terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Balanço para ano de resistência



A.B.C., Sermão de Santo António aos peixes -
pormenor de retábulo de capela da Sé Catedral de Lamego, novembro de 2013


Como é tradicional, é altura, mesmo quando rasa, de balanço de ação, por Deus e pela Pátria, que desenvolvi neste chão Do Portugal Profundo. A guerra de recuperação moral, política, social, económica e financeira, de Portugal, é longa. Creio que o próximo ano será ainda de resistência. Por agora, fica a memória de três dúzias de batalhas e a humildade do resultado:
  1. Combate à nacionalização dos prejuízos da banca privada: derrota. Por agora, a prioridade da política económico-financeira europeia é o financiamento da banca privada.
  2. Luta por moratória no pagamento das parcerias público-privadas até ao apuramento dda legalidade e regularidade dos contratos realizados: derrota. Toda a prioridade ao complexo bancário-construtor.
  3. Indignação por clásulas de esterilização forçada para mulheres pobres - caso Liliana Melo.
  4. Identificação do sistema promíscuo político-financeiro, transversal às fações dos partidos do chamado arco constitucional: o sistema continua de boa saúde...
  5. Chamada de atenção para a necessidade de aproveitamento imediato do efeito da onda da praia do Norte na Nazaré: passado um ano, a praia do Norte ainda nada tem...
  6. Insistência na demissão de da ex-ministra socialista Maria de Lurdes Rodrigues de presidente do Conselho Executivo da Fundação Luso-Americana (FLAD) depois de ser conhecido que fora pronunciada pelo crime de prevaricação de titular de cargo político: manteve-se até final do mandato e foi substituído por outro comparsa, continuando o sistgema em vigor e sem vergonha.
  7. Contra a expectativa sistémica, Carlos Cruz e outros condenados do processo de abuso sexual de crianças da Casa Pia, são forçados a cumprir pena de prisão. No fim da linha, para que o sistema político-judicial se mantenha.
  8. Indignação pelo agravamento da prejuízo do BPN após a nacionalização e pela política de crédito a sociedades da antiga SLN: siga a dança, que a música continua a tocar.
  9. Insistência na limpeza da Igreja e particularmente na Santa Sé e na Igreja portuguesa: ainda por completar.
  10. Defesa do Papa Bento XVI na sua decisão de renúncia - passou, apesar da crítica.
  11. Defesa do novo Papa Francisco nos ataques soezes lançados pela esquerda relativista e da tentativa dessa mesma esquerda de se apropriarem da nova mensagem do Santo Padre.
  12. Apoio à nomeação do Dr. Amadeu Guerra como novo coordenador do DCIAP, de Lisboa, em substituição da procuradora-geral adjunta Dra. Maria Cândida Almeida: a revolução está ainda pro concretizar.
  13. Combate à nomeação do ex-primeiro-ministro José Sócrates como comentador residente da RTP, empresa pública: com claro consentimento de Passos Coelho (ora-agora-entras-tu-ora-agora-entro-eu...), Sócrates lá continua nas suas arengas panfletárias dominicais.
  14. Após longa indignação e combate patrióticos, Miguel Relvas sai do Governo, para que o sistema continue - e continua.
  15. Combate ao sistema socialista no QREN - mantém-se em pleno vigor comanditário do bloco-centralismo passos-coelhista.
  16. Defesa da liberdade de imprensa na TVI - os tentáculos do sistema apertam...
  17. Apoio à participação ao Ministério Público junto do Tribunal Administrativo de Lisboa da nulidade da licenciatura de José Sócrates na Universidade Independente, feita pelo ex-reitor Prof. Rui Verde - o processo foi aberto...
  18. Exposição de várias manobras do sistema Costa na CMLisboa - por ora, nada deu, pois este continua com a maior benevolência judico-mediática...
  19. Denúncia dos votos e das faltas na votação par(a)lamentar da lei de co-adoção de crianças por casais homossexuais - vitória temporária, que o sistema não descansa e voltará ao ataque discreto.
  20. Congratulação pela nomeação do novo Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente,  também eleito presidente da Conferência Episcopal, culminando uma mudança há muito desejada de maior independência na ação da Igreja, e sua defesa perante o indigno ataque da «claque dos capangas» de Mário Soares, aliás reincidente.
  21. Insistência na criação de um jornal digital da direita moderada cristã - pendente...
  22. Combate pela investigação judicial dos swaps socratinos - outro armistício bloco-centralista; à custa do povo que sofre.
  23. Denúncia da continuação de operações rosa-choque, com deputados socialistas a mostrarem em pleno Parlamento, em 5-7-2013, mails trocados entre secretários de Estado... do Governo PSD-CDS - ficou em nada porque a coragem é pouca...
  24. Denúncia da negligência de Estado no triângulo dramático Portas-Passos-Cavaco na crise aberta pela demissão de Paulo Portas do Governo - tudo (quase) como dantes.
  25. Apoio às denúncias de António José Seguro sobre operações rosa-choque na sede nacional do PS - ficou em nada e as comadres continuam a dar-se...
  26. Exposição do desprezo pelos cidadãos da presidente da Assembleia da República, Dra. Assunção Esteves, por esta não ter respondido a missiva que lhe enderecei sobre as faltas de deputados no caso da co-adoção por casais homossexuais.
  27. Denúncia sobre a irresponsabilidade no tratamento dos esgotos das praias do Algarve, especialmente Armação de Pera.
  28. Desilusão Álvaro Santos Pereira - exposto por Mário Soares no seu afinal enfileiramento sistémico, debaixo da capa patriótica pública inicial.
  29. Publicação das falácias do «mémoire» de  mestrado de José Sócrates: segue para bingo, que a primeira linha já está consumida e a sua hagiografia acesa.
  30. Crítica aos resultados desastrosos das eleições autárquicas de 29-9-2010 - nada passou enquanto o rolo compressor do povo não passar...
  31. Denúncia do apelo à violência do frentismo de esquerda de Mário Soares (cujo passado tem sido sistematicamente branqueado) e de José Sócrates contra o Governo , que culmina no lançamento de um partido novo (PSS - Partido Soares-Sócrates) para partir os dentes de Seguro e permitir a volta do ex-primeiro-ministro à lidernaça socialista, agora que se consolida a candidatura de António Costa à Presidência da República.
  32. Revisitação da tomada do poder no BCP pelo socratismo - trazendo à luz sombras antigas.
  33. Atenção à política internacional e as consequências sobre o nosso País - pregando no deserto do agorismo mediático-sistémico.
  34. Denúncia do cerco de Mário Soares a Rui Rio: uma reedição do que havia feito a Passos Coelho.
  35. Campanha pela realização de um Congresso Extraordinário do PSD: juntámos 403 assinaturas de militantes do PSD. O congresso acabou por ser marcado a contragosto, na sequência dos resultados das eleições autárquicas de setembro de 2013. Ainda que o congresso possa ser um panegírico da ruína, constitui de qualquer modo um exercício de erosão. 
  36. Denúncia da perseguição da Igreja Católica no mundo - estamos sob martírio, mas não devemos sofrer calados e inativos.

Não há alternativa à afirmação cultural das nossas ideias, por muito que custe o sacrifício do combate. Continuemos, por tanto. Deus vos abençoe pela fraternidade e pela resistência, bem como às vossas famílias: um Bom Ano é um ano de saúde moral e física.

sábado, 28 de dezembro de 2013

Livros para tempos amargos

Quando se aproxima a passo da marcha do tempo o final do ano, aqui fica a sugestão de dez livros de não ficção, além daqueles que aqui fui assinalando:

Atualização: este poste foi emendado às 16:20 de 31-12-2013.

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Ecossistema político-empresarial

Tem sido muito citado, mas aqui fica também o registo do serviço público de identificação das relações entre empresas e políticos, diagramadas no Ecossistema Político-Empresarial, feito por Pedro Miguel Cruz: http://pmcruz.com/eco/.

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Sem medo



Expulso. E tão dentro. Isolado. E tão junto. Humano. E tão Livre.

Deus desce. Vem. Puxa-nos! Etéreo, tangilibiliza-se para conhecer, em carne, o nosso drama de imperfeição e de sacrifício. Humilha-se. E entrega-se para nos chamar.

E nós, vergados, pobres e rotos, como os pastores de Mantegna, afinal tão humildes debaixo da capa de arrogância e de egoísmo, percebemos. No fundo, imersos em tentações, todos sabemos. Ainda que não queiramos sentir logo, acabamos por aderir. Abrindo finalmente o coração à Liberdade. Uns mais cedo do que outros. Minoritários, como em todos os começos, tropeços e recomeços. E sem medo. Porque quem ama não teme.

Vamos. Compreendendo que só vencemos - só somos! -, quando nos livramos do peso do pecado. Errando, perdidos e amargurados, de falta em falta, de futilidade em futilidade, de vazio em vazio, mas em círculos cada vez mais concêntricos. Até que O achamos, seguimos e servimos. Em paz, mesmo que em combate. Resolvendo, então, a nossa ânsia d'Ele, que é o motivo da ansiedade ubíqua deste tempo.

Na margem, na solidão e na fragilidade, pedimos a Sua bênção sobre as nossas famílias. Rogando o seu auxílio para a fé. E louvando a graça do Seu perdão.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Nasceu o Partido Soares-Sócrates

Foi criado o partido Soares-Sócrates («"alternativa política" de esquerda "Pela Dignidade, pela Democracia e pelo Desenvolvimento"»), em 17-12-2013, para partir a espinha a António José Seguro e recuperar o domínio sistémico total do PS.

O movimento é para as eleições europeias e conta com o alibi de frente de esquerda, a cabeça de cartaz do pretenso intelectual burguês ex-sindicalista Carvalho da Silva (a reincidência de Soares em fazer dele o Lula português já tresanda...), um socratinizado Daniel Oliveira como operacional para os média e a tática populista de Beppe Grillo que Soares vem desempenhando e instrumentalizando Ricardo Araújo Pereira para o... socratismo?!...).

Mas, se correr bem o neopartido continua p'à quebrá, de derrota de Seguro em derrota de Seguro, até à vitória interna de Sócrates - que António Costa quer é ser Presidente. O neopartido não quer ganhar as eleições europeias, apenas dividir o PS troikano. No fim do processo, é tudo federado no PS socratino radical, seguindo o modelo da Plataforma de Esquerda que foi engolfada maioritariamente pelo guterrismo.

Seguro está condenado com a sua estratégia de neutralidade tem-te-não-caias face ao socratismo. O cerco mediático através do clown hype de Soares e da colocação, na RTP e noutros meios controlados por editores de confiança, de peões sistémicos (José Sócrates, Vítor Ramalho, Pedro Adão e Silva, Pedro Silva Pereira, Pedro Marques Lopes, etc.), esganá-lo-á. 

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Lendas negras e martírio

A.B.C., Maças cerimoniais (vulgo «porras») usadas em procissões,
Museu Diocesano de Lamego, dezembro de 2013

O relatório «Freedom of Thought 2013 - A global report on the rights, legal status and discrimination against humanists, atheists and the non-religious» («Liberdade de Pensamento 2013: Um relatório global sobre direitos, estatuto legal e discriminação contra humanistas, ateístas e não religiosos"), de 10-12-2013, foi objeto de notícia da Agência Lusa, em 11-12-2013, intitulada «Portugal discrimina livre-prensadores» (sic).

A IHEU é uma organização humanista secular, próxima dos valores da maçonaria. Esta federação internacional também está incomodada com a reação popular (com destaque para movimentos como o espanhol Hazteoir, e por cá, entre outros, o Portugal pro Vida) que provocou a derrota reiterada, em 10-12-2013, apesar dos insultos da proponente, da tentativa antidemocrática de aprovação soviética no Parlamento Europeu do «Relatório sobre saúde e direitos sexuais e reprodutivos», da autoria da socialista Edite Estrela, com a subtileza mal composta de ter um «cariz não legislativo e não impositivo» (sic) de 90 recomendações de ideologia do género para serem adotadas em todos os estados-membros (em detrimento do princípio da subsidariedade que acabou por triunfar), nomeadamente aborto livre e gratuito desde a adolescência e promoção da eleição do género e da identidade sexual para os menores.


Abaixo publico o excerto da p. 219 do relatório Freedom of Thought 2013 da IHEU, referente a Portugal, para análise e comparação com a notícia da Lusa.


O relatório é injusto na classificação e falacioso na interpretação:
  • Admite que a constituição, a lei e a sua aplicação, protegem a liberdade de pensamento, mas queixa-se da Concordata e da possibilidade dos grupos religiosos poderem negociar acordos desse tipo com o governo, o que não acontece com outros «grupos filosóficos». Presume-se que se refere ao tema da religião. Quererá o ateísmo militante beneficiar do estatuto de «religião» recentemente concedido à «Igreja da Cientologia» pelo Supremo Tribunal britânico?...
  • Na crítica à consignação do IRS para instituições religiosas (esquecendo-se de mencionar que aquilo que compara a dízimo é de apenas 0,5%...), o relatório ignora o número 6 do art.º 32.º da Lei n.º 16/2001, de 22/6 (Lei da Liberdade Religiosa). Se o n.º 4 dessa lei permite que
«Uma quota equivalente a 0,5% do imposto sobre o rendimento das pessoas singulares, liquidado com base nas declarações anuais, pode ser destinada pelo contribuinte, para fins religiosos ou de beneficência, a uma igreja ou comunidade religiosa radicada no País, que indicará na declaração de rendimentos, desde que essa igreja ou comunidade religiosa tenha requerido o benefício fiscal»,
o número 6 do mesmo art. 32.º estipula que
«O contribuinte que não use a faculdade prevista no n.º 4 pode fazer uma consignação fiscal equivalente a favor de uma pessoa colectiva de utilidade pública de fins de beneficência ou de assistência ou humanitários ou de uma instituição particular de solidariedade social, que indicará na sua declaração de rendimentos».
Portanto, basta, por exemplo, ao Grande Oriente Lusitano tratar internamente de candidatar-se ao desejado estatuto de utilidade pública, que tem adiado, para também beneficiar desse regime que já abrange mais de 1750 entidades neste ano de 2013. Não será difícil justificar a candidatura da maçonaria com a beneficiência, a assistência e o humanitarismo, que presta aos seus irmãos - a discriminação dos profanos (ao contrário da lei cristã expressa em Gálatas 3:28, de que «não há judeu nem grego, nem escravo nem homem livre») não há-de ser tema que importe à IHEU.
  • O relatório destaca o ensino religioso opcional nas escolas (art. 24.º da Lei da Liberdade Religiosa) ministrado por professores leigos contratados pelo Estado em acordo com representantes das igrejas. Mas estes também são formados pelas próprias igrejas, que também prepara os materiais didáticos. Pretendia a IHEU que a disciplina opcional de Educação Moral e Religiosa Católica fosse ministrada por um ateu militante?!...
  • Ao contrário do que o relatório propala a «discriminação sistémica» não é praticada contra os ateus, mas, como máximo exemplo, contra os cristãos e não apenas na versão dita-suave como em Portugal, no Estado, na saúde, na escola e nos média, onde a «proeminência» pública (e privada) que vemos é a de organizações ultra-minoritárias, como a Maçonaria que sequestrou o Estado que deve ser de todos. Veja-se o caso dos cristãos na Síria, relativamente aos quais o politicamente correto, com maior influência nos EUA, os desprotege em detrimento de fundamentalistas islâmicos que compõem a maioria dos grupos anti-governamentais. Veja-se o título «Islamist fighters move nuns from captured Christian village in Syria» - «Combatentes islâmicos mudam [sic!] freiras da aldeia cristã capturada na Síria» - da agência Reuters, em 3-12-2013 sobre as freiras ortodoxas raptadas do seu convento por rebeldes sírios que se somam a dois bispos e um padre que também estão desaparecidos, para além do  habitual vandalismo de igrejas cristãs nas zonas capturadas pelas forças de oposição ao regime da minoria aluaíta, ele também sanguinário. Nos séculos XX e XXI, são os cristãos os mártires da perseguição da liberdade de pensamento (muito lá da lenda negra da vergonhosa Inquisição espanhola - ver, a propósito, The myth of the Spanish Inquisition, BBC, 1994).
Se o relatório da IHEU é enviesado, a notícia da Lusa que o difunde ainda é mais antipapista do que os antipapas:
  1. A notícia começa por relatar que o relatório conclui que «Portugal privilegia a religião e discrimina, através da sua exclusão, os ateístas, os humanistas e os livres-pensadores». Ora, a dita «exclusão» só é mencionada relativamente à porção do imposto sobre o rendimento (IRS) que os contribuintes podem doar a entidades religiosas e que, segundo o relatório, não podem doar a grupos não-religiosos. 
  2. A classificação de «discriminação sistémica» é apresentada com a terceira mais grave entre cinco categorias... Se a alternativa terceira menos grave choca, o(a) jornalista poderia dizer que Portugal está a meio da tabela (torta).
  3. Diz que o relatório «assinala que o governo mantém um acordo com a Igreja Católica (Concordata) e acordos com outros grupos religiosos que lhes permitem, além de cobrar dízimos, receber uma percentagem dos impostos através da consignação voluntária de parte do reembolso do Imposto Sobre Rendimentos (IRS) para diversas instituições». Não é verdade que o relatório, na parte relativa a Portugal, afirme que a Concordata e acordos com grupos religiosos lhes permitem «cobrar dízimos». O relatório refere apenas que o contribuinte pode, voluntariamente, alocar uma percentagem do imposto sobre o rendimento (uma percentagem que compara a «dízimo») a entidades religiosas.
  4. Refere que o relatório conclui que existem em Portugal «taxas e dízimos que discriminam, através da exclusão, os grupos não religiosos». Porém, o que o relatório conclui é que «há uma taxa religiosa ou dízimo que discrimina ao excluir grupos não-religiosos».

Em suma: uma mentira. Mas por que assim corre, não pode ser consentida sem combate moral para afirmação da verdade.

domingo, 15 de dezembro de 2013

A teimosia da portugalidade


A.B.C., Portugalidade, Santuário de Nossa Senhora dos Remédios, novembro de 2013



A.B.C., Cúpula falsa em trompe l'oeil, de Nicolau Nasoni, Sé Catedral de Lamego, novembro de 2013


A.B.C., Janela de luz, CAM Graça Morais,
desenhado pelo arq. Eduardo Souto de Moura, Bragança, novembro de 2013



Vai tarde, como infelizmente costuma, mas sempre, como deve. Melhor do que as palavras, que mal clicam sentimentos, e pouco agradecem o acolhimento caloroso dos anfitriões em tempos e terras frios, fica o registo smartfónico de uma peregrinação interior numa incursão lusitana, de deslumbramento visual, relatos sábios do padre João Carlos Morgado (diretor do Museu Diocesano de Lamego e pró-vigário-geral) e do Dr. Jorge da Costa (diretor do extraordinário novo Centro de Arte Contemporânea Graça Morais, em Bragança, desenhado por Eduardo Souto de Moura para acolher a obra da pintora transmontana e que tem uma curiosa placa de inauguração, de 2008) e iguarias tangíveis (a bôla em Lamego; e o arroz de lebre e o Pudim do Abade de... Baçal no magnífico Solar Bragançano, de comida nacional e atmosfera british). Recomendo vi-va-men-te.

Debanda o Estado do interior (e da periferia) e leva o povo nesse êxodo vicioso, justificado com austeridade, mas realmente motivado pelo cosmopolitismo da provinciana Lisboa, com recursos de educação, investigação, saúde, serviços e comércio, desmesurados para os 10,5 milhões e 92 mil quilómetros afunilados de uma Nação à deriva. É de dentro que somos e é em Lisboa que efluímos. Perdemo-nos.

sábado, 14 de dezembro de 2013

O feitiço e o feiticeiro

«Família de Rui Pedro Soares sob ameaça fiscal», titula o DN, de 14-12-2013...

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

A coletivização académica de Sócrates

José Sócrates foi cooptado para membro do Conselho Geral da Universidade da Beira Interior (UBI) e já aceitou, segundo foi noticiado pela Rádio Renascença em 10-12-2013. Este órgão é presidido pelo soci(alista)ólogo madeirense, e ex-padre, José Manuel Paquete de Oliveira, jubilado do ISCTE, que explicou assim a cooptação:
«A proposta do nome do engenheiro [...] José Sócrates colectivizou-se»...
«A proposta do engenheiro [...] Sócrates enquadra as duas vertentes: por um lado porque, como se sabe, ele é dali e, por outro lado, pelo impacto público que ele tem. No fundo, é um filho da terra que é reconhecido em Portugal e no estrangeiro.»
Isso é verdade: em Portugal sabem bem quem ele é; e, no estrangeiro, lá no fundo dos fundos, também.

Sócrates vai-se aproximando da universidade e creio que acabará por entrar, por osmose... Até confesso a minha estranheza por o neofilósofo ainda não estar a lecionar numa pós-graduação pós-modernista uma sociologia qualquer no ISCTE, agora sujeito a uma guerra entre o grupo ferroso (representado por António Firmino da Costa, orientador da tese do ex-comunista Manuel Carvalho da Silva, e Rui Pena Pires, companheiro da ex-ministra Maria de Lurdes Rodrigues) e o atual reitor Luís Reto.

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

O cerco de Mário Soares a Rui Rio




Mário Soares está a cercar Rui Rio como fez a Passos Coelho nas vésperas das eleições de junho de 2011. A política de Rio que Soares teme é aquela praticada na CMPorto, de autonomia face ao sistema socialista. Por isso, procura envolvê-lo para a preservação do sistema. Não creio que Rui Rio precise da bênção de Soares ou que queira o mesmo destino de Coelho.


Atualização: este poste foi emendado às 7:55 de 11-12-2013. Agradeço a um leitor amigo pelo aviso.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Não há judeu nem grego, nem escravo nem homem livre

A África do Sul transitou, sem guerra civil nem genocídio, do poder do regime do apartheid para a democracia representativa, mesmo que mitigada. Tal deveu-se fundamentalmente ao extraordinário homem que foi Nelson Mandela, que faleceu ontem, 5-12-2013. Como todos os grandes vultos da História, a sua vida teve luzes brilhantes e sombras duras, mas o resultado de uma longa e sacrificada vida de estadista, mesmo antes de o ser formalmente, foi notabilíssimo. Esperemos que o seu exemplo de pacificação possa ser servido pelas gerações que ficam, e nomeadamente na redução da praga da violência. 

A lição da Ucrânia para o Musterschüler português



A recusa do presidente ucraniano Viktor Yanukovitch de assinar, em 29-11-2013, o acordo de associação (que inclui uma zona de comércio livre) negociado com a União Europeia, constitui uma derrota da política germanófila da União Europeia - e nomeadamente da chanceler Angela Merkel - e uma vitória da pressão russa de Vladimir Putin. A decisão desatou uma onda de protestos populares (Euromaiden) e de repressão policial, mas a suspensão do acordo mantém-se.

O motivo invocado é que a União Europeia não ofereceu um pacote de ajuda suficiente para o desenvolvimento da Ucrânia, nem garantiu um empréstimo do FMI em condições suportáveis. É de crer que o pacote russo tenha sido mais valioso... Outros motivos que pesam na balança negocial são o fornecimento de energia da Rússia à Ucrânia e o relacionamento comercial íntimo entre os dois Estados. Para além disso, há, como sempre na história do País uma divisão entre a parte oeste, virada para a Europa ocidental e a parte leste, e a Crimeia, vizinhas da Rússia. A preferência da maioria da população pela União Europeia, e a tendência política, não chegam para resolver a crise económica e o estrangulamento financeiro da Grécia ortodoxa (a maioria da população é ortodoxa) e de outros países da periferia da União Europeia assustam o poder político local.

O jogo disputa-se num tabuleiro geopolítico (político, religioso, cultural, económico e financeiro) muito complicado. Há uma grande divisão política interna, polarizada pela questão da aliança a oeste ou a leste, e uma líder da oposição, Yulia Timoshenko, na cadeia, favorável à aliança com a União Europeia. Mas até a oposição preferiria um melhor acordo com a União Europeia. Tendo em conta a teimosia de Merkel, será difícil a União Europeia remendar o acordo.

Pode a União Europeia, sob diretório germânico, queixar-se do veto russo ao acordo de comércio livre com a Ucrânia. Porém, isso é apenas a justificação piedosa de uma derrota geopolítica tremenda: a queixa sobre a continuação da «soberania limitada» (quando há estados da União Europeia, como Portugal, sob protetorado, apesar da ingenuidade governamental, como a do secretário de Estado Bruno Maçães na visita à Grécia, em novembro de 2013) é uma desculpa de mau pagador. A Alemanha não tem força política - principalmente porque não tem militar correspondente - para impor o domínio financeiro e económico que intenta, nem sequer agilidade negocial. O Spiegel foi impiedoso no comentário, titulando até antes (25-11-2013) da decisão do presidente ucraniano ser conhecida: «O gambito de Putin: como a União Europeia perdeu a Ucrânia».

A política de diretório germânico de Merkel está a conduzir a União Europeia para um abismo porque, ainda que se atinja o desejável equilíbrio orçamental, o peso da dívida (e dos juros) é tal que, sem decisão política de empréstimo aos Estados a juro baixo (inferior a 1%, já com taxas as taxas e comissões) - já para não falar do «quantitative easing» - não é possível amortizá-la. Esta política germânica de asfixia financeira e económica, que lhe garante uma supremacia política, e torna a União Europeia um zona de exclusão e repulsão, deveria provocar uma reação da França e da Inglaterra e não apenas da periferia sul da União, na qual se destaca o alinhamento Espanha-Itália. A ironia é que o Estado português degenerou do «good pupil» reivindicativo da britânica Thatcher para um obediente Musterschüler da germânica Merkel.

Na política internacional, a prioridade deve ser sempre geopolítica e não financeira. É bom que o próximo governo português não negligencie essa condição de soberania.


Atualização: este poste foi emendado às 0:22 de 7-12-2013.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Um modelo de jornal digital da direita moderada cristã


A inesquecível crónica de Helena Matos, no Económico, de ontem, 3-12-2013, intitulada «Decálogo do português mediático», sobre a presumida superioridade moral da esquerda, propicia uma reflexão atualizada sobre um jornal digital da direita moderada cristã, em que aqui tenho insistido para contrariar o domínio da ditadura mediática do politicamente correto leia sobre agenda settingpriming e framing e, ainda com maior relevo numa comunicação social portuguesa completamente enviesada à esquerda, sobre o gatekeeping.

Sem meios nós, na direita moderada cristã, não projetamos poder e não conseguimos a mudança. Não é uma questão de pessoas, porque pessoas existem, até heróis; não é uma questão de mensagem, porque mensagens existem; nem é uma questão de público, porque somos milhões ávidos de ler o que não temos. É uma questão de meio, média. A visibilidade e a projeção pretendidas não são alcançáveis com blogues, redes sociais ou mails.  Precisamos muito de um jornal digital da direita moderada cristã, como propus - e motivei -, desde 23-8-2011, quando escrevi o poste «A necessidade de um jornal digital da direita moderada cristã».

Que modelo de jornal digital da direita moderada cristã?
  1. Como o descrevi nesse poste de 2011: «um jornal digital de informação livre e opinião franca, de baixo custo». Independente e sem medo. Como em Espanha, o Libertad Digital, o Intereconomia, o Periodista Digital e El Confidencial, que são viáveis ao contrário da tentativa de televisão independente do poder político (que se tem provado impossível...). 
  2. Um jornal de arquétipo para lá de Huffington Post, de Deadlinede BuzzFeed e de Politico. Um jornal ao modo de Slugline (ver House of Cards, Episódios 5 e 13 desta primeira série), por muito que os saudosos dos broadsheets do séc. XIX, vejam, nesse paradigma de «liberdade e de exposição», um «futuro desafortunado». Não é o aspeto da redação open-space/bean bags que interessa (seguido já pelo Polygon), mas o estilo de produção que se pretende.
  3. Um jornal digital com poucos trabalhadores residentes e maior recurso a colaboradores voluntários ou remunerados a preço de favor. Com baixo investimento, equipamento barato (o bom equipamento video, por exemplo, é cada vez mais barato) e baixo orçamento. Financiado por independentes, eventualmente com recurso a crowfunding.
  4. Mas um jornal digital moderno: não a digitalização de um jornal impresso, ou seja, a transposição para o digital do velho modelo de jornal oitocentista, que tem sido mais ou menos o modelo em vigor até agora nos jornais portugueses. Trocaram a tinta pelos bites, sem mudança de conteúdo, de desenho, de estilo ou de linguagem. 
  5. Um jornal de estilo novo, não apenas gráfico, mas na linguagem, muito mais informal e próxima do que se usa nos blogues, redes sociais no dia-a-dia, fora do modelo oitocentista dos livros de estilo obsoletos. Acutilante e desassombrado (aproveitando o alargamento da liberdade que fomos fazendo, com sacrifício, nestes anos de ditadura opinativa). Sem trade-off de não-notícias por esmolas de cobertura (jantares e viagens...).
  6. Um jornal rápido, muito rápido - quase em ritmo tickerUm jornal em atualização constante, 24/24 (ou tendendo para isso...), em vez das notícias diárias que permanecem imutáveis um dia inteiro, como se ainda vivêssemos no mundo lesma.
  7. Um jornal digital que é texto, mas também imagem e som. Em que o jornalista produz texto ou entra em linha, direto, in loco, com imagem e som. E no qual se beneficia de meios de gravação video, baratos e funcionais, com qualidade suficiente para ver com boa definição... em computador, ou tablete (e talvez já convenha adotarmos a palavra sem sotaque inglês) ou smartphone. Não se precisa de equipamento de gravação para uma resolução de Downton Abbey, neste mundo de selfies e o smartphone basta... Habituámo-nos nos instantâneos, a uma resolução e qualidade do som suficientes quando vez mais vemos, ouvimos e lemos, em smartphone, depois de evoluirmos do computador de secretária, deste para o portátil e deste para a tablete. Trocamos a foto com muitos megas por imagens com poucos kapas - e o mesmo se passa no video. O novo modelo deve assim aproveitar a mudança de suporte da televisão para os meios móveis, criando videos dos acontecimentos e comentário a par das notícias escritas.
  8. Um jornal digital que está mais nos acontecimentos e menos nos eventos, com desprezo do circuito e pipeline dos releases governamentais e partidários e que resiste à chantagem de, em troca de convite para as cerimónias, passar o que as agências de comunicação e assessores ministeriais querem. Um jornal que desfaça a manipulação desinformativa de eventos preparados (como aquela exposta pelo Figaro da promiscuidade entre a TF1 e Jean-Luc Mélenchon do Parti de Gauche, em 3-12-2013, via Espectador Interessado).
  9. Um jornal digital desintermediado com redução da supervisão ao mínimo conveniente, para permitir rapidez e ousadia. Com produção de texto sem limite mínimo e com o tamanho (económico) que for necessário. Para que a dimensão não seja um obstáculo da velocidade. E editado por quem for possível, com o tal equipamento de baixo custo (no limite, a tablete ou o smartphone) em video do local dos acontecimentos, em direto, sendo as notícias depois atualizadas com mais informação e emendas honestas com indicação de hora. 
  10. Um jornal digital com crónicas de opinião livres, mesmo livres. Em vez do sabor delicodoce da salada insípida.
Em resumo: um jornal digital moral, leal e independente, de estilo moderno, que encarne o combate cultural sem luvas nem rendas, e que seja motor da mudança política real, pela qual ansiamos e lutamos há muito.

«Reformar a democracia portuguesa, uma necessidade» - um livro de Octavio Serrano



E já agora, recomendo o livro de Octavio Vicente Serrano, um amigo do meu chão, intitulado «Reformar a democracia portuguesa, uma necessidade», que acaba de ser publicado, neste dezembro de 2013. O livro constitui um conjunto de reflexões que são o produto altruísta da angústia humana sobre o desvirtuamento da democracia representativa em Portugal e a vantagem da democracia representativa. Está já à venda na Lulu Books.

Os caciques partidários, à escala local, regional e nacional, podem resistir à democracia direta, mas é para lá que caminhamos, e tanto mais rapidamente quando a corrupção vai corroendo a novecentista democracia representativa.

Ortogal



No próximo sábado, dia 7 de dezembro de 2013, pelas 17:30 horas, o meu amigo, e conterrâneo, Professor Valdemar Rodrigues apresenta o seu livro «Ortogal - Diálogos na curvatura do tempo» (Chiado Editora), no espaço Les Enfants Terribles (Cinema Nimas - Avª 5 de Outubro, 42), com apresentação do Prof. José Adelino Maltez. Quem puder, compareça que será muito interessante.

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

«Pacificamente»?...

Mário Soares na sua crónica do DN, de hoje, 3-12-2013:
«(...) tenho uma grande vergonha que os dois Estados ibéricos, estejam como estão, perto de ditaduras, enquanto todos os Estados latinos e o nosso querido Brasil são hoje democracias consolidadas. É triste para a Ibéria [sic] e, em especial, para Portugal (...). Porque os Estados sociais estão a desaparecer e os sindicatos a não serem ouvidos, como nas democracias é de regra. Uma desgraça contra a qual é necessário lutar. Claro, pacificamente.» (Realce meu).

Dois passos em em frente na violência e um zás paz trás - depois do corretivo patriótico. Mas a fundamentação, e o apelo, da violência «necessariamente» que não se negligencia porque, tarde ou cedo, será concretizado. O perigo não está no tom do discurso, mas na definição oriental dos alvos. E é por essa consciência da premeditação dos ataques - que se soma aos indesculpáveis abusos e à ruína do País - que aqui não se elogia, não se abafa, não se esquece.

sábado, 30 de novembro de 2013

O novo ataque de Mário Soares a D. Manuel Clemente

(Em atualização)


Em 1991, o presidente italiano Francesco Cossiga, que não queria viver toda a sua vida na sombra de Andreotti, decidiu rebentar com sistema parlamentar italiano e impor um regime presidencial por si liderado. Falhou e demitiu-se no ano seguinte, a dois meses do fim do mandato de sete anos, já no quadro do escândalo Tangentopoli, que acabaria com a I República italiana. Nessa altura, a revista italiana L'Espresso (março de 1991?), punha na capa o presidente Francesco Cossiga com ar agressivo e o título «Fuori controllo» (Fora de controlo) para explicar o seu «caso» e identificar os seus alvos. O jornalista Gianpaolo Pansa chamava-lhe: o maluco da colina (palácio do Quirinale), figura cómica, sacristão arrogante, louco, golpista, martelo reacionário e zombi. Mas o presidente italiano não estava senil. Francesco Cossiga tinha então 63 anos; Mário Soares tem agora 88 anos.

Mário Soares procura deixar uma última marca na política portuguesa antes de passar à maçonaria celeste. Daí o furor de livros sucessivos, intervenções diárias numa espécie de syndicated podcast na imprensa de confiança, a multiplicação de alvos, o martelar dos apelos à insurreição popular e à violência.

Aprisionado no reflexo da sua própria figura, distanciada a família das suas aparições patéticas, Mário Soares parece mais uma marioneta do seu secretário Vítor Ramalho que lhe indica o que dizer e o corrige. Enquanto António Arnault conjurou, em 28-11-2013, a Maçonaria para a luta anticapitalista - e até, infelizmente, o general Garcia Leandro concedeu, em 26-11-2013 na Rádio Renascença, que Soares tem razão no alerta de que a «a violência está à porta». Nos próximos dias, cúmplices de cordel que se arrebitam quando Soares lhes puxa a guita, figuras institucionais solenes abaixo de qualquer suspeita patriótica e melancias (pouco) católicas verdes de fé por fora mas rosadas por dentro, hão-de participar no mesmo peditório pela redenção da alma socialista ferida, tal como no futuro se desculpabilizarão se algum anarquista de esquerda levar a legitimação frentista de esquerda da violência à seriedade das bombas... O pagode pode não perceber o trabalho de orquestração, mas aqui é nossa obrigação notar que os naipes estão afinados.

Soares já não é ele, mas a representação holográfica difusa de um setor maçónico preocupado com a possibilidade de perda de poder na batalha que se aproxima e que tem em Vítor Ramalho (biografia incompleta) como uma espécie de mordomo do decrético ex-presidente. Desde a saída de Cavaco (primeiro-ministro...) que a Maçonaria tem o poder político do Estado português - Guterres era católico, mas discípulo de um «Deus relojoeiro» (com licença das belíssimas personificações do padre Nuno Tovar de Lemos) e quem punha e dispunha, com ampla licença, já era a fraternidade oriental. Portanto, o ataque de Soares não é fortuito, mas premeditado, com o propósito principal de cercar a Igreja Portuguesa no seu reduto, silenciá-la com a sentença de uma culpa que não tem, evitar que defenda os seus valores e, acessoriamente, preservar as posições e deferência que manteve na Rádio Renascença e na Universidade Católica. Assim, D. Manuel Clemente é o alvo simbólico de Soares que pretende atingir e condicionar toda a Igreja portuguesa.

Na penúltima fase do socratismo, o socialismo maçónico também se afligiu muito com a oportunidade de barrela política da corrupção de Estado. Nessa etapa decadente era vê-los, e aos seus acólitos da esquerda romântica e sindical, a enfileirar o beija-mão no Terreiro da Sé do Porto, conscientes, O, tentando cerzir o tecido social rasgado pelo radicalismo socratino absolutista, e economicamente corrupto, do aborto, do casamento homossexual, da perseguição clerical à religião nas escolas, hospitais e prisões, e suavizar críticas. Era uma época de loas e prémios. O próprio Soares elogiava em 11-12-2009, D. Manuel Clemente como «uma grande figura ética para todos os portugueses», «uma grande figura da Igreja», «uma pessoa relevante para o nosso país e um grande português", com «grande capacidade de diálogo», destacando a sua «intervenção cívica», a «postura humanística de defesa do diálogo e da tolerância, do combate à exclusão e da intervenção social da Igreja»

A corte dos socialistas chegou até à escolha de D. Manuel Clemente como novo Patriarca de Lisboa, em substituição de D. José Policarpo com quem os socialistas, e inclusivé Sócrates tinham maior cumplicidade. Deu-se então um corte de Soares, mal disfarçado de irritação de palmas a Cavaco e Coelho na missa de tomada de posse, no convento dos Jerónimos em 7 de julho de 2013 - que designou de «claque dos capangas» (sic!) -, pelas quais o novo pastor de Lisboa foi acusado, dois dias depois em crónica no DN, de ter deixado acontecer e não ter reagido, embora tal tenha acontecido enquanto se paramentava na sacristia...

Mário Soares volta à carga violenta em artigo de hoje, 30-11-2013, no Público, intitulada «O Papa Francisco e a Igreja portuguesa», critica brutalmente D. Manuel Clemente (um prelado impoluto, como se pode ler na biografia escrita por Ricardo Perna, José Carlos Nunes e Sílvia Júlio (publicada em julho de 2013 na editora Paulus). O novo Patriarca, e futuro cardeal, parece ser um alvo de oportunidade na trincheira de onde dispara ao azar contra aqueles que censuraram o seu objetivo apelo à violência política, no segundo Congresso das Esquerdas, em 21-11-2013, na Aula Magna da Universidade de Lisboa, evidenciado no seu discurso (escrito...) na utilização do advérbio de mau modo «necessariamente»:
«O Presidente e o Governo devem demitir-se (...) enquanto podem ir ainda para as suas casas pelo seu pé. Caso contrário, serão responsáveis pela onda de violência que aí virá e necessariamente os vai atingir.» (Sublinhado meu).
Recordo que, Mário Soares procurou em 27-11-2013 sustentar a sua posição de necessidade da violência que irá atingir «o Presidente e o Governo», na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, do Papa Francisco, de 24-11-2013. Embora, como eu tenha mostrado em nenhum ponto da nova exortação o Papa apele à violência ou a legitime, como fizeram vários, além de Soares, no dito encontro das Esquerdas.

No artigo do Público, de 30-11-2013, que mais parece o resultado estenográfico de frases desconexas, Mário Soares descarrega um chorrilho de falsidades e falácias na sua tradicional mistura discursiva que era, todavia, menos mal escrita. Respigo e comento:
  1. «Sua Santidade o Papa Francisco (de Assis, não Xavier)». Que mal teria para se este Francisco tivesse sido «de Xavier»: mesmo que não verbalizado também não será também do santo navarro-português?... Será o desprezo de Soares a Xavier por causa do desassombro da carta do santo evangelizador ao rei D. João III, citada por Vieira num seu sermão célebre?
  2. «É, com efeito, um Papa singular porque fala com toda a gente, seja de que religião for ou de nenhuma» - Não falavam os outros?!...
  3. «detesta o capitalismo selvagem que hoje governa a Europa» - não detestamos agora quase todos os cristãos que nunca nos sentimos confortáveis perante a ideologia liberal dominante até há pouco e sempre preferimos a moderação filosófica da doutrina social da Igreja?...
  4. «Sua Santidade detesta a austeridade»... Soares mistura austeridade com capitalismo e usa como instrumento político logo um Papa austero, frugal e humilde, conhecido por fazer a sua própria comida. Um Papa que recomenda a austeridade à própria Igreja e que a impõe, como no caso do bispo de Lindburg (em contraponto à obra faraónica da nova sede do Banco Central Europeu, em Frankfurt) e que aceita um Renault 4L, de 29 anos, para seu veículo...
  5. «A Igreja portuguesa, que foi colonialista, durante os tempos das guerras coloniais» - houve de uma e de outra. Mas colonizadora foi, dilatando a Fé por esse mundo de Deus que Soares cruzou de avião e carro de luxo e por onde se banqueteou. Se não fosse essa Igreja portuguesa (e homens de outra têmpera) que agora maldiz, não havia este Brasil, a África era islâmica a sul do lago Tchad e da Ilha de Moçambique, não tinha havido o Padroado Português do Oriente e a liberdade, a igualdade e a fraternidade, que toma como registo de uso seletivo, teriam no globo outra contingência. E a língua e a sua projeção cultural portuguesa, que são o nosso último reduto de orgulho patriótico, tem nesse mundo a multidão que a instrução, a assistência e a espiritualidade, dos missionários muito fez.
  6. «sempre próxima da ditadura» - mais uma vez, houve de uma e de outra. E bastante mais independente do que reconhece.
  7. «foi salva pelos socialistas», na maior parte deles não religiosos, porque depois do 25 de Abril impediram que os esquerdistas invadissem o Patriarcado como tentaram fazer» - como o general francês Maximilien Sébastien Foy, reduz o País a Lisboa. O Portugal de 1975 tinha muito mais Rio Maior, Alcobaça e Braga, do que reconhece - e nem sequer admitimos fugir para Cortegaça...
  8. «Graças à intervenção do PS, depois do 25 de Abril, a Igreja portuguesa tornou-se muito aberta, com o patriarca D. António Ribeiro, e progressista, ao contrário do que sucedeu com a Igreja espanhola, que foi sempre de direita, mesmo após a morte de Franco, e quando Suarez introduziu a democracia» - insisto, uma de umas e de outras. A abertura de que fala deve ser as dos canais da sua confiança, mas os católicos portugueses nunca sentiram uma Igreja «progressista» - com exceção do padre Fanhais... Pelo contrário, a Igreja portuguesa, e a lisboeta em particular, reconhecia-se mais nas «notas de abertura» do Padre Lereno na Rádio Renascença. A ação de Soares no cerco do Patriarcado foi motivada por uma vontade de controlo que não sequestrou o povo de Deus.
  9. «Mas parece que, com o novo patriarca português, tudo está a mudar, o que é péssimo e triste para o futuro». Ainda não, mas não há-de tardar. Rompendo a tentação da promiscuidade e recusando prolongar uma espécie de irenismo com proveito maçónico-socialista.
  10. «a Igreja portuguesa tem mantido um silêncio inaceitável, tal como o actual patriarca, em relação ao Papa. Parece que não gosta dele ou mesmo que o detesta. » - é uma mentira absoluta. D. Manuel Clemente foi nomeado Patriarca de Lisboa já pelo Papa Francisco, em 18-5-2013... O que temos ouvido e visto é uma imensa e generalizada alegria de bispos, párocos e leigos, pela graça deste Papa que, nesta outra era, há-de conseguir purificar o que o tempo e o mundo sujou e relançar a Igreja, com todos, para a humildade e a caridade, sem transigência à ditadura cultural do relativismo ateu.
  11. «Prefere a corrupção e a imoralidade, que reinava no Vaticano, à solidariedade do Papa que respeita os pobres? Que patriarca é este que há meses não fala e, em especial, de Sua Santidade». Um disparate sem pés nem cabeça, com exceção da maliciosa invocação da corrupção pelo protagonista principal de «Contos proibidos - Memórias de um PS desconhecido», de Rui Mateus, em 1996, já para não falar do abuso da outra questão.
  12. «Aliás, quando era bispo fazia-se passar por um homem desempoeirado e progressista – que afinal não é; tendo em conta o que não diz agora, parece que nunca foi. É algo que não se entende!». A poeira está do lado do seu progresso, dos «lendemains qui chantent» a cuja disfonia voltou. A informalidade e humildade de D. Manuel Clemente não deve ser baralhada com as cartas marcadas do marxismo politicamente correto: a Igreja não pode legitimar a violência e a doutrina do tiranicídio de São Tomás de Aquino é, em circunstâncias muito excecionais, comprovadas e se mais nenhum outro meio for possível, apenas para quem usa a violência...
  13. «O Papa Francisco alertou que a exclusão e a desigualdade social "provocarão a explosão da violência"». Soares tresleu e chega ao cúmulo de pôr em aspas o que não está no texto da Exortação do papa Francisco. A citação correta é bastante diferente do resumo conveniente que pôs na pena de um santo: «Acusam-se da violência os pobres e as populações mais pobres, mas, sem igualdade de oportunidades, as várias formas de agressão e de guerra encontrarão um terreno fértil que, mais cedo ou mais tarde, há-de provocar a explosão».
  14. «É importante que o tenha feito, por mero acaso no dia seguinte a eu ter sido atacado por dizer o mesmo». Aqui concordo: não é provável que a exortação do Papa tivesse sido emendada, o original e as traduções e os livros, para acomodar a concordância com o discurso mal amanhado de um ex-líder socialista no encontro das Esquerdas em Lisboa, três dias antes...
  15. «Leia, o actual patriarca, D. Manuel Clemente, a Exortação Apostólica Evangelii Gaudium do Santo Papa, ao Episcopado, ao Clero, às Pessoas Consagradas e aos Fiéis e Leigos, sobre o anúncio do Evangelho no mundo actual». Atrevo-me a crer que o senhor D. Manuel Clemente já o tivesse feito, apesar da agenda preenchida...
  16. «Talvez lhe seja útil e o leve a falar de Sua Santidade, que, incontestavelmente, representa no mundo de hoje um dos maiores papas de todos os tempos. Não deixe que a Igreja portuguesa volte a ser o que foi no tempo do colonialismo e da ditadura...» O Patriarca - que escreve com letra pequena, talvez com ciúme de ser ele próprio um patriarca socialista menor, não precisa da sua lição atabalhoada, muito menos do insulto de que a Igrejka portuguesa vai voltar ao «tempo do colonialismo e ditadura» (sic!). Aliás, para desmentir a validade do mal-intencionado ataque ao Patriarca de Lisboa e presidente da Conferência Episcopal Portugal, nada melhor do que usar as palavras do próprio Mário Soares, na revista Visão, de 23 de maio de... 2013, que intitulou «O Papa e a Igreja Portuguesa»:
«Entretanto, deu-se um acontecimento que, não sendo eu religioso, mas tendo a consciência da importância da Igreja na sociedade portuguesa - o que me fez ajudá-la no pós-25 de Abril, quando foi atacada, como é reconhecido -, me deu muita alegria: a nomeação do novo Patriarca, D. Manuel Clemente.
Conheço-o desde quando ainda não era bispo do Porto e sempre tive por ele uma enorme admiração e respeito. É um homem de grande cultura, um historiador com obra publicada e, permito-me dizê-lo, um grande eclesiástico. Participámos em alguns debates públicos e sei, por isso, do que estou a falar. D. Manuel Clemente quebrou algum silêncio da Igreja portuguesa e juntou-se claramente ao que tem dito Sua Santidade. Contra a política de austeridade, o empobrecimento e o desemprego que gera na população. Excelente sinal!». (O realce é meu).

Pós-Texto (12:01 de 1 de dezembro de 2013): No blogue Avenida da Liberdade, num poste que intitulou «O dissensual», José Ribeiro e Castro também respondeu ontem ao artigo de Mário Soares, no Público. Ribeiro e Castro recorda a mensagem «Desafios éticos no trabalho humano», de 14-11-2013, da Conferência Episcopal Portuguesa precisamente sobre os temas laborais e sociais que o Papa tem salientado. E nota ainda o deputado que, na véspera de mais este ataque senil do ex-Presidente, D. Manuel Clemente louvava a autenticidade e a vivência do Papa Francisco na defesa dos direitos humanos, na conferência «Uma esperança sem fronteiras», na Universidade Católica, em Lisboa.
No blogue Alcáçovas, Ricardo Vinagre também criticou, em 30-11-2013, o artigo do ex-presidente no Público no poste «O problema mal resolvido de Mário Soares».
E no blogue Entre as Brumas da Memória, Joana Lopes, no poste «Importa-se de repetir, Dr. Mário Soares?», com base nas próprias palavras do fundador do PS, nota que a história foi ao contrário: Soares é que pediu ajuda a D. António Ribeiro... Afirmar que, em 1975, a Igreja portuguesa é que precisava da ajuda do PS é uma falsidade histórica rotunda.
Este poste foi atualizado, e emendado, às 12:01 e 12:58 de 1-12-2013.

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

O marxista Soares e o caridoso Papa Francisco

A meio de um trabalho mais demorado sobre a relação do padre, provincial e bispo Jorge Mario Bergoglio, com a ditadura argentina de 1976 a 1983, incluindo também o período de violência política anterior e o período posterior até à sua elevação a Sumo Pontífice da Igreja -, faço um intervalo por um assunto mais urgente: a tentativa de Mário Soares usar a Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (A Alegria do Evangelho) do Papa Francisco, de 24-11-2013, para justificar os apelos à violência no segundo «Congresso das Esquerdas - Em Defesa da Constituição, da Democracia e do Estado Social», em 21-11-2013, na Aula Magna da Universidade de Lisboa.

No video da sua intervenção do dito congresso ou encontro - com Alfredo Bruto da Costa, José Pacheco Pereira e o general Pinto Ramalho!... -, pode ouvir-se (transcrição minha) Mário Soares a ler um discurso:
  • «A violência està à porta» (bis...)
    «O Presidente e o Governo devem demitir-se (...) enquanto podem ir ainda para as suas casas pelo seu pé». Caso contrário serão responsáveis pela onda de violência que aí virá e necessariamente os vai atingir» (sublinhado leu).
«Necessariamente»?!...

Soares distinguiu a Espanha e a Itália de Portugal que felizmente não têm troika; mas a troika, e o seu programa de austeridade, foi trazida para Portugal pelo seu discípulo Sócrates que colocou o nosso País na situação indigna de protetorado, enquanto Zapatero resistiu à pressão germânica para um resgate financeiro, inclusivé na cimeira de Cannes do G-20, em novembro de 2011, como agora conta no livro «El dilema: 600 dias de vértigo»...

Gagá e cheché, entre gargalhadas irresistíveis da assistência, com a designação do outro partido de governo como CS-PP (sic) e o secretário Vítor Ramalho a orientá-lo no que deve ler, Soares é hoje o que representa, mais do que aquilo que foi. Em contrarrelógio, procura ainda deixar uma marca última numa história de vergonha pessoal, que alastrou a uma comunidade abusada, um Estado comissionista, uma nação em ruínas, vidas destroçadas por um patriotismo que agora reclama à DPP, na preservação de um sistema utópico que tenta manter neste País sem dinheiro, nem recursos suficientes.

Ora, nesta sua primeira encíclica exclusiva (a Lumen Fidei, foi herdada de Bento XVI e completada pelo atual Papa), Evangelii Gaudium, Francisco condena sempre a violência. O Papa nunca foi um marxista, nem adepto da teologia da libertação, nem mesmo nos anos 70 e 80 - e daí os problemas que teve na Argentina kirchnerista: nunca poderia defender, admitir, justificar, a violência, como, perante o levantamento da assistência, fez Helena Roseta no referido segundo Congresso das Esquerdas - «a violência é legítima para pôr cobro à violência»... Ou como o capitão Vasco Lourenço à entrada para essa conferência, na qual terá dito sobre o atual poder: «ou saiem a tempo ou vão ser corridos à paulada»...  O Papa considera que se deve dizer «não a uma economia da exclusão e da desigualdade social», que geram violência, e que a paz social deve provir da integração e não da pacificação militar e policial de condições injustas. A palavra violência (violento/violenta) aparece vinte vezes na mensagem do Papa, mas em nenhuma este a legitima ou diz que é necessária para atingir o governo. A doutrina social da Igreja, assente na caridade (amor), não advoga a violência e o tiranicídio tem outras condições que não se aplicam sequer aos caciques, mas aos tiranos sanguinários de povos.

Soares pode tresler, na sua demagogia lendária, porque os média sistémicos o protegem, em vez de o confrontar. Mas não ponha o Papa nesse saco... marxista.

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Quintal, casino e cofre


A.B.C., Queres casar comigo?, Nazaré, novembro de 2013


Se como ensinava o Prof. Adriano Moreira - e eu acredito - o poder não é uma coisa, mas uma relação, a subserviência das corruptas e ineptas elites políticas portuguesas é determinante na relação entre o Estado português e o Estado angolano, tanto ou mais, do que o peso do dinheiro e dos recursos do regime de Luanda.

A projeção do regime angolano sobre o poder político nacional excede muito a proporção de emigrantes portugueses, as exportações, as prestações de serviços e o estabelecimento de empresas portuguesas e não se compara, por exemplo, com a influência francesa, tampouco com a influência brasileira dos três primeiros quartéis do século XX ou atual. Lisboa é hoje uma extensão de Luanda. Mais ainda do que Miami em relação aos países da América Latina, porque não se trata exclusivamente de relação turística, de diversão e comercial, nem sequer financeira, mas também política. Essa influência geopolítica, praticada aqui, in loco parentis, tradicionalmente por testas de ferro e homens de palha, significa uma espécie de inversão do Império, na qual Lisboa interessa como safe haven, como coito de famílias e de finanças - quintal, casino e cofre - de setores do poder de Luanda, todavia mais policromático do que o representa a hermenêutica mediática portuguesa, e agora ainda mais, quando se aproxima o fim de ciclo.

O inepto poder político português aproveita essa interpretação angolana da forma mais rasteira e submissa, porque aquilo que para eles são trocos, para os políticos de Lisboa são pensões chorudas, e a noção que têm de patriotismo ou de sentido de Estado está reduzida ao bolso. Têm uma noção clara da sua limitada capacidade intelectual e consciência da sua falta de preparação técnica em contraponto a uma experiência do trânsito do poder, porque sempre andaram nele à procura d'Eldorado, e assim, pretendem embolsar o máximo no mínimo de tempo que lhes calhou na sorte, grande. Por muito que nos doa admitir, José Eduardo dos Santos é muito mais patriota do que os governantes portugueses das últimas décadas.

O poder mediático e o poder judicial portugueses interessam ao regime de Luanda como instâncias de mediação da sua projeção política e financeira sobre Portugal. O poder judicial é pressionado diretamente (!?...) e indiretamente através das antenas do poder político. O poder mediático é comprado. O que se pretende desses poderes? Desde logo uma autocensura (ne touchez pas!); e ainda um droit de regard, exercido por agentes locais domesticados.

O negócio, hoje, 26-11-2013, anunciado de alteração no capital do grupo Controlinveste (dona do DN, JN, TSFO Jogo, Diário de Notícias da Madeira e Açoriano Oriental) de Joaquim Oliveira (que fica reduzido a 27,5%) - e o empresário angolano António Mosquito com outros 27,5%, os bancos credores BES e BCP com 15% cada, além de Luís Montez, genro do Presidente Cavaco Silva, com outros 15% -, insere-se nessa manobra de projeção do poder de Lunda sobre o regime português da III República. Como ler esse negócio? O regime de Luanda quer consolidar a submissão do regime de Lisboa; o BES precisa dos 500 milhões de euros de venda da Escom acordada em dezembro de 2010 com a Sonangol (o BCP não conta e é cada vez mais um atrelado do banco rival) e procura arbitrar o jogo da influência política para recuperar liquidez; o genro (com 15%?!...) é utilizado como garantia da intercessão do sogro; e o futuro chairman Proença de Carvalho funciona como charneira socratina do negócio, já prevendo a próxima transição para o socialismo.

Ó Portugal: onde estão a tua honra e o teu vigor?


Limitação de responsabilidade (disclaimer): As entidades referidas nas notícias dos média, que comento, não são aqui imputadas de qualquer ilegalidade ou irregularidade.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Dinheiro e poder



Foi lançado um novo livro do Prof. Rui Verde, na editora de Rui Costa Pinto, que certamente há-de trazer revelações sobre a experiência do autor, com relevo maior para aquela transcorrida na Universidade Independente. A história das relações de poder luso-angolanas ainda está por fazer e convém que se aclare, com desassombro, na identificação de padrões de comportamento e na definição de perspetivas de interpretação. A consolidação de um relacionamento respeitoso e saudável entre Luanda e Lisboa carece da interpretação cultural das condutas políticas e económicas.

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

O apelo do frentismo soarista à insurreição violenta contra o Estado

O ataque, que o José transcreveu, do ex-procurador-geral da República Fernando Pinto Monteiro, na SIC Notícias em entrevista a António José Teixeira, em 17-11-2013, para que «divulguem as cassetes» com escutas remanescentes de conversas entre Armando Vara e José Sócratescinco gravações e 26 mensagens de telemóvel que escaparam à ordem de destruição, dada em 2010» pelo então presidente do Supremo Tribunal de Justiça António Noronha Nascimento) - «porque não há lá nada» - constitui um desafio à atual procuradora-geral Joana Marques Vidal. O ex-procurador terá ainda dito saber, não se sabe por que ciência, que «as cassetes existem hoje, já particulares têm as cassetes, há jornais que têm as cassetes». E atente-se que não é dito qual a data destas escutas de conversas alegamente inócuas entre os dois socialistas - se antes ou depois da data fatídica de 24 de junho de 2009.

Segundo o relato do José, Fernando Pinto Monteiro não se eximiu sequer de admitir que «pode haver um crime de desobediência» na divulgação que ele insta!... E, como o José nota, esse apelo do ex-procurador «incitando eventualmente à prática de um crime (...) também é um crime em si mesmo». Nada disso parece importar-lhe, quando até chega a considerar o caso Freeport «uma fraude» (sic)!...

Qual é o contexto do ataque socratino?

O ataque coincide com a preocupação do setor socratino face à informação de que não foi destruída (nem tesourada) toda, e qualquer, evidência dessas conversas embaraçantes que envolvem o ex-primeiro-ministro, a três meses das eleições legislativas de 2009, relativas àquilo que o procurador João Marques Vidal do DIAP de Aveiro - irmão da atual procuradora-geral -, no seu despacho de 23 de junho de 2009 (publicado no CM, de 6-2-2010) descobriu ser o «plano governamental para controlo dos meios de comunicação social»... Debaixo da arrogância colérica, o socratismo sabe da pendência dos alcatruzes das noras, das voltas da roda da fortuna e da inclinação das carradas de lenha - o tal «favor popular» (que é soberano...) - e que o povo um dia se pode cansar do abuso. Por isso a cautela deste caldo que, no fundo, é de galinha.

O ataque não pode ser desligado de uma corrente que não aceitou a escolha de uma procuradora-geral independente para uma posição epicêntrica de proteção sistémica. Nesse sentido, o ataque constitui um desafio. Que, sob pena da fustigada autoridade se esboroar, só pode ser respondido com a determinação da lei.

Apelo ao terrorismo político
Este ataque jurídico-político ataque insere-se, e não de forma inocente, num feixe de insurreições políticas do frentismo soarista, que teve, ontem, 21-11-2013, o pronunciamento no «Congresso das Esquerdas-"Defesa da Constituição e Democracia Social"» - com a presença de Pacheco Pereira (e mensagem de António Capucho!...) e a adesão dos generais Lemos Proença, Pires Veloso e Pinto Ramalho!... - e que culminou na semi-invasão simbólica do Parlamento por agentes das forças de segurança na manifestação sindical dessa coincidente noite. Do que se trata, e vem tratando - pelo mesmo Mário Soares, que chegou a reclamar em Conselho de Ministros (!) uma ação musculada (como nos tempos da outra senhora) das polícias contra os terroristas das FP-25 -, é de um apelo à insurreição violenta contra o Estado (Governo e Presidente da República), justificada pela nova passionaria Helena Roseta.

Todavia, importa aqui dizer, ainda em tempo, que o terrorismo armado é (e será...) a consequência natural da fundamentação verbal do terror político.


* Imagem picada daqui.


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