sem trade-off de não-notícias por esmolas de cobertura (jantares e viagens...).
  6. Um jornal rápido, muito rápido - quase em ritmo tickerUm jornal em atualização constante, 24/24 (ou tendendo para isso...), em vez das notícias diárias que permanecem imutáveis um dia inteiro, como se ainda vivêssemos no mundo lesma.
  7. Um jornal digital que é texto, mas também imagem e som. Em que o jornalista produz texto ou entra em linha, direto, in loco, com imagem e som. E no qual se beneficia de meios de gravação video, baratos e funcionais, com qualidade suficiente para ver com boa definição... em computador, ou tablete (e talvez já convenha adotarmos a palavra sem sotaque inglês) ou smartphone. Não se precisa de equipamento de gravação para uma resolução de Downton Abbey, neste mundo de selfies e o smartphone basta... Habituámo-nos nos instantâneos, a uma resolução e qualidade do som suficientes quando vez mais vemos, ouvimos e lemos, em smartphone, depois de evoluirmos do computador de secretária, deste para o portátil e deste para a tablete. Trocamos a foto com muitos megas por imagens com poucos kapas - e o mesmo se passa no video. O novo modelo deve assim aproveitar a mudança de suporte da televisão para os meios móveis, criando videos dos acontecimentos e comentário a par das notícias escritas.
  8. Um jornal digital que está mais nos acontecimentos e menos nos eventos, com desprezo do circuito e pipeline dos releases governamentais e partidários e que resiste à chantagem de, em troca de convite para as cerimónias, passar o que as agências de comunicação e assessores ministeriais querem. Um jornal que desfaça a manipulação desinformativa de eventos preparados (como aquela exposta pelo Figaro da promiscuidade entre a TF1 e Jean-Luc Mélenchon do Parti de Gauche, em 3-12-2013, via Espectador Interessado).
  9. Um jornal digital desintermediado com redução da supervisão ao mínimo conveniente, para permitir rapidez e ousadia. Com produção de texto sem limite mínimo e com o tamanho (económico) que for necessário. Para que a dimensão não seja um obstáculo da velocidade. E editado por quem for possível, com o tal equipamento de baixo custo (no limite, a tablete ou o smartphone) em video do local dos acontecimentos, em direto, sendo as notícias depois atualizadas com mais informação e emendas honestas com indicação de hora. 
  10. Um jornal digital com crónicas de opinião livres, mesmo livres. Em vez do sabor delicodoce da salada insípida.
Em resumo: um jornal digital moral, leal e independente, de estilo moderno, que encarne o combate cultural sem luvas nem rendas, e que seja motor da mudança política real, pela qual ansiamos e lutamos há muito.

«Reformar a democracia portuguesa, uma necessidade» - um livro de Octavio Serrano



E já agora, recomendo o livro de Octavio Vicente Serrano, um amigo do meu chão, intitulado «Reformar a democracia portuguesa, uma necessidade», que acaba de ser publicado, neste dezembro de 2013. O livro constitui um conjunto de reflexões que são o produto altruísta da angústia humana sobre o desvirtuamento da democracia representativa em Portugal e a vantagem da democracia representativa. Está já à venda na Lulu Books.

Os caciques partidários, à escala local, regional e nacional, podem resistir à democracia direta, mas é para lá que caminhamos, e tanto mais rapidamente quando a corrupção vai corroendo a novecentista democracia representativa.

Ortogal



No próximo sábado, dia 7 de dezembro de 2013, pelas 17:30 horas, o meu amigo, e conterrâneo, Professor Valdemar Rodrigues apresenta o seu livro «Ortogal - Diálogos na curvatura do tempo» (Chiado Editora), no espaço Les Enfants Terribles (Cinema Nimas - Avª 5 de Outubro, 42), com apresentação do Prof. José Adelino Maltez. Quem puder, compareça que será muito interessante.

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

«Pacificamente»?...

Mário Soares na sua crónica do DN, de hoje, 3-12-2013:
«(...) tenho uma grande vergonha que os dois Estados ibéricos, estejam como estão, perto de ditaduras, enquanto todos os Estados latinos e o nosso querido Brasil são hoje democracias consolidadas. É triste para a Ibéria [sic] e, em especial, para Portugal (...). Porque os Estados sociais estão a desaparecer e os sindicatos a não serem ouvidos, como nas democracias é de regra. Uma desgraça contra a qual é necessário lutar. Claro, pacificamente.» (Realce meu).

Dois passos em em frente na violência e um zás paz trás - depois do corretivo patriótico. Mas a fundamentação, e o apelo, da violência «necessariamente» que não se negligencia porque, tarde ou cedo, será concretizado. O perigo não está no tom do discurso, mas na definição oriental dos alvos. E é por essa consciência da premeditação dos ataques - que se soma aos indesculpáveis abusos e à ruína do País - que aqui não se elogia, não se abafa, não se esquece.