Mantenho uma expectativa prudente sobre algumas políticas sectoriais do Governo. As notícias que surgiram da Educação e da Saúde contém factores positivos e outros negativos. Já na Economia, os sinais são encorajadores - à parte o terreno minado das parcerias público-privadas, do financiamento de empresas senescentes e dos incentivos selectivos. E nas Informações parece que, afinal, a barrela geral é indispensável.
Na Saúde, a maior aposta nos genéricos, através do desbloqueamento de licenças, o estudo sobre a concentração de valências, a esperança de que a informatização reduza a fraude e aumente o rigor, e o objectivo de se travar o desequilíbrio financeiro do Estado no sector. Por outro lado, convém que o novo surto de privatização de hospitais, que se pressente, não redunde em contratos desiguais para o Estado, como nas parcerias público-privadas das concessões rodoviárias. A reforma semi-privada das unidades de saúde familiares deve ser alargada ao País inteiro. Tem de ser intensificada a colaboração de misericórdias e demais entidades do terceiro sector. Não deve haver uma exclusão dos hospitais privados da rede do País, nem a sua colaboração nas cirurgias e meios de diagnóstico. Mas os privados são parceiros do Estado: não são donos do País.
Na Educação, saúdo a decisão de fazer retornar às escolas os professores destacados, nomeadamente nas direcções regionais e em serviços mais ou menos espúrios do Ministério da Educação, bem como os novos princípios de avaliação, através de professores externos (em vez da própria escola) e mais habilitados e com ciclos de avaliação mais longos. Contudo, é preocupante a manutenção do sistema de quotas, numa proposta ainda difusa: mantém-se a terrível dicotomia das escolas entre professores titulares e os outros? Ou haverá quotas de ascensão preferencial, não sendo vedada a subida de escação posterior desde que atingidos os critérios indispensáveis?
Na Economia, o desejo do ministro Álvaro Santos Pereira de combater a desertificação do interior, projectando «um Portugal mais harmonioso e menos dual». Se o ministro, que é originário do interior (Viseu), traçar, e promover, um desígnio de desenvolvimento do interior português - negligenciado desde a política de criação de institutos politécnicos e universidades dos Governos Cavaco Silva, que foi a única política consequente de redistribuição espacial do desenvolvimento, em vez da concentração total do progresso em Lisboa -, já vale a pena a sua passagem pelo Ministério. Portugal precisa de um Juscelino. Mas apresse-se porque não dura. Há muito que defendo uma política de desenvolvimento do Portugal profundo.
Finalmente, na área crítica das Informações, onde o socratismo conseguiu a vantagem fundamental, através de operações suaves e, principalmente, de operações negras, que lhe permitiram os seis anos de Governo absoluto, sofre-se o day after de luta interna de terra queimada e equilibrismo circense, numa demonstração de absoluta falta de sentido de Estado, que confrange. Desse nevoeiro, divisa-se o trânsito peripatético de figuras que prometem agora fidelidade à prevista ingenuidade do novo poder - numa espécie de salto de undécima hora de Vichy para a Quatrième République. E filtra-se até, expressamente, o conflito para a sobrevivência dos grupos mediáticos, no statu quo ante bellum do sorvedouro da RTP (234 milhões de euros em 2010) e do fofo bolo publicitário, coberto de suculentas cerejas de subsídios. Tudo pó e lama. É vital a barrela geral dos serviços de informação e, como disse aqui, a preferência, neste contexto, por dirigentes militares que têm o sentido da Pátria e não têm medo de toupeiras.
* Imagem picada daqui.
Actualização: este poste foi actualizado às 23:56 de 30-7-2011.
Na Saúde, a maior aposta nos genéricos, através do desbloqueamento de licenças, o estudo sobre a concentração de valências, a esperança de que a informatização reduza a fraude e aumente o rigor, e o objectivo de se travar o desequilíbrio financeiro do Estado no sector. Por outro lado, convém que o novo surto de privatização de hospitais, que se pressente, não redunde em contratos desiguais para o Estado, como nas parcerias público-privadas das concessões rodoviárias. A reforma semi-privada das unidades de saúde familiares deve ser alargada ao País inteiro. Tem de ser intensificada a colaboração de misericórdias e demais entidades do terceiro sector. Não deve haver uma exclusão dos hospitais privados da rede do País, nem a sua colaboração nas cirurgias e meios de diagnóstico. Mas os privados são parceiros do Estado: não são donos do País.
Na Educação, saúdo a decisão de fazer retornar às escolas os professores destacados, nomeadamente nas direcções regionais e em serviços mais ou menos espúrios do Ministério da Educação, bem como os novos princípios de avaliação, através de professores externos (em vez da própria escola) e mais habilitados e com ciclos de avaliação mais longos. Contudo, é preocupante a manutenção do sistema de quotas, numa proposta ainda difusa: mantém-se a terrível dicotomia das escolas entre professores titulares e os outros? Ou haverá quotas de ascensão preferencial, não sendo vedada a subida de escação posterior desde que atingidos os critérios indispensáveis?
Na Economia, o desejo do ministro Álvaro Santos Pereira de combater a desertificação do interior, projectando «um Portugal mais harmonioso e menos dual». Se o ministro, que é originário do interior (Viseu), traçar, e promover, um desígnio de desenvolvimento do interior português - negligenciado desde a política de criação de institutos politécnicos e universidades dos Governos Cavaco Silva, que foi a única política consequente de redistribuição espacial do desenvolvimento, em vez da concentração total do progresso em Lisboa -, já vale a pena a sua passagem pelo Ministério. Portugal precisa de um Juscelino. Mas apresse-se porque não dura. Há muito que defendo uma política de desenvolvimento do Portugal profundo.
Finalmente, na área crítica das Informações, onde o socratismo conseguiu a vantagem fundamental, através de operações suaves e, principalmente, de operações negras, que lhe permitiram os seis anos de Governo absoluto, sofre-se o day after de luta interna de terra queimada e equilibrismo circense, numa demonstração de absoluta falta de sentido de Estado, que confrange. Desse nevoeiro, divisa-se o trânsito peripatético de figuras que prometem agora fidelidade à prevista ingenuidade do novo poder - numa espécie de salto de undécima hora de Vichy para a Quatrième République. E filtra-se até, expressamente, o conflito para a sobrevivência dos grupos mediáticos, no statu quo ante bellum do sorvedouro da RTP (234 milhões de euros em 2010) e do fofo bolo publicitário, coberto de suculentas cerejas de subsídios. Tudo pó e lama. É vital a barrela geral dos serviços de informação e, como disse aqui, a preferência, neste contexto, por dirigentes militares que têm o sentido da Pátria e não têm medo de toupeiras.
* Imagem picada daqui.
Actualização: este poste foi actualizado às 23:56 de 30-7-2011.