José Sócrates acusou a Presidência da República de conspiração, na entrevista «Sócrates, o fim do silêncio», do ex-primeiro-ministro José Sócrates à RTP-1, perante o diretor de Informação, Paulo Ferreira, e Vítor Gonçalves, ontem, 27-3-2013. O intrigrante diretor de informação, como assinla o José, e de quem se alega - e pode desmentir... - que terá difundido o email privado de dezassete meses antes que permitiu ao PS socratino desencadear a vitimização a nove dias das eleições legislativas de 2009, no quadro perigoso de um inquérito em curso a José Sócrates por «atentado contra o Estado de direito» - que dirigentes do Partido Socialista conheceriam, segundo consta do processo Face Oculta, desde 25 de junho de 2009, mas de que o povo não sabia. O objetivo é duplo: expor Seguro como traidor (por não defender o seu PS da «narrativa» da «direita») e condicionar Cavaco a devolver-lhe o poder.
Nesta entrevista, Sócrates gozou com a chamada de Cavaco a Belém dos dirigentes dos serviços de informação para verificarem potenciais intromissões no correio eletrónico da Presidência da República. Como se aquilo que tem sido publicamente exposto de operações negras das estruturas de informação do poder, à margem da lei, não tivesse existido e fosse apenas uma queixa isolada da Presidência e não, durante o lusco-fusco socratino, de «muitas queixas de deputados» sobre violação de correspondência eletrónica, desde logo do insuspeito socialista António Galamba, de «devassa da vida privada de jornalistas» (como Nuno Simas), de vigilância, intrusão e perseguição a juízes, e até o também insuspeito Procurador-Geral da República Fernando Pinto Monteiro («penso que tenho o telemóvel sobre escuta»)!...
O estilo de governação autoritária rosa-choque, ruinosa e nebulosa, do ex-primeiro-ministro merecia outro confronto de factos e questões, como aquelas «Dez perguntas para Sócrates» que o Correio da Manhã, de Octávio Ribeiro, estampou na sua edição de hoje, 29-3-2013, e o patriota José da Porta da Loja agudiza e completa no seu poste «Dez perguntas... para Sócrates responder», também de hoje. Outras nos ocorrem a todos.
O caso que Sócrates agora recuperou, na entrevista do seu regresso... ao passado, remonta aos idos de 2009 e foi tratado neste rincão do Portugal profundo. Tratou-se de uma operação montada pelo socratismo para tolher Cavaco e vitimizar... o primeiro-ministro, a nove dias das eleições e sob o medo pela banda socratina que ribombasse a música inédita do inquérito ao primeiro-ministro por eventual «crime de atentado contra contra o Estado de direito».
Agrava-se nessa altura o mal-estar entre Cavaco e Sócrates. Um mal-estar que era motivado por uma diferença de origem, de caráter e de comportamento, mal disfarçado pela cooperação institucional e pela utilidade mútua. Porém, quanto mais Cavaco se vergava - por conveniência de reeleição e comodidade -, mais Sócrates abusava. Uma rutura em dez etapas:
- O primeiro-ministro Sócrates teria prometido ao Presidente Cavaco Silva, em audiência privada, que corrigiria o Estatuto Político-Jurídico dos Açores. Não o fez, provavelmente pressionado por Carlos César. Sócrates nunca desmentiu essa desinteligência.
- O Presidente fez uma estranha Mensagem ao país, em 29-12-2008, sobre esse absurdo Estatuto dos Açores, onde deixa uma referência que, na altura, passou despercebida: «Está também em causa uma questão de lealdade no relacionamento entre órgãos de soberania»...
- O socratismo planta notícias no Semanário, em 7-8-2009, sobre uma pretensa colaboração entre assessores de Belém na elaboração do Programa de Governo do PSD. Como é evidente para quem não for ingénuo, essa notícia de colaboração de assessores (note-se o plural) parece só poder ser fruto de vigilância a esses assessores de Belém que se teriam alegado encontrado com amigos que pertenciam ao grupo de elaboração do Programa do PSD. Watergate?! Não: Watergate só existe nos EUA... Em Portugal não houve - nem há - pelos serviços de informação, e estruturas vagabundas (à margem de ordens de serviço) vigilância ostensiva (esta palavra ostensiva é que lhes dói...), intimidação, perseguição, intrusão, escuta, intromissão, infiltração, ameaça, chantagem, pagamento...
- Em 15 de Agosto de 2009, no Público, os dirigentes e deputados socialistas socratinos José Junqueiro, Vitalino Canas, Vítor Baptista e Vítor Ramalho - e depois António Vitorino! - atacaram a Presidência da República por esta não ter desmentido uma notícia que... o socratismo tinha plantado...
- O Público, em 18-8-2009, noticia «Presidência da República teme estar a ser vigiada», pela jornalista próxima dos socialistas São José Almeida; e no dia seguinte, 19-8-2009, «Belém preferiu não comentar e Sócrates falou em "disparates"» por São José Almeida e Luciano Alvarez, desenterrando um caso «velho de 17 meses» de infiltração de um assessor de Sócrates, Rui Paulo Figueiredo, nos círculos de assessores da Presidência durante uma visita oficial do Presidente à Madeira. A Presidência deve ter sido muito contida em qualquer confidência feita e não deve ter dito nem um décimo do que sofreu e sabia...
- O socratismo encaixa, mas, por estilo e também apertado pelo receio da explosão do inquérito por alegado «crime de atentado contra o Estado de direito», investigado pelos magistrados de Aveiro, no âmbito do caso Face Oculta, ao primeiro ministro por causa do seu alegado «plano para controlo dos meios de comunicação social» a meses das eleições legislativas, reagrupa.
- Sócrates responde um mês depois, em 18-9-2009, a nove dias das eleições, no DN, com a peça montada «Homem forte do Presidente encomendou «caso das "escutas"». Segundo consta - mas pode ser desmentido facilmente - o jornalista Paulo Ferreira (que depois ganhou um lugar na controlada RTP socratina, como editor de Economia, com grande e inexplicável autonomia interna) difunde o mail de Luciano Alvarez pela redação do Público, o que provoca uma revolta interna - dificilmente apaziguada pelo diretor José Manuel Fernandes com uma nota de esclarecimento. Segundo consta um homem da confiança de Sócrates, mais tarde identificado como o seu íntimo secretário de Estado Filipe Boa Batista (que, pouco tempo depois, receberia a comenda choruda de um lugar de vogal da Anacom) apresenta ao Expresso um dossiê com o mail, datado de dezassete meses antes, do jornalista Luciano Alvarez para outro colega relativo à infiltração de um assessor do primeiro-ministro nos círculos da Presidência numa visita oficial, e que saltou para a ventoinha socialista. É o próprio diretor do Expresso dessa altura, Henrique Monteiro que agora, em 28-3-2013, reitera a natureza exata da manobra: «quando era diretor do Expresso não foi de Belém que me chegou uma conspiração contra o Governo, mas do Governo que me chegou uma conspiração contra Belém»... Existe, aliás, a suspeita, não confirmada de que o facto de Henrique Monteiro se ter oposto à difusão dessa notícia encomendada pelo socratismo, foi a causa da sua queda da direção do semanário de um grupo carente de apoio financeiro...
- Cavaco Silva não reage, mas a notícia, dada neste blogue, em 23-9-2012 - «O Dr. Fernando Lima continua a trabalhar na Presidência da República» - amplificada pelas declarações de Mário Soares no dia seguinte a veicular a suspeita de que o assessor se mantinha no posto, força Cavaco Silva a segurar o assessor, ainda que o mude de lugar (25-9-2009). Esta cedência do Presidente traduziu-se numa demonstração de fraqueza que, como outras, Sócrates explorou, e que teve o seu impacto na votação do PSD nas eleições legislativas.
- A mensagem de Cavaco Silva em 29-10-2009, dois dias depois das eleições legislativas que Sócrates ganhou, neste ambiente do socialismo autoritário, aparentado ao chavismo e ao kirchnerismo, não repôs o equilíbrio, nem o respeito.
- O ataque insultuoso de Sócrates, em 27-3-2013, é o corolário da sua poupança do inimigo.
Vale a pena relembrar o que escrevi nessa altura e publicar, também, a explicação de «esse assessor», como Sócrates tratou Fernando Lima, na entrevista de ontem, 27-3-2012, que, segundo Sócrates «planeou, concebeu e executou essa operação» (sic). Tome o leitor a sua conclusão de qual foi a operação e de quem a concebeu, a planeou e a executou...
Em 30-9-2009, escrevi aqui, no poste «A vontade socratina de "cortar o mal [Cavaco] pela raiz"»:
«Uma notazinha sobre a mentira repetida, que o Dr. Pedro da Silva Pereira retoma para atenuar a gravidade das críticas socialistas à Presidência da República, de que a colaboração dos assessores do Presidente no programa do PSD foi confirmada no sítio desse partido. O sítio do PSD agrega notícias dos media que ao PSD dizem respeito. É mentira que o PSD tenha confirmado a participação de assessores do Presidente no seu programa, como a informação soprada ao Sol, de 18-8-2009, queria alijar. Insistir nessa mentira é manipular a declaração do Presidente da República. Como é evidente, foram os serviços socratinos que obtiveram a informação dos contactos entre assessores do Presidente e membros do seu partido e foi o centro de comando e controlo que a plantou no oficioso Semanário, de 7-8-2009, para que a seguir fosse comentada pelos cinco violinos socialistas indignados - Junqueiro, Vitalino, Vítor Ramalho, Vítor Baptista e António Vitorino. Obter a informação de modo ilegítimo, colocá-la disfarçadamente num meio, e a seguir vir dizer que foram os adversários que se denunciaram é o cúmulo da manipulação.»
Ainda no 30-9-2009, publiquei o seguinte no poste «O primeiro ataque foi do PS socratino»:
«"Homens fortes do PS falam em interferência na campanha
Socialistas próximos de José Sócrates lançam forte ataque a Cavaco Silva
15.08.2009 - 09h07 Filomena Fontes
É verdade, ou não, que foi o PS a abrir as hostilidades sobre o Presidente da República quando em 15 de Agosto de 2009 (três dias antes do Público, em 18-8-2009, e no dia seguinte, desenterrar o caso «velho de 17 meses» da conversa com um assessor da Presidência), no Público, os seus dirigentes e deputados José Junqueiro, Vitalino Canas, Vítor Baptista e Vítor Ramalho - e depois António Vitorino - atacaram a Presidência da República?»
E, 1-10-2009, no poste «O Presidente Ditador José Sócrates», notei:
«* Provado na mensagem presidencial o que desencadeou a crise («um tipo de ultimato dirigido ao Presidente da República», os socialistas respondem com a questão da precedência do ovo e da galinha, invocando a mensagem do Presidente da República sobre o Estatuto dos Açores, em 29-12-2008. Mas, então, importa o primeiro-ministro desmentir que não prometeu a Cavaco emendar, nesse diploma (honni soit...), as cláusulas de que este se queixou; e que não foi isso que justificou a declaração. Sócrates nunca desmentiu. Pode ainda fazê-lo. Basta uma declaração pública do género: «não faltei à palavra dada ao Presidente da República sobre o Estatuto dos Açores».
** O "ultimato" [a Cavaco Silva] de quatro dirigentes socialistas (José Junqueiro, Vitalino Canas, Vítor Baptista e Vítor Ramalho), no Público, em 15-8-2009, e de António Vitorino (!!...), após o plantio da notícia, produto da intelligence, sobre a pretensa colaboração de assessores da Presidência, no Semanário de 7-8-2009 e sua agregação no radar do sítio da internet do PSD.»
Em 17-1-2010, no poste «Fernando Lima escreveu sobre caso das escutas», disse:
«Passada a época eleitoral e as suas sequelas, o Dr. Fernando Lima, assessor do Presidente da República, pronunciou-se ontem, 16-1-2010, num artigo no Expresso intitulado «A minha verdade» (mais tarde, quando disponível, colocarei aqui link para o texto integral), sobre o caso das «escutas», aquilo que chamei a Operação Encomenda: uma operação profissional da espionagem oficiosa com direcção política, montada com grande antecedência para eclodir sobre a campanha eleitoral. E o PS respondeu pelo seu inesquecível dirigente Dr. Ricardo Rodrigues que, como nota o José da Porta da Loja, tem uma «estupefacção» selectiva: uma estupefacção que vale para um artigo de jornal, mas não para as certidões de crime de atentado ao Estado de direito!... E logo a seguir, reforçou (?) com um ataque frouxo do líder parlamentar Francisco Assis.
O Dr. Fernando Lima explica no artigo do Expresso que a resposta à insistência na pergunta sobre o boato de colaboração de assessores presidenciais no programa eleitoral do PSD, serviu para as notícias, e manchete, do Público, datadas de 18-8-2009 («Presidência da República teme estar a ser vigiada») e de 19-8-2009 («Casa Civil da Presidência da República suspeita que está a ser vigiada há ano e meio» - sobretítulo) onde, para confirmar a suposta queixa da Presidência, se desenterrou a história da intrusão do assessor do primeiro-ministro, Dr. Rui Paulo Figueiredo, em conversas de assessores presidenciais durante a visita do Prof. Cavaco Silva à Madeira, cerca de dezasseis meses antes. O boato da colaboração de assessores do Presidente da República na campanha do PSD havia sido colocado no oficioso Semanário, de 7-8-2009 (ver a explicação do Semanário de 21-8-2009) e comentado pelos dirigentes socialistas José Junqueiro e Vitalino Canas que lançaram a farpa sobre a relação do Palácio de Belém com o PSD, exigindo ao Presidente que desmentisse o boato previamente lançado: a conhecida táctica da pescadinha marmota. Os socialistas justificaram depois que essa colaboração não tinha sido desmentida pelo PSD e foi sustentada pelo facto do feed de notícias sobre o partido que o sítio do partido chupa automaticamente, onde apareceu a notícia do Semanário aí apareceu mencionada. O episódio da visita à Madeira foi retomado na encomenda do DN, de 18-9-2009 («Homem forte do presidente encomendou 'caso das escutas'»), onde se denunciou que a fonte de Belém que se queixou da vigilância (transformada, pelo DN, em «escutas») era o principal colaborador do Presidente da República, o Dr. Fernando Lima. A revelação do alegado autor da informação tinha como objectivo confirmar que a notícia das «escutas» (sic) tinha sido transmitida pela mesma fonte e, por isso, era verdade. Como diz o dr. Fernando Lima, no Expresso, de 16-1-2010, p. 19: «Quem suspeita de um, suspeita de todos, não parece evidente?». E não só: se o primeiro episódio passava a ser verdade com a revelação do seu autor, então também o segundo seria... Mais além, porque mais além se queria atingir: se foi o porta-voz de Cavaco Silva que o disse, o autor é o próprio Cavaco... Um círculo vicioso de mentiras. A «revelação» do DN foi obtida pela intercepção de um mail do jornalista Luciano Alvarez ao seu colega madeirense Tolentino da Nóbrega, com violação rude do sigilo e dever profissional, e fornecida por «fonte política» não nomeada (conforme foi contado, em 12-10-2009, no Prós e Contras da RTP-1, por Henrique Monteiro, director do Expresso, um jornal que foi contactado para a publicar). O Diário de Notícias, que foi o veículo da Operação Encomenda, era, e é, dirigido por João Marcelino, que num comentário à Declaração ao País do Prof. Cavaco Silva, de 29-9-2009, sobre o pseudo-caso das escutas, acusou nessa noite, na TSF, o Presidente da República de «desonestidades». O que o Dr. Fernando Lima, por motivo deontológico, não explica, mas já aqui se notou é que as notícias do Público de 18 e 19 de Agosto de 2009, foram elaboradas pela jornalista, e compagne socialiste de route, São José Almeida.
Qual era o objectivo da Operação Encomenda? Atacar o Presidente da República, que já vinha a ser exposto pelos dirigentes socialistas como alter ego da Dra. Manuela Ferreira Leite, eliminando de vez (houve um coro de vozes a reclamar a demissão do Presidente) ou debilitando o adversário de... José Sócrates nas eleições presidenciais; vitimizar o primeiro-ministro, de algoz da liberdade e da democraticidade transformado em presa inocente do maquiavelismo presidencial; e... enterrar o escândalo, cujo rebentamento se temia estar iminente, das certidões extraídas, para processo-crime contra o primeiro-ministro José Sócrates, pelo DIAP de Aveiro sobre alegado crime de atentado ao Estado de direito.
Alegadamente, a referência ao primeiro-ministro no processo Face Oculta terá sido discutida na «reunião na Procuradoria-Geral da República, que juntou o procurador de Aveiro, João Marques Vidal, o procurador distrital de Coimbra, Alberto Braga Temido, e Pinto Monteiro» (DN, de 2-12-2009) e «em 26 de Junho e a 3 de Julho, o DIAP de Aveiro remeteu ao PGR as primeiras certidões» (Sol, 4-12-2009) para investigação do primeiro-ministro por alegado crime de atentado ao Estado de direito. Porém, nada, que se saiba, vazou para a imprensa dessas diligências e nada foi tornado público na imprensa sobre o assunto antes da campanha eleitoral, apesar de respeitarem a actos gravíssimos atribuídos a um primeiro-ministro em funções que, daí a três meses, deveria ser sujeito a escrutínio completo do eleitorado relativamente ao seu mandato. Porém, o povo nem sequer soube em tempo útil que o seu primeiro-ministro tinha sido objecto de certidões para investigação do alegado crime de atentado ao Estado de direito.
A Operação Encomenda resultou, por três motivos: o PS controlava quase todos os meios; a oposição decidiu abdicar do ataque para passar a defender apenas os seus redutos; e o Presidente da Repúblkica preferiu adiar a resposta para depois da campanha eleitoral.
Nos media, o PS/Governo dispunha das televisões, rádios e jornais próprios e das meios dos grupos económicos dependentes (dos negócios, do crédito e dos subsídios), para difundir e amplificar o escândalo; e, embora existisse a autonomia da TVI e do Público face ao Governo, esses meios independentes foram rapidamente, devido à urgência, dominados pelo sistema no início de Setembro, antes da campanha eleitoral - e os blogues tinham uma audiência ínfima face à televisão. Por outro lado, nas cúpulas do poder judicial não era expectável nenhum movimento hostil, sequer prejudicial, ao primeiro-ministro e ao poder socialista - como não houve.
A oposição preferiu abdicar do ataque e limitou-se à defesa dos seus quintais. O Bloco e o PC, numa espécie de comportamento de frustração de retentor, foram neutralizados, pela expectativa de uma aliança que não surge. O CDS-PP tem ainda o problema dos escândalos do Portucale e submarinos a pesar na necessária imagem de um partido de valores e, além disso, tem seguido uma política de aliança com o PS com a alegação de que o faz pelo interesse nacional, seja o queijo ou o Pagamento Especial por Conta (PEC) a moeda de troca. E o PSD, que já tinha cometido o erro imperdoável de incluir António Preto e Helena Lopes da Costa nas suas listas de candidatos a deputado, decidiu, por péssimo conselho estratégico e táctico, optar por aquilo que chamei a táctica da neutralidade suave (nem bandeiras, nem ataques), esperando que o PS se contivesse também... Mas o socratismo não tem piedade, nem respeito: só se dobra perante a força. O resultado foi o crescimento do PS face às eleições europeias de Junho de 2009, ainda que tenha perdido a maioria absoluta e ficasse reduzido a um terço do eleitorado votante.
O Presidente da República, apanhado em contra-pé, decidiu adiar a resposta ao ataque socialista para depois das eleições de Setembro de 2009. O Dr. Fernando Lima, num gesto nobre e de sentido de Estado, sacrificou a vontade que teria de esclarecer, pública e imediatamente, o caso, áquilo que foi entendido ser o interesse da Presidência da República: não consentir pretexto ao socratismo para alegar interferência do Presidente na campanha eleitoral, explorando ainda mais a vitimização sobre uma conversa realizada dezassete meses antes (em Abril de 2008)... Porém, se o Prof. Cavaco Silva pediu o sacrifício do silêncio (temporário...) ao seu principal assessor, ao contrário do que o sistema noticiou (lembre-se o DN, de 22-9-2009) também não demitiu o assessor que a violência mediática socialista queria pendurar como bode expiatório das suas próprias campanhas. Depois das eleições, em 29-9-2009, Cavaco Silva fez uma declaração ao País extraordinariamente dura para com a direcção do Partido Socialista, ainda que não tenha concretizado as razões das suas queixas como deveria ter feito - alguém acredita que o Presidente da República tenha dito o que disse, sem que existissem evidências e relatórios das alegadas intromissões nos seus serviços?... Essa declaração do Presidente da República motivou a ameaça oficial do Partido Socialista, nessa mesma noite, pela voz do ministro da Presidência, Dr. Pedro Silva Pereira: «cortar o mal pela raiz»... Agora, Fernando Lima terminou o retiro e Cavaco Silva dá um sinal de força perante os adversários.
Apesar de tudo, na relação do primeiro-ministro com o Presidente, o saldo da Operação Encomenda e da sua exploração mediática, definindo um padrão de ataque consistente noutros episódios, é ainda muito favorável a José Sócrates.»
O alvo Dr. Fernando Lima, assessor do Presidente da República, tinha escrito, em 16-1-2007, um artigo no Expresso, intitulado «A minha verdade», que transcrevo, por precaução de evanescimento do texto da edição em linha:
«Fernando Lima escreve sobre o caso das escutasA minha verdade
1:35 Quarta feira, 20 de janeiro de 2010
O assessor de Cavaco Silva diz que o assunto nunca devia ter passado de um "episódio pícaro". Fernando Lima fala pela primeira vez sobre o caso das escutas, que incendiou o Verão.
Terminou o ano de 2009 e vários meses se passaram desde que, em Agosto, o torpor de veraneio foi sacudido por uma intriga política que pretendeu envolver o Presidente da República no palco da luta eleitoral que então decorria. Essa intriga não teve escrúpulo de tentar sacrificar o meu direito ao bom nome profissional, construído durante uma vida, e que me cabe defender e honrar. Agora que a poeira assentou, não queria deixar que o novo ano avançasse sem exercer o meu direito ao esclarecimento, tanto mais que a manifesta infâmia e a grosseira violação da ética profissional dos actores de tal enredo não foi suficiente para desmotivar, mais que não fosse por vergonha, a recorrente invocação dessa intriga sempre que a conveniência política assim o determina. Essa insistência tem como objectivo, aliás coerente com os propósitos que a motivaram, fazer passar à posteridade como verdadeiro o que não passou de uma teia bem urdida pelo fértil imaginário dos criadores de "factos políticos".
Aqui fica, pois, a minha verdade, para que conste e pese na consciência dos que deram eco insensato ou maldoso ao que não devia ter sido mais que um episódio pícaro da época estival: o que os gurus do marketing político baptizaram de "caso das escutas".Estarão lembrados de que, por alturas do Verão do ano que agora findou, começaram a correr com insistência insinuações de que haveria assessores do Presidente a colaborar na elaboração do programa eleitoral do PSD. Apesar de desmentida pública e categoricamente por um dos vice-presidentes e pela líder do PSD, alguns deputados do Partido Socialista insistiam publicamente na existência dessa colaboração. Tal estridência provocou permanentes tentativas de confirmação por parte dos jornalistas junto de elementos da Casa Civil da Presidência da República, procurando avidamente obter um comentário que alimentasse a falsa acusação. Um gesto de impaciência levou a que a resposta acabasse por ser dada sob a forma de uma pergunta: "Se não há registo de participação pública, como é que sabem o que faz cada um na sua vida privada? Andam a vigiar os assessores?"
Tanto bastou para dar origem a uma capa inesperada do jornal "Público", que transformou uma resposta irada, ditada pelo absurdo das questões, em "suspeitas gravíssimas" veiculadas por "fonte oficial". De nada serviu que a referida capa viesse com as interrogações, o que bastaria para ilustrar os leitores de boa-fé quanto ao tom e sentido da resposta, não fosse o coro afinado que, de imediato, comentou a "notícia", dando-lhe o clamor de um escândalo. Estava obtido o pretexto para fazer explodir a armadilha e ela funcionou. Decorreram assim vários dias em que políticos, comentadores de ocasião e jornalistas se multiplicaram em comentários e mais pseudo-notícias sobre a "gravidade" das suspeitas, procurando em vão que o Presidente da República, na altura em férias e ausente de Lisboa, viesse a terreiro alimentar o delírio e, desse modo, cunhá-lo com a chancela de tema a merecer atenção ao mais alto nível institucional e político. Bastaria uma palavra do Presidente da República para que uma polémica sem qualquer suporte factual passasse a ter uma existência confirmada mantendo-se a sua origem na bruma, como pretendiam os arquitectos da intriga. Não a conseguiram.
Ora, o tempo noticioso é curto e mesmo o mais descarado facto inventado tem o seu tempo de vida. Os interessados em trazer o Presidente da República para a liça política viam que o assunto perdia o brilho e a dinâmica política que proporcionava e lhes convinha, e decidiram que era preciso alimentá-lo, por quaisquer meios, sem olhar a princípios.Foi então que surgiu num diário concorrente do "Público" a publicação de um estranho e-mail - resta saber por que caminho terá ele lá chegado... -, tão estranho e despropositado que não deveria ter suscitado mais do que um impulso de rejeição enojada por parte de todos os profissionais de jornalismo e actores políticos.
O suposto e-mail era datado de há um ano e meio atrás, ou seja de Abril de 2008, e assinava-o um jornalista do "Público", que se dirigia a outro jornalista do "Público", numa correspondência de rotina profissional privada. Aí se relatava, em tom de cordial confiança próprio entre colegas da mesma casa, uma suposta conversa pessoal que o autor teria tido comigo e cujo tema teria sido o comportamento de um assessor do primeiro-ministro durante uma visita presidencial à Madeira, em Abril de 2008. Dessa conversa, que o autor do e-mail sublinhava como secreta e confidencial, teriam surgido indicações de haver matéria suficientemente interessante para que o colega, na Madeira, procedesse a averiguações, destinadas a confirmar factos que poderiam vir a ser noticiados pelo jornal "Público".
Nem na altura, nem durante o ano e meio que se seguiu, nem nunca mais, houve qualquer desenvolvimento de notícias decorrentes da suposta conversa referida no e-mail.No entanto, o diário concorrente dá honras de capa à publicação do e-mail - insisto, trocado entre dois jornalistas do "Público" um ano e meio antes, ao qual sou, como é óbvio, absolutamente alheio e sem correspondência com a realidade.Ao longo da minha actividade profissional, nunca revelei a ocorrência ou o teor de conversas com jornalistas e, por isso, não se espere de mim que alguma vez o venha a fazer. Do mesmo modo, e para que não restem dúvidas, nas minhas conversas com jornalistas jamais invoquei o nome do Presidente da República sobre algo que não decorresse de intervenções públicas.
A "notícia" do e-mail tinha, portanto, como único e exclusivo conteúdo relevante a divulgação do meu nome como sendo o do interlocutor citado, concluindo daí "a prova" de que "a fonte de Belém" que teria dado origem à suspeita das escutas de Agosto só podia ser a mesma pessoa que, em 2008, teria procurado o jornalista do "Público", "suspeitando" de um assessor do primeiro-ministro.
Quem suspeita de um, suspeita de todos, não parece evidente? E assim se deu um sentido supostamente lógico ao raciocínio que se queria induzir e que estava a cair em descrédito. Ou seja, valeu tudo. A "notícia", publicitada em parangonas na capa, foi construída com base numa eventual conversa pessoal obtida pela violação assumida do segredo profissional a que colegas de outro jornal estavam vinculados.A luta política eleitoral estava no seu auge e era preciso desviar as atenções do que podia esclarecer os portugueses ou informá-los sobre a real situação do país. Aquele e-mail gerava a confusão que convinha, impedia que o assunto das escutas morresse e, maravilha das maravilhas, era a "prova clara" de que a Casa Civil do Presidente da República estava na origem maléfica dos boatos que circulavam sobre as suspeitas de existência de escutas.
Entendamo-nos. Eu sei que esta trama raia o incrível e que é um daqueles casos em que a realidade ultrapassa a ficção, daí o ser virtualmente impossível pretender que alguém, de boa-fé e com lisura de sentimentos, acredite que tudo isto aconteceu e teve crédito na opinião pública, gerando mesmo quilómetros de artigos de opinião.
Sei que de pouco vale a razão de quem tem razão, se a intriga conseguiu crescer, infiltrar-se no espírito dos menos atentos ou menos habituados a estes meandros e produzir os resultados pretendidos por quem se determinou a tecê-la. Mas tenho o direito e o dever de apresentar as coisas tal como aconteceram. Aqui fica a minha verdade, para que a mentira não passe incólume à História.»
A verdade vence sempre. Mas antes a mentira produz os seus efeitos maléficos na vida das pessoas e dos povos. Sócrates é esta mentira que nos roeu e arruinou e, impenitente, quer voltar ao local do crime.
Atualização: este poste foi atualizado às 19:29 de 29-3-2013.
Limitação de responsabilidade (disclaimer): As entidades referidas nas notícias dos média, que comento, não são suspeitas ou arguidas de cometimento de qualquer ilegalidade ou ilegalidade nos casos referidos.
4 comentários:
Não sei o que sucedeu, que caíram os comentários deste poste... Lamento. Aí vai um que se salvou do naufrágio cibernético:
http://pormontesporvales.blogspot.pt/2009/10/cronica-de-uma-tal-escuta.html
Realmente, acusar o arrogante de ser a causa da desgraça nacional infligida pelo cavaco é não ter a mínima consideração pro quem ler e chamar estúpidos a todos os que se ludibriarem. Este facto foi reconhecido na Islândia durante o julgam,ento do ex-primeiro-ministro e fez exemplo em toda a Europa. Em Portugal custa a passar devido ao atraso e à propaganda como aqui. É bom para quem não assistiu. Querer convencer que os ordinários propagandistas de baixo nível DE UM SÓ PARTIDO que comentam por todo o lado são os únicos com direito a mentir, enganar e moldar as mentalidades atrasadas para se aproveitarem dos incautos e que votem em quem os depenou e enriqueceu roubando os parvos é ainda pior. É a desinformação em grande escala. Vindo de alguém que se quer passar por democrata é um insulto a quem o ler.
O “engenheiro”, lembra aqueles líderes dos países do 3º mundo, para os quais o “mundo civilizado” olha de soslaio, por saber que o apoio popular de que beneficiam se baseia, em larga medida, em charlatanismo.
Este tipo de lideranças só funciona em democracias débeis e sociedades com um longo caminho a percorrer em termos de cultura democrática e cidadania. A entrevista do ex-primeiro e os comentários que se ouvem "na rua", “no café” ou lêem nas redes sociais, só veio recordar que Portugal ainda se encontra mais perto de algumas sociedades africanas, do que com as dos países do centro e norte da Europa, com quem nos gostamos de comparar…
http://jornalismoassim.blogspot.pt/2013/03/the-day-after-frases-ouvidas-hoje-no.html
Entre José Sócrates e Aníbal Cavaco Silva, há um amigo em comum, o Dr. Dias Loureiro, o mago dos negócios Tuga, natural de Aguiar da Beira. Portugal em grande.
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