«O cargo de procurador-geral da República assenta na dupla confiança do Governo e do Presidente da República.»
O cargo de Procurador-Geral da República, sítio da PGR (consultado em 8-6-2011)
A questão da substituição do procurador-geral da República deve ser resolvida imediatamente após a tomada de posse do novo Governo. Jusitifco com os factos e acrescento-lhes a lei.
Factos (os malvados!):
- Da direita à esquerda, com excepção do PS, o procurador-geral da República, Dr. Fernando Pinto Monteiro foi criticado entre outros motivos pela gestão incomum e interpretação particular da lei nos processos Freeport e Face Oculta e do «Plano Governamental para o Controlo dos Meios de Comunicação Social».
- Na cerimónia de abertura do ano judicial, em 16-3-2011, devolvendo essas críticas quase unânimes, o Dr. Pinto Monteiro disse:
«A tentativa de resolver problemas políticos através de processos judiciais (dezenas de casos são conhecidos) é um dos exemplos da nefasta intromissão da política na Justiça"».
- Em 28-2-2010, Pedro Passos Coelho, na época candidato à liderança do PSD disse em entrevista à TSF e DN que «seria um bom contributo para recuperar a credibilidade da Justiça que fosse designado um novo Procurador». Uma posição repetida no i, de 11-5-2011: «Passos não confia em Pinto Monteiro e já o disse várias vezes».
- Em 13-5-2011, pela Lusa, o Dr. Pinto Monteiro desceu ao terreno da campanha eleitoral e respondeu ao candidato do PSD a primeiro-ministro, como se fosse um líder partidário, em vez de... procurador-geral da República, e argumentando ao arrepio da Constituição e a interpretação do cargo pela própria Procuradoria-Geral:
«O cargo do procurador-geral da República não depende dos governos e é bom agora esclarecer isso. O procurador-geral, neste momento – porque a lei já foi diferente – é nomeado pelo Presidente da República e só ele pode afastar o procurador-geral. (...)
Até os seis anos não dependem de qualquer evolução do Governo, salvo se o Presidente, por qualquer motivo que nunca aconteceu, não tiver confiança no procurador-geral. Mas o Governo não tem nada a ver com isso.» - Contudo, Pinto Monteiro não ficou por aqui - nunca fica... Em São Pedro do Sul, em 7-11-2011, dois dias depois da eleição que determinou que Passos Coelho seja primeiro-ministro, o procurador-geral com a toga do avesso (o lado político), e em tom fosco de desprezo, comentou, segundo conta o CM:
«"A autonomia externa do Ministério Público significa que não tem nenhuma dependência do Governo. Portanto, eu não tenho rigorosamente nada a ver com o Governo." (...)
Pinto Monteiro explicou que "o procurador-geral é nomeado pelo Presidente da República e pode ser, com motivo", por ele exonerado, sendo indiferente quem está no Governo.
"Como cidadão terei as minhas opções. Como procurador-geral da República é-me completamente indiferente quem governa ou quem não governa", sublinhou, salvaguardando, no entanto, não lhe ser indiferente "como se governa" ao nível da Justiça.» - Não satisfeito com as declarações que proferiu, o procurador-geral saíu ainda mais além do seu espectro, segundo a TSF, de 7-6-2011, permitindo-se censurar o indispensável acordo com a União Europeia e o FMI para o financiamento do Estado:
«nada indica que medidas economicistas venham melhorar a Justiça. Estamos numa época de alta indefinição, porque o mapa judiciário vai mudar completamente a face dos tribunais. Estava suspensa por questões financeiras, mas a dita troika mandou avançar com obra judicial por questões económicas. Diz que ficará mais barato, mas tenho dúvidas», explicou.»
Lei (a coitada!):
- De acordo, com a alínea a do art.º 10.º do Estatuto do Ministério Público em vigor, compete à Procuradoria-Geral da República «promover a defesa da legalidade democrática».
- Segundo a alínea m do art.º 133.º da Constituição da República Portuguesa (CRP), compete ao Presidente da República «Nomear e exonerar, sob proposta do Governo, o presidente do Tribunal de Contas e o Procurador-Geral da República». O Governo propõe a nomeação ou a exoneração e o Presidente aceita ou recusa.
Porém, é a própria Procuradoria-Geral da República que explica o limite do exercício da função ao interpretar, como transcrevo para a antífona pendente deste poste, que «o cargo de procurador-geral da República assenta na dupla confiança do Governo e do Presidente da República». Não se trata só do bom senso, mas da interpretação consensual que procuradores e poder político fazem do cargo. Assim, sem a confiança do Governo, o procurador-geral deixa de ter condições para o exercício do cargo, tal como se o Presidente da República lhe retirar a confiança, a qual mantém em suspenso.
Os factos acima coligidos estão em contradição com a lei e com a função, tal como é entendida pelo próprio sítio da Procuradoria-Geral que estipula essa necessidade de «dupla confiança do Governo e do Presidente da República». Passos Coelho entende há muito que Pinto Monteiro deve ser substituído, mas jamais disse que o seu Governo o faria sozinho. Como primeiro-ministro proporá e Cavaco Silva exonerará, ou não. Mas mesmo que quisesse mantê-lo - e os sinais que se percebem são de reserva e repreensão ao procurador pela gestão política de processos... jurídicos (Freeport, Face Oculta, etc.) e as suas sequelas, como o processo disciplinar aos procuradores Vítor Magalhães e Paes de faria -, o Presidente não pode, nem deve, dividir o Estado na questão unitária da Justiça: o procurador terá de ser exonerado. O facto de ter dito, no CM, de 7-6-2011, «não lhe ser indiferente "como se governa" ao nível da Justiça», outorgando-se uma espécie de droit de regard da política do Governo , e da apreciação que o Presidente faz dessa política, nesta área nuclear, uma competência que a lei não lhe autoriza, terá sido provavelmente a gota de água que transborda o copo da paciência do Prof. Cavaco Silva e deve suscitar, sem demora, a sua substituição. A não ser que o Procurador se demita para evitar a vergonha da exoneração.
Todavia, apesar do que diz, Pinto Monteiro sabe. Sabe que o Governo pode desencadear o processo da sua substituição e que é o Presidente quem a decide. Por isso, vai tentando condicionar o Presidente, numa linha temerária que tem pisado sobranceiro: em 13-5-2011, enfatizou que nunca aconteceu motivo para um presidente demitir um procurador-geral; e em 7-6-2011, insiste que, «pode ser, com motivo» (sublinhado meu) exonerado pelo Presidente. Ora, a Constituição (art.º 133.º alínea m) não obriga à audição de qualquer órgão, nem menciona necessidade de motivo: o procurador-geral não é o Governo, cuja demissão obriga à justificação de um motivo - o Governo só pode ser demitido para assegurar o regular funcionamento das instituições democráticas, como estabelece o n.º 2 do art.º 195.º da CRP. Cavaco acaba por prevalecer, como prevaleceu sobre Sócrates e, por isso, estas provocações do procurador-geral, também ao futuro primeiro-ministro, são vaidades inconsequentes.
O Dr. Fernando Pinto Monteiro deve ser substituído imediatamente na procuradoria-geral da República. Esperar dez meses, até 5 de Abril de 2012, data em que perfaz 70 anos e chega ao limite de idade do cargo, seria corresponder a um capricho que o novo poder político não pode consentir. Como se percebeu do que tem dito e feito no seu polémico consulado, a reforma do Estado - na auditoria geral e na responsabilização judicial de dirigentes políticos e administrativos - que o PSD pretende fazer é incompatível com aquilo que o actual procurador-geral defende. E esperar compromete o impulso e o prazo dessas reformas.
Limitação de responsabilidade (disclaimer): As entidades mencionadas nas notícias dos media, que comento, não são suspeitas ou arguidas do cometimento de qualquer ilegalidade ou irregularidade.
7 comentários:
Já que estamos com a mão na massa, vejam esta preciosidade. A policia inglesa preocupada com os contactos do estrolábio:http://estrolabio.blogs.sapo.pt/1532656.html
Óbvio que o PGR tem que sair,de motu próprio ou empurrado.
Mas não acredito que o seu sucessor tenha independência e coragem para se devotar ao interesse público,desmontando as manigâncias e quebras do dever do anterior.
Muda sempre qualquer coisa à superfície para nada mude de substancial.
Não acredito nesta justiça cujo edifício assenta na Maçonaria e partidos políticos.
Ninguém pode ter dois Senhores.
Ou Deus ou o Diabo!
Portugal precisa encerrar rápidamente este capítulo vergonhoso que dá pelo nome de III República,inspirada na maior falta de respeito por todos os cidadãos,em ideologias políticas falidas,demagogia,incompetência e corrupção generalizada.
O Srº PGR não quer sair Caro PROF ABC!!!
PARA O NOVO GOVERNO O VELHO CONSELHO DE DANTON "IL NOUS FAUT DE L'AUDACE,ET ENCORE DE L'AUDACE,ET TOUJOURS DE L'AUDACE".L'AUDACE DU COUP DE PIED DANS LE CUL!
O PM deu uma "maçã com coisa" ao Cavaco...
Foi oferecer-se para processar o Miguel Pinheiro!!!
Se calhar O TI CAvaco dá-lhe o troco...
Então é que ele fica a falar achim...achim...achim...
Acho que os socretinos procuraram e encontraram um bom Procurador.
Assim como procuraram e encontraram uma senhora que antes tinha pertencido à comissão de honra do Soba de Nafarros para outro lugar muito específico das polícias.
No procurar é que está o ganho!
É que procurando, encontra-se a fórmula de andar à chuva sem se molhar, nem que seja com a batotice de ter alguém a segurar no chapéu!
Que vão todos procurar estudar filosofia para Paris embora creia que os franciús não tenham da barata!
Se há tantos Portugueses a deixar o País à procura de trabalho no estrangeiro, porque não incentivar uma determinada profissão a procurar outras paragens também?
Eh, à vista disso, mais curiosa parece a bandeja de serviço estendida ao presidente essa semana.
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