A causa do sucesso provocado pela direita é a contradição entre a prática política de PSD e CDS e as ideias dos eleitores de direita. Sem causas próprias, a direita adota as alheias, não apenas por desejarem o voto do suposto centro, cuja geometria é variável, mas também porque efetivamente crêem nelas e não se enjoam de as consentir. Os eleitores de direita não concordam com a proposta de PSD e CDS nos costumes e na economia. Nos costumes, os eleitores não concordam com a liberalização e subvenção do aborto, a a eutanásia, o casamento homossexual, a adoção de crianças por casais homossexuais, a liberalização do tráfico e consumo de droga, que as direções de PSD e CDS consentem, e até defendem, em contradição com os seus programas ideológicos oficiais. Na economia, entre outras políticas, a direita não concorda com o licenciamento burocrático corrupto das iniciativas privadas (a corrupção ostensiva no licenciamento de instalações elétricas pelo monopólio da EDP Distribuição, a corrupção autárquica na construção e no licenciamento de empresas, a corrupção no licenciamento de lares de idosos), a carga fiscal insuportável das empresas e dos cidadãos; o bloqueio e taxas proibitivas no turismo, a subvenção dos média (RTP e TVs e jornais privados), a subvenção do ócio (rendimento social de inserção atribuído a quem não quer trabalhar e não apenas a pessoas incapacitadas para o fazer), subsídio de desemprego por mais do que seis meses, as reformas douradas. Porém, sistemicamente, PSD e CDS defendem o socialismo na economia e nos costumes, à pala de um liberalismo canhoto e canhestro.
A causa própria do êxito da geringonça é o habitualismo de António Costa, que regurgita agora a violência discursiva na sua papada de pelicano, em vez de a cuspir como soía. E administra as guerras de fações com a quinquilharia dos tachos para comunistas e bloquistas, e financiamento dos sindicatos, além de satisfazer a clientela socialista. O habitualismo é uma velha prática política neste «jardim da Europa à beira-mar plantado/ de loiros e de acácias olorosas», como versejava Tomás Ribeiro no D. Jaime, um país de «brandos costumes» como queria Fontes Pereira de Melo, que foi muito eficaz no salazarismo. O povo habitua-se, desde que não existam grandes exaltações nem comoções. Acresce que tem um ministro das Finanças, Mário Centeno, muito eficaz no aperto discreto do cinto com que nos vai estrangulando.
António Costa, o renegociador do SIRESP em 2005, o sortudo da penthouse de luxo na Avenida da Liberdade, 105 (que expus, neste blogue, em 6-3-2015) e do balúrdio da Quadratura do Círculo enquanto recebia a totalidade de salário de presidente pela falsa exclusividade na Câmara de Lisboa (o que expus em 9-9-2015, Do Portugal Profundo), agora até se arvora em combatente da corrupção (TVI, 11-7-2019, citado pelo Observador):
«Não tolero de forma alguma qualquer forma de corrupção. Acho que é degradante para a democracia e tem de ser exterminada. Não consigo conviver com quem tenha praticado atos de corrupção. (...) Se alguma vez tiver suspeitas de uma situação de corrupção no PS ou fora dele, faço o que tenho que fazer e reporto às autoridades. (...) Nos dois anos que fui ministro do engenheiro José Sócrates nunca tive nenhum sinal que me levantasse a menor suspeita sobre o seu comportamento. Nem depois disso tive qualquer suspeita até ao momento em que começaram a haver as notícias sobre essas matérias».
Cego e surdo. E mudo...
* Imagem picada daqui.
2 comentários:
Ou seja, na maior parte das funções, o valor que um funcionário do Estado leva para casa é superior ao que um trabalhador do setor privado recebe ao fim do mês para funções semelhantes. Ou seja, que a administração pública não é competitiva na captação de diretores. O mesmo não acontece nas restantes categorias, onde a remuneração média mensal é mais alta no público do que no privado.Os funcionários públicos que pertençam ao quadro continuam a ter uma maior estabilidade que os trabalhadores do setor privado, dado que o Tribunal Constitucional travou uma lei que permitiria ao Estado prescindir de trabalhadores em determinadas circunstâncias, mas a pertença ao serviço público tem outras condicionantes como uma mobilidade mais reduzida e uma progressão na carreira mais controlada do que em muitas profissões do mercado privado.
O problema com a "liberalização do tráfico e consumo de droga", seja lá o que isso queira dizer, é que ela apresentou resultados em relação ao que isto era há 25 anos. Os eleitores até podem não querer, mas as lideranças têm a responsabilidade de não querer cavar um buraco nessa matéria.
Se calhar não é por acaso que o autor não acrescentou que os eleitores não querem um sistema de saúde soviético, centralizado, burocrático e corrupto. Só uma pequena elite compreende que o alargamento da ADSE seria mais eficaz. Mas as pessoas gostam e querem mais.
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