A recusa do presidente ucraniano Viktor Yanukovitch de assinar, em 29-11-2013, o acordo de associação (que inclui uma zona de comércio livre) negociado com a União Europeia, constitui uma derrota da política germanófila da União Europeia - e nomeadamente da chanceler Angela Merkel - e uma vitória da pressão russa de Vladimir Putin. A decisão desatou uma onda de protestos populares (Euromaiden) e de repressão policial, mas a suspensão do acordo mantém-se.
O motivo invocado é que a União Europeia não ofereceu um pacote de ajuda suficiente para o desenvolvimento da Ucrânia, nem garantiu um empréstimo do FMI em condições suportáveis. É de crer que o pacote russo tenha sido mais valioso... Outros motivos que pesam na balança negocial são o fornecimento de energia da Rússia à Ucrânia e o relacionamento comercial íntimo entre os dois Estados. Para além disso, há, como sempre na história do País uma divisão entre a parte oeste, virada para a Europa ocidental e a parte leste, e a Crimeia, vizinhas da Rússia. A preferência da maioria da população pela União Europeia, e a tendência política, não chegam para resolver a crise económica e o estrangulamento financeiro da Grécia ortodoxa (a maioria da população é ortodoxa) e de outros países da periferia da União Europeia assustam o poder político local.
O jogo disputa-se num tabuleiro geopolítico (político, religioso, cultural, económico e financeiro) muito complicado. Há uma grande divisão política interna, polarizada pela questão da aliança a oeste ou a leste, e uma líder da oposição, Yulia Timoshenko, na cadeia, favorável à aliança com a União Europeia. Mas até a oposição preferiria um melhor acordo com a União Europeia. Tendo em conta a teimosia de Merkel, será difícil a União Europeia remendar o acordo.
Pode a União Europeia, sob diretório germânico, queixar-se do veto russo ao acordo de comércio livre com a Ucrânia. Porém, isso é apenas a justificação piedosa de uma derrota geopolítica tremenda: a queixa sobre a continuação da «soberania limitada» (quando há estados da União Europeia, como Portugal, sob protetorado, apesar da ingenuidade governamental, como a do secretário de Estado Bruno Maçães na visita à Grécia, em novembro de 2013) é uma desculpa de mau pagador. A Alemanha não tem força política - principalmente porque não tem militar correspondente - para impor o domínio financeiro e económico que intenta, nem sequer agilidade negocial. O Spiegel foi impiedoso no comentário, titulando até antes (25-11-2013) da decisão do presidente ucraniano ser conhecida: «O gambito de Putin: como a União Europeia perdeu a Ucrânia».
A política de diretório germânico de Merkel está a conduzir a União Europeia para um abismo porque, ainda que se atinja o desejável equilíbrio orçamental, o peso da dívida (e dos juros) é tal que, sem decisão política de empréstimo aos Estados a juro baixo (inferior a 1%, já com taxas as taxas e comissões) - já para não falar do «quantitative easing» - não é possível amortizá-la. Esta política germânica de asfixia financeira e económica, que lhe garante uma supremacia política, e torna a União Europeia um zona de exclusão e repulsão, deveria provocar uma reação da França e da Inglaterra e não apenas da periferia sul da União, na qual se destaca o alinhamento Espanha-Itália. A ironia é que o Estado português degenerou do «good pupil» reivindicativo da britânica Thatcher para um obediente Musterschüler da germânica Merkel.
Na política internacional, a prioridade deve ser sempre geopolítica e não financeira. É bom que o próximo governo português não negligencie essa condição de soberania.
Atualização: este poste foi emendado às 0:22 de 7-12-2013.
3 comentários:
Prof. Balbino Caldeira,
Como sempre atento à cena geopolítica.
Contudo, a dívida portuguesa não vai lá com "juros de 1%", até porque há todo um stock de dívida de juro médio de 3,5%.
Mesmo que se substituísse a dívida toda por nova dívida a 1%, quem pagaria a diferença de 3,5% para 1%?
Depois, 210.000 milhões de euros a 1% de taxa de juro, perfaz a magnífica soma anual de 2,1 mil milhões de euros anuais de juros.
E a amortização da dívida, não se faz?
Por muito que custe ao mundo dos negócios e ao Centrão e Direita, É IMPOSSÍVAL PAGAR A DÍVIDA. Mesmo com os jogos de "troca de dívida", empurrando com a barriga, e vir dizer que é um SUCESSO, é uma falácia "a la Sócrates".
Tal como o Dr. Portas vir dizer que "Portugal é um caso de sucesso", remete-nos para o MENTIROSO compulsivo Sócrates.
Deixa-os pousar. Tarde ou cedo, pagarão (pagaremos) a factura.
Depois, relativamente à Ucrania, apenas o seguinte:
1. Cerca de metade da população é de origem russa, e só por aí, se confere o alinhamento com Putin.
2. Putin cortaria a energia à Ucrania, se esta assinasse o acordo com a UE. A UE é dependente em energia, e não consegue substituir a Rússia.
3. Porque será que todas as culpas do mal funcionamento da UE são atribuídas à Alemanha. Então onde está a França? E a Itália? E a Grã Bretanha? E a Espanha?.
Pois é, a UE é um castelo de cartas inviável. Se não fosse a Alemanha a dirigir o comboio instável, já nem comboio era!
Grande parte da dívida é criminosa e ilegítima, se tivessemos governantes a sério, fariam uma auditoria para determinar qual a verdadeira parte que teria de ser paga, ou seja decretariam o resto como "dívida odiosa" conceito jurídico que ainda existe...
A Alemanha tal como nós, mas noutra escala e noutro papel é um "soldadinho de chumbo" do cartel químico-farmacêutico/corporativistas/bilderberg/banksters/etc. Tal como nós estamos a ser, graças aos traidores e medíocres que nos desgovernam.
Ainda bem que a Ucrânia não caiu nas malhas da Europa, oxalá não caia. Quem ainda continua a achar esta Europa algo de aceitável e viável é porque não está a perceber nada do que se está a passar e do que pretendem fazer no futuro.
Em relação à divida eventualmente verdadeira era accionar e confiscar a porcaria toda que nos foi roubada, BPP, BPN, EDP, ANA, etc, mais as ppps os swaps, os Mostros dos estádios e mamarrachos casa da música, pseudo museu dos coches, expo, siresp e tantas merdices que ignorantes, vaidosos e muita vez criminosos deixaram e oermitiram. Cortar com os aumentos dos criminosos e nojentos deputados, ex-presidentes da república, fundações dos amigos, mamarrachos e alugueres fraudulentos às norfins e outras máfias do género. Este país tem tudo para ser víavel e extremamente agradável, menos a população zombificada ultimamente que permite e pactua com os seus clones medíocres do governo. Precisamos urgentemente dum governobusters. Limpeza total, desratizaçào por atacado.
A dívida portuguesa é impagável,porque desde a infantil Junta de Freguesia, passando à adulta Câmara Municipal, passando pelas empresas públicas ou privadas, todas têm uma soma incrível de injecções de capital alheio. Uma grande parte de cidadãos tem dívidas que já não pagam em vida. A verdade é que está tudo falido e só uma nova ordem económica e financeira, que envolva uma maioria de países, poderá trazer alguma solução à situação, que acaba por ser internacional.
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