Ilustração de autor anónimo, libretto da Via Sacra 2013, no Colosseo de Roma, presidida pelo Papa Francisco,
IX Estação - Jesus cai pela terceira vez
«O corrupto não se apercebe do seu estado de corrupção. É como o mau hálito: dificilmente quem tenha mau hálito se dá conta disso. Há outros que se apercebem e devem fazê-lo notar. Em consequência, dificilmente o corrupto pode sair desse estado por remorso interior. Toda a corrupção social não é mais do que a consequência de um coração corrompido. (...) Podemos dizer que se o pecado se perdoa, a corrupção não deve ser perdoada». (Tradução minha).
Cardeal Jorge Mario Bergoglio (atual Papa Francisco), 8-12-2005
Meditações do cardeal-arcebispo de Buenos Aires recolhidas no livro «Guarire dalla corruzione»,
Editrice Missionaria Italiana, 2013.
Nesta Sexta-Feira Santa da Paixão do Senhor, período de redenção que Cristo põe ao alcance dos homens, enquanto cruz e ressurreição, é-nos renovado sempre o alerta para a necessidade de nos levantarmos, uma, outra e mais outra vez, em cada queda em que a natureza nos quebra. O que faz um homem não é não cair, é levantar-se, inclusivé nas nonas estações da via sacra da nossa existência. E Cristo, que teve experiência dessa provação, ajuda-nos sempre a suportar o peso da cruz, a levantar a vara, a reerguermo-nos depois de cada derrota. Somos humanos porque caímos e somos de Deus porque nos levantamos.
A corrupção - de fala o Papa Francisco, profundamente profundo na sua simplicidade tocante (veja-se a sua «Oração dos cinco dedos», que me foi gentilmente enviada por um Padre amigo) - é talvez o pecado de maior dano social nesta fase penosa de decadência da democracia representativa por prevaricação dos representantes e por falência institucional. Como tenho insistido, a corrupção de Estado mata, adoece, fere, esfomeia, gela, embrutece, perverte, despeja, expulsa - porque o dinheiro desviado do seu fim necessário prejudica os concidadãos carentes da ação estatal que se deixa de realizar ou se atrasa. E a corrupção não mata, nem esfola, a uma só pessoa, mas a muitos, frequentemente a um povo inteiro. Por isso, tem de ser combatida pelos homens e mulheres de bem, enquanto guerra justa legitimada pela moral e pela Fé, em vez de ser propositadamente ignorada pela comodidade da abstenção ou pela adesão à promiscuidade. Apontar a corrupção de quem por fraqueza de caráter, ou até por maldade, se deixa tentar, ou solicita, uma percentagem, ou um prémio, de um negócio de Estado é uma obra de misericórdia. Quem se envolve nesse combate socialmente necessário, inspirado pelos bons princípios, não o faz por vontade de castigo, mas como oportunidade de redenção dos corruptos degenerados da graça do Bem, disponível para todos. São os atos que queremos eliminar e a pedagogia do rigor que queremos instalar, porque só assim se recuperam a política para a causa do bem comum e se melhora a vida de todos.
A corrupção - de fala o Papa Francisco, profundamente profundo na sua simplicidade tocante (veja-se a sua «Oração dos cinco dedos», que me foi gentilmente enviada por um Padre amigo) - é talvez o pecado de maior dano social nesta fase penosa de decadência da democracia representativa por prevaricação dos representantes e por falência institucional. Como tenho insistido, a corrupção de Estado mata, adoece, fere, esfomeia, gela, embrutece, perverte, despeja, expulsa - porque o dinheiro desviado do seu fim necessário prejudica os concidadãos carentes da ação estatal que se deixa de realizar ou se atrasa. E a corrupção não mata, nem esfola, a uma só pessoa, mas a muitos, frequentemente a um povo inteiro. Por isso, tem de ser combatida pelos homens e mulheres de bem, enquanto guerra justa legitimada pela moral e pela Fé, em vez de ser propositadamente ignorada pela comodidade da abstenção ou pela adesão à promiscuidade. Apontar a corrupção de quem por fraqueza de caráter, ou até por maldade, se deixa tentar, ou solicita, uma percentagem, ou um prémio, de um negócio de Estado é uma obra de misericórdia. Quem se envolve nesse combate socialmente necessário, inspirado pelos bons princípios, não o faz por vontade de castigo, mas como oportunidade de redenção dos corruptos degenerados da graça do Bem, disponível para todos. São os atos que queremos eliminar e a pedagogia do rigor que queremos instalar, porque só assim se recuperam a política para a causa do bem comum e se melhora a vida de todos.