quarta-feira, 16 de abril de 2014

Pastor

A.B.C.. Cajado. 10 de Abril de 2014. Monumento a São Bernardo, Alcobaça.


Passou, sem grande referência nos média, o discurso do Papa Francisco na audiência aos membros do BICE - Gabinete Internacional Católico da Infância, em 11-4-2014.

O que passou aqui, como no se vê no DN é apenas a parte do pedido de perdão pelos abusos praticados por sacerdotes sobre crianças e adolescentes. Um reconhecimento, que se deve louvar, de atos que são crimes, além de pecados. Nas palavras do Papa:
«Sinto-me chamado a assumir a responsabilidade de todo o mal que alguns sacerdotes - muitos, muitos em número, mas não em proporção à totalidade -, a assumir a responsabilidade e a pedir perdão pelo mal que praticaram, pelos abusos sexuais de crianças. A Igreja está consciente deste dano. É um dano pessoal e moral deles, mas de homens de Igreja. E não vamos dar um passo atrás no que se refere ao tratamento destes problemas e das sanções que devem ser impostas. Pelo contrário, creio que devemos ser muito fortes. Com as crianças não se brinca.» (Tradução e sublinhado meus).
Porém, a notoriedade do Papa Francisco nos média dominantes termina no limiar da crítica do arcaísmo do estilo: tudo quando seja a reafirmação da doutrina não interessa.

Mas é fundamental realçar o que o Papa também disse além da referência que fez à violência sobre os menores, o trabalho escravo e o recrutamento de meninos para soldados. Afirmou o Papa:
«Há que reiterar o direito das crianças a crescerem numa família, com uma mãe e um pai capazes de criar um ambiente idóneo ao seu desenvolvimento e à sua maturação afetiva. Continuando a amadurecer na relação, no confronto, com aquilo que é masculinidade e a femininilidade de um pai e de uma mãe, e assim preparando a maturidade afetiva. (...)
A este propósito quero manifestar a minha recusa de todo o tipo de experimentação educativa com as crianças. Com as crianças e os jovens não se podem fazer experiências: não são cobaias de laboratório!
Os horrores da manipulação educativa que vivemos nas grandes ditaduras genocidas do século XX não desapareceram: conservam a sua atualidade sob roupagens diversas e propostas que, com alegação de modernidade, forçam crianças e jovens a caminhar pela estrada ditatorial do “pensamento único”. Dizia-me, há pouco mais de uma semana, um grande educador: "às vezes, não se sabe se, com estes projetos» - referindo-se a projetos concretos de educação - «se se manda um menino para a escola ou para um campo de reeducação". (...)
Para vós, trata-se de oferecer aos vossos dirigentes e colaboradores uma formação permanente sobre a antropologia da criança, porque é aí que os direitos e as obrigações têm o seu fundamento. (...)
Vem-me à ideia o logótipo que a Comissão da Proteção da Infância e da Adolescência tinha em Buenos Aires (…): o logótipo da Sagrada Família sobre um burrinho que foge para o Egito para defender o Menino. Às vezes, para defender, é necessário fugir; às vezes é necessário parar para proteger; às vezes é necessário combater. Mas é sempre preciso ter ternura.» (Tradução e realces meus)

Portanto, para que não restem dúvidas, o Papa reitera:
  1. O combate ao abuso sexual de crianças por membros da Igreja;
  2. O direito de cada criança a ser educado por um pai e uma mãe (recusando assim a adoção, e co-adoção, de crianças por casais homossexuais).
  3. A recusa da manipulação educativa de crianças e jovens e a transformação da escola em campos de reeducação politicamente correta.
  4. A rejeição da «estrada ditatorial do 'pensamento único' relativista.
  5. A fundação dos direitos da criança na «antropologia da criança» (isto é, na própria criança e não nos direitos dos adultos sobre as crianças).

A maior abertura da Igreja ao mundo pelo Papa Francisco - e o que se tem dito dessa atitude - tem sido confundida com resignação perante o relativismo. Aí está a contraprova. Acho que em vez do ceticismo, devemos preferir a confiança. Vale a pena usar a chave hermenêutica sobre a sua ação tática que o Papa deixou no final desta intervenção: às vezes, é necessário fugir; às vezes é necessário parar; e às vezes é necessário combater. Defender, proteger, combater.

2 comentários:

Anónimo disse...

O que mais caracteriza este papa,ao contrário dos anteriores, é o facto de ora acertar no cravo ora na ferradura, de forma a agradar a todos. A todos, nomeadamente, ateus, homosexuais, divorciados, outras religiões e até católicos. Desta vez acertou no cravo e continuam todos contentes. Uma popularidade incrível e uma igreja que finalmente agrada ao Mundo.

Anónimo disse...

Quem perdeu afinal a cabeça, Francisco ou João Batista?

http://www.elmundo.es/america/2014/04/23/5357a0c3ca4741000b8b4575.html