quarta-feira, 17 de abril de 2013

Nada muda

A demissão do ministro Miguel Relvas, em 4-4-2013, gerou uma pequena vaga de expetativa no setor patriótico de recondução do Governo à esperança pré-eleitoral de corte com o socratismo. A dimensão dessa expetativa funciona na relação inversa da credulidade, menos a constante de 21 meses de regressão na continuidade que foi o exercício até agora do XIX Governo Constitucional da III República (a continuação do socratismo por outros meios, socialismo nuancé misturado de austeridade desigual).

Passos Coelho enganou-me uma vez. Com o corte, no outono de 2010, com o patrão Ângelo Correia (uma espécie de anúncio de teste do algodão), o jargão mais duro na campanha e o apoio generalizado, inclusivé do setor patriótico. Apanhou-se no poder e foi mais do mesmo. Mais melífluo, subordinado à dupla FMI-União Europeia (Comissão e Banco Central Europeu-BCE) para o financiamento do Estado, mantiveram-se os negócios de Estado sombrios, a mesma política suja de distribuição do dinheiro do QREN e uma completa promiscuidade com o socratismo, ao qual foi garantido salvo-conduto e impunidade.

Mas se o adágio desculpa a primeira vez (culpa da subtileza dele), não permite desculpar a segunda.  Apesar de Miguel Poiares Maduro - cujo discurso anterior estava próximo do setor patriótico -, de Pedro Lomba e até de Marques Guedes. Passos baralha para dar de novo, do mesmo aos mesmos. Passos ilude, como na fase pré-eleitoral de 2011. Nomeou o jurista Poiares Maduro como novo czar dos fundos comunitários - veremos quem será o rasputine secretário de Estado do Desenvolvimento Regional (parto demorado...) -, se será feita alguma (e qual) reprogramação dos fundos pendentes de execução e quais as escolhas concretas para a distribuição do QREN 2014-2020. Veremos se Miguel Poiares Maduro será apenas outro Álvaro Santos Pereira - que, contra toda a esperança, deixou seguir o baile socratino no seu ministério e permitia a distribuição dos fundos pelo relvista maçon Almeida Henriques- ou se arrisca tentar outra dança.

Não haverá rutura entre o polícia bom (Passos) e o polícia-mau (Relvas), por mais que se tente disfarçar. Relvas preferia ficar no Governo? Sim. Mas teve de ser sacrificado à fogueira eleitoral e ao desconforto dos colegas (Nuno Crato, Paulo Macedo, Paula Teixeira da Cruz), para que Passos vivesse e o sistema passista (uma degeneração PSD do socratismo) continuasse. Agora, com a folga do alargamento do prazo de pagamento dos empréstimos do FMI-BCE. Relvas entendeu, mesmo se deixou um aviso no qual reivindicou a conceção da criatura (passismo-relvismo) no seu discurso de demissão, de 4-4-2013 («aos dois anos de funções governativas devem somar-se os dois anos que os antecederam (...) em que acreditei e lutei no interior do meu partido pela afirmação de um novo líder que encabeçasse um projeto de mudança para Portugal») e se impôs um voto de louvor quase unânime (um voto contra e três abstenções) no Conselho Nacional do PSD, de 13-4-2013. Os negócios usuais continuam.

Nada muda, mesmo se parece tudo mudar. Não muda a prioridade aos grandes negócios de Estado e à distribuição manhosa dos fundos. Não muda a austeridade desigual, nem a subjugação à dupla UE-FMI, como disse Pacheco Pereira, em 8-4-2013: «Pensaram sempre em atacar salários, pensões, reformas, rendimentos individuais e das famílias, serviços públicos para os mais necessitados e nunca em rendas estatais, contratos leoninos, interesses da banca, abusos e cartéis das grandes empresas». Não muda o Estado socialista. Não muda a ruína da economia, cada vez mais devastada pelo confisco fiscal. Nem sequer muda, a degradação financeira do Estado. Nem - muito menos! -, o descalabro eleitoral do PSD nas autárquicas do outono de 2013.

Por tudo isto, e o resto que não é possível dizer, a decisão patriótica mantém-se: demissão desta direção do PSD (através de um Congresso Extraordinário) e demissão do Governo (sem dissolução do Parlamento).


Atualização: este poste foi emendado às 8:19 de 18-4-2013.

13 comentários:

ana disse...

http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/nacional/economia/portugal-e-a-4-pior-economia-do-mundo

"Portugal é a 4ª pior economia do Mundo"


Quando o Estado não investe, não adianta falar da iniciativa privada a sério, isso em Portugal sempre será uma miragem,


Anónimo disse...

"Quando o Estado não investe, não adianta falar da iniciativa privada a sério"

Esta tem sido a forma do socialismo Tuga. O Estado investe e os encostados do Estado investem um pouquinho. Os Azevedos da Sonae, os Espirito Santos, os Mellos, os Amorins da cortiça, etc., todos são grandes investidores sempre com o aconchego do Estado.

Só para quem anda distraído, o Estado representa MAIS de 50% das receitas fiscais. Só?

Mais Estado? Como? Então, instaure-se antes o Regime do Partido Comunista Chinês, em Portugal.....Já!

Anónimo disse...

Prof. Balbino Caldeira,

Infelizmente do PSD, não vem nada de bom, há muito tempo. Nem Pacheco, nem Menezes, nem Manuela Leite, nem Cavaco, nem Dias Loureiro, nem Cadilhe, nem tantos outros.

O PSD é o "irmão-gémeo" do PS.

Do PPD, talvez. Sá Carneiro, de uma vez, mandou fora os ASDI's. Asssim, seria outra vez um Partdio de gente de bem.

Agora, o PSD que existe pós-Sá Carneiro (com a excepção honrosa de Mota Pinto), é mais a "gestão oligárquica nacional de interesses". Nada mais.

Ao ler estte "post", faz-nos lembrar a "evolução na continuidade" de Caetano. Acabou-se a continuidade no dia 24 de Abril de um ano.

O Prof. Cavaco será o Caetano da III República, será ele a entregar as chaves aos próximos inquilinos e mandatários.

Ninguém melhor do que o Prof. Cavaco para fechar a República socialista!

Anónimo disse...

Não vale a pena fazer cair o governo.Sucederá a este outro igual ou pior.
É tempo de se exigir medidas concretas.
Ou fazem ou saem e entra quem queira fazer.
Eleições tipo cheque em branco,já não dá.
Se estes 40 anos não serviram para ensinar isto,de nada serviram.
Em vez de manifestações parvas,inspiradas pelo Bloco de Esterco e manifs comunas,faça-se manifestações a exigir medidas concretas,leis concretas.Se não o fizerem,que se entre então no modo bota-abaixo e quem vier a seguir,a mesma receita.

Anónimo disse...

O psd? São parecidos com o "botas"...saloios e sem um pingo de nivel...tudo rasca...

Anónimo disse...


Ainda bem que o Relvas se foi embora. Menos um vigarista por lá, um gatuno, um trafulha.

Arrumava eu uma gaveta antiga em minha casa e deu com um recorte de jornal que arquivei à época.

Jornal " O Ribatejo " de 8 de Fevereiro de 1990
o artigo diz o seguinte do Relvas, passo, transcrição na integra:
As casas do deputado. O deputado Miguel Relvas é alvo de coscuvilhice da ultima semana ilustrada, a celebrada revista do escândalo das porno-cassetes do arquiteto Taveira. Entre algumas beldades nuas e uma prosa insonsa, há um artigo dedicado ao provável novo vice-presidente da JSD. E não se pense que é de parabéns. Bem pelo contrario. A revista insinua que Miguel Relvas tem a perfídia de possuir 4 residências, uma em Lisboa e 3 em Tomar. Mais adiante agradece ao extremoso Templário a pista para a investigação de tamanho desaforo. Convenhamos que o caso, quando comparado com o daquele deputado, já alcunhado de Batman, que deu a volta ao mundo sem sair do parlamento., nem sequer chega a merecer tanto trabalho e falatório. Já agora, caro deputado, seja mais poupado nas rendas. Então não lhe chega bem uma casa só em Tomar ?

Anónimo disse...

Há outros deputados piores.Até andavam pela Casa Pia.A sorte deles é que pertencem à outra manada,a boa.

Anónimo disse...

Por vezes, muito ocasionalmente, a RTP presta serviço público. Como nesta reportagem em que se ficou a saber que o Dr. Miguel Relvas foi colega do Dr. José António Seguro numa destacada universidade privada, onde ambos leccionavam a mesma disciplina:


http://www.rtp.pt/noticias/index.php?article=643465&tm=9&layout=122&visual=61

Anónimo disse...

Falando de licenciaturas duvidosas, há mais um caso na bancada do PS, o do deputado André Figueiredo, licenciado(?) pela entretanto encerrada Universidade Internacional, com a prestimosa colaboração do ex secretário de estado da Defesa de Sócrates Marcos Perestrelo.

http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/exclusivo-cm/faculdade-extinta-ainda-deu-diploma

http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/nacional/politica/perestrelo-ajudou-andre-figueiredo


"André Figueiredo, que se terá intitulado como jurista antes de outubro de 2009, disse ontem ao CM que não comenta "assuntos do foro privado". "Estou plenamente tranquilo sobre esse assunto [licenciatura em direito]", garantiu o deputado do PS. "

Helder Marques de Sá disse...

Uma vez mais subscrevo o que escreveste. Artigo digno de ser publicado num órgão de comunicação social de expressão nacional. Um abraço.

Anónimo disse...

http://economico.sapo.pt/noticias/juiz-brasileiro-do-mensalao-entra-para-a-lista-dos-mais-influentes-da-time_167356.html

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) do Brasil conhecido pelo julgamento do esquema de corrupção do "mensalão", foi eleito pela revista norte-americana Time uma das 100 pessoas mais influentes do mundo em 2013.

Joaquim Barbosa de 58 anos, ganhou notoriedade no Brasil especialmente no decorrer do julgamento do "mensalão", esquema de corrupção ocorrido durante o primeiro mandato do Governo de Lula da Silva, cujo julgamento foi realizado no ano passado.

No texto, a publicação brinca com o fato de que, este ano, a máscara de Carnaval mais vendida no Brasil não ter sido o rosto de um jogador de futebol ou de um grande astro 'pop', mas a de um juiz.

A revista recorda ainda que Barbosa foi o primeiro negro a tornar-se presidente do supremo tribunal do país e que representa o símbolo de um Brasil comprometido com a igualdade racial e o combate à corrupção.

Anónimo disse...

La directora del FMI opina que el Gobierno debe ser más flexible desde ahora con los ajustes. "Es claramente necesario realizar una consolidación fiscal, pero no tan fuerte", ha afirmado - El Pais

A esquerda bem tentou acabar com Portugal, não conseguiu, mas a direita estúpida conseguirá, ó larilas!

Anónimo disse...

O PPC enganou-se? Que inocência! Fez exactamente aquilo que há anos o partido anunciava como intenção assim que chegasse ao governo, que era acabar com a pobreza, matando os pobres. “promiscuidade com o socratismo”? Como não dar
salvo-conduto e impunidade quando se procede de modo igual, mas pior? Que inocência! Ou cegueira? Relvas “teve de ser sacrificado à fogueira eleitoral”? Um comboio que esconde outro maior, que é o próprio PPC quem vai ser imolado pelo partido nesse sentido. É só esperar para ver, que nem o “patrão” lhe vai valer.

Se concorda com o que diz Pacheco Pereira e em seguida afirma que “Não muda o Estado socialista” só pode ser burro, que não compreende a diferença entre socialismo e neoliberalismo. Mais outra burrice é não ver que demitir um governo que arruína o país e manter o parlamento que o aprova e defende exactamente os mesmos desvalores é uma contradição sem pés nem cabeça.

Hei Ana! O estado não pode investir, que isso, de acordo com este autor é socratismo. Contudo, nada de exageros.

Enfim, ao ler os dois seguintes anónimos parece que alguns começam a despertar
17 de Abril de 2013 à0 18:22
17 de Abril de 2013 à0 21:49