quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Pirataria tranquila



Um belo dia, veremos. Um dia. Mais cedo que mais tarde. Veremos isto mudar, que já nos custa demais.

Piratização do Estado agora, após descarada corrupção de Estado do socratismo. Um modelo de governo do Estado a que chamo bancocracia (promiscuidade entre o poder político e banqueiros), que acomoda a corrupção e despreza os pobres, a quem vicia nos subsídios. Um socialismo refinado, de corrupção e abuso. Um dia, a Pátria volta e renasce das cinzas em que a queimaram. Volta.

Sobre o caso escandaloso de venda privada (não em OPV) da Tranquilidade Seguros ao fundo-abutre Apollo Global Management, veja-se o seguinte poste do Prof. Norberto Pires, de 26-8-2014, que transcrevo:
«TRANQUILAMENTE

A Tranquilidade vai ser vendida, de forma negociada em vez de ser no mercado, por pouco mais de 50 milhões de euros (ou até um pouco menos), os números variam nas notícias. Os compradores prometem injetar 150 milhões de euros na empresa. Lembram-se do "negócio" do material militar, etc., e das suas riquíssimas contrapartidas nunca realizadas?
O valor de referência ainda há algumas semanas era de 500 milhões de euros, e tinha sido dada como garantia de um empréstimo de 700 milhões de euros do BES sobre a EFSG. Olhando para as contas de 2013 da seguradora os números são bem superiores a isso, chegando quase aos 1200 milhões de euros de ativo líquido.


Contas da Tranquilidade: http://www.tranquilidade.pt/documents/10192/1447291/RC+TRANQ+2013.pdf/98353a45-aee4-4e7d-b632-ea830912d0aa

Contabilidade criativa? Mas está certificada e foi aprovada...
  • Link 1: http://economico.sapo.pt/noticias/valor-de-venda-da-tranquilidade-por-definir_200039.html
  • Link 2: http://expresso.sapo.pt/fundo-americano-apollo-compra-tranquilidade=f886704
  • Link 3: http://commerciallines.insurance-business-review.com/news/apollo-plans-to-acquire-portuguese-insurer-tranquilidade-for-200m-250814-4351531
  • Link 4: http://observador.pt/2014/08/22/novo-banco-vende-tranquilidade-por-50-milhoes-de-euros/
  • Link 5: http://doportugalprofundo.blogspot.pt/2014/08/ratos-abutres-e-milhoes.html»

Não há contabilidade criativa, nem promessas de milhões de empréstimos (entendidos como pagamentos!...), nem suposta entrega de dinheiro (ou garantias?) para assunção de responsabilidades de mais isto e de mais aquilo, que resistam a esta inequação: 700 milhões com dívidas é maior do que 48 milhões «sem dívida».

Insisto: ou a Tranquilidade não valia 700 milhões com que o Banco de Portugal a avaliou em março de 2014, e então foi negligente e prejudicou os clientes do BES que compraram obrigações do GES e se fiaram durantes estes meses em provisões sustentadas na garantia de um ativo que valia menos de 7% do valor que o BdP aceitou como garantia do GES ao BES (secretamente, já que os aforradores julgaram que se tratava de dinheiro, como o BdP lhes fez crer ...); ou então vale mais do que os 48 milhões que o fundo-abutre Apollo Global Management paga indiretamente ao Estado por ela, ainda por cima, sem dívidas passadas em responsabilidades que, entretanto, se conheçam.

Note-se que o negócio dos fundos-abutre envolve normalmente o risco de comprar ativos, assumindo as dívidas pendentes. Neste caso português, do modelo de piratização de Estado (com venda a pataco de grandes empresas), o Estado assume indiretamente as dívidas e as responsabilidades, e vende a empresa limpinha.

Não me espantaria que Ricardo Salgado, ou a família Espírito Santo, viesse a recomprar a Tranquilidade, mais tarde ou mais cedo, com comissão de prémio ao fundo Apollo por esta mediação. Seria uma ironia bancocrática sublime: o GES suga a Tranqulilidade e carrega-a de dívidas; o Estado paga as dívidas e assume as responsabilidades; e os Espírito Santo voltam a comprar a seguradora, limpa de dívidas, por tuta-e-meia... Não sei se é crime: mas compensa.

E já agora: que garantia tem o Estado, os empregados da Tranquilidade, e os próprios clientes que lhes confiaram os seus prémios de seguro, de que o fundo Apollo não se comporta como um abutre que é?!...

E, por mais que o Governo Passos Coelho queira tapar o abutre Apollo com a peneira da censura mediática (TVs, rádios e imprensa escrita) que hoje se verifica na prática em Portugal, e exista um completo silêncio sobre o facto enjoativo da compra da Traquilidade por 48 milhões de euros, a venda a pataco da Tranquilidade já começou a receber atenção internacional:
A ideia jótica de que, com tom melífulo e habitualismo, é possível enganar toda a gente o tempo todo  é apenas o produto de uma ingenuidade perigosa.


Limitação de responsabilidade (disclaimer): As entidades referidas nas notícias dos média, que comento, não são suspeitas ou arguidas do cometimento de qualquer ilegalidade ou irregularidade nestes casos, com excepção daqueles pelos quais estão indiciados. E mesmo quando arguidas gozam do direito à presunção de inocência até ao trânsito em julgado de eventual sentença condenatória.

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Intranquilidade

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sábado, 23 de agosto de 2014

Ratos, abutres e milhões

ABC (agosto de 2014). Estamos pior que a Grécia. Alto da Serra.


Pior. Para pior já basta assim - lamentamos abandonados o azar do azar. Em vez da sorte que a sorte tem. Nada, sem poder ser outra coisa. Não posso... 'Não posso' - ecoa-me. Em vez do direito à festa de um domingo. Mas podíamos... Podemos? Se ousássemos, se tivessemos a coragem de dizer sim. Se. E também. Um dia. Um dia, juntamo-nos. E somos. Até lá, sal e sangue.

Noticiou o Económico, ontem, 22-8-2014: «Apollo paga 220 milhões de euros pela Tranquilidade». O título e a notícia induzem em erro, ainda que, para lá da interpretação defeituosa, esta acabe por revelar os factos:
«A Apollo Global Management irá pagar pelo controlo da Tranquilidade cerca de 215 milhões de euros. O valor está inscrito no concurso que foi entretanto ganho pela ‘private equity', apurou o Diário Económico. Esta verba inclui o pagamento de 48 milhões de euros ao Novo Banco e a injecção de 150 milhões na Tranquilidade. O pagamento do restante valor está ainda a ser negociado entre a Apollo e o Novo Banco, apurou o Diário Económico.»
O Apollo Global Management é um dos principais fundos-abutre (vulture fund) norte-americano. O que faz um fundo-abutre? É um grupo de private equity (capital privado, não cotado em bolsa), de composição tendencialmente secreta do capital) especializado na compra de ativos de alto risco e na sua revenda rápida com lucro. Portanto, é de esperar que neste caso da Tranquilidade (e depois eventualmente o BES), o Apollo compra a empresa a pataco, com baixo envolvimento do seu capital próprio e com recurso maioritário ao crédito barato - Caixa Geral de Depósitos? - para financiar o cumprimento dos rácios de capital, saque os maiores lucros possíveis para pagar a dívida especialmente contraída, e venda com ganho assinalável logo que possa. Usa e deita fora numa receita dura de corte de despesas: rescisões com o pessoal, reduções salariais, subcontratação. Até que vende o resto por uma batelada final.

Seis questões adicionais sobre a notícia do Económico, de 22-8-2014 (ou a do i, de 23-8-2014) que parecem, aliás basear-se na mesma fonte (trabalho de uma agência de comunicação?:
  1. Afinal, a segunda seguradora não-vida do País e que tem 8,3% de quota de mercado, nem 50 milhões de euros vale, mas 48 milhões e «sem dívida»?... 
  2. Há um pagamento adicional de 150 milhões pelos abutres do Apollo Global Management como?!... Se o banco (Estado...) não recebe esse dinheiro!... 
  3. Um valor de 48 milhões (em venda privada em vez de OPV) por uma seguradora, a Tranquilidade, que, há cinco meses, o Banco de Portugal tinha aceite como penhor de provisões no valor de 700 milhões de euros? Provisões essas que afinal não servem, porque não permitiam sequer reembolsar todas as obrigações das holdings dos layers mais elevados do grupo Espírito Santo vendidas aos balcões do BES, muito menos usar os 700 milhões de uma provisão que afinal valeria 50 milhões?...
  4. E, das duas, uma: ou a Tranquilidade - com a sua faturação anual, a sua carteira de clientes, a organização, a expertise dos seus funcionários, o custo da formação que tiveram, o sistema informático, o imobilizado - e apesar do seu passivo, vale mais do que os 48 milhões de euros que o Apollo deu por ela agora; ou a Tranquilidade não valia os 700 milhões de euros que o Banco de Portugal aceitou como penhor das holdings do grupo ao BES para eventual reembolso do papel comercial!...
  5. Em qualquer caso, não parece ser verdadeira a notícia filtrada, em 25-3-2014, para o Expresso e outros jornais:
    «Banco de Portugal "obriga" o Espírito Santo Financial Grupo ( ESFG) a fazer uma provisão de 700 milhões de euros para garantir pagamento de papel comercial vendido aos balcões do BES».
    Pois, o Banco de Portugal aceitou um ativo como penhor que valeria, afinal cinco meses depois, apenas 14,9% (48 milhões / 700 milhões) do que pretendia provisionar. E que nem era fácil transformar em liquidez para reembolsar clientes se as holdings do grupo Espírito Santo não conseguissem remunerar as obrigações como não conseguiram.
  6. O BES bom (o Novo Banco) também vai ser vendido a pataco (e expurgado de dívidas e de responsabilidades financeiras), rapidamente, por negociação particular (e não em OPV) ao fundo-abutre Apollo, como experimenta o boato-balão do i, em 23-8-2014?


A responsabilidade do Banco de Portugal é iniludível, neste caso, com destaque para o governador Carlos Costa e os demais administradores, bem como para a CMVM, com realce para o seu Conselho Diretivo. Depois, a hesitação do Governo, do Banco de Portugal, da CMVM, e da própria administração do novo BES (do banco mau nada se sabe). O paga-não-paga as obrigações subordinadas, a transferência de ativos entre banco bom e banco mau e volta, é mau demais para ser mentira. E agora as revelações do CM, em 23-8-2014, de que, alegadamente, administradores do Banco de Portugal têm investimentos no BES em obrigações (Silveira Godinho, com meio milhão de euros) e depósitos (Duarte Neves, com o pelouro da supervisão, com 132 mil euros em depósitos) - o que, por si só, não significa

Mas não há assunção de responsabilidade pela administração do Banco de Portugal, pelo Conselho Diretivo da CMVM, pela ministra das Finanças, pelo primeiro-ministro. Dá até a impressão que os  administradores e os funcionários do Banco de Portugal e da CMVM, são muito bem pagos e com amplos benefícios marginais, e mesmo assim poupados aos cortes salariais que atingiram os demais portugueses - como censurou em 21-5-2014, na Sic-Notícias, Pedro Ferraz da Costa -, pelo poder bancocrático para que sejam mais lenientes na supervisão dos bancos privados...

É difícil crer que funcionários recrutados com tão excelentes qualificações e experientes, e administradores veteranos, não vejam, não oiçam, não saibam, e depois da indignação do País inteiro pelo seu falhanço no caso BPN (e BPP), voltem, mais de cinco anos depois, a não ver, não ouvir, não saber, das manigâncias e do iminente colapso de outro banco, neste caso dez vezes maior a nível nacional, fora a sua expressão internacional. Porque se os funcionários viram, ouviram e sabiam, e reportaram por escrito o que apuraram aos dirigentes e esses factos, se de relevo penal, não foram imediatamente comunicados ao Ministério Público e tomadas as providências eficazes para evitar o desastre, devem difundir essa informação para que seja sancionado quem negligenciou ou abafou o caso.


Limitação de responsabilidade (disclaimer): As entidades referidas nas notícias dos média, que comento, não são suspeitas ou arguidas do cometimento de qualquer ilegalidade ou irregularidade nestes casos, com excepção daqueles pelos quais estão indiciados. E mesmo quando arguidas gozam do direito à presunção de inocência até ao trânsito em julgado de eventual sentença condenatória.

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Nacionalização do BES e piratização de Estado - o caso Tranquilidade


ABC (agosto de 2014). Me ligá vai. Nadadouro.


A alienação particular (e não em operação pública de venda, em bolsa) ao Apollo Global Management por 50 milhões de euros da Companhia de Seguros Tranquilidade, mesmo considerando o seu passivo e as habituais promessas de injeção de capital, insere-se naquilo que designei o paradigma de piratização do Estado (venda a pataco de grandes empresas e ativos valiosos, expurgadoss de dívidas e de responsabilidades financeiras), que tem sido praticado por este Governo, após o modelo de ubíqua e desavergonhada corrupção de Estado do socratismo. Venda a pataco, em negociação particular que prevejo venha a ser realizada também com o Novo Banco BES, tal como com CTT, Águas de Portugal, TAP.

Recordo que a Tranquilidade tinha sido entregue em penhor pela Espírito Santo Financial Group ao BES por 700 milhões de euros - um valor de avaliação que o Banco de Portugal aceitou... - como penhor das provisões ordenadas (em março de 2014?) pelo mesmo Banco de Portugal para reembolsar o montante de papel comercial das holdings do grupo vendido aos balcões do BES. Em 5 de junho de 2014, filtrou-se no Económico, que o grupo Espírito Santo previa vender a Tranquilidade por 500 milhões de euros. Aliás, também se sabe agora que o papel comercial vendido pelo BES era bastante superior aos 700 milhões de euros de provisões que o Banco de Portugal ordenou.


Limitação de responsabilidade (disclaimer): As entidades referidas nas notícias dos média, que comento, não são suspeitas ou arguidas do cometimento de qualquer ilegalidade ou irregularidade nestes casos, com excepção daqueles pelos quais estão indiciados. E mesmo quando arguidas gozam do direito à presunção de inocência até ao trânsito em julgado de eventual sentença condenatória.

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Desvinculação do PSD

Como sabem, tentei, juntamente com outros patriotas - até com a iniciativa sabotada do pedido de congresso extraordinário do partido para destituição da atual direção - reformar o PSD, em direção à democracia direta, com eleições primárias para candidatos a qualquer cargo do Estado ou autarquias e maior consulta do povo através de referendos, e recuperar o Estado a partir dessa mudança. Falhei.

Depois de refletir muito, concluo que essas mudanças não são possíveis, até porque a atual direção da União Europeia segura quem execute a política bancocrática que também defende.

Resta-me a desvinculação. E o consolo de não ter solicitado, não ter obtido, não ter querido, qualquer benefício da pertença ao PSD: não tive qualquer cargo no partido, no Estado ou nas autarquias, nem nunca me vali do partido ou recebi dele qualquer benesse ou apoio, mesmo durante os anos mais duros do enfrentamento político-judicial da denúncia do horror do abuso sexual de crianças da Casa Pia ou do percurso académico rocambolesco, e domínio antidemocrático do País, pelo primeiro-ministro Sócrates. Nem, por causa dessa adesão ideológica, deixei de dizer o que pensava, de acordo com a minha consciência.

No atual quadro decadente da democracia representativa, e com o controlo dos média tradicionais pelo sistema podre, também não creio  ser viável a criação, e o sucesso, de um novo partido, muito menos aderir a outro. Mais: no atual sistema, os partidos políticos que concorrem pelo poder tendem a ser organizações criminosas dedicadas à corrupção, com banqueiros e interesses económicos, e dominadas por caciques nacionais, setoriais e locais, servindo interesses próprios dos dirigentes e não o povo.

Continuarei a luta patriótica constante com o mesmo empenho e seguindo os mesmos princípios morais da doutrina social da Igreja, que sempre defendi.

Abaixo vos transcrevo a carta justificativa que enviei ao secretário-geral do PSD com o meu cartão.



Partido Social Democrata (PSD)
Rua de São Caetano, 9
1249-087 Lisboa
18-8-2014
Exmo. Senhor
Secretário-Geral do Partido Social Democrata (PSD)

Eu, António Manuel Balbino Caldeira, tenho a honra de me desvincular do Partido Social Democrata (PSD). Junto remeto o meu cartão de militante n.º 66767.

Lutei pela mudança e concluo que ela não é possível. Por duas razões: interna e externa.

Não creio que haja uma vontade patriótica dominante no PSD que determine o corte do partido com a bancocracia (a promiscuidade política com os banqueiros), que acabe com a sujeição a interesses estrangeiros, que promova uma racionalização do Estado social(ista) que garanta a solvabilidade do país, o bem estar das famílias e a segurança do povo, e que motive uma alteração das leis penais para resolver o nó górdio da corrupção de Estado.

Não acredito na possibilidade de reforma do PSD que estabelecesse eleições primárias livres para a escolha dos candidatos a cargos eletivos no Estado e nas autarquias, bem como para as estruturas nacionais, regionais e locai, do partido, bem como maior consulta do povo, e assim regenerasse o sistema político.

Por isso, saio do PSD. Não posso estar associado a algo que é moralmente insuportável e que julgo irreformável.

Continuarei o bom combate pela Pátria, de acordo com os princípios ideológicos e políticos que sempre segui.

Com os melhores cumprimentos,

António Manuel Balbino Caldeira

À espera dos bárbaros


«Dentro do Senado, porque tanta inação?
Se não estão legislando, que fazem lá dentro os senadores?
É que os Bárbaros chegam hoje.
Que leis haviam de fazer agora os senadores?
Os Bárbaros, quando vierem ditarão as leis.»
Constantino Cavafis (1904). À espera dos bárbaros (Περιμένοντας τους Bαρβάρους). Tradução de Jorge de Sena, a partir do inglês.



Por medo. Por aversão ao risco. Por conforto. Por cansaço. Por falta de fé. Não estamos em nós, que nos julgamos com outra força. Mas ainda não somos o Outro. E só quando somos o Outro, estamos disponíveis para o sacrifício da entrega. Com tudo o que a entrega implica. A morte, para renascer. Ou a Vida.

Os bárbaros - outros bárbaros, mais bárbaros que os originais -, os sunitas radicais do Estado Islâmico do Iraque e da Síria (EIIS) estão a tomar a Sìria e o Iraque.

O presidente norte-americano Barack Obama, que chamou as legiões de volta para manter a fama de pacifista e de acordo com o estado de espírito atual da sociedade norte-americana, cansada da guerra (com exceção do Sul e Midwest), tal como se conforma com o expansionismo russo, devolveu o Iraque aos fundamentalistas sunitas e chiitas, apoiando agora, num ato de desistência do projeto do Iraque uno, a criação de um enclave curdo.

Os europeus de matriz católica amoleceram na alienação instrospetiva na preguiça e deixaram-se cercar no beco da ânsia de conforto material. Como se o conforto material constituísse a felicidade. Abandonando Deus pelo bezerro de ouro. Deixando o trabalho pela inveja e o esforço pela dependência do Estado. Consentindo, por isso, a bancocracia que os explora e solta umas esmolas pelos que considera miseráveis. E ignorando os gritos dos outros. Portanto, nem boots on the ground, nem sequer ataques aéreos. O pavor da reação islâmica é que os tolhe. Entregues à matéria e ao corpo, como se fosse possível dispensar o Espírito. Por isso, não têm a mínima vontade de lutar. Já os cristãos ortodoxos estão envolvidos a norte no delírio putínico de um novo império russo e a sul, nos Balcãs, ainda a recuperar da guerra fratricida.

O Islão, que nunca avançou senão por conquista, pretende alargar as suas «fronteiras sangrentas», depois de mais uma tentativa de criar a Umma, a comunidade dos crentes, unidade dos países islâmicos, desta vez a partir de um novo califado do Iraque e da Síria.

O horror das cabeças decepadas e as mulheres raptadas para a escravidão sexual, de Mossul e de outras cidades e aldeias do Iraque e da Síria, o martírio de cristãos que recusam converter-se ao Islão mesmo em face da alternativa da morte, deveriam levar o Norte do Mundo a outra solidariedade com irmãos de fé, ou pelo menos, à humanidade de defender a vida de inocentes, qualquer que seja a sua crença. A ideia de que a guerra acontece lá longe, o racismo cómodo de achar que os mortos têm uma cor diferente e por isso desprezível, é de uma ingenuidade atroz: a criação de um santuário islâmico radical leva inevitavelmente, como se provou nos tempos do presidente Clinton, à condução de ataques terroristas na Europa e nos EUA. E quando os sunitas radicais conseguirem a unidade política em torno de Meca, virão novamente cercar Viena. Na verdade, já começamos a estar cercados e dentro de portas.

Chega de ilusão e negligência moral: o Islamismo é uma doutrina religiosa que defende o belicismo político contra os crentes de outras religiões e os pagãos, a quem despreza. Ao contrário da proposta cristã de não haver «judeu nem grego», os não-crentes não são livres, não têm os mesmo direitos, são uma espécie de escravos. O Islão nunca teve um Novo Testamento, mesmo se «O Corão» data de 632 d.C., parecendo nalgumas partes inspirado em passagens da Bíblia, e pudesse, portanto, propor uma fé mais caridosa. Ao contrário, o que o Islão sofreu foi um endurecimento da doutrina, para uma interpretação literal dos versículos e com a consagração dos Ditos (Hadith) que recrudescem o radicalismo da conduta e o combate aos infiéis.

A ideia do socialismo setentrional e ocidental de que há um Islão bom, suave e pacífico, respeitador das outras crenças e da liberdade individual, paradoxalmente representado pela própria corrente vaabita da Arábia Saudita, do Catar, dos emirados e do islamismo combatente nos teatros de operações do Médio Oriente, é uma ilusão de políticos ocidentais irresponsáveis e traidores dos seus povos, culpados por negligência da razia e limpeza étnica dos cristãos desde os anos 1950 no Líbano, no Egito, na Síria, no Iraque e noutros países onde residiam minorias seguidoras da fé de Cristo e de outras crenças.

Não se trata de promover uma nova cruzada de conquista dos Lugares Santos, mas de proteger a vida de seres que são irmãos, que são humanos! E queira-se, ou não, só a guerra, que neste caso é justa, permite a proteção e a segurança possível das populações que hoje estão a ser massacradas. Mesmo que o contexto mediático ocidental, motivado pela esquerda, censure na Europa e nos EUA os cristãos e aplauda a desumanidade do tratamento das mulheres e o terrorismo islâmico de Gaza. Usando os média ocidentais para a propaganda da rendição e do abandono e da comparação com o nazismo (!...) de Israel, que atacou o Hamas para desorganizar o lançamento de mísseis e destruir os túneis de infiltração de terroristas e de armamento.

A principal reforma que os povos setentrionais e ocidentais precisam de fazer é a recuperação moral. Depois dela é que vem a recuperação política, e a seguir a económica e por fim a financeira. As prioridades foram alteradas pela bancocracia corrupta. Mas, no limite do precipício, fomos nós que abdicamos da fé e da luta, e, cobardes, nos deixámos morrer perante os bárbaros externos e os corruptos internos.

Não aqui, neste rincão do Portugal, que é profundo. Não aqui.

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

A ilusão e a verdade



Nua. E crua. A verdade prevalece. Pode demorar - o tempo de várias vidas numa. Mas vem acima. Supera todas as ilusões.

Nem sempre temos logo o que a nossa urgência deseja. Por vezes, até se verifica o contrário. Todavia, em qualquer caso, creio que o problema não é uma conjunção, mas um advérbio: não é 'se', mas 'quando'.

Claro que a conjunção é necessária, ainda mais, se alguns acreditam, com as estrelas, mas entre pessoas de bem, o que é necessário, e tem importância indeclinável, faz-se e acontece. Mesmo que, por vezes, seja necessária a ignição da energia. Para que seja desencadeada a ação decisiva.

De quando em quando, se, e só se, nesta Pátria desencaminhada, o princípio moral existe, somos, apesar de todas as condições adversas, surpreendidos pela coragem. Como a peça de 31-7-2014, na revista Sábado, «Sócrates é suspeito no caso Monte Branco», que comentei neste blogue, nesse dia. O jornalista António José Vilela fez um trabalho notabilíssimo. À distância, não creio que se tenha tratado de uma casca de banana jogada, como soe, pela canalha - para lançar confusão e permitir mais uma farsa televisiva do  prévio desmentido-que-não-desmente, uma cortina de fumo denso. Mas da notícia desassombrosa de que, com base em indícios correlacionados, foi extraída uma certidão do processo Monte Branco e de que foi aberto um inquérito autónomo sobre factos de relevo que, em função das diligências realizadas (e que a revista revelou), se crêem gravíssimos. Uma faúlha. Aguardemos. O rastilho avança...


Atualização: Este poste foi polido às 23:57 de 13-8-2014.


Limitação de responsabilidade (disclaimer): As entidades referidas nas notícias dos média, que comento, não são suspeitas ou arguidas do cometimento de qualquer ilegalidade ou irregularidade nestes casos, com excepção daqueles pelos quais estão indiciados. E mesmo quando arguidas gozam do direito à presunção de inocência até ao trânsito em julgado de eventual sentença condenatória.

terça-feira, 12 de agosto de 2014

O tempo não conta

«New days,
New ways».

Henry van Dyke (1904). Music and other poems. (Inscription for) Katrina Sun-Dial.

Time is not. Basta crer, que é poder. Um dia, mais cedo do que se pensa, as coisas mudam. Até lá, espera-se a Pátria. Que retorne do sono dos injustos. Que ressinta a verdade. Que largue a ilusão do conforto. Que se reaproxime do sonho. 

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

O resgate do BES



Vivemos numa distopia, ao modo de «Blade Runner», de Ridley Scott. Portamo-nos como robôs, resignados com a nossa condição inferior. Mas só porque consentimos é que a bancocracia vigora. A bancocracia nem sequer é liberal - é antiliberal - muito menos da doutrina social da Igreja ou conservadora; e não há motivo nenhum para que a direita portuguesa ou a europeia se conformem com este jugo, que oprime os cidadãos, as empresas e as instituições.

O resgate do Banco Espírito Santo (BES) pelo Estado, comunicado pelo governador do Banco de Portugal (BdP) Carlos Costa em 3-8-2014, suscita quinze comentários:
  1. O resgate do BES, ainda que com banco bome banco mau, foi realizado de modo diferente do que se temia, ao procurar responsabilizar o sistema financeiro (bancos e financeiras) pelo colapso de um banco. Mas essa responsabilidade é supletiva: o Fundo de Resolução (financiado por impostos sobre os bancos é propriedade do Estado, ainda que exista para socorrer os bancos; quem manda é o Estado (Banco de Portugal); e o dinheiro é do Estado, ainda que do envelope emprestado pela União Europeia/FMI. Portanto, a diferença do valor de venda do novo BES (Novo Banco), limpo de dívidas extraordinárias, para os 4,9 mil milhões de euros (ou 3,9 mil milhões como se filtrou em 7-8-2014), terá de ser suportado pelos contribuintes, até que, ao fim de décadas, a contribuição para o dito Fundo de Resolução consiga amortizar a dívida que ficará pendente.
  2. Além dessa diferença entre os 4,9 mil milhões de injeção financeira do Estado no BES, resta saber o valor das indemnizações que serão determinadas a médio e longo prazo prazo para pagar a acionistas e obrigacionistas do BES (e até do GES).
  3. É um sofisma dizer, como a ministra das Finanças disse na SIC, em 3-8-2014, à noite, que o empréstimo que o Novo Banco vai pagar, 2,95% - ao valor que o Estado paga à UE/FMI - não tem risco. Ou os professores de Finanças do País e do estrangeiro têm de começar a ensinar diferente...
  4. Há ainda a dívida do Novo Banco (novo BES...) ao Banco Central Europeu no recurso à liquidez necessária para cobrir os levantamentos maciços, antes da intervenção estatal e mesmo depois. É difícil que os 4,9 mil milhões cheguem para tal, ao mesmo tempo que têm de manter-se como folga para cumprir os critérios de solvência do BCE.
  5. A manigância financeira, que provocou o colapso do BES/GES foi feita pela administração da parte da família Espírito Santo envolvida no banco e no grupo. 
  6. Mas só um tolo acredita que o Governo e o Banco de Portugal não sabiam, há muito, da situação financeira do BES e do GES (Grupo Espírito Santo), cujo rebentamento adiaram para depois do louvado final do programa de resgate financeiro do país, em maio de 2014. Ainda que não a soubessem em detalhe. Aliás, no domingo, 3-8-2014, no seu comunicado, o governador Carlos Costa admitiu que o BdP identificou «a ponta do problema» em «setembro de 2013»... Porque nnão comunicou Carlos Costa ao Ministério Público esses factos?!... E porque ainda não se demitiu, já que, depois do escândalo do falhanço no BPN, aconteceu a mesma negligência na supervisão?.. Se a investigação tivesse acesso aos dados telefónicos dos protagonistas iria certamente encontrar vários telefonemas semanais entre eles, fora encontros privados...
  7. Os acionistas parecem ter sido propositadamente enganados pelo Governo, pelo Banco de Portugal e pela CMVM, que fizeram declarações e atos que levaram os acionistas a crer que o banco estava sólido e por isso até acorreram ao aumento de capital. A mentira de Estado, ou a mentira das autoridades financeiras, é sempre uma mentira e nunca é justificável.
  8. Pelo menos a PT parece ter sido avisada de que esta intervenção no Estado ia suceder porque arrancou de lá os vultuosos depósitos que tinha (128 milhões de euros). Nos EUA não seria difícil investigar, se houve ou não, a inside information - em Portugal acha que a legislação, e a prática investigativa, não tornam isso viável. Além disso, falta legislação que puna procedimentos financeiros e de gestão lesivos dos acionistas, dos investidores, dos depositantes e do interesse público. E quando existe na lei o crime, a pena pode consistir não em prisão efetiva, mas em pena suspensa ou multa!...
  9. O reposicionamento é das tarefas de marketing mais difíceis: o cliente atual ou potencial lembra-se quese sempre da antiga marca, mais ainda quando eloa tem elevada notoriedade. Portanto, não é de uma para o outro que o público esquece as notícias e os clientes ignoram que o funcionário X ou Y lhe vendeu de títulos que agora nada valem. O êxodo silencioso dos depósitos e obrigações seniores dos clientes do BES (transferência para a CGD de cerca de duzentos milhões de euros, na segunda-feira, 4-8-2014, o dia seguinte à intervenção do Estado no BES) é um sinal disso, por mais histórias da carochinha que as autoridades financeiras e o Governo, mais a imprensa assalariada, nos contem.
  10. O caso do administrador financeiro do BES, João Moreira Rato, que veio do IGCP, denunciado no Wall Street Journal, de 4-8-2014,  é um exemplo do que o Novo BES tem de se livrar. Como é evidente não pode estar no Banco Novo quem andou mancomunado com a família Espírita Santo em operações do GES. João Moreira Rato deve demitir-se, ou ser demitido por Vítor Bento se não o fizer. De outra forma, o Novo Banco não se livra do pecado original, até na sua cúpula. Esta notícia, mais a ameaça de Paulo Baldaia, no DN, de 3-8-2014, parece ter sido um cheirinho apenas do que Ricardo Salgado pode fazer ao regime...
  11. Dificilmente acredito que o Governo, e até o Banco de Portugal, não soubessem da compra de cerca de 900 milhões de euros pela PT de obrigações do GES, já em período de pré-falência, que hoje, pouco ou nada valem. Tal como no caso do empréstimo do BdP de 100 milhões de euros à Rio Forte do GES, em maio de 2014, nas vésperas do aumento de capital do BES, não se crê que o BdP, e o Governo, não soubessem já da dimensão terrível das manigâncias financeiras do GES.
  12. Vários dos protagonistas desta história de descalabro financeiro não eram independentes de Ricardo Salgado, apelidado anonimamente de DDT (Dono Disto Tudo), ou de outros membros da famílai Espírito Santo envolvidos no BES e no GES. O GES/BES, e especialmente Ricardo Salgado, parece ter apadrinhado os partidos e fações no poder deste Governo PSD-CDS - tal como havia feito ainda de forma mais repugnante  com os governos Sócrates. A independência da ação das pessoas pode ser completa, mas não podem ignorar-se as circunstâncias, como o caso da ministra Maria Luís, cujo marido, António Albuquerque, que saíu do diário Económico da Ongoing, uma operação pessoal de Ricardo Salgado) no final de 2012, foi trabalhar poucos meses depois como consultor (!) para a EDP, do ricardino Mexia, que havia sido privatizada pela ministra uma consultoria que foi rescindida em 3-7-2014, na sequência da notícia da revista Visão. Vale sempre a máxima romana de que não seja verdade ou seja, também tem de não parecer. Mais ainda, a suavidade do governador, da ministra e do primeiro-ministro, que além da retórica, não consta que tenham passado aos atos, nomedamente queixas ao Ministério Público, contra Ricardo Salgado ou outros membros da família.
  13. Por fim, soubemos que embora possa acrescentar cerca de 2% ao défice do Estado em 2014, a injeção de capital de 4,9 mil milhões de euros do Fundo de Resolução no BES, tem apenas, segundo a ministra das Finanças disse em 4-8-2014, na SIC, «um impacto estatístico» (!...) e para efeitos das metas das con tas públicas que o Governo está obrigado face à União Europeia, «não conta»...
  14. A queda abrupta das ações da banca esta semana e muito especialmente do BCP, outro banco em dificuldades, é uma consequência da decisão governamental e da União Europeia dos dois bancos - um banco mau e um banco bom - de que os acionistas, do grande ao pequeno, ficam no banco mau, mas sem o património do banco anterior. Para além de o cheiro a sangue do sistema financeiro português ter atraído os tubarões shorters que parecem apostar noutro resgate...
  15. Finalmente, nesta bancocracia vergonhosa (de promiscuidade entre banqueiros e políticos) que esfola particulares, empresas e instituições em nome da diabólica prioridade aos bancos, verifica-se uma prova dos nove em que os bancos privados são resgatados, os seus prejuízos suportados pelos contribuintes (em custo e risco), mas para as famílias o resto é zero. Assim, o Estado não resgata a família que fica sem casa por não conseguir pagar a prestação, nem as empresas de todos os setores menos o bancário cujos dirigentes arriscam prisão se criarem uma Empresa Boa para a qual transfiram o património e deixarem na Empresa Má as dívidas e ónus. E, ao contrário da injeção de capital público no novo BES que «não conta» para as contas, os salários da função pública e as prestações sociais, esses contam para o défice e tem de ser reduzidos...

Dia a dia, vamos conhecendo o outro lado da lua, escondido prudentemente atrás da barragem mediática de louvor e de desculpa do Banco de Portugal e do Governo (até tu, José Gomes Ferreira?!...). Mas também não embarcamos nos contos das fadas dos padrinhos.


Limitação de responsabilidade (disclaimer): As entidades referidas nas notícias dos média, que comento, não são suspeitas ou arguidas do cometimento de qualquer ilegalidade ou irregularidade nestes casos, com excepção daqueles pelos quais estão indiciados. E mesmo quando arguidas gozam do direito à presunção de inocência até ao trânsito em julgado de eventual sentença condenatória.

domingo, 3 de agosto de 2014

BES, bancocracia e ruína do País

(Atualizado com um pós-texto às 18:52 de 3-8-2014)


A bancocracia (promiscuidade entre o poder político e os bancos) continua e ameaça arruinar o País. Apesar da nomeação de uma nova equipa dirigente, o Banco Espírito Santo (BES) não parou de afundar a sua reputação no pântano das manigâncias da anterior administração e na voragem das dívidas (3,5 mil milhões de euros no primeiro semestre de 2014). As ações do banco caíram brutalmente na última semana ee fecharam a 12 cêntimos em 1-8-2014, sendo suspensa sine die a sua cotação. O principal capital de um banco é a sua reputação: sem ela, nada vale. E o BES perdeu a reputação.

O primeiro-ministro Passos Coelho declarou, em 1-8-2014, na Manta Rota, onde iniciou as férias:
«A estabilidade financeira é muito importante para a nossa economia e para o emprego, e não deixaremos de tomar todas as medidas que forem necessárias para garantir essa estabilidade». 
Em contraste com o que havia dito em 12-7-2014:
«As empresas que olham mais aos amigos do que à competência pagam um preço por isso, mas esse preço não pode ser imposto à sociedade como um todo e muito menos aos contribuintes.»
Em  vinte dias, Passos passa da recusa da intervenção estatal no banco (e antes no grupo GES) à admissão dessa intervenção, cuja responsabilidade atira para o Banco de Portugal. O sinal é muito preocupante para o que se informará o povo logo mais. Passos Coelho jamais terá o perdão do povo português se decidir a nacionalização de um banco falido como o BES e comprometer no banco recursos financeiros que o País não tem condição de pagar. Na prática, um segundo resgate, qualquer que seja a forma e a justificação que apresente. E como no BPN com a SLN, o GES acabará a chupar o sangue do BES, por mais que nos enganem que não. Porém, é do povo humilde que o Governo e o silencioso Presidente da República têm de cuidar: não é dos ricos entalados nos investimentos no BES/GES. Se enfiar o Estado na miséria do BES, Passos poderá responsabilizar Sócrates como o pai da ruína do País, mas será reconhecido como seu filho pelo povo indignado. A sua decisão de nacionalização dos prejuízos do falido BES corresponderá ao seu suicídio político, desbaratando o capital de responsabilidade que tinha arrecadado.

Aliás, não pode ignorar-se o péssimo sinal dado ao povo pelo Governo PSD-CDS, assumido pela ministra Paula Teixeira da Cruz (uma enorme desilusão!) de nomear, neste preciso momento de comoção nacional (31-7-2014), um segundo juiz para o Tribunal Central de Instrução Criminal, para dividir a função com o heróico dr. Carlos Alexandre. A impressão que dá ao povo é de que também o Governo teme as consequências do trinado dos passarões engaiolados ou por engaiolar.

Em contraponto, o líder do partido Socialista, António José Seguro afirmou em 1-8-2014:
«[O BES] não pode transformar-se num novo BPN. Isso tem de ficar muito claro porque é altura dos privados, em particular dos acionistas, assumirem as responsabilidades da sua decisão. Não se pode pedir aos contribuintes portugueses que assumam responsabilidades de más decisões ou alegadas irregularidades.»
É de louvar esta posição de Seguro que, como era de esperar, contrasta com o silêncio socratino do seu adversário António Costa, há muito comprometido com a família Espírito Santo.

Ao nível internacional, na Bloomberg, Mark Gilbert, também defendeu, em 1-8-2014, que não se deve beneficiar o infrator e recomenda um «desmantelamento organizadodo do grupo».

Entretanto, em 2-7-2014, na SIC, Marques Mendes, na pele de porta-voz oficioso do Governo, anuncia para domingo à noite, uma intervenção confusa do Estado no banco, com nacionalização parcial (quem fica de fora?), injeção de capital («4 a 5 mil milhões de euros» - no Zero Hedge, em 31-7-2014, calculavam as necessidades de capital em 7 mil milhões de euros!...) e a criação de um banco mau para onde transita o lixo (ativos tóxicos), sendo o BES (o banco bom!?...) revendido em bolsa no prazo de seis meses. E justifica que o Governo contará com a linha de financiamento de 6,4 mil milhões de euros, do pacote do empréstimo da EU/FMI para esse fim.

Se assim for, por mais disfarçada que seja a nacionalização, estamos perante um processo semelhante ao do BPN. Sabe-se como começa - com o Governo a prometer que não custa nada  - e sabe-se como termina - com a descoberta de dívidas sobre dívidas e a assunção pelo tesouro público de tudo e de mais algumas promissórias. Se a nacionalização do BPN, que representava cerca de 2% do sistema bancário nacional, custou ao Estado português 8 mil milhões de euros, ainda nos arriscamos a que a nacionalização, dita «parcial» (não se prevê que os privados lá ponham dinheiro deles...) do BES  (cerca de 20% do sistema bancário nacional), possa ascender a dez vezes mais, à bagatela bancocrática de 80 mil milhões de euros (em linha de grandeza com os 52 mil milhões gastos pelo Estado irlandês no Anglo Irish), quando se fizerem as contas daqui por quatro anos. E então assistaremos, ainda resignados, à venda do BES, limpinho da silva, o banco bom (?), por uma insignificância proporcional à cedência do BPN à elite angolana (40 milhões de euros) - as agências, o equipamento, a formação que o pessoal tem, o sistema informático e a carteira de clientes sem valer nada... -, num paradigma de piratização do Estado (venda a pataco de ativos valiosos, depois de expurgados de dívidas) que se tem seguido ao modelo de corrupção brutal do Governo anterior.

A nacionalização e o empréstimo pelo Estado de dinheiro ao BES para pagar aos acionistas e aos grandes investidores que compraram títulos especulativos do BES/GES, implica na prática, insisto, um segundo resgate financeiro a Portugal, fazendo os pobres do País pagar os prejuízos dos grandes ricaços, e fazendo perigar a independência nacional. Será o povo português a pagar a ajuda ao BES, tal como foi o povo irlandês a suportar na pele a ajuda ao Anglo Irish Bank.  Com um mercado depauperado e uma economia rastejante, não há condições para, até no longo prazo, os bancos falidos portugueses gerarem lucros que permitam pagar empréstimos volumosos, desproporcionados face à sua situação financeira e à sua dimensão comercial. Terá de ser o povo a pagar mensalmente, através de pacotes consecutivos de austeridade desigual, a amortização e os juros (mesmo que diferidos) da dívida que os políticos, por ação e omissão, desavergonhadamente contraiem, devido à bancocrática promiscuidade com os banqueiros. Se já andávamos de tanga, vamos ficar de fio dental, batendo o queixo de frio neste verão inverniço.

Ora, a solução deste caso, em minha opinião, devia ser (veja-se também o meu poste de 29-7-2014):
  1. A nomeação de uma administração judicial (pode ser a equipa de Vítor Bento), que funcionará como comissão liquidatária do BES/GES, pagando aos credores (além dos 100 mil euros que o Estado deve cobrir) conforme a lei estipula e só depois do apuramento de todas as dívidas e imparidades. As empresas do grupo GES também deverão ser liquidadas e vendidas à melhor oferta, que garanta viabilidade e emprego.
  2. O Estado apenas assumir perante os depositantes do BES apenas o que a lei estipula: cobrir os depósitos até 100 mil euros. 
  3. Nem um chavo ser injetado pelo Estado, em empréstimo ou particpação acionista, para cobrir o buraco no BES. 
  4. Nem um cêntimo ser entregue pelo Estado para cobrir as dívidas das demais empresas do Grupo Espírito Santo, para que não aconteça o mesmo que na SLN, que continuou a sugar a teta do Estado/CGD após a ruinosa nacionalização do BPN (oito mil milhões de euros para cobrir aplicações financeiras arriscadas, depósitos vultuosos e as participações dos acionistas, mais os créditos e os negócios feitos depois da nacionalização).
  5. O Estado não pagar aos acionistas e investidores em papel comercial da ESI, ESFG, Rio Forte e tutti quanti. Para os subscritores de papel comercial aos balcões do BES em Portugal - que o Banco de Portugal (BdP) deveria ter impedido - basta a provisão que o BdP obrigou o BES, posteriormente, a fazer.
A solução judicial é muito mais barata para o Estado, mesmo com o pagamento de subsídios de desemprego. E o pessoal acabará por se reciclar noutras instituições. Em qualquer caso, não pode arriscar-se um segundo resgate financeiro do País por causa de assegurar o emprego dos funcionários de uma empresa, sequer de um grupo.

Finalmente,  e com base no próprio comunicado do Banco de Portugal no dia 30-7-2014, que informa de indícios novos da «prática de atos de gestão gravemente prejudiciais para os interesses do BES e um claro incumprimento das determinações emitidas» pelo próprio Banco de Portugal, deve ser detido preventivamente - com pedido subscrito imediatamente pelo Ministério Público, que o juiz de instrução certamente despachará - todo e qualquer dirigente do universo BES/GES, sobre o qual, independentemente da situação processual atual, existam dúvidas acerca da eventual continuação da atividade criminosa e de destruição de evidências, além do alarme social que representa, nesta altura, o gozo da sua liberdade.

O acesso judicial, agora mais facilitado por uma administração colaborante, às contas do BES/GES, e a análise da documentação entretanto apreendida, há-de ainda permitir apurar sem demora, além dos factos comprometedores já descobertos, o pagamento eventual de comissões a compinchas políticos, no negócio Vivo e noutros, como parcerias público-privadas, IGCP, transações na Venezuela - de construção civil ou a intermediação da venda de papel comercial  (500 milhões de euros?...) da Rio Forte ao fundo soberano deste país sul-americano - através de escrow accounts, na Suíça ou offshore , ou em sacos de numerário com posterior contrabando para a lavagem exterior. O que já se coligiu e o que entretanto se obteve, deve conduzir à detenção preventiva imediata para prevenir o alarme social no País, perante a liberdade de alguém, quem quer que seja, que se saiba ter a máxima promiscuidade com estes escândalos financeiros.

Falemos claro: a indignação popular e a desorientação dos envolvidos facilita a oportunidade de resolução patriótica do nó górdio do sistema corrupto. Esta circunstância única deve ser aproveitada para agir. Agora ou nunca.


Pós-Texto (18:52 de 3-8-2014): Responsabilização
Para que fique já absolutamente claro, e antes do poste separado que pretendia escrever, depois de conhecida a decisão do Governo, hoje à noite (o Banco de Portugal é a fachada de uma decisão que politicamente o excede) sobre a responsabilização dos protagonistas.
Além do que escrevi sobre a culpa dos personagens acima mencionadas na criação (Governos Sócrates) e gestão do descalabro (Governo Passos Coelho), deve ser responsabilizado:
  1. O Governador de Banco de Portugal (BdP), Carlos Costa, e os seus dirigentes com funções atinentes à regulação da atividade bancária. Depois da negligência pavorosa no caso BPN, e da promoção a vice-presidente do Banco Central Europeu (!...) do governador Constâncio, que corporizou esse descalabro, esperava-se que o Bando de Portugal tivesse sofrido uma reestruturação interna, de regras e de procedimentos, que evitasse uma caso semelhante. Aparentemente não o fez, e nisso também tem responsabilidade, o Governo e a Assembleia da República, bem como o Presidente, que a deveriam ter acautelado.
    O caso BES/GES não é igual ao BPN/SLN: é dez vezes maior! E a falha na supervisão tem uma consequência proporcional, tornando-a ela própria ainda mais gravosa. Mesmo que os personagens sejam diferentes e Carlos Costa, que tenho como homem sério, não seja o malabarista econométrico do Vítor Constâncio que, aliás, deveria ser responsabilizado judicialmente pelo que aconteceu no BPN. Portanto, Carlos Costa deve demitir-se, bem como toda a administração do Banco de Portugal; e se não o fizerem, devem ser demitidos. Pelo envolvimento em processos judiciais por suspeita de crimes económicos, o Banco de Portugal jamais poderia ter mantido a idoneidade de administradores suspeitos de crimes económicos: o pagamento de impostos (a que se haviam furtado) ao abrigo do Regime Excecional de Regularização Tributária (RERT) não apagou a mancha irreparável na sua reputação; muito menos as imputações de alegado abuso de informação privilegiada.
    Os administradores do BdP também devem ser responsabilizados judicialmente, se for detetado que as suas falhas têm essa natureza.
  2. O Conselho Diretivo da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), desde logo o seu presidente Carlos Tavares. A CMVM também falhou no cumprimento das suas funções de fiscalização e de ação. Deve demitir-se, ou ser demitido, o Conselho Diretivo da CMVM.- E tal como no BdP, deve proceder-se a uma reforma profunda da sua estrutura e do seu funcionamento.
  3. Os acionistas, os obrigacionistas (11 mil milhões de euros...) e os depositantes acima de 100 mil euros. Devem assumir o risco que o seu investimento lhes traz, numa economia liberal - ao contrário do que defendeu hoje, 3-8-2014, Pedro Santana Lopes. Quem investe não pode ter a garantia socialista de que não perde dinheiro nos investimentos e depósitos para lá do que a lei protege. Depois, todos devem ter o direito de processar o Estado, e os seus dirigentes, pelas declarações fantasiosas que foram transmitidas entretanto, a (im)piedosa mentira de Estado. E receber os seus créditos, na proporção do que se apurar, e ordenados com a preferência que a lei estipula. Com prioridade aos empregados no banco, que em qualquer caso serão uma grande parte despedidos - como no grupo GES.
    É uma falácia mal intencionada alegar que a solução judicial (a administração Vítor Bento reinvestida em comissão liquidatária) implicaria que o Estado pagasse os 35 mil milhões de euros de depósitos que existiriam no final de junho de 2014, segundo as contas apresentadas: nem esse valor já será de 35 mil milhões, nem o valor dos depósitos até 100 mil euros terá essa dimensão. Insisto, ficará muito mais barata aos portugueses a solução judicial do que a solução de pôr os portugueses a pagar uma nacionalização e a impossível recuperação do Banco Espírito Santo (uma marca/instituição que está morta e arrefece!) - jamais o banco bom, o banco mau ou o banco assim-assim, conseguirão pagar ao Estado os valores que este lhes injete, a partir da linha de crédido disponível npo programa da troika e do segundo resgate a que obrigará - qualquer que seja o nome que dêem à nacionalização e ao segundo resgate. Foi o povo irlandês que pagou os 52 mil milhões da falência do Anglo Irish Bank, e sofreu os sacrifícios impostos ao seu bem estar por causa dessa ajuda: é o povo português quem pagará em espécie e em sangue, a ajuda a um banco privado em pré-falência, sem viabilidade de marketing nem económico-financeira.

Atualização: este poste foi reescrito às 12:14 de 3-8-2014 (desculpem os leitores o meu cansaço) e atualizado às 13:14 e 18:52 de 3-8-2014. Já agora, leiam o comentário do Prof. Norberto Pires, de há pouco, sobre este tem.


Limitação de responsabilidade (disclaimer): As entidades referidas nas notícias dos média, que comento, não são suspeitas ou arguidas do cometimento de qualquer ilegalidade ou irregularidade nestes casos, com excepção daqueles pelos quais estão indiciados. E mesmo quando arguidas gozam do direito à presunção de inocência até ao trânsito em julgado de eventual sentença condenatória.