«Política em Portugal: como fazer?»
António Balbino Caldeira
Conferência
no Senado
Lisboa, 19-6-2019
1.
Exórdio.
2.
Como
fazer política em Portugal?
2.1. Introdução: a política e a democracia
2.2. Análise.
2.2.1.
Conjuntura
internacional
2.2.2.
Conjuntura
nacional.
2.3. Ação: cultural e direta
2.3.1.
Valores:
fé, vida, dignidade, liberdade, democracia.
2.3.2.
Forças
2.3.3.
Alvos
2.3.3.1.
Adversários
2.3.3.2.
Gerações
2.3.4.
Meios
2.3.5.
Estratégia
3.
Conclusão
1.
Exórdio
«Nescitis quid petatis (Mt, 20: 22).
(...) Se
servistes à pátria que vos foi ingrata, vós fizestes o que devíeis, ela o que
costuma. Mas que paga maior para um coração honrado que ter feito o que devia?
Quando fizestes o que devíeis, então vos pagastes.»
Agradeço aos membros do Senado o convite para esta conferência e a paciência de me escutarem.
2.
Como fazer política em Portugal?
Divido a minha exposição em três pontos:
um capítulo introdutório sobre a política; um capítulo de análise da conjuntura
internacional e da conjuntura nacional; e um capítulo sobre a ação, subordinada
aos nossos valores, sujeita às nossas forças, concentrada nos alvos
(adversários e ao povo, com as suas diversas gerações), exercida pelos meios mobilizáveis
e seguindo uma estratégia consequente.
2.1.
Introdução: a política e a democracia
Política pode definir-se como
coisa pública, os assuntos da polis
(cidade, estado), mantendo a interpretação de Aristóteles. O
filósofo grego compara o político ao artesão: o político dedicado, como o
artesão, a aperfeiçoar a cidade e a conceber e aplicar as suas leis.
A
intervenção política da pessoa, homem e mulher, qualquer que seja a sua
religião ou filosofia de vida, na sociedade em que vive é um direito e um
dever. A sociedade é a sua família alargada, um prolongamento natural de si
próprio.
Intervir
na política é um direito. O homem tem o
direito de intervir na política.
O homem, ser
religioso até quando não crê, não pode um cidadão de segunda classe por causa
da sua crença. Como lembrou São Paulo, na sua Carta aos Gálatas (3, 28): «Em
Cristo, não há grego nem judeu, nem escravo nem homem livre». Portanto, ninguém
deve aceitar um estatuto menor por causa da sua origem ou fé.
O
homem religioso é empurrado para o canto sombrio das capelas, o único sítio,
além da casa de família, onde consideram legítimo que afirme a sua fé. Recusa-se
ao cristão, e aos demais crentes, ou crentes em filosofias de vida diferentes
do totalitarismo politicamente correto, o direito de intervir, como tal,
na política, na sociedade, na cultura e na economia. No caso dos cristãos, a
base paradoxal deste frontão totalitário é a máxima bíblica de dar «a César o
que é de César e a Deus o que de Deus» (Mateus 22, 21), interpretada no sentido
de que os cristãos não devem imiscuir-se nas questões temporais, antes devem
reduzir-se à clandestinidade das igrejas. A proposta verdadeiramente humana de
Cristo, na exortação do que o homem tem de sublime e na compreensão do que o
homem tem de pecado, é menosprezada como crença obsoleta, repressiva e
anticivilizacional, em vez de salvífica, libertadora e fundadora da civilização
em que vivem.
Mediante
uma intensa campanha de agit-prop,
violenta e sem grande oposição, o totalitarismo do politicamente correto pretende varrer os valores cristãos e o
ostracismo dos católicos – e dos sinais de Cristo - do espaço público da rua,
dos estabelecimentos públicos e privados (escolas, hospitais, prisões, etc.) e
dos media. E persegue o conservadorismo da Igreja Católica, e as
posições dos clérigos e dos leigos que assomem com desassombro à janela dos
meios de comunicação social.
O
mundo está agora dominado pelo politicamente correto da pós-modernidade. Uma
teoria da qual, Nietzsche, autor confesso de mais uma tentativa funesta da
morte de Deus, foi predecessor: «Não há factos, só interpretações». Esta
é uma forma de pensamento que degenera no totalitarismo. Valoriza a
pluralidade, mas nega o proselitismo religioso. Defende a relatividade das
posições, as quais recusa como tendo sido conquistadas através da determinação
da linguagem e da força das relações de poder, mas impõe uma ditadura cultural
desse mesmo relativismo absoluto e inquestionável. Em rigor, os relativistas
morais entendem que verdade subjetiva é só a dos outros, pois querem que a sua,
também moldada pelas circunstâncias de tempo e de lugar, seja a única possível
e, então, objetiva – mesmo se enviesada e torcida face à realidade efetiva das
coisas e dos homens.
Nessa
linha, definem como normal que as relações humanas e as instituições se tornem
inconsistentes, instáveis e fluidas, na «modernidade líquida», cunhada pelo
neogramsciano filósofo polaco Zygmunt Bauman.
Segundo esta teoria filosófica, para terem sucesso num ambiente de turbulência
e incerteza as pessoas devem adaptar e fragmentar as suas vidas, relações e
instituições, aos novos conceitos e valores, ao contrário de permanecerem fiéis
às suas crenças e compromissos. Não é que valores, instituições, se tenham
indesejadamente diluído, mass que devem ser líquidos, fluidos. No campo da
orientação «política», precisamente em Venezia, em 8 de Maio de 2011, na
basílica de Santa Maria della Salute, num «Encontro com o Mundo da Cultura e da
Economia», o
Papa Bento XVI denunciou esta tentação do homem se diluir na «cidade “líquida”,
pátria de uma cultura que parece ser cada vez mais a do relativismo e do
efémero», em vez de escolher a cidade da Vida.
A intervenção do
homem na política é um dever. A
intervenção do homem na sociedade é também um dever.
No seu coração,
na sua alma, na sua mente, o cristão continua hoje a sentir a resposta eterna à
questão de consciência - «Mestre, qual é o maior mandamento da Lei?»: «Amarás
ao Senhor, teu Deus. (…) O segundo é semelhante: Amarás ao teu próximo como a
ti mesmo.» (Mateus 22, 36-39). A felicidade não se alcança assim no hedonismo,
na satisfação pessoal, pois completa-se no amor aos outros, no serviço dos
outros.
Mas essa verdade
inscrita no coração dos homens, e sentida particularmente pelos cristãos, da
supremacia de Deus e do serviço ao próximo – portanto, de intervenção na polis –, tende também a ser
negligenciada pelo conforto da inércia e da preservação da imagem externa. Isto
é, atacado, sem decoro, pelos media e
confrontado com os berros da opinião politicamente correta da vanguarda
militante ateia, num tempo em que o conforto é prioritário, o homem tende a
encolher-se na sua fé secreta, a envergonhar-se de a expor. E assim se protege
da crítica e do insulto. Deste modo, também o homem religioso consente, por
omissão, o menosprezo com que o tratam. E, justificando-se no martírio e no
perdão, julga até cómoda a sua perda de direitos sociais, a sua anomia
política, a sua clandestinidade cívica.
Ao invés desta
posição de conforto e vergonha, o homem tem o dever de intervir na sociedade e
na política.
Desde logo, na
Carta Encíclica Rerum Novarum,
que reclamava protecção para a «dignidade do homem», o Papa Leão XIII, em 1891,
com actualidade surpreendente, pois supunha-se que fosse coisa já velha e
assente, clamava que «o Governo é para os governados e não vice-versa».
E já em 1931, na
Encíclica Quadragesimo Anno,
Pio XI reconhecia que o mundo estava «quase recaído no paganismo» e que era
necessária a colaboração dos leigos para o «reconduzir a Cristo».
Como recomenda o
Papa Bento XVI, na Encíclica Deus Caritas
Est,
«o dever imediato de trabalhar por uma ordem justa na sociedade é próprio dos
fiéis leigos». Esse trabalho deve ser realizado de acordo com a doutrina social
da Igreja. Mas esta, como acentuou o Papa João Paulo II na Encíclica Solicittudo Rei Socialis, retirando
a Igreja do combate político partidário e da sua identificação redutora com os
partidos democratas cristãos, não é uma ideologia, mas uma categoria para
orientar a conduta do cristão na vida social e política.
«A doutrina social da Igreja não
é uma «terceira via» entre capitalismo
liberalista e colectivismo marxista, nem sequer uma possível alternativa a
outras soluções menos radicalmente contrapostas: ela constitui por si mesma uma
categoria. Não é tampouco uma ideologia, mas a formulação acurada dos resultados de uma reflexão atenta sobre as
complexas realidades da existência do homem, na sociedade e no contexto
internacional, à luz da fé e da tradição eclesial. A sua finalidade principal é
interpretar estas realidades,
examinando a sua conformidade ou desconformidade com as linhas do ensinamento
do Evangelho sobre o homem e sobre a sua vocação terrena e ao mesmo tempo
transcendente; visa, pois, orientar o
comportamento cristão. Ela pertence, por conseguinte, não ao dominio da ideologia, mas da teologia e especialmente da teologia moral.»
Doutrina social
da Igreja que o Papa Bento XVI define na encíclica Caritas in Veritate,
de 2009, como «proclamação da verdade do amor de Cristo na sociedade».
Na exortação
apostólica Evangelii Gaudium,
de 2013, o Papa Francisco alertava para «o processo de secularização» que «tende
a reduzir a fé e a Igreja ao âmbito privado e íntimo» e para «um aumento
progressivo do relativismo», fatores que provocam uma «desorientação
generalizada». Uma desorientação que corre o risco de agravar-se com o doloroso
debate interno.
Na encíclica
Laudato Si’,
“sobre o cuidado da casa comum”, o Papa Francisco condena o que designa por
«relativismo prático», no qual «tudo o que não serve os próprios interesses
imediatos se torna irrelevante».
A
intervenção do homem na vida pública é condição inalienável da cidadania, de
membro do Estado. Essa intervenção política é o corolário da sua dignidade. Dignidade é uma palavra que deriva do
latim “dignitas” com o sentido
português de valia, mérito. Significa o valor da pessoa porque toda a pessoa
tem valor, tem dignidade. Ora, essa expressão de consideração pessoal, que
integra o conceito de dignidade, é atribuída, por natureza e direito divino, a
qualquer elemento do género humano e é condição de existência e de respeito
moral. A dignidade é uma condição pessoal. Sem dignidade, o homem não é.
A
dignidade não é apenas uma condição pessoal, do indivíduo, mas também uma
condição social. Isto é, a dignidade impõe a assunção moral do indivíduo, como
o respeito social. Todo o homem tem uma condição intrínseca de dignidade que o
faz merecer o respeito dos outros. Esse respeito dos outros atribui ao
indivíduo direitos e obrigações comunitárias.
Por aí
se chega à democracia. A evolução social da humanidade subiu a soberania do
povo, a democracia – palavra que
tem origem no grego “demokratia”, de “demos“ (pessoas simples) +n
“kratos“ (governo, força) -, à melhor
forma de governo. Mas a versão de democracia em vigor é a democracia
representativa.
A
sociedade, nos órgãos políticos que ergue com o acordo dos cidadãos, consente
na representação através de eleitos, representantes da sua vontade. A liberdade
forma essa eleição e a chefia faz-se na base do consentimento.
Portanto,
a dignidade humana exige a possibilidade do sufrágio livre e o cumprimento
pelos seus representantes do acordo que suportou a sua eleição.
A dignidade
humana exige o sufrágio livre, pois reclama a devolução pelos escalões
intermédios e de direção dos partidos do poder de candidatura livre aos órgãos
partidários e do Estado em vez da nomeação, ou eleição limitada a uma lista
única ou curta dos candidatos por estruturas de direção locais, regionais e
nacionais.
A
dignidade humana exige o cumprimento do acordo entre eleitos e eleitores que
esteve na origem da eleição. A eleição dos representantes é feita no
compromisso, solene através do sufrágio, de realização das promessas que
levaram ao voto dos eleitores. O povo vota para a realização desta e daquela
decisão, e não doutra ou daqueloutra. A violação do compromisso eleitoral de
realização de decisões, não pode ser resolvida na próxima eleição, pois
concerne ao mandato anterior. É tarde.
Mas
não é só conteúdo do contrato de eleição que importa respeitar, mas também a
forma de exercício do cargo que tem de se conformar com as regras que a
sociedade institui nas constituições políticas e nas leis. Já recomendava o
Papa Leão XIII: “Façam os governantes uso da autoridade protetora das leis e
das instituições”. A
corrupção, não só da vontade dos eleitores desrespeitada após a eleição, com a
comum desculpa da alteração das circunstâncias ou desconhecimento da situação
real do poder, mas também do exercício do poder com o abuso do cargo para
obtenção de vantagens particulares, constitui uma usurpação dos mandatos e deve
ser resolvida de modo eficaz. Não tem sido.
Porém,
a democracia representativa não é a única forma de democracia possível. Na
democracia representativa, os cidadãos consentem no exercício da representação
da vontade popular, através de eleições. O problema é que a democracia
representativa tem degenerado para um sistema corrupto em que os representantes
já não executam a vontade do povo que os elegeu. Nem sequer seguem a sua
própria consciência, violando a interpretação da democracia indicada por Edmund
Burke, no célebre discurso aos eleitores de Bristol, em 1774. Nem
a divisão de poderes nem o primado do direito, essenciais àquele modelo,
funcionam. Portanto, é necessário reformar a democracia representativa com a
adoção de aperfeiçoamentos de participação, escolha e escrutínio.
A
dignidade humana requer uma forma de democracia que resolva os problemas da
democracia representativa: a democracia direta. É este o sistema político que
proponho para resolver o sequestro da democracia representativa.
Não se
trata de chegar à utopia da democracia direta absoluta, mas de corrigir a
corrupção da representação. Contudo, mais importante, aqui, do que fundamentar
e teorizar sobre a democracia direta, que não é o objeto deste texto e que
tratei de forma mais detalhada noutro lugar, é a apresentação das medidas de
democracia direta que podemos introduzir na reforma da democracia
representativa.
Defendo, há década e meia, a democracia direta como o modelo
de funcionamento do sistema político para a maior integração dos cidadãos na
vida política e o escrutínio da representação dos eleitos e nomeados, através
das seguintes propostas:
- Eleições primárias para todos os cargos eletivos do Estado
e das autarquias e para todos os órgãos nacionais, distritais e locais, do
Partido;
- Separação efetiva dos poderes executivo, legislativo e
judicial, autogoverno da magistratura judicial e do Ministério Público,
através de conselhos superiores sem representantes de nomeação política e
controlo legal dos serviços de informação do Governo;
- Liberdade de apresentação de candidaturas
independentes a todos os órgãos políticos nacionais e autárquicos;
- Sistema eleitoral misto nas eleições para a Assembleia
da República, circunscrições de eleição uninominal, compensado com um
círculo eleitoral nacional para representação parlamentar de tendências
minoritárias;
- Escrutínio prévio obrigatório dos candidatos a
nomeação através de audiência parlamentar pública e prestação de contas
aos eleitores, responsabilização pessoal dos eleitos, convocação popular
de eleitos (recall), suspensão do mandato para titulares de cargos
políticos acusados de crimes de relevo e supressão da imunidade política
por factos estranhos ao mandato;
- Facilitação do direito de iniciativa popular de
apresentação de propostas legislativas sobre quaisquer matérias e de
apresentação de propostas ao nível autárquico, e o aproveitamento de actos
eleitorais para consultas populares;
- Financiamento partidário e eleitoral transparente;
- Registo de interesses dos candidatos a cargos de
nomeação política, partidários, altos cargos da administração pública e
magistrados (nomeadamente, a sua pertença a organizações secretas ou discretas), além da declaração
patrimonial e de rendimentos;
- Liberalização do direito de expressão, informação e
opinião, através da revisão do Código Penal e Código de Processo Penal,
eliminação da ERC e atribuição das suas competências executivas aos
tribunais, proibição de detenção do controlo, direto e indireto, pelo
Estado de dos media e transformação da RTP num canal neutro de serviço
público;
- Transparência das contas e estatísticas do Estado e da
administração regional e local, com responsabilização dos dirigentes e
funcionários por falsificação e omissões.
É,
portanto, neste mundo, sujeitos a esse totalitarismo cultural e político e
guiados pela luz da fé e a força da razão, que se impõe o combate justo,
baseado na livre e ativa participação dos cidadãos, com as regras de jogo da
democracia direta. «Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da
justiça…».
2.2. Análise
Depois
as questões introdutórias da política e da democracia, e da proposta da
democracia direta para solução do sistema político degenerado, é hora de
analisar brevemente a conjuntura internacional e a conjuntura nacional.
Primeiro, a conjuntura internacional que é decisiva sobre a situação e evolução
do País.
2.2.1. A conjuntura internacional
A conjuntura internacional sobreleva sobre
a conjuntura nacional. Portugal é um médio estado europeu, evanescido há menos
de um século o sonho do império, com fracos recursos endógenos (minerais,
agrícolas, industriais, educativos) e tradição de dependência económica e
financeira, batido pelas vagas ideológicas externas e assolado pelos ventos
frios ou escaldantes da história - fora o seco suão que vem de Espanha.
Abrigado agora na União Europeia, vetor que sempre lhe limitou o poder que
alcançou na projeção extracontinental política, religiosa, económica, comercial
e demográfica.
Na
conjuntura internacional, realço os fatores seguintes:
- reativação
do marxismo, travestido com as roupas novas do totalitarismo pós-moderno
relativista politicamente correto;
- adesão
incondicional dos partidos sistémicos dos países do ocidentais e do hemisfério
norte e da Oceânia ao socialismo bancocrático;
- controlo
político dos cidadãos através do acesso dos serviços de informação
governamentais aos metadados dos cidadãos e organizações e da censura (evidente
ou sombria) das redes sociais (Facebook, Twitter, Google, etc.);
- reativação
do confronto leste-oeste, com políticas externas agressivas da Rússia
(político-militar) e China (económica e financeira), de um lado, e os EUA, do
outro, com a Europa a ver passar navios, e a África como fonte de matérias-primas
e de novos escravos (os imigrantes sem bens nem formação);
- radicalização
religiosa do Maghreb e Turquia e confronto intra-Islão no Médio Oriente
(sunitas-xiitas);
- défice
do Estado e peso asfixivo da dívida pública;
- sacrifício
das novas gerações para assegurar pensões douradas, desemprego crónico e
subsidio-dependência;
- oposição
à imigração, seja ilegal, seja legal, nos EUA, na Europa, na Oceânia;
- revolta
das populações rurais contra o Estado que beneficia as cidades grandes e
empobrece o interior (França, Reino Unido, EUA);
- racismo
e xenofobia, derivados das vagas maciças de imigrantes;
- crescimento
dos ritos protestantes, com realce para os evangélicos, na América do Sul e na
África, em detrimento do catolicismo;
- crescimento
demográfico da África e estagnação demográfica da Europa e EUA, resolvida com
recurso à imigração;
- tendência
para a desagregação europeia por causa da política de imigração de portas
abertas aos ‘refugiados’ económicos e sua assistência preferencial face aos
nacionais de classe baixa e média;
- tensão
política entre as duas Espanhas, que
lamentava Antonio Machado,
provocada pelos nacionalismos catalão e basco e com reação nacionalista da
Espanha profunda, com ligação ao confronto entre anarquismo e socialismo contra
o conservadorismo tradicional.
2.2.2.
A conjuntura nacional
A
conjuntura nacional é muito mais influenciada pela conjuntura internacional do
que se julga. Quem repouse na presumida inexistência dos gatilhos da
criminalidade e da imigração, engana-se. A reação das classes baixa e média,
trabalhadora, sobrecarregada com impostos e auferindo salários baixos, contra
benefícios de minorias étnicas (nomeadamente, os ciganos e africanos)
desencadeia o racismo e a xenofobia. Por outro lado, a insegurança provocada
pela impunidade da criminalidade assusta os bairros urbanos e as comunidades
locais.
Na conjuntura nacional, destaco os
seguintes fatores:
- a
corrupção de Estado;
- o
poder oculto da maçonaria que funciona como última instância de controlo do
Estado e que sem alargado á província controlando também as autarquias;
- imprensa
enviesada à esquerda;
- instituições
da sociedade civil amedrontadas pelo poder socialista;
- controlo
dos partidos da esquerda à direita pela corrupção e lóbis (entre os quais, o
lóbi homossexual);
- operação
dos serviços de informação que controlam ambiente político através do acesso
(agora legal!...) aos metadados dos cidadãos e organizações, substituindo os
processos ostensivos anteriores de vigilância, intrusão e ameaça;
- preferência
do povo pelo socialismo;
- a
política de institucionalização da preguiça e da subsidio-dependência;
- um
modelo educativo ideológico da esquerda radical, de nivelamento pela
mediocridade;
- a
desigualdade da justiça com garantismo
- a
dificuldade e desigualdade no acesso ao sistema de saúde;
- a
permissividade penal e operacional face ao crime;
- carga
fiscal insuportável para famílias e empresas;
- a
restrição à atividade empresarial, sujeita ao preconceito ideológico e à carga
fiscal aflitiva;
- a
incapacidade pôr o ensino superior, e as instituições de pesquisa, a trabalhar
com os setores económicos privados;
- o
atolamento das autarquias no nepotismo e na corrupção e processos de
licenciamento, que bloqueiam o desenvolvimento em vez de o promoverem;
- o
despovoamento do interior, encerramento de serviços públicos e a concentração
de investimento público na cidade grande;
- o
sacrifício das gerações mais novas em detrimento das gerações mais velhas por
causa de reformas douradas;
- a
necessidade de emigração para sobreviver e desenvolver um projeto de vida, por
jovens e adultos qualificados, desempregados ou mal-empregados.
2.3. Ação
A análise serve para a ação. Não deve ser
escamoteada porque determina uma ação inconsequente. Mas não deve aperrear a
intervenção, por medo ou ócio.
Divido o capítulo da ação nos seguintes
vetores: valores; forças; alvos; meios; e estratégia. Nos alvos, há que
distinguir entre o povo, objeto de informação e persuasão, e os adversários.
2.3.1. Valores
Enuncio alguns valores inalienáveis:
- fé;
- vida;
- dignidade;
- liberdade;
- democracia.
Fé a de cada um. A minha, a de católico apostólico romano pecador.. Em qualquer caso, uma fé. Até para quem
ainda não teve a graça de a achar. E tentar servir. Mas recordo, a quem queira seguir
a carreira política, os versos da carta de Francisco de Sá de Miranda ao rei D.
João III[17]:
«Homem de um só parecer,
D'um só rosto, uma só fé,
D'antes quebrar, que torcer,
Ele tudo pode ser,
Mas de corte homem não é.»
Vida, porque o seu valor é inegociável.
Isso significa defender a vida e combater a «cultura da morte»[18]: aborto
(gratuito ou pago), contracetivos abortivos, planeamento familiar de pendor
abortivo, eutanásia, liberalização da droga, legalização da venda de droga,
adoção e co-adoção de crianças por casais homossexuais (direito de cada criança
a ter um pai e uma mãe!), doação de esperma e de óvulos, ‘casamento’
homossexual, educação sexual relativista de crianças. E ainda direito ao culto
religioso e à presença religiosa no espaço público, nos média, nos
estabelecimentos do Estado, nas escolas, nos lares, nos hospitais, nas forças
armadas e militarizadas e nas prisões. E proteção e promoção da família, no
âmbito fiscal, económico e laboral.
Dignidade porque toda a pessoa é sujeita
de direitos negativos e de deveres positivos, sem qualquer discriminação, sejam
pessoais, sociais, laborais ou económicos. Ninguém deve ser excluído da
dignidade do trabalho. É a integração laboral que propicia a integração
económica e a integração económica que favorece a integração social.
Liberdade porque todo e qualquer
totalitarismo ideológico é humanamente inaceitável. Liberdade económica face à
corrupção do licenciamento. E luta contra o politicamente correto na linguagem
e no comportamento, obrigando a uma uniformidade de linguagem e de conduta,
prejudica a liberdade de informação e de opinião. Fake é a censura em nome da
democracia e até da liberdade, não são as notícias e opiniões mais ou menos
enviesadas que cada um tem o direito de filtrar por si só.
Democracia a direta, com a liberdade de
escolha de candidatos dentro dos partidos e de candidaturas independentes, com
transparência do Estado e autarquias, prestação de contas, declaração de
interesses de pertença a organizações secretas (como a Maçonaria), referendos.
2.3.2.
Forças
Forças são as nossas e as mobilizáveis.
Afirmar valores e políticas, usar os meios de comunicação adequados e engrossar
as hostes. Desde logo, os cristãos e as pessoas de fé, não podem alienar-se da
política. Coragem gera coragem. Alarga a liberdade dos outros. E mobiliza
vontades. Particulares e organizações têm recursos, humanos e financeiros, que
devem ser usados para a promoção dos valores e políticas, num combate cultural
e direto.
2.3.3.
Alvos
Nos alvos distinguimos entre o povo, cuja
adesão desejamos, e os adversários, cujas políticas combatemos.
2.3.3.1. Os adversários
Os adversários devem ser identificados: os
que defendem a cultura da morte, os corruptores do Estado, a impunidade face à
corrupção, o controlo totalitário da sociedade pelo politicamente correto, os
lóbis secretos e de armário, os que agem nos bastidores a sequestrar a
democracia. Em concreto: Maçonaria e partidos socialistas (PC, Bloco de
Esquerda, PS, PSD e CDS). Os partidos liberais também carecem de definição
ideológica e não parecem mobilizáveis. Não basta propor usar novos meios, é
preciso ter novas políticas, e assumi-las sem medo de rótulos nem represálias
laborais ou de contratos.
2.3.3.2. Povo: as gerações
A falácia do eleitor único, com as mesmas
preocupações e desejos, prejudica a eficácia da mensagem. É necessária prestar
atenção às diferenças das gerações.
- Geração dos Maduros ou Tradicionalistas
(1930-1945);
- Geração do Pós-Guerra ou baby-boomers (1946-1963);
- Geração X (1964-1977);
- Geração Y ou dos Millennials (1978-1994);
- Geração Z (1995-?).
Creio que a melhor designação da geração
nascida em 1995 e depois (e que tem agora 23 anos e meio ou menos) é a de Geração das Florzinhas de Estufa. Há um excesso de preocupação com o seu bem estar
emocional pelos pais e educadores. Criam e mantém os jovens em estufas de
auto-estima, como florzinhas delicadas em ambiente, umas "safe zones"
que só permitem medrar em condições ótimas de pressão e temperatura. O
resultado é uma geração impreparada para enfrentar a dureza e impiedade da
vida.
Este nome de Florzinhas de Estufa, que proponho,
parece assentar melhor do que Flocos de Neve (Snowflakes), que se vai consolidando nos EUA,
sobre outros nomes equívocos: Nativos Digitais, Geração da Net (Net Gen),
Geração Tecnológica (Gen Tech), iGeração (iGeneration), Geração das
Consolas (Gen Wii), Plurais, e até Geração Z.
1. emocionalmente muito frágeis, sentimentais e facilmente
deprimidos;
2. individualistas;
3. empreendedores;
4. desfocados;
5. multi-tarefas;
6. ambiciosos;
7. ousados;
8. competitivos;
9. procuram o grátis e custos baixos;
10. começam mais cedo a trabalhar e conciliam estudos com o trabalho
(arrastando a conclusão dos cursos...);
12. espontâneos e instantâneos;
13. fiéis a marcas;
14. estilosos;
15. globalistas;
16. viciados em jogos digitais;
17. permanentemente em linha;
18. inocentes;
19. gostam mais de videos, fotos e memes, do que postes e textos;
20. música, música, música;
21. direto e imediato, em vez de editado ou passado;
22. mais Instagram, Whatsapp e Snapchat, do que Facebook ou Blogger;
23. horror a atividades «chatas»;
24. hoje!, hoje!, hoje!;
25. prazer, e não frugalidade nem temperança;
26. menos trabalhadores;
27. procastinadores;
28. zelosos com o seu tempo, que querem dedicados a atividades que
lhes tragam prazer;
29. maior interação virtual, consumo de serviços e experiências; do
que comunicação face-a-face e acumulação de produtos (coisas).
30. mais utilizadores do que possuidores, mais renda e aluguer do
que compra;
31. informais;
32. privados na informação pessoal;
33. ausentes dos meios coxos não interativos (televisão,
rádio,
34. rústicos nas roupas e adereços, nas mobílias e espaços (hostels
em vez de hotéis, Primark em vez de Zara, Lx Factory em vez de centros
comerciais luxuosos);
35. adoram viajar e aventuras de novas atividades e lugares;
36. desprezam a política;
37. desligados das instituições tradicionais;
38. sozinhos, auto-educados por permissividade ou ausência dos país;
39. menos relativistas do que os antecessores, ainda perdidos, mas à
procura de direção e valores.
40. embriões do pós-relativismo.
Este catálogo de atributos, que arrisco, são
paradoxais, mas expressam a contradição a que esta nova geração está sujeita.
Vivemos tempos de fim de uma era relativista, totalitária, ainda sujeitos à
ditadura do politicamente correto que está em estertor e por isso é mais
violenta. A fragilidade dos nossos jovens é o resultado da educação
«politicamente correta».
Há sinais preocupantes de falta de preparação
desta geração. Mas a comodidade será infelizmente resolvida pela guerra que
vivemos e que as elites desprezam. Até que a guerra híbrida das ruas, ainda
morna, aqueça, será útil que o ambiente mediático relativista, os pais e os
educadores e as autoridades (nomeadamente, nas regras de consumo de álcool e
drogas!) não podem deixar de ser... pais e educadores e autoridades! Nem os
jovens desprezarem a sua responsabilidade. Contudo, nesta geração Z (23 anos e
meio ou menos), o saldo de
qualidades sobre defeitos é positivo, principalmente para a construção de uma nova era pós-relativista.
As mensagens e os meios têm de atender à especificidade e
preocupações de cada geração.
2.3.4.
Meios
Os meios têm de ser adequados e
suficientes para atingir os alvos. Julgo que é fundamental criar um jornal
digital da direita moderada cristã, economicamente autónomo, sem promiscuidade com o poder nem concessões
ao politicamente correto. Nem medo. Outro meio disponível é a compra e
utilização de um canal de televisão (Angelus TV, por exemplo).
2.3.5.
Estratégia
Não é viável, digo por experiência, a
estratégia de mudança por dentro dos partidos tradicionais (PS, PSD, CDS),
porque estão controlados pela corrupção e lóbis. Nem no entrismo que cabo sempre contido pelos servos operacionais dos
partidos. A estratégia deve ser a criação de uma formação autónoma ou adesão
maciça a uma formação existente. E fazer o combate direto, político, nessa
formação, e combate cultural aí e no jornal digital a criar e nos outros meios
das hostes, nomeadamente, meios tecnológicos (internet, redes sociais, youtube)
e criativos (por exemplo, blended
marketing).
3. Conclusão
Importa
analisar, decidir e agir. Aproveitar a janela de tempo que Deus nos concedeu e
servir os valores em que cremos e a Pátria que amamos. Com honra e sacrifício.
Recordo a advertência inicial: vós não sabeis o que pedis...