Um projeto de três ano e meio, finalmente edificado, neste sábado, 12-4-2014, na cidade de Alcobaça, oitocentos e sessenta e um anos depois da doação de D. Afonso Henriques e sua mulher D. Mafalda, a São Bernardo e à Ordem de Cister, do Couto de Alcobaça. Uma peça esplêndida do excecional escultor alcobacense Luís Santos. Um monumento doado à cidade pela Academia de Cultura, que fundei e liderei com a ajuda de muitos, e realizada com a ajuda fraterna de vários patrocinadores e diversas boas vontades, sem qualquer apoio público para além da preparação da rotunda para receber o monumento. Um marco a recordar o passado com olhos postos na projeção do futuro: o regresso da Ordem de Cister a um pequeno cantinho do Mosteiro de Alcobaça. Replico abaixo, e com indulgência dos leitores, o texto preparado no qual baseei o meu agradecimento na inauguração do monumento, presidida pelo senhor Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente.
A.B.C., Monumento a São Bernardo, Alcobaça, abril de 2014
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«Lembrai-Vos,
ó piíssima Virgem Maria…». Nossa Senhora lembrou-se e Deus atendeu a
nossa prece, mesmo nos momentos mais difíceis em que este projeto esteve
bloqueado. Mas foi possível erguer esta magnífica obra de arte realizada à mão,
durante quase um ano inteiro de esforço delicado, com máquinas mas também com escopro
e cinzel, unicamente pelo excecional escultor alcobacense que é Luís Santos.
O trabalho
realizado na formação e no desenvolvimento cultural local, pela Academia de
Cultura, pelos membros da direção e seus órgãos sociais, a adesão dos seus
sócios e os serviços dos seus colaboradores, no início da década de 2000, com
17 cursos de formação e a participação de centenas de alunos adultos e
jovens e de distintos professores e conferencistas, é agora culminado com uma
obra que fica.
Uma ideia minha já antiga de homenagear São Bernardo através
de um Monumento, que propus aos membros da Academia de Cultura e que foi
adotada e concretizada. Não como fim de um trabalho, mas como motivo – tal como
na elevação de Alcobaça a Cidade, em 1995.
De 6.500
euros com que a Academia de Cultura partiu – uma espécie de cinco pães e dois peixes
–, dentro da discricionariedade absoluta que esta tinha de dispor do seu
dinheiro, e cuja proposta foi apresentada à Câmara Municipal em 28 de outubro
de 2010, foi possível pedir e receber ajuda fraterna, congregar vontades e
suceder, realizando um monumento que, de outro modo, custaria umas dezenas de
vezes mais. Mas pedimos e deram-nos:
- a pedra (para as duas peças do monumento), a energia, equipamentos e materiais, os serviços de corte e de movimentação, e o transporte, assegurados pela Mármores Vigário, com relevo para o senhor Rogério Vigário que, comigo, se tornou, na prática, co-administrador da edificação deste monumento;;
- os projetores de iluminação e o serviço de grua pelo Crédito Agrícola de Alcobaça;
- o báculo, pelo senhor Eng. Carlos Pinto de Abreu;
- as inscrições pela Solancis, com custo complementado pelo Jornal O Alcoa;
- as pontas das ferramentas pela GPA, do senhor Carlos Garrido;
- a fotografia e a simulação gráfica pela FIP, do Dr. Vítor Ferreira;
- o desconto da AuraLight (pelo Eng. Alberto Van Zeller) e da Idelgrua;
- a consultoria histórica e iconográfica do Prof. Gérard Leroux;
- o tecido da coberta pelo senhor Carlos Henriques; e a costura por outrem;
- e o som pelo eng. Emanuel Manzarra;
- e mais a colaboração pela Câmara Municipal, na pessoa do seu presidente Dr. Paulo Inácio, e do vice-presidente Hermínio Rodrigues, do eng. José António Francisco e dos funcionários, no arranjo da rotunda, onde este monumento, oferecido pela Academia, fica instalado.
- além da ajuda de outros amigos, que guardo in pectore,
- E da cooperação de outros fornecedores.
Acima de todos, no entanto, devo destacar o apoio firme,
empenhado e indefetível, do Padre Carlos Jorge Vicente. E agora do senhor
Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente que, por intermediação do nosso Prior,
se dignou vir abençoar este monumento comunitário e que aqui produziu uma
magnífica lição de história, destacando o papel fundamental de São Bernardo na
consolidação e no desenvolvimento do País.
A Academia tem a honra de doar ao povo este monumento a São
Bernardo, que é erguido aqui nesta rotunda da escola D. Inês de Castro,
fisicamente longe, mas espiritualmente unido ao Mosteiro que São Bernardo traz
na mão esquerda - e báculo de autoridade eclesiástica do Couto na outra. Fica
agora a Câmara Municipal com a propriedade e a responsabilidade de proteção,
manutenção e reparação, do monumento que doamos.
É hora de agradecer e, além dos patrocinadores e apoios,
também: aos membros dos órgãos sociais da Academia de Cultura e aos seus sócios.
Para a Ordem de Cister, a Bernardo, seu primo por via
materna, e abade de Clairvaux (Claraval), deu, em 8 de abril de 1153, D. Afonso
Henriques, e sua mulher, D. Mafalda, o grande couto de Alcobaça (cerca de quatro
centenas de quilómetros quadrados) à Ordem de Cister, em gratidão pela conquista
milagrosa de Santarém e pela sua ajuda no reconhecimento da coroa portuguesa. À
distância, é ele o fundador da Alcobaça moderna. Cerca de quatro meses depois,
Bernardo falece. No olhar do seu rosto, que o escultor Luís Santos notavelmente representa,
já se vê a nostalgia e o abandono da terra e o próximo trânsito para o Céu, de
onde nos vê, com perdão dos pecados cometidos, com relevo máximo para a
perseguição dos monges e a nacionalização do mosteiro, onde ainda não os
deixaram voltar.
São Bernardo não nos deu apenas esta terra, pois foi
determinante na obtenção da nossa Pátria, no reconhecimento político e no
desenvolvimento do país. Alcobaça tornou-se um núcleo geo-histórico de
Portugal, convertendo e dando sustento espiritual, difundindo cultura,
introduzindo novas tecnologias e lançando a organização económica, fixando
populações e criando bem-estar às gentes que aqui se abrigaram.
Esta é a hora de reconciliação dos alcobacenses e destes com
a história de Alcobaça. Uma história mal contada e enviesada, escrita na época
da perseguição religiosa, do confisco de mosteiros e de propriedades e da
expulsão das ordens religiosas do séc. XIX e cuja mentira se prolongou no séc.
XX - de monges algozes e de povo explorado -, omitindo fidalgos e burgueses,
que também os havia… Negligenciando a ação civilizadora, de proteção e bem-estar
do povo, de desenvolvimento económico e cultural. Uma história ingrata que
agora harmonizamos. Da divisão artificial à paz ativa.
Alcobaça, consciência da portugalidade – e nomeadamente através
da escrita dos seus grandes historiadores. Centro de oração e contemplação, mas
também de irradiação do Espírito, da cultura e alma mater de ensino superior, e da tecnologia agrícola e
pré-industrial. Uma Alcobaça que perdeu a matriz espiritual e cultural, mas que
a pode começar a recuperar com a atribuição de um cantinho à Ordem de Cister no
mosteiro enorme que ela mesma construíu e tudo poderá acolher. Sem exclusão,
nem duplicidade.
Nesse sentido projetado, este Monumento a São Bernardo, é um
sinal de esperança. Possa o espírito de concórdia e de persistência que
orientou a edificação desta dádiva ser seguido.
Muito obrigado a todos.
António Balbino Caldeira
5 comentários:
Amigo
num mundo onde nada é definitivo além do socialismo e do estado de cadáver
fico muito satisfeito por realizar esta justa homenagem a S. Bernardo
a desinformação continua
sobre o período em que a Igreja teve influência terrena
só muito recentemente ao estudar a alimentação do passado mais ou menos longínquo
me apercebi que Clairvaux
terá provavelmente origem no
latim Clara vallis
Os meus parabens por esta concretização.
Muitos Parabéns! A Nossa Nação começou aqui e com a Benção de São Bernardo. Homenagem mais que merecida. Será que poderemos ter esperança de voltar a ensinar à nossa Juventude a Verdadeira História de Portugal? Assim o espero e são iniciativas como esta que poderão dar a saída para colmatar tanta ignorância maldosamente espalhada e difundida
por interesses alheios à nossa Pátria.
Alcobaça, a de Aljubarrota, também.
Quanto a Portugal, oremos pelo seu estado de defunto, numa Europa em estado comatoso. Uma Europa frouxa e aburguesada, que vive em panico, perante uma putativa próxima guerra.
Mas que guerra terá a Europa se a Grã-Bretanha tem 88.000 soldados? Putin e os cossacos virão até ao Cabo Espichel, a não ser que o Amigo Americano se preste outra vez a atravessar a atravessar o Atlântico.
Parabéns, Prof. Caldeira, pela obra. A luta terá que continuar, pois a cada dia as trevas se acentuam, e com elas, a miséria, a indigencia.
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