terça-feira, 25 de agosto de 2015

Sócrates depois da cadeia de Évora

Quando. A questão é quando. Não se.

José Sócrates parecia esperar a libertação, através do recurso pendente, e por isso recusou a anilha na perna em 8-6-2015. Arriscou e... perdeu. E teve de amargar mais três meses de cadeia. Agora, neste início de setembro, inventará um pretexto qualquer para aceitar a perneira. Está preso há nove meses e é muito duro aguentar o craving numa cela. Vai sair a tempo de atrapalhar, como pretende, a campanha eleitoral de António Costa, saqueando-lhe o palco.

Eu, que compreendo a manutenção da posição do Ministério Público, preferia - já que não é possível prolongar a detenção preventiva até à sentença... - que José Sócrates ficasse em prisão domiciliária, em vez do grilhão da perneira: as TV teriam oportunidades de diretos e de reportagens frequentes à porta da nova casa, como o seu «amigo» Ricardo Salgado, ilustrados com a polícia de guarda, a registar quem entra e quem sai. Julgo até que é mais seguro para prevenir uma escapada do que correr, depois do alarme, atrás de alguém que cortou o grilhão. E não se despreze o perigo de fuga, atendendo ao seu caráter e ao precedente da sua amiga Fatinha Felgueiras (na sequência do chamado processo do saco azul): eu creio que Sócrates jamais cumprirá a pena de prisão, se a tal vier a ser condenado e ainda poderá dar entrevistas à distância nos meios favorecidos, como a sua ex-sócia, a partir do Rio, ou como o ex-primeiro-ministro Bettino Craxi, de Hammamet.

Sócrates não vai desperdiçar a oportunidade de sair da cadeia. Além de, cá fora, estar à vontade para consumir o que lhe agrade, o epicurista Sócrates - que não lida com cabras mas vende cabritos -, confinado ainda na tórrida Évora a uma cela asfixiante, à dieta forçada e ao fato de treino, vai poder receber toda a fauna do seu costume, dos fiéis caninos aos répteis esquivos, dos teimosos burros aos disponíveis camelos.

Sócrates precisa da liberdade para comandar a sua legião, estabelecendo em casa um quartel-general com ligação a oficiais de inteligência e de operações e a jornalistas de bolso. A sua estratégia compreende o ataque violento ao poder judicial (procuradores e juízes) e o restabelecimento do seu domínio sobre o Partido Socialista. Para tanto usará um feixe de ações táticas interligadas sobre a magistratura e os adversários no PS. Porque quer resolver politicamente o processo judicial e porque precisa de obter a imunidade de facto para recuperar o poder político-económico.

O primeiro objetivo do ex-primeiro-ministro é dissolver os seus processos judiciais com o ácido mediático e despedaçar as resistências judiciais com o apredejamento técnico-político pelas maçonarias. Assim, irá dirigir, a partir do seu coito, uma campanha insidiosa contra o juiz Carlos Alexandre, a procuradora-geral Joana Marques Vidal e os procuradores e polícias do processo. E poderá candidatar-se à eleição presidencial de janeiro de 2015 para, como se de uma imunidade judicial se tratasse, se montar no argumento da legitimidade democrática (mesmo que tenha um resultado inferior a 20%...) para invalidar os processos.

O segundo objetivo de Sócrates é vingar-se do abandono de António Costa, seu ex-número dois e a quem ofereceu a vitória, através de dinheiro e de votos, nas primárias socialistas de setembro de 2014. Costa é a pedra broeira que está no meio do seu caminho, a impedir-lhe retomar o controlo do PS. Notem-se as manobras preparatórias: o ataque biológico através do enxame composto pelos vetores habituais Rui Paulo Figueiredo, José Lello e José Junqueiro, no Público, de 22-8-2015; e a intoxicação química na Câmara Corporativa, de 24-8-2015 (citando um artigo de opinião de Manuel Carvalho, também do Público, em 23-8-2015). Nada de novo debaixo do sol flamejante.

É. Quanto mais Sócrates aquece, menos força tem o PS...


Limitação de responsabilidade (disclaimer): José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa, arguido indiciado, em 24-11-2014, pelos crimes de corrupção ativa por titular de cargo político, de corrupção ativa, de corrupção passiva para acto ilícito, de corrupção passiva para acto lícito, de branqueamento de capitais, de fraude fiscal qualificada e de fraude fiscal (SIC, 26-11-2014) no âmbito da Operação Marquês, recluso detido preventivamente no Estabelecimento Prisional de Évora sob o n.º 44, goza do direito constitucional à presunção de inocência até ao trânsito em julgado de eventual sentença condenatória.

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Cenários das legislativas de 2015


(Clique na imagem para aumentar).



Atualização: este poste foi emendado às 16:20 de 24-8-2015.

terça-feira, 18 de agosto de 2015

A tempestade perfeita do vaixiá Costa

Embora seja preferível a continuação da detenção, a previsível libertação - com perneira eletrónica... -, em 9 de setembro, de José Sócrates da cadeia de Évora após cerca de nove meses e meio de prisão preventiva, a menos de um mês das eleições legislativas de 5 de outubro de 2015, vai formar uma tempestade perfeita... Sócrates não vai fazer pagar ao mercador António Costa a traição deste: vai fazê-lo pagar a hesitação...

«È ancora stimato un principe, quando si comporta da vero amico e da vero nemico, cioè quando senza alcuno rispetto si scopre in favore di qualcuno contro qualcun altro. Questa decisione sarà sempre più utile che restare neutrale, perché, se due potenti tuoi vicini vengono alle mani, o sono di qualità che, vincendo uno di quelli, tu abbia a temere il vincitore, o no. In ambedue i casi ti sarà sempre più utile lo scoprirti e fare buona guerra. Nel primo caso, se non ti scopri, sarai sempre preda di chi vince, con piacere e soddisfazione di colui che è stato vinto, e non hai ragione né cosa alcuna che ti difenda né che ti dia protezione. Chi vince non vuole amici sospetti e che non lo aiutino nelle avversità. Chi perde non ti riceve, poiché tu non hai voluto correre la sua fortuna con le armi in mano.
(...) E li principi mal resoluti per fuggire e' presenti periculi, seguono el più delle volte quella via neutrale, e il più delle volte rovinano.»  
Machiavelli, Niccolò 1532 (escrito em 1513). Il Principe, Firenzi. Cap. XXI (tradução brasileira). (Realce meu).


Atualização: Este poste foi emendado às 0:33 de 21-8-2015.

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Filho de Júlio Pereira critica os «envelopes» de Sócrates


O candidato pelo círculo de Fora da Europa do PS às eleições legislativas, de outubro de 2015, e líder do partido em Macau, Tiago Pereira, filho do secretário-geral do SIRP (Sistema de Informações da República Portuguesa), Júlio Pereira, criticou, forte (agora...) e feio (habitual!) José Sócrates, no telejornal da TDM -Televisão de Macau, em 7-8-2015. O ex-primeiro-ministro que entronizou o seu pai como chefe das secretas, onde ainda se mantém - malgré tout!... - devido ao receio do primeiro-ministro Passos Coelho.

O meu amigo Vitório Rosário Cardoso, noticiou o facto e partilhou o video com a transcrição de um excerto signficativo do diálogo de Tiago Pereira com o surpreendido apresentador socialista da TDM:
«Candidato PS - As atitudes que nós conhecemos que o Eng. José Sócrates cometeu - vindo de um ex-Primeiro-Ministro -, são atitudes que não nos dignificam, a nós todos.
Jornalista - Que atitudes, exatamente, está a referir-se?
C - Ao movimento com quantias avultadas, em envelopes.
J - Mas isto está provado?
C - Algumas estarão, de facto, comprovadas porque, da parte da defesa, pelos vistos, já houve alguma confirmação... Já houve confirmação. São atitudes que não dignificam os portugueses em geral e se calhar... Se calhar... Ou com toda a certeza, os socialistas em particular.»

Desnorteado perante golpes sobre o moribundo Sócrates e contragolpes de envolvidos ainda não aprisionados, o costismo caminha para a Prayopavesa (eutanasia hindu).

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

A tolerância cúmplice da violência do Islão




Recomendo a franca e corajosa crónica «A cotovelada islâmica», de Maria João João Marques, no Observador, de 12-8-2015, referente às alegadas duas cotoveladas no nariz que o sheik David Munir da Mesquita Central de Lisboa, terá dado a sua esposa, em 4-8-2015.

A principal causa da tolerância da violência do Islão é o seu branqueamento pela esquerda burguesa anticatólica e a cobardia dos instalados no mundo externo ao cinturão muçulmano. Tolerância da violência pessoal e social, com destaque para o tratamento desumano das mulheres, dos crentes de outras religiões e dos não crentes. E tolerância da violência geopolítica, com a expansão sempre através da guerra (as «bloody borders», que Samuel Huntington cunhou, em 1993, no seu Clash of Civilizations).

Uma violência intrínseca, a carecer, em qualquer caso, de uma reforma que exceda a desmontagem dos conceitos, desde a jîhad ao paraíso das 72 virgens de olhos negros (ou «uvas brancas»...) que aguardam o shahid (mártir) que mate pela fé. O conceito islâmico da shuhada é inspirado no conceito do mártirio dos cristãos (sacrifício em nome da fé), mas este não alcança o paraíso pelo suicídio nem pela morte dos outros... Mas o conceito de «Islão moderado» é um oxímoro.

Ao contrário do Cristianismo, com o Novo Testamento, no Islamismo, a violência matricial do Corão (que surgiu em 632 d.C...) foi agravada nos Ditos (Hadith) posteriormente atribuídos ao profeta e é radicalizada no fundamentalismo bárbaro de hoje. Remeto para o meu poste de 2014 «À espera dos bárbaros». Uma violência que não se detém na recuperação dos lugares santos (como as Cruzadas), mas que é o processo padrão de conquista universal e de instauração global do califado totalitário.

Na denúncia da violência do Islão merece o maior relevo o Papa Bento XVI, com o seu discurso «Fé, razão e universidade: recordações e reflexões», de 12-9-2006, na Universidade de Regensburg, no qual citou o imperador bizantino Manuel II Paleólogo (1391):
«Mostra-me também o que trouxe de novo Maomé, e encontrarás apenas coisas más e desumanas tais como a sua norma de propagar, através da espada, a fé que pregava».
A resignação com a violência do Islão, como se o multiculturalismo não tivesse de respeitar a dignidade humana, constitui uma cumplicidade criminosa.

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Ó Ricardo Salgado, quanto do teu sal são lágrimas socialistas!


Mário Soares visitou Ricardo Salgado em sua casa, onde está detido preventivamente - conta o Sol, de 7-8-2015. Soares deve temer que Salgado, o banqueiro dos socialistas, desobedeça à sua ordem, no ionline, de 6-10-2014, quando este andava a gotejar, para jornais estrangeiros (como o Wall Street Journal, de 4-9-2014), notícias comprometedoras sobre o regime: «Ricardo Salgado, de quem sou amigo, está calado e muito bem»...


* Imagem picada daqui.


Limitação de responsabilidade (disclaimer): Ricardo do Espírito Santo Silva Salgado, indiciado, em 24-7-2015, por «burla qualificada, falsificação de documentos, falsificação informática, branqueamento, fraude fiscal qualificada e corrupção no sector privado»,  objeto das notícas dos média, que comento, goza do direito constitucional à presunção de inocência até ao trânsito em julgado de eventual sentença condenatória.

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

O Luís Botelho Ribeiro vive!


O Luís Botelho Ribeiro faleceu, no primeiro de agosto de 2015.

Dizem que parte cedo quem Deus quer mais. O Luís transitou, aos 47 anos, para outro estado de graça. Mas permanece entre nós. O meu professor Adriano Moreira afirmava que os cemitérios estão cheios de gente insubstituível... Todavia, não creio que o Luís seja substituível. Nestes anos de miséria moral, o Luís é um dos portugueses de maior valor.

O Luís é meu Amigo. Todo o homem, mesmo o ateu, não acredita que no último suspiro se acaba a vida. Se nós, cristãos e crentes de outras religiões, entendemos que a vida não termina, mas apenas recomeça na morada celeste, noto que os ateus e agnósticos também ficam  com os seus mortos como companheiros das suas jornadas, não apenas como memória terna, mas como presença imanente. Como sentia o poeta colombiano Antonio Muñoz Feijoo (1851-1890): «muertos que en el mundo viven»... Por isso, o Luís vive!

Moral, cristão, crente, cidadão, patriota, professor, reto, corajoso, indobrável, humano, bom e humilde. Podia continuar a desfilar adjetivos pelo seu epitáfio que não lhe configurava a grandeza. É muito maior quem é humilde. O Luís tinha um modo nortenho, rijo e ao mesmo tempo carinhoso, de ser. Vivia como quem depura a alma do pecado e aperfeiçoa a moral como sentido de pensamento e de ação. Sabendo que nessa simplicidade radical se alcançam os consequentes feitos.

Professor na Universidade do Minho, na Guimarães núcleo geo-histórico do País, doutorado em Engenharia Eletrotécnica, escritor, músico e político. 

Político no sentido de dedicado à coisa pública. Mas homem de um só rosto e de uma fé, que não era da corte dos palácios sujos. Campeão da luta a favor da vida, e por isso contra o aborto e a eutanásia, fundou, em 2009, o partido Portugal Pro Vida, que está em mudança para Cidadania e Democracia Cristã. E foi precandidato à Presidência da República em 2010. Militou há muito tempo no PSD, mas afastou-se, com repulsa das práticas caciquistas. Manteve-se independente dos jogos de representação da causa da vida, em que PSD e CDS instrumentalizam um representante, mais ou menos dócil, da causa para mostrar ao eleitorado que são antiaborto, enquanto negam a adoção de medidas a favor da vida e da família. Porém, apoiava as várias iniciativas, mesmo se lhe aborrecia a natureza promíscua de algumas com o poder político.

Conheci o Luís durante a luta contra a rede de abusos sexuais de crianças da Casa Pia, que também lhe horrorizava. Sempre me apoiou nesse combate. Depois, enquanto professor de Engenharia, foi um suporte essencial do desmascarar da licenciatura manhosa do então primeiro-ministro Sócrates, na identificação das cadeiras que lhe faltavam (oito!) para concluir regularmente a licenciatura em Engenharia da Universidade Independente. E colaborou comigo na tentativa, discreta mas ativa, de mudança da Igreja em Portugal, que ficou a meio, na habitual conformação com o poder político de turno, mesmo maçónico e corrupto.

Tivemos longas conversas sobre a melhor forma de exercer a política em Portugal e seguimos caminhos diferentes, embora irmanados dos mesmos princípios e dirigidos aos mesmos fins.

Eu acreditava que o único caminho viável era a luta dentro dos partidos; e daí eu ter tentado fazê-lo dentro do PSD (onde não tive qualquer cargo e não fui candidato a nada) até ter concluído que era não era possível a transformação - e saí. Para além de tentar a via organizativa do Movimento para a Democracia Direta, para a mudança dos partidos que teve consequência mitigada em eleições primárias no PSD e PS, e o Luís até me convidou para explicar a ideia, com a qual concordava, da democracia direta no Centro Académico Vimaranense, em novembro de 2007. O Luís cria que a luta dentro dos partidos - tinha tentando no PSD também, em Paredes - não teria resultado neste ambiente maçónico putrefacto do pântano político do Portugal atual e tentou a via da criação de um novo partido. Todavia, foi bloqueado pelo filtro dos média e também - importa dizê-lo - pela falta de apoio da Igreja. Nem o meu caminho resultou, nem o dele. Contudo, continuámos a tentar a luta pelos meios disponíveis, e mantê-la-emos, em espírito e verdade, nesta vida, enquanto Deus quiser, e na outra, cuidando.

Atingido pela leucemia, contra a qual lutou com coragem e sacrifício cristão, ainda a semana passada me telefonou. Perguntei-lhe pela oportunidade do transplante, mas senti-o muito frágil e contou-me que a doença tinha tido um retrocesso. Porém, acrescentou com piedade, que seria como Deus quisesse, corajoso face à morte, como sempre foi face à vida. Convidou-me para encabeçar a lista de Leiria do PPV/CDC às próximas eleições legislativas de outubro de 2015. Expliquei-lhe o que já lhe tinha repetido. Disse-me que não era um pedido o que me fazia, mas um imperativo moral a que eu devia atender. Que não aceitava já um «não» e que refletisse durante durante dois dias. Reflexão que aceitei fazer, ainda que soubesse que não podia aceitar. Já não pude dizer-lhe que não porque não tinha coragem para tanto. Então, ficou, entre nós, a mesma comunhão que sempre tivemos. Até sempre, Irmão!