quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Utopia socialista e reorganização patriótica

Na roda do nosso azar milenarista, o socialismo parece falhar novamente depois do enlevo mediático dos opinadores consentidos. 

Na Ucrânia, a maioria do povo, ainda que etnicamente dividido, prefere o liberalismo europeu ao estatismo russo. Na Venezuela, o socialismo real de matriz cubana sofre o choque com as prateleiras vazias dos supermercados, a inflação, a perda de bem estar. Com exceção do Chile, da moderada Bachelet, os vizinhos socialistas também se afligem. Na França, Hollande lança um novo pacote de aproximação às empresas e ao investimento privado. A Itália guina à direita, ainda que dentro do Partido Democrático, por incapacidade de recuperação económica. Nos EUA de Obama ainda não veio a ressaca da expansão monetária, imerso que está o poder socialista nos fumos da liberalização da droga e do relativismo dos costumes.

E, por cá, Tozé Seguro, fora de qualquer viabilidade financeira, e com o apoio da direita comprometida na aventura da engenharia social da ideologia do género - - , propõe uma versão utópica de Estado Socialista. Apesar das conclusões do estudo Regnerus, Mark (2012, julho). How different are the adult children of parents who have same-sex relationships? Findings from the New Family Structures Study. Social Science Research. 41 (4): 752–770, o trabalho científico de maior amostra realizado sobre a educação de crianças por casais homossexuais...

O Estado, o povo, a sociedade, a economia, a liquidez, tudo isso são realidades tangíveis que a ideologia socialista ignora. É tempo de reorganização patriótica e moral.


* Imagem picada daqui.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

O chumbo do referendo à coadoção e adoção de crianças por casais homossexuais e etc.

A expetativa de chumbo do Tribunal Constitucional à proposta de referendo do PSD, de Passos Coelho, sobre coadoção e adoção de crianças por casais homossexuais, foi ontem, 19-2-2014, confirmada. O resultado negativo tinha sido previamente condicionado por:
  • A chicana política da direção de Passos Coelho. Numa primeira fase entusiasta eufórica, ou cúmplice (o líder parlamentar Luís Montenegro) no Parlamento com a engenharia social(ista) da coadoção - Paula Teixeira da Cruz, Teresa Leal Coelho, a deputada Francisca (de Guimarães) e a deputada Carina (a líder da secção do PSD de... Fátima!...). E numa segunda fase virando para uma proposta de referendo, como meio de polarizar apoio do setor conservador para a batalha das eleições europeias, onde se prevê forte abstenção do eleitorado tradicionalmente PSD e CDS, e para a consolidação da escolha de Durão Barroso como candidato presidencial do PSD. Ainda que a proposta (as perguntas) de referendo tenha sido escrita de forma a suscitar a inconstitucionalidade, através do argumento de que se trata, em rigor absoluto, de matérias (coadoção e adoção) de pantonalidade diversa.
  • Uma opinião publicada, e informação editada, nos média tradicionais (televisão, rádio e imprensa escrita) quase toda favorável à coadoção, e à adoção, de crianças por casais homossexuais. Como é possível que não existe representatividade nos média de uma opinião conservadora em termos de costumes que vale metade do eleitorado, segundo as sondagens?!... Notou-se, claramente, nas sondagens, em Portugal, a consequência da campanha mediática de unanimidade relativista, ao contrário de França.  Sem meios - sem um jornal digital - somos patos sentados à espera da matilha relativista e financeiramente promíscua.
  • A desautorização do Presidente da República Cavaco Silva à deliberação da Assembleia (que fez constar ao Expresso, de 18-1-2014: «Cavaco Silva contra referendo à coadoção») para se aliviar do cderco da esquerda e melhorar o seu saldo das sondagens, através de uma surpreendente neutralidade face às questões radicais do setor da esquerda romântica e do setor da direita egoísta.
Os motivos do Tribunal Constitucional no acórdão n.º 176/2014, de 19-2-2014, redigido pelo conselheiro Lino Rodrigues Ribeiro, tem um texto equilibrado e legitimador de um tema de «relevante interesse nacional» (e da possibilidade de referendar a adoção por casais homossexuais, ou outra qualquer matéria ainda que não exista uma proposta de lei sobre o assunto), onde são apontados os vícios da inconstitucionalidade da proposta de perguntas do referendo:
  • as duas questões  incidem sobre matérias distintas (coadoção e adoção), o que viola o n.º 6 do artigo 115º da CRP («cada referendo recairá sobre uma só matéria»), reproduzido no artigo 6.º da Lei Orgânica do Regime do Referendo.
  • a proposta de referendo limita o universo eleitoral, ao excluir os eleitores portugueses residentes no estrangeiro.
O acórdão abre, aliás, a porta à necessidade de verificação da constitucionalidade e da legalidade da lei da coadoção de crianças por casais homossexuais, se vier a ser aprovada em votação plenária final.

Como escrevi não interessava nada o motivo, nem a oportunidade do referendo. Interessava o bem e o mal do tema. E esses são evidentes. O argumento da oportunidade, de que agora-não-é-altura-para-discutir-isso-porque-o-país-tem-assuntos-mais-importantes-para-resolver é quase sempre desonesto: desonesto com o princípio; e desonesto pela prevalência do interesse.

O direito humano de cada criança a ter um pai e uma mãe é assim abolido em Portugal, em detrimento do direito prioritário à homoparentalidade de adultos a quem, como disse em poste anterior de 18-5-2013, a sua condição ou orientação enoja de conceber humanamente crianças. A criança há-de sofrer o estigma na escola e na rua, há-de sofrer a falta biológica de uma mãe ou de um pai na sua educação, há-de ser psicologicamente condicionada para uma opção de vida desestruturada do tecido social atual. Depois da atual proibição mediática, e académica, da ideologia do género de aceitar a validade de toda e de qualquer estudo científico, de toda e de qualquer amostra, de toda e de qualquer questão, de toda e de qualquer conclusão, sob a mais exigente e extensa pesquisa, que demonstre a mais ínfima diferença na estabilidade das relações homossexuais e no equilíbrio emocional das crianças criadas por casais homossexuais, um dia negro há-de vir, na treva trágica da nossa existência corrente, em que se tomará consciência social, após a consolidação moral das notícias, mesmo que abafadas, como nos EUA, de abusos, de alienações, de distúrbios, de infelicidade, sofridos por essas crianças. Mas nessa altura, de pouco vale a razão que sentimos, alicerçada na herança social que recebemos e procuramos transmitir: o mal foi feito e o sofrimento causado. Por isso, continua, agora e sempre, a valer a afirmação dos valores em que acreditamos, sem medo, nem trégua.

A proposta da direção de Passos Coelho era propositadamente inconstitucional - . Não é crível que no Parlamento, úbere de juristas, não tivesse havido o cuidado de consultar constitucionalistas sobre o assunto e que se teimasse em incluir a adoção na proposta, mesmo depois dos alertas de que isso seria usado paara inviabilizar a proposta com o argumento da sua inconstitucionalidade.

Nada espero do Governo Passos. Pela resposta filtrada da intenção da atual direção do PSD ao Público, de 20-2-2014, se percebe que, apesar da peça teatral ainda ir durar mais um tempo, a intenção de Passos Coelho é deixar cair o referendo para o caixote do lixo, depois das eleições europeias, e abraçar brevemente a coadoção por casais homossexuais (e depois, da preparação mediática do eleitorado, a adoção), enquanto o CDS ex-democrata-cristão, de Paulo Portas, assobia relativistamente para o lado. Na verdade, com a exceção do tema da pedofilia que os socialistas menosprezaram, nos assuntos de costumes nada distingue a direção liberal de Passos Coelho do socialismo de Seguro («o charro é um prazer», cito de memória uma resposta em entrevista nos seus tempos de jota):

Etc., etc., que a bicicleta não pode parar sob pena de a ideologia liberal-socialista se estraçalhar no chão eleitoral do bom senso. Na democracia mitigada do relativismo politicamente correto, o povo só tem direito a votar aquilo em que houver a certeza serena de que concorda com a elite utópica e corrupta.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Congresso Extraordinário do PSD

Em 4 de dezembro de 2012 lancei a iniciativa, com um conjunto de patriotas, para um Congresso Extraordinário do PSD. Na ordem de trabalhos que propusémos para o evento constava expressamente a destituição dos órgãos diretivos do PSD (presidente, comissão política nacional e conselho nacional).

O pronunciamento que fizemos era a resposta à desilusão que sentimos face à manutenção do sistema socialista pelo Governo Passos Coelho que não cumprira o programa patriótico que o povo ansiava: não houve auditoria geral das contas públicas herdadas do socialismo, nem responsabilização judicial dos prevaricadores, nem limpeza do Estado do pessoal político dirigente socialista, nem avaliação judicial dos contratos das parcerias público-privadas.

Em poucos meses juntámos 403 assinaturas de militantes do partido, ainda distante das 2.500 necessárias para a realização do Congresso, mas um número bastante interessante. Até que a degradação da situação política obrigou a atual direção do PSD a convocar um congresso extraordinário, que vai realizar-se este fim de semana próximo, de 21 a 23 de fevereiro de 2014, com plesbiscito temporário da atual liderança. Agradecemos a cada um dos militantes que subscreveram a nossa iniciativa e nos demonstraram o seu apoio, que fortalece a vontade de mudança moral, política, social e económica do País.

Os motivos que constam do nosso pronunciamento continuam válidos. A mudança de política do Banco Central Europeu, consentida também pela liderança germânica da União Europeia (UE), preocupada com a possibilidade das forças anti-UE ganharam as eleições legislativas de maio de 2014, atenuou o custo dos juros da dívida que o Estado suporta. Por outro lado, continuou o esforço heróico de empresas, associações e cidadãos, para recuperarem da crise financeira e económica. Mas, abaixo da superfície mediática, o sistema político promíscuo mantém a degradação e a dependência do País. Por isso, a reforma dos partidos é indispensável para a libertação do Estado dos interesses que o amarram. Não existe viabilidade de luta fora dos partidos: é por dentro que podemos mudar.

O nosso objetivo de instauração de democracia direta no PSD - com eleições primárias para todo e qualquer cargo eletivo e candidatura a cargo político nacional, regional e local (escolha dos candidatos a autarcas e dos candidatos a deputados) abertas a militantes e simpatizantes; e maior consulta referendária do povo, maior responsabilização, maior transparência - e do estabelecimento de uma política patriótica de recuperação das famílias, da sociedade portuguesa e do Estado, permanece. Tal como dura a luta pela vitória de uma política patriótica para o Estado português, na qual trabalhamos sem medo, nem trégua.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Um tacho! Um tacho! O meu reino por um tacho!


«A horse! a horse! my kingdom for a horse!»

Já que a retoma do poder pelo PS não acontecerá a tempo de ir a eurocomissário, José Sócrates pressiona para ser eurodeputado.

Ferro - recém reformado in extremis antes da mudança das regras das pensões -, também. E Lurdes, porque tem a prestação da casa de luxo para pagar (mais as despesas legais do julgamento...). Além de Assis, disponível para o sacrifício ao modelo franciscano de vida em Estrasburgo e Bruxelas.

Entretanto, vitorioso na primária da AD sobre Vítor Gaspar, em julho de 2013, e ajustado desde então negócio com Passos, Portas saltará do Governo (e do CDS...) para comissário europeu.

Não interessam as instituições, não interessa, o povo não interessa a Pátria. A única coisa importante para a classe política atual é o dinheiro.


Atualização: este poste foi emendado às 23:43 de 17-2-2014.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Ihren Kampf

Chamaram-me a atenção para uma já antiga crónica de Filipe Luís, meu comunícipe, na revista Visão, de 5-10-2011, intitulado «O Quarto Reich - A guerra pode já ter começado», que se tornou objeto de discussão recente.

Filipe Luís refere uma novela de Adam Lebor, «O Protocolo Budapeste», surgido na versão original inglesa em 2009, no qual este narra um Quarto Reich, um império económico, à mistura com um novo genocídio cigano. O jornalista da Visão refere ainda a colaboração dos grandes capitalistas alemãs com o nazismo, nomeadamente a família Quandt, da BMW - mas também poderia mencionar Ferdinand Porsche -, que creio ter sido motivado principalmente pelo ganho financeiro, como é do seu ofício e caráter. Primeiro, os negócios.

Porém, a talhe da minha foice, convém não desclassificar a motivação imperial alemã, na política atual germânica de ditadura financeira imposta aos países da União Europeia, com especial impacto nos mais fracos, do sul. Não acredito na motivação indicada no artigo/livro de que o objetivo é a Alemanha «passar a controlar, por preços de saldo, empresas estatais estratégicas, através de privatizações forçadas». Não!

Como tenho insistido, julgo que sem qualquer acompanhamento na fundamentação, a motivação da nova Alemanha - como a da velha - é tornar-se o «Estado diretor» da Europa. Vale a verdade que o meu velho professor Adriano Moreira insistia há muito nesse perigo. Mas como a inteligentzia mediática nacional - a admitida... -, letrada na faculdade das ciências estranhas, nos isctes, nas faculdades jurídicas ou nas escolas de econometria, não estudou geopolítica, não sabe, nem cuida de saber. Com exceção dos militares, que mantiveram a aprendizagem da geopolítica, a maioria de esquerda, além da direita sistémica (ancorada no poder), desvaloriza a geografia e ignora a história, esquecendo os seus ciclos, e por crerem no homem novo, no «lendemain qui chante» (e de novo ressoa), em doutrinas que, cito de memória do livro de «Ciência Política» de Adriano Moreira a propósito dos Noveaux Philosophes que dizem «de novo coisas muito velhas» - e ultrapassadas, desprezam o acquis doutrinário como lixo para queimar na fogueira ideológica.

Aconselho, mais uma vez os leitores, favoráveis ou adversários, que prestem atenção à teoria de Friedrich Ratzel do Lebensraum («espaço vital») - ver, por exemplo, Woodruff D. Smith (1986), The Ideological Origins of Nazi Imperialism, Oxford University Press,  - e à doutrina de Karl Haushofer de que a Alemanha deveria ser o Estado diretor da Europa, a qual inspirou a ideia de Nova Ordem europeia subordinada ao nazismo. Creio que, com exceção dos militares e dos iscspianos, existe um desconhecimento quase completo do que Haushofer escreveu e de como a sua doutrina geopolítica foi fundamental para a política externa de Hitler, tal como os eugenistas (hoje, outra vez na moda, enfileirados na defesa do aborto) o foram relativamente à política de holocausto de «higiene racial» interna (e externa).

Tenho também acentuado o facto de que o estílo melífluo da chanceler Merkel neutraliza a desconfiança de domínio. Mais ainda, é uma perigosa ingenuidade a aceitação nos setores financeiros e económicos da liderança funcional alemã da Europa como útil para a disciplina financeira e para o bem estar dos europeus - menosprezando as vantagens aduaneiras e comerciais e de políticas económicas seletivas que essa supremacia proporciona às empresas alemãs.

Consciente, porém, de que a sua liderança funcional na União Europeia não lhe basta no embate político com outros blocos - veja-se o caso da suspensa associação da Ucrânia com a UE e a tenaz russa -, a Alemanha procede ao reequipamento militar, por enquanto a ritmo inferior ao sucedido a partir de 1933, e se propõe um «papel militar mais forte» e «política externa mais musculada». Como disse a nova ministra federal da Defesa, Ursula von der Leyen, em 31-1-2014, em Munique: «A Alemanha é forte na Europa, mas acima de tudo a Alemanha é forte por causa da Europa e da Nato». O que a Alemanha se apresta para fazer é aumentar também a sua capacidade militar dentro da União Europeia e da Nato, para que esse vetor acompanhe o poderio económico e financeiro já conseguido.

O domínio alemão da Europa não deve ser politicamente negligenciado.


* Imagem picada daqui.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

A miragem dos Mirós

Ainda sobre a polémica da venda dos quadros de Miró do BPN (na posse da Parvalorem do Estado), tiro o chapéu do meu avô, que gosto de usar nos trabalhos do campo, à ironia hermenêutica e talento pictórico de Bel'Miro (heterónimo artístico do próprio Vítor Cunha?) e ainda ao remake de «Der Untergang» (2004) pelo Guarda Abel Miro (quiçá outro heterónimo do notável bloguista do Blasfémias).

Porém, tendo dito o que disse - e mantenho -, concedo que está mal explicado o processo de venda das 85 obras de Miró em pacote e a sua saída do País. Algo para os jornalistas investigarem: onde estavam os quadros guardados, quem ordenou pessoalmente a sua saída, quem os transportou, quem escolheu a leiloeira, etc. É preciso conhecer para compreender.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Mário Soares e os jornalistas «comprados»



Vai atrasado, mas segue. Aqui não se deixa passar a ironia da amargura poética do Dr. Mário Soares, na sua crónica de 4-2-2013, contra o sistémico Diário de Notícias que abriga semanalmente a verve caduca dos seus comentários mal transcritos:

«Há bastante tempo percebi que alguns jornalistas estavam a ser comprados pelo Governo, direta ou indiretamente. Simplesmente mudaram de ideologia e de sentido para agradar a quem lhes pagava. Felizmente há ainda exceções. Honra lhes seja. Mas os jornalistas dos jornais, das revistas e das rádios e televisões têm uma terrível dificuldade. Para agradar a quem lhes paga, dizem o que muitas pessoas não querem ler, ouvir ou ver. E se o não fazem correm o risco de ser despedidos.»

Soares diz que percebeu tarde. Eu diria que o reconhece em má hora. O que fazer com os jornalistas já ele sabia há muito. Melhor do que o recuado golden Jaime Gama alegadamente recomendava, Soares não se limitava a comprá-los ou desprezá-los. Perseguia-os, segundo contou em tempos Joaquim Vieira (ele próprio uma vítima), por causa das tropelias de aqui e de além Macau. Tarde piou. E numa hora que já não é sua, de um tempo que o desprezou, alheado da construção desengonçada da imagem polida pelos média canhotos.

Um amigo meu contou-me que se tem deliciado a ler o novo DN, tão cavaquista (ou montezista...) agora, como socratino foi no passado, sistémico sempre. Um mudança total, despudoradamente praticada pelos mesmos que no passado, a outro soldo (uma nuance ácida do atual poder melífluo), soltavam cobras e lagartos contra o Presidente Cavaco Silva...

Soares queixa-se afinal de quê? Do poder financeiro ser outro, mediado por um inimigo e com origem numa fonte que nunca controlou por ter apostado em força errada. Num eterno retorno, dos homens que ascendem ao zénite solar com asas de cera e coração tão rijo quanto uma mó de moinho, Soares volta, então, ao ponto de partida de fama patética e de enjoo moral.


* Imagem picada daqui.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

O «acervo Miró» do BPN: os anéis e os dedos



As tentativas, entre as quais da própria Procuradoria-Geral da República (?), de bloquear a venda pelo Estado de quadros do pintor catalão Joan Miró, que o BPN de José Oliveira e Costa tinha comprado, para amortizar o prejuízo gigantesco de cerca de oito mil milhões de euros que a nacionalização do banco provocou, são um absurdo elitista desfazado da penúria do País profundo, aquém do fausto beira-rio dos golden visa. E tiveram êxito, gerando a dúvida nos potenciais compradores e na própria leiloeira Christie's que cancelou a venda. A perda para o Estado português, no curto-médio prazo é objetiva: dificilmente, as peças obterão mesmo número de interessados e os que arriscarem licitar, se o Governo não ceder aos socialistas, fá-lo-ão sempre por valores mais baixos.

Tem razão absoluta Helena Matos ao salientar a duplicidade socialista quanto, em julho de 2005, o I Governo Sócrates, consentiu na venda para o estrangeiro da coleção Champalimaud, que integrava pinturas de Canaletto, Guardi, etc. Veja-se a justificação do Ministério da Cultura, de Isabel Pires de Lima, através do Instituto Português de Museus, no Público, de 6-7-2005:
«A saída da colecção de Portugal foi autorizada pelo Instituto Português de Museus, com a justificação de que a sua exportação não podia ser evitada, uma vez que as peças são estrangeiras e foram compradas há menos de 50 anos.»
Eu prefiro as vedute dos venezianos da coleção Champalimaud, que o Estado deixou alienar. Mas mesmo dessas vistas - às quais já não podemos pôr localmente os olhos em cima, ricos anéis de dedos aflitos -, temos de abdicar em alturas de crise, como fizemos com grande parte das 865 toneladas do ouro que nos deixou o velhote...

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Uma Europa com dois sentidos

Uma União Europeia com dois sentidos não convém ao nosso País. Esta já não é uma União Europeia a «duas velocidades», um modelo desigual que o eixo franco-alemão admitiam em meados dos anos 80 e as políticas de coesão de Jacques Delors (socialista mas virtuoso) queriam congregar. É uma Europa com dois sentidos: porque uns países andam para a frente e outros andam para trás. 

Não se trata de orgulho nacional, sequer. Trata-se de dignidade: não é possível uma união estável entre quem sofre e quem despreza; entre quem obedece e quem manda.

Dir-se-á que o problema é o Estado Social(ista). Também digo. Mas não digo só isso... Também digo, porque é fundamental dizê-lo, que a atual geração dirigente alemã tem uma ambição geopolítica camuflada que é inaceitável para os outros, que não apenas os povos do sul da Europa. Não há uma razão ideológica, nem sequer de estabilidade financeira na política imposta aos demais. Há um motivo de supremacia e de domínio.

Que Europa unida é esta onde a reforma desce para os 63 anos na Alemanha e sobe acima dos 67 na Espanha?!... Não existem, também, riscos inflacionários nas políticas sociais douradas do novo govrno Merkel que deveriam ser evitadas em nome da prudência financeira?... A Alemanha impõe políticas aos outros países que não aplica para si?... Que soberano é este que, contra o sagrado princípio da Magna Carta, de 1215, não respeita a lei que ele própio emite?!... Dir-se-á que é a «ultima ratio regum» de Luís XIV - mas esta Alemanha de Merkel é uma anã militar que, no entanto, usa a sua moeda e a goela dos outros para conseguir o mesmo efeito tirânico.

Uma direção política alemã que consente taticamente, por causa das eleições europeias de maio de 2014 e da indignação francesa, a compra maciça de obrigações soberanas dos países mais pobres (com destaque para Grécia, Portugal e Espanha) temporariamente, até fixar de novo o garrote financeiro na garganta dos povos do sul. Uma adminsitração alemã que não consente a criação artificial de moeda, mas encorajou o desenvolvimento artificial da despesa nos outros países. Uma Alemanha que define uma política aduaneira ruinosa para os demais!...Um Alemanha que impõe uma política absurda de moeda forte, mesmo com países com taxas de desemprego persistentes de mais de um quarto da população ativa, como a Espanha e a Grécia?!...

Que líderes políticos tão débeis, intelectual e moralmente tão fracos, têm os países do sul (e os do norte!) que não denunciam publicamente esta segregação nacional, de tipo racial, e não provocam a mudança na União Europeia?...

Não se trata mais de uma fábula infantil de cigarra e formiga. A desigualdade atual entre os povos da União Europeia, motivada pela geopolítica de diretório alemão, tem um feixe de causas políticas identificadas: socialismo económico, moeda forte, alfândegas desiguais para as produções internas. Essas causas têm de ser corrigidas e a geopolítica germânica contrariada. De outro modo, a União Europeia não passa de união germânica inconveniente para Portugal.