segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Visíveis problemas de encadeamento

Recomendo a leitura da Deliberação 31/2013 (CONTJOR-TV), de 6-2-2013, do Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) por Queixa da Associação Portuguesa de Energias Renováveis (APREN) e do seu presidente contra a TVI relativamente à reportagem «Faturas de betão», do jornalista Carlos Enes, na TVI, datada de 7-5-2012. Visados na reportagem, PS, Sócrates, Zorrinho, EDP e Endesa... não se queixaram, para não beliscar a sua imagem... humana, em tempos de Facebook:  basta ser usada a APERN como proxy. Veja, ou reveja, o leitor a reportagem e confronte-a com a Deliberação da ERC.

À parte a queixa, atente-se nas expressões do capítulo IV da deliberação do Conselho Regulador da ERC - «Descrição da reportagem»:
«O entrevistado está colocado de frente para o sol, o que lhe causa visíveis problemas de encandeamento [sic], pelo que se encontra um pouco curvado sobre o seu lado direito, com o rosto contraído e olhos semi-cerrados». (...) O entrevistado concorda, sem conseguir expor argumentos, já que as suas declarações são permanentemente [sic] interrompidas pelo repórter.»
»O presidente da APREN tenta explicar (...). O repórter interrompe a sua exposição permanentemente [sic], impedindo o entrevistado de expor o seu ponto de vista e de fornecer a sua explicação sobre os números com os quais foi confrontado».
(Realce meu).

E ainda o capítulo «V - Análise e fundamentação» da deliberação:
«aparente [sic] equilíbrio entre as posições veiculadas».
«os ambientalistas e professores universitários [na deliberação, os ambientalistas e os professores universitários não merecem nome] expõem as suas posições relativamente às questões lançadas sem intervenção do repórter ou confrontação das suas alocuções. As suas declarações são aceites [sic] por parte do repórter.»

«Ao invés, as intervenções dos administradores da EDP e Endesa e, sobretudo, do presidente da APREN, são alvo permanente de contra-argumentação, explanando estes com dificuldade os seus pontos de vista, perante as investidas insistentes do repórter/entrevistador.»
«o queixoso, em entrevista ao ar livre, sentado frente a frente com o repórter, de frente para a luz, transmite uma imagem de desconforto e de desarmonia que prejudica a imagem global do entrevistado».
«diferenciação percetível no tratamento dispensado aos diversos atores sociais [sic] ali presentes»
«a reportagem não cuida do equilíbrio».
«Ao propiciar uma assimetria na presença dos atores sociais que surgem na peça, a reportagem manifesta-se desequilibrada». (Realce meu)

E, finalmente, no capítulo «VI - Deliberação»:
«a forma como são apresentados alguns depoimentos interfere com a atribuição de sentido às declarações produzidas e com a credibilização das fontes entrevistadas».
«a reportagem da TVI trata de forma assimétrica as declarações das fontes de informação consultadas, apresentando argumentos completos de algumas delas e impossibilitando outras de explanarem as suas explicações, em prejuízo do rigor, isenção e objetividade legalmente exigidos».
«Instar a TVI a zelar pelo equilíbrio no tratamento das fontes de informação que apresenta nos seus trabalhos jornalísticos, observando os princípios éticodeontológicos inerentes ao exercício da profissão».
(Realce meu)

Estas frases, imorredoiras na vigilância da tal ética e deontologia que a todos toca, independentemente da posição atual que ocupam, ilustram a lógica do poder e a sua falta de vergonha.

Perguntam os portugueses para que serve a ERC, para além da habitual endogamia político-dinástica de jobs, se existem tribunais que podem dirimir os abusos eventuais dos média?... Pois, a ERC serve para domesticar, direta e indiretamente (através dos editores de confiança e dos patrões de confiança), jornalistas independentes e impor o garantismo de matriz ideológico-política socialista. Uma proteção do poder perante as notícias que o afetam. SLAPP. Um  vício autoritário que este governo PSD-CDS deveria ter eliminado, extinguindo a ERC, mas que manteve na política ceteris paribus que sofremos e que, encadeados, aturamos.


* Imagem picada daqui.



Atualização: este poste foi actualizado às 23:48 de 18-2-2013.

6 comentários:

José Domingos disse...

É claro que não vai extinguir. O sistema portege-se, não pode haver opção.
Curioso, é este povo de imbecis, acreditar que estes partidos, vão tirar o país do buraco.
O cadáver ainda tem muita carne.

ESTUPIDOS,ROUBALHÕES,CAPADOS disse...

OS PORCOS NAS RELVAS.

Joaquim Carreira Tapadinhas disse...

Os pilares do sistema político-partidário, sejam na direita ou na esquerda, estão construídos no mesmo tipo de materiais e por isso as estruturas são as mesmas. Só mudam as moscas e isto é tão profundo que dentro do sistema, com os mesmos actores, não há volta a dar. O descaramento tempera os actos de quem devia dar o exemplo de honestidade e de serviço e a sementeira está implantada de lés-a-lés.

Anónimo disse...

A Viúva Maximiana enviuvou de vez.

Paz à sua alma.

A luta continua
A vitória é certa.

Anónimo disse...

Os vampiros!

http://www.tsf.pt/PaginaInicial/Portugal/Interior.aspx?content_id=3060924

O presidente do Observatório da Justiça não esconde apreensão com as notícias relativas à Procuradoria Geral da República, que dão conta da saída de Cândida Almeida. Boaventura Sousa Santos teme que a mudança na hierarquia do DCIAP chegue na pior altura e que venha aí uma fase de instabilidade na investigação à grande criminalidade.

«Vamos ter alguma instabilidade na nossa investigação criminal, organizada ou dirigida para a grande criminalidade e isso, obviamente, não é uma boa notícia no momento que o país atravessa», afirma.

Boaventura Sousa Santos mostra-se também preocupado com a instauração de inquéritos relativos à violação do segredo de Justiça.

«É uma notícia perturbadora porque mostra uma imagem muito negativa do trabalho que tem vindo a ser feito. O trabalho de investigação criminal numa área absolutamente decisiva, no meu entender, para o bom nome do Estado e a força da nossa democracia, vai ficar abalado durante um tempo», sublinha Boaventura Sousa Santos.

Anónimo disse...

Queriam continuar com a BUFARIA oficial/oficiosa. Pulhas. Não querem Justiça. Querem a justiçazinha deles, das capas dos Expessos.