segunda-feira, 18 de agosto de 2014

À espera dos bárbaros


«Dentro do Senado, porque tanta inação?
Se não estão legislando, que fazem lá dentro os senadores?
É que os Bárbaros chegam hoje.
Que leis haviam de fazer agora os senadores?
Os Bárbaros, quando vierem ditarão as leis.»
Constantino Cavafis (1904). À espera dos bárbaros (Περιμένοντας τους Bαρβάρους). Tradução de Jorge de Sena, a partir do inglês.



Por medo. Por aversão ao risco. Por conforto. Por cansaço. Por falta de fé. Não estamos em nós, que nos julgamos com outra força. Mas ainda não somos o Outro. E só quando somos o Outro, estamos disponíveis para o sacrifício da entrega. Com tudo o que a entrega implica. A morte, para renascer. Ou a Vida.

Os bárbaros - outros bárbaros, mais bárbaros que os originais -, os sunitas radicais do Estado Islâmico do Iraque e da Síria (EIIS) estão a tomar a Sìria e o Iraque.

O presidente norte-americano Barack Obama, que chamou as legiões de volta para manter a fama de pacifista e de acordo com o estado de espírito atual da sociedade norte-americana, cansada da guerra (com exceção do Sul e Midwest), tal como se conforma com o expansionismo russo, devolveu o Iraque aos fundamentalistas sunitas e chiitas, apoiando agora, num ato de desistência do projeto do Iraque uno, a criação de um enclave curdo.

Os europeus de matriz católica amoleceram na alienação instrospetiva na preguiça e deixaram-se cercar no beco da ânsia de conforto material. Como se o conforto material constituísse a felicidade. Abandonando Deus pelo bezerro de ouro. Deixando o trabalho pela inveja e o esforço pela dependência do Estado. Consentindo, por isso, a bancocracia que os explora e solta umas esmolas pelos que considera miseráveis. E ignorando os gritos dos outros. Portanto, nem boots on the ground, nem sequer ataques aéreos. O pavor da reação islâmica é que os tolhe. Entregues à matéria e ao corpo, como se fosse possível dispensar o Espírito. Por isso, não têm a mínima vontade de lutar. Já os cristãos ortodoxos estão envolvidos a norte no delírio putínico de um novo império russo e a sul, nos Balcãs, ainda a recuperar da guerra fratricida.

O Islão, que nunca avançou senão por conquista, pretende alargar as suas «fronteiras sangrentas», depois de mais uma tentativa de criar a Umma, a comunidade dos crentes, unidade dos países islâmicos, desta vez a partir de um novo califado do Iraque e da Síria.

O horror das cabeças decepadas e as mulheres raptadas para a escravidão sexual, de Mossul e de outras cidades e aldeias do Iraque e da Síria, o martírio de cristãos que recusam converter-se ao Islão mesmo em face da alternativa da morte, deveriam levar o Norte do Mundo a outra solidariedade com irmãos de fé, ou pelo menos, à humanidade de defender a vida de inocentes, qualquer que seja a sua crença. A ideia de que a guerra acontece lá longe, o racismo cómodo de achar que os mortos têm uma cor diferente e por isso desprezível, é de uma ingenuidade atroz: a criação de um santuário islâmico radical leva inevitavelmente, como se provou nos tempos do presidente Clinton, à condução de ataques terroristas na Europa e nos EUA. E quando os sunitas radicais conseguirem a unidade política em torno de Meca, virão novamente cercar Viena. Na verdade, já começamos a estar cercados e dentro de portas.

Chega de ilusão e negligência moral: o Islamismo é uma doutrina religiosa que defende o belicismo político contra os crentes de outras religiões e os pagãos, a quem despreza. Ao contrário da proposta cristã de não haver «judeu nem grego», os não-crentes não são livres, não têm os mesmo direitos, são uma espécie de escravos. O Islão nunca teve um Novo Testamento, mesmo se «O Corão» data de 632 d.C., parecendo nalgumas partes inspirado em passagens da Bíblia, e pudesse, portanto, propor uma fé mais caridosa. Ao contrário, o que o Islão sofreu foi um endurecimento da doutrina, para uma interpretação literal dos versículos e com a consagração dos Ditos (Hadith) que recrudescem o radicalismo da conduta e o combate aos infiéis.

A ideia do socialismo setentrional e ocidental de que há um Islão bom, suave e pacífico, respeitador das outras crenças e da liberdade individual, paradoxalmente representado pela própria corrente vaabita da Arábia Saudita, do Catar, dos emirados e do islamismo combatente nos teatros de operações do Médio Oriente, é uma ilusão de políticos ocidentais irresponsáveis e traidores dos seus povos, culpados por negligência da razia e limpeza étnica dos cristãos desde os anos 1950 no Líbano, no Egito, na Síria, no Iraque e noutros países onde residiam minorias seguidoras da fé de Cristo e de outras crenças.

Não se trata de promover uma nova cruzada de conquista dos Lugares Santos, mas de proteger a vida de seres que são irmãos, que são humanos! E queira-se, ou não, só a guerra, que neste caso é justa, permite a proteção e a segurança possível das populações que hoje estão a ser massacradas. Mesmo que o contexto mediático ocidental, motivado pela esquerda, censure na Europa e nos EUA os cristãos e aplauda a desumanidade do tratamento das mulheres e o terrorismo islâmico de Gaza. Usando os média ocidentais para a propaganda da rendição e do abandono e da comparação com o nazismo (!...) de Israel, que atacou o Hamas para desorganizar o lançamento de mísseis e destruir os túneis de infiltração de terroristas e de armamento.

A principal reforma que os povos setentrionais e ocidentais precisam de fazer é a recuperação moral. Depois dela é que vem a recuperação política, e a seguir a económica e por fim a financeira. As prioridades foram alteradas pela bancocracia corrupta. Mas, no limite do precipício, fomos nós que abdicamos da fé e da luta, e, cobardes, nos deixámos morrer perante os bárbaros externos e os corruptos internos.

Não aqui, neste rincão do Portugal, que é profundo. Não aqui.

5 comentários:

Unknown disse...

E até o perigo é tão evidente que têm sido eles a invadir a Inglaterra, França e os Estados Unidos, tanto pelos Libios, Iraquianos, Afegaos, Yiemene, Palestina, Libano, Siria.
Podemos defender os nossos pontos de vista, mas as vezes aconchegar os factos com a propaganda é que se torna dificel.

Anónimo disse...

Os idiotas úteis como os "António Cristóvão" que julgam que o conforto que ainda possuem lhes caiu porque são seres superiores estarão aceleradamente em perda, com o nosso prejuízo. É a vida. Só teremos que estar muito atentos, e moralmente fortes.

O Grande Traidor disse...

A consequência da eleição do traidor Hussein Obama como Presidente dos USA,promovida por toda a esquerdalhada Mundial,está hoje bem à vista desde a Ucrânia,o Médio Oriente e a América Latina pelo menos.Cifra-se em centenas de milhar de vitímas mortas,decepadas,estropiadas,violadas,raptadas,torturadas com a cumplicidade do deliberadamente passivo e impotente traidor hoje instalado em Washington.Os USA e o Mundo precisam rápidamente de ter em Washington um novo Truman ou Eisenhower,com saias ou calças.

Bmonteiro disse...

“O fim do Império Romano»
« O lento declínio da superpotência»
Adrian Goldsworthy
“Prefácio”
A Grã-Bretanha tem sido um lugar deprimente nesta última década. Ministros incompetentes, corruptos ou descaradamente falsos agarram-se ao poder como
lapas, inicialmente negando tudo, e por fim pedindo desculpas e esperando que isso seja suficiente.
A burocracia e a regulamentação continuam a crescer depressa, enquanto a eficiência básica das instituições decresce, tornando-as incapazes de resolver as tarefas aparentemente mais simples.
O tom arrogante de muita legislação governamental condiz certamente com os decretos
imperiais do Período Romano Tardio.
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“Conclusão – Uma Resposta
Simples”
Um longo declínio foi o destino
do Império Romano. No fim, pode
muito bem ter sido «assassinado»
por invasores bárbaros, mas estes
atingiram um corpo tornado
vulnerável por prolongada
decadência.
“Epílogo: “Uma moral ainda
mais simples”
Cullen Murphy em Are We Rome?
The Fall of an Empire and the
Fate of América (2007)
…Ainda mais grave era a extensão
das funções governamentais para
muitas agências privadas ou
semi-privadas, muito mais difíceis
de controlar e inevitavelmente com
prioridades e objectivos próprios
A enorme dependência da América
e dos seus aliados em companhias
privadas para fornecer homens para
suportar os seus esforços de guerra
…As companhias privadas não
precisam de ser pagas quando não
estão a ser usadas, nem o governo
tem de pagar directamente pensões
e outros benefícios aos seus
empregados.

Anónimo disse...

http://www.publico.pt/mundo/noticia/yazidis-sao-enterrados-vivos-pelos-extremistas-do-estado-islamico-1666954

Samo Ilyas Ali tem nove crianças para alimentar, mas não consegue concentrar-se no futuro, porque o som de mulheres e crianças a gritar por ajuda enquanto eram enterradas por combatentes do Estado Islâmico, no Norte do Iraque, por vezes consome-lhe completamente o espírito.

Ele faz parte das dezenas de milhares de refugiados yazidis, uma minoria religiosa pré-cristã que foi obrigada a fugir face ao avanço dos extremistas islâmicos, que os consideram adoradores do demónio. Estão traumatizados pela forma como foram tratados pelos radicais muçulmanos que os querem forçar a converter-se ao Islão.