E, de repente, quase tudo mudou.
António Costa admitiu, em 27-5-2014, dois dias depois das eleições europeias - que António José Seguro ganhou por 3,8% de votos a mais do que a coligação PSD-CDS (e mais 86.536 votos do que o PS socratino conseguiu em 2009) - concorrer para a liderança do Partido Socialista. Disse que seria «imperdoável» se desta vez não fosse candidato, como se lhe tivessem perdoado a cobardia de última hora em 29 de janeiro de 2013. Como um barquinho de carreira, faz que anda mas não anda, numa brincadeira, quiçá, da «costela indiana».
Os dados estão lançados, mas ainda há muito jogo por fazer. Costa, que não tem a mínima vocação executiva, quer ser presidente da República; mas Sócrates e Guterres também.
Costa não se sente com brilho nem centelha suficientes para lançar uma candidatura própria, forçando o PS a ir com ele: quer o prémio de ser o candidato oficial socialista à eleição presidencial de janeiro de 2016. E como Guterres sinalizou o seu interesse, em 12-5-2014 em entrevista à Sábado, com «uma probabilidade, mesmo que mínima» e Seguro prefere o ex-primeiro-ministro que entende bonacheirão e mais próximo, Costa avança para garantir ou uma declaração de apoio de Seguro ou a disputa da liderança do PS para conseguir esse propósito. Costa tem 53 anos e ainda pode, creio, concorrer a mais um mandato na CMLisboa, mas teme que o seu tempo passe.
Seguro não quer instabilidade no PS agora que falta pouco mais de um ano para as eleições legislativas de 2015. Mas também sabe que Costa em Belém será sempre um inimigo. Por isso pretende derrotá-lo na Comissão Nacional e na contagem de espingardas das federações distritais, a outra possibilidade de congresso extraordinário e eleições diretas, já que a direção de Seguro não quer fazê-lo.
E Sócrates, com a ajuda da fação ferrosa (com o organizador Vieira da Silva à cabeça) e o aparelho adormecido das operações suaves e das operações negras das informações, que agora será reativado, quer empurrar Costa para a liderança do PS, obrigando-o a ser o candidato a primeiro-ministro, deixando-lhe o caminho livre para que ele próprio, o «animal feroz» arreganhe os dentes para as presidenciais de Janeiro de 2016. De modo que, quer Costa perca a corrida para a liderança do PS, como é mais provável, agora que se movimentam os notávceis para as listas de deputados, quer ganhe essa corrida, não parece possível que seja o candidato presidencial oficial do Partido Socialista à eleição presidencial. E se, ganhando a corrida para secretário-geral do PS, perder as legislativas do verão de 2015, também lhe faltará o entusiasmo popular para substituir um candidato que terá sido designado no início do próximo ano... Costa está assim amarrado ao destino de segundo pela sua cobardia, numa expetativa de obter o primeiro posto por dádiva do líder, que tenta trair - como tentou com Ferro Rodrigues durante a crise dos abusos sexuais de crianças da Casa Pia e se desgraçou perante o País.
Os barões socialistas repartem-se, as famílias dividem-se - como a Soares que joga nos dois tabulerios, com o pai, de um lado, e o filho, do outro - e o conflito durará para além da decisão sobre a liderança. António José chegará ainda mais inseguro às eleições legislativas, com um partido esfrangalhado pela malícia socratina.
E Pedro Passos Coelho, com o seu habitualismo, perante a temática desta mixórdia socialista - de todos contra todos, como no velho jogo do Risco - arrisca-se a ganhar as eleições legislativas de 2015, com que, atendendo aos resultados das eleições europeias de 25-5-2014 (mais do que ao balde de água morna da sondagem da Intercampus/TVI de 26-5-2014), já nem contava sequer, suponho, ser candidato, para evitar o destino socratino. Claro que é muito provável que a esquerda seja largamente maioritária nessas eleições, que o PS fustigado pela esquerda jamais aceitasse uma posição subalterna no executivo sarnoso bloco-centralista, e Passos tenha de partir após um executivo minoritário de curto prazo - se é que não abdica antes das eleições ou declina a indigitação após consultas. E, assim, também quer ganhe ou perca, acabará sempre por perder o poder, mesmo se ganha o pretendido exílio dourado.
E o País, perguntarão os leitores? O País aguenta, porque é do nosso destino aguentar a ganância e a irresponsabilidade das elites incompetentes que, por fraqueza, consentimos. Os jogos da fome do poder deles correspondem à gravidade da nossa miséria.
Atualização: este poste foi atualizado e emendado às 0:20 de 29-5-2014.
* Imagem composta daqui, dali, daí, dacoli e dacolá.
Seguro não quer instabilidade no PS agora que falta pouco mais de um ano para as eleições legislativas de 2015. Mas também sabe que Costa em Belém será sempre um inimigo. Por isso pretende derrotá-lo na Comissão Nacional e na contagem de espingardas das federações distritais, a outra possibilidade de congresso extraordinário e eleições diretas, já que a direção de Seguro não quer fazê-lo.
E Sócrates, com a ajuda da fação ferrosa (com o organizador Vieira da Silva à cabeça) e o aparelho adormecido das operações suaves e das operações negras das informações, que agora será reativado, quer empurrar Costa para a liderança do PS, obrigando-o a ser o candidato a primeiro-ministro, deixando-lhe o caminho livre para que ele próprio, o «animal feroz» arreganhe os dentes para as presidenciais de Janeiro de 2016. De modo que, quer Costa perca a corrida para a liderança do PS, como é mais provável, agora que se movimentam os notávceis para as listas de deputados, quer ganhe essa corrida, não parece possível que seja o candidato presidencial oficial do Partido Socialista à eleição presidencial. E se, ganhando a corrida para secretário-geral do PS, perder as legislativas do verão de 2015, também lhe faltará o entusiasmo popular para substituir um candidato que terá sido designado no início do próximo ano... Costa está assim amarrado ao destino de segundo pela sua cobardia, numa expetativa de obter o primeiro posto por dádiva do líder, que tenta trair - como tentou com Ferro Rodrigues durante a crise dos abusos sexuais de crianças da Casa Pia e se desgraçou perante o País.
Os barões socialistas repartem-se, as famílias dividem-se - como a Soares que joga nos dois tabulerios, com o pai, de um lado, e o filho, do outro - e o conflito durará para além da decisão sobre a liderança. António José chegará ainda mais inseguro às eleições legislativas, com um partido esfrangalhado pela malícia socratina.
E Pedro Passos Coelho, com o seu habitualismo, perante a temática desta mixórdia socialista - de todos contra todos, como no velho jogo do Risco - arrisca-se a ganhar as eleições legislativas de 2015, com que, atendendo aos resultados das eleições europeias de 25-5-2014 (mais do que ao balde de água morna da sondagem da Intercampus/TVI de 26-5-2014), já nem contava sequer, suponho, ser candidato, para evitar o destino socratino. Claro que é muito provável que a esquerda seja largamente maioritária nessas eleições, que o PS fustigado pela esquerda jamais aceitasse uma posição subalterna no executivo sarnoso bloco-centralista, e Passos tenha de partir após um executivo minoritário de curto prazo - se é que não abdica antes das eleições ou declina a indigitação após consultas. E, assim, também quer ganhe ou perca, acabará sempre por perder o poder, mesmo se ganha o pretendido exílio dourado.
E o País, perguntarão os leitores? O País aguenta, porque é do nosso destino aguentar a ganância e a irresponsabilidade das elites incompetentes que, por fraqueza, consentimos. Os jogos da fome do poder deles correspondem à gravidade da nossa miséria.
Atualização: este poste foi atualizado e emendado às 0:20 de 29-5-2014.
* Imagem composta daqui, dali, daí, dacoli e dacolá.