terça-feira, 21 de julho de 2020

Os hidrogénios e o flamingo cor-de-rosa

A «Visão Estratégica para o Plano de Recuperação Económica de Portugal 2020-2030», do consultor governamental António Costa Silva que é hoje, 21-7-2020, lançada pelo Governo socialista, e a consequente «Estratégia Nacional para o Hidrogénio», aprovada pelo Conselho de Ministros de 21-7-2020, pretende fundamentar tecnicamente a operação Green Flamingo. Um projeto de parceria público-privada (outra?!...) que o Governo socialista estima ter «um investimento-base de 2,85 mil milhões de euros». E como neste tema da energia, convém que a candeia vá à frente, veja-se o despacho n.º 6403-A/2020, de 17-6-2020, sobre a abertura de período para manifestação de interesse para participação no futuro Projeto Importante de Interesse Europeu Comum (IPCEI) Hidrogénio.

Ou seja, encomendou-se um relatório de um sábio para caucionar um projeto de enorme calado financeiro, num país endividadíssimo, pobre em recursos e assolado pela corrupção política. A solução clássica para persuadir o povo de um assunto delicado é a de encomendar um relatório a sábios reconhecidos de diversas especialidades, que atestem um desígnio previamente definido pelo governo. Porém, o primeiro-ministro António Costa, com a arrogância de brâmane (descendente de Marada Poi, Brâmane Gaud Saraswat) e a presunção de água benta, dono do casino do Estado, apostou todas as fichas no seu velho amigo homómino Silva para traçar a estratégia de desenvolvimento económico do País e, de caminho, justificar o bodo de 2,85 mil milhões de euros num festim com o novo elefante branco de Sines. De passagem, reafirmo que António Costa Silva e sua mulher, Luísa Araújo, nos primeiros tempos do XVII Governo da III Repúblicaeram visitas mútuas de casa de António Costa, e ainda comensal ao jantar, no Café Império, junto à sua casam, com o então primeiro-ministro José Sócrates.

António Costa Silva é, atualmente, presidente da Partex, empresa do setor dos petróleos, energia eólica e fotovoltaica. facto de António Costa Silva ser um engenheiro de minas, professor com agregação em «Planeamento e gestão Integrada dos recursos energéticos» no Instituto Superior Técnico com um currículo prático ligado aos petróleos e energia, para elaborar o plano de recuperação económica de Portugal para os próximos dez anos - global e não apenas do setor da energia -, nada parece interessar. Mesmo que plano global decenal apareça agora com a versão nuancé de uma mística «Visão Estratégica para o Plano» (sic). O presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa não se pronunciou sobre este plano económico de Costa a Costa.

Contrapondo, de forma técnica e científica, pelo lado da energia e da economia, os professores Abel Mateus, Luís Mira Amaral e Clemente Pedro Nunes, publicaram em 17-7-2020, no Expresso (caderno principal, p. 37), o artigo «Os erros da Estratégia Nacional para o Hidrogénio (EN-h2) e a urgência de uma Nova Estratégia de Crescimento», subscrito por outras 45 personalidades, e que abaixo copio, desenvolvido e detalhado na Tertúlia Energia, onde explicam e justificam o erro tecnológico e económico desta estratégia do hidrogénio e do investimento megalómano em Sines. Há décadas que a tecnologia dos carros a hidrogénio patina na esperança alquímica da eletrólise da água com saldo energético positivo - e daí as marcas terem decidido passar para os carros a baterias de lítio.

O projeto Green Flamingo é uma operação de António Mexia, que António Costa avalizou. O projeto esteve suspenso em abril de 2020, por previsão de penúria do País  durante o pânico da pandemia da Covid-19, mas o primeiro-ministro ganhou novo fôlego com o oxigénio da promessa de novo resgate financeiro pela União Europeia. Marc Rechter, CEO do Resilient Group, não parece ter capital financeiro para um projeto deste montante. A operação foi escalada por António Mexia, que agregou a EDP, Galp e REN, e a passou para uma nova dimensão estratosférica. Nesta operação dos hidrogéniostambém está a endividada Martifer dos irmãos Martins, interessados na construção do equipamento, protegida pelo Governo de António Costa. E a apadrinhar o projeto, antes orçado em 3,5 mil milhões de euros, além do primeiro-ministro, está João Galamba, secretário de Estado da Energia, reconvertido de discípulo do socratismo ao costismo.

Caído formalmente da EDP - onde quem sabe ainda mexe os cordelinhos e algum centro de custos de comunicação... -, Mexia continua a ser apoiado por António Costa. Se assim não fosse, os chineses da Three Gorges dispensá-lo-iam imediatamente de toda e qualquer responsabilidade. Porém, o jurista Costa sabe que não pode apoiar Mexia se este for pronunciado, com João Manso Neto, no processo de corrupção das rendas da EDP pela disponibilização de potência não utilizada nas barragens e construção da barragem do Alto Sabor, caso, tem o seu velho amigo António Costa Silva para liderar mais um projeto cor-de-rosa.



Mateus, Abel, Mira Amaral, Luís e Nunes, Clemente Pedro (2020, 17 de julho). Os erros da
Estratégia Nacional para o Hidrogénio (EN-h2) e a urgência de uma Nova Estratégia de Crescimento.
Expresso, caderno principal, p. 37.
Ver ainda: Tertúlia Energia, onde se pode encontrar este assunto e plano alternativo desenvolvido
destes três professores, com outros 45 signatários.


Limitação de responsabilidade (disclaimer): As personalidades objeto das notícias dos média, que comento, não são arguidas ou suspeitas de qualquer ilegalidade ou irregularidade neste caso da Green Flamingo. E gozam do direito constitucional à presunção de inocência até ao trânsito em julgado de eventual sentença condenatória quando na situação de arguidas, como António Luís Teixeira Guerra Nunes Mexia e João Manuel Manso Neto por indícios dos crimes de participação económica em negócio e de corrupção ativa do ex-ministro Manuel Pinho, João Conceição (ex-consultor de Pinho e atual administrador da REN) de um ex-diretor-geral de Energia (Miguel Barreto) e ainda do ex-secretário de Estado Artur Trindade, no processo relativo às rendas recebidas pela EDP com a justificação da disponibilização de potência não utilizada nas barragens e ainda pelo negócio de construção da Barragem do Alto Sabor (Observador, de 6-7-2020).

3 comentários:

Anónimo disse...

Ainda bem que o dono do blog se deixou de bolsonarismos e retomou a actividade que melhor sabe fazer. Expor vigarices e outras coisas mal explicadas como se fosse um jornalista de investigação. Pena é que a República não pague este trabalho probono.

voz0ab disse...

O ideal é começarmos desde já a iniciar os processos de investigação a todas estas Famílias... Claramente só andarmos distraídos com a Família Espírito Santo DEIXA MUITOS SALAFRÁRIOS à vontadinha para roubar o POTE...

Anónimo disse...

Tenho vergonha destes políticos que temos tido e continuamos a ter!!!
Pobres portugueses, que tudo aguentam sem se queixarem, são sacos de pancada, como dizia o outro...

Agora é mais a vergonha da vergonhosa compra do Novo Banco, com a cumplicidade dos palhaços Costa e Marcelo!!!