As rasuras nos telegramas diplomáticos (cables) entre a embaixada norte-americana em Portugal e o Departamento de Estado dos EUA, obtidos pela Wikileaks, que o Expresso, de 26-2-2011, começou a apresentar são a expressão da vergonha que se transformou a relação dos media com o Estado, e especialmente dos media portugueses com os governos Sócrates. A palavra que uso é mesmo «vergonha», pois não vi qualquer rasura na quantidade de telegramas da Wikilieaks publicados pelos media de outros países.
O Expresso anunciou em 24-2-2011 que iria publicar uma série de telegramas diplomáticos (entre os 722 cujos direitos terá comprado aos jornais Politiken e Aftenposten) entre a embaixada dos EUA em Lisboa e o Departamento de Estado norte-americano, vertidos pelo Wikileaks - não creio que se tenha de pagar para aceder aos telegramas que são de domínio comum, e não propriedade de qualquer meio que os tenha obtido, mas os milhares de pessoas e organizações que receberam o bolo total têm dificuldade em fatiar a informação. O obediente jornal de Francisco Pinto Balsemão, agora dirigido por Ricardo Eu-Sou Controlado Costa, disse que tinha facilitado ao Governo o material a publicar.
O jornal fez-se ao piso e o Governo chegou-se à frente. Quase nada nos telegramas afecta o Governo Sócrates, os socialistas, a corrupção, o sistema - e mesmo o que se publica sobre a FLAD é genérico e parece também poupar o bloco-centralista sistémico Rui Machete. Dir-se-á que Nuno Severiano Teixeira, é atingido, mas este terá caído em desgraça no PS e no círculo socratino, não sendo as revelações sobre a sua personalidade prejudiciais ao seu sucessor Augusto Santos Silva...
As rasuras do Expresso são selectivas nos alvos: enquanto o nível político de topo é deixado de pé e omitido, o nível militar é arrasado e nomeado.
É inadmissível para o sentido de Estado indispensável de um ministro da Defesa de Portugal - mesmo que nem sequer tenha ido à tropa e seja um (pós)troskista, ex-militante da União Operária Revolucionária e da Liga Comunista Internacionalista, apoiante de Otelo em 1976 - que o resultado dos contactos entre o Expresso, de Ricardo Costa, e «o ministério de Augusto Santos Silva» seja as Forças Armadas da Nação atingidas de forma tão dura como foram na parte visível dos telegramas publicados. Por exemplo, o Chefe de Estado-Maior da Força Aérea, general Luís Araújo (actual Chefe de Estado Maior General das Forças Armadas - CEMGFA), é classificado como «um dinossauro», num telegrama do embaixador norte-americano em Lisboa, Thomas Stephenson, de 5 de Março de 2009 (p. 3). Esse telegrama danifica fortemente a imagem, objectivos e modo de funcionamento das Forças Armadas portuguesas, mas não tem sequer uma rasura (tal como o de 12-10-2006, sobre a compra de fragatas ou ainda outro, de 20-2-2008, sobre a acção de lóbi da embaixada para a actualização pela Lockeed dos aviões portugueses de patrulha oceânica P-3C, num contrato de 135 milhões de dólares).
Já o telegrama de 6-3-2009 com um apontamento de conversa do embaixador Stephenson com o ministro Severiano Teixeira e o secretário de Estado Mira Gomes contém, a seguir a um parágrafo com indiscrições do ministro e do secretário de Estado sobre o relacionamento passado entre órgãos de soberania, rasuras muito extensas. Essas rasuras podem tapar outras indiscrições delicadas do Governo sobre o Presidente da República Cavaco Silva, tendo em conta que o tema principal da reunião pode ter sido o fornecimento de militares da GNR para o Afeganistão, empenhamento de tropas a que alegadamente o Presidente se opunha por, segundo o embaixador (sete meses antes) não ter sido convidado por Bush para a Casa Branca, em 2007 (telegrama do embaixador Stephenson, de 29-8-2008, publicado por El País, em 12-12-2010). O parágrafo final do telegrama é uma pista para esta interpretação, pois relata a referência do secretário de Estado Mira Gomes a uma «atenção de alto nível de Washington» que seria «necessária para encorajar contributos adicionais» de forças portuguesas para a missão militar no Afeganistão (tradução minha). E a interpretação adequa-se ao extremo cuidado que o Governo passou a ter com o Presidente, nesta fase moribunda do socratismo português. Seria útil outros media portugueses acederem ao original e publicar o texto integral, comparando as partes omitidas.
O telegrama de 15-2-2008 de Stephenson sobre a Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD), tem dois parágrafos rasurados, o primeiro deles sobre o Boris Report, de 1996, e o segundo, provavelmente, atendendo à sequência do texto, com exemplo sumarento de apoios extravagantes e absurdos da fundação a entidades que o Expresso, após os contactos com o Governo, quis omitir. A FLAD é outra das entidades herméticas que o próximo Governo de Portugal deve mandar investigar pelo Ministério Público, atentas as referências gravíssimas que têm sido feitas sobre a sua gestão e o uso de recursos que são públicos.
Actualização: este poste foi emendado às 20:39 de 2-3-2011.
O Expresso anunciou em 24-2-2011 que iria publicar uma série de telegramas diplomáticos (entre os 722 cujos direitos terá comprado aos jornais Politiken e Aftenposten) entre a embaixada dos EUA em Lisboa e o Departamento de Estado norte-americano, vertidos pelo Wikileaks - não creio que se tenha de pagar para aceder aos telegramas que são de domínio comum, e não propriedade de qualquer meio que os tenha obtido, mas os milhares de pessoas e organizações que receberam o bolo total têm dificuldade em fatiar a informação. O obediente jornal de Francisco Pinto Balsemão, agora dirigido por Ricardo Eu-Sou Controlado Costa, disse que tinha facilitado ao Governo o material a publicar.
O jornal fez-se ao piso e o Governo chegou-se à frente. Quase nada nos telegramas afecta o Governo Sócrates, os socialistas, a corrupção, o sistema - e mesmo o que se publica sobre a FLAD é genérico e parece também poupar o bloco-centralista sistémico Rui Machete. Dir-se-á que Nuno Severiano Teixeira, é atingido, mas este terá caído em desgraça no PS e no círculo socratino, não sendo as revelações sobre a sua personalidade prejudiciais ao seu sucessor Augusto Santos Silva...
As rasuras do Expresso são selectivas nos alvos: enquanto o nível político de topo é deixado de pé e omitido, o nível militar é arrasado e nomeado.
É inadmissível para o sentido de Estado indispensável de um ministro da Defesa de Portugal - mesmo que nem sequer tenha ido à tropa e seja um (pós)troskista, ex-militante da União Operária Revolucionária e da Liga Comunista Internacionalista, apoiante de Otelo em 1976 - que o resultado dos contactos entre o Expresso, de Ricardo Costa, e «o ministério de Augusto Santos Silva» seja as Forças Armadas da Nação atingidas de forma tão dura como foram na parte visível dos telegramas publicados. Por exemplo, o Chefe de Estado-Maior da Força Aérea, general Luís Araújo (actual Chefe de Estado Maior General das Forças Armadas - CEMGFA), é classificado como «um dinossauro», num telegrama do embaixador norte-americano em Lisboa, Thomas Stephenson, de 5 de Março de 2009 (p. 3). Esse telegrama danifica fortemente a imagem, objectivos e modo de funcionamento das Forças Armadas portuguesas, mas não tem sequer uma rasura (tal como o de 12-10-2006, sobre a compra de fragatas ou ainda outro, de 20-2-2008, sobre a acção de lóbi da embaixada para a actualização pela Lockeed dos aviões portugueses de patrulha oceânica P-3C, num contrato de 135 milhões de dólares).
Já o telegrama de 6-3-2009 com um apontamento de conversa do embaixador Stephenson com o ministro Severiano Teixeira e o secretário de Estado Mira Gomes contém, a seguir a um parágrafo com indiscrições do ministro e do secretário de Estado sobre o relacionamento passado entre órgãos de soberania, rasuras muito extensas. Essas rasuras podem tapar outras indiscrições delicadas do Governo sobre o Presidente da República Cavaco Silva, tendo em conta que o tema principal da reunião pode ter sido o fornecimento de militares da GNR para o Afeganistão, empenhamento de tropas a que alegadamente o Presidente se opunha por, segundo o embaixador (sete meses antes) não ter sido convidado por Bush para a Casa Branca, em 2007 (telegrama do embaixador Stephenson, de 29-8-2008, publicado por El País, em 12-12-2010). O parágrafo final do telegrama é uma pista para esta interpretação, pois relata a referência do secretário de Estado Mira Gomes a uma «atenção de alto nível de Washington» que seria «necessária para encorajar contributos adicionais» de forças portuguesas para a missão militar no Afeganistão (tradução minha). E a interpretação adequa-se ao extremo cuidado que o Governo passou a ter com o Presidente, nesta fase moribunda do socratismo português. Seria útil outros media portugueses acederem ao original e publicar o texto integral, comparando as partes omitidas.
O telegrama de 15-2-2008 de Stephenson sobre a Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD), tem dois parágrafos rasurados, o primeiro deles sobre o Boris Report, de 1996, e o segundo, provavelmente, atendendo à sequência do texto, com exemplo sumarento de apoios extravagantes e absurdos da fundação a entidades que o Expresso, após os contactos com o Governo, quis omitir. A FLAD é outra das entidades herméticas que o próximo Governo de Portugal deve mandar investigar pelo Ministério Público, atentas as referências gravíssimas que têm sido feitas sobre a sua gestão e o uso de recursos que são públicos.
Actualização: este poste foi emendado às 20:39 de 2-3-2011.
11 comentários:
Antero Luís considera prematuro falar em convulsão social
O novo secretário-geral do Sistema de Segurança Interna, Antero Luís, considera prematuro falar numa possível convulsão social, para a qual o seu antecessor, Mário Mendes, alertou na segunda-feira, após encontro com o Presidente da República.
Hoje, na sua tomada de posse, o juiz desembargador Antero Luís disse ser «prematuro fazer qualquer tipo de afirmação desse género», quando confrontado com as palavras do juiz conselheiro Mário Mendes sobre a possibilidade de poder haver uma convulsão social em Portugal.
http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?section_id=13&id_news=497099
«Os especuladores internacionais têm nome: chamam-se Sócrates e Teixeira dos Santos» leiam e vejam no que têm resultado os cortes salariais! http://quartarepublica.blogspot.com/2011/02/os-especuladores-internacionais-tem.html
SÓCRATES E MERKEL LEVAM OS RESPECTIVOS MINISTROS DAS FINANÇAS.O ALEMÃO NÃO É PARA BRINCADEIRAS.TUDO VAI SER AINDA MAIS RÁPIDO DO QUE PARECIA.NA REUNIÃO VÃO SER ACERTADOS OS PORMENORES DO PLANO DE RESGATE PARA PORTUGAL MUITO PROVÁVELMENTE.
Mas você, ainda lê essa imprensa?
Mas quem lê isso. Eu já não leio jornais há muito tempo, mesmo muito tempo - 10 anos. Até gostava de ler jornais...Mas...
Há dias por acidente fui comprar um jornal semanário e?! Um verdadeiro lixo. Queo lá saber dos "cables". Mas não sabemos todos o que se passa no inferno?! Precisamos é de exorcistas. Há-os?!
Meninos da geração à rasca:
acham - se mais apetrechados só porque usam o facebook???? se tiveram mais facilidades, foi graças às gerações anteriores!
Os vossos bisavós, passaram fome, os vossos avós não tiveram oportunidade de fazer faculdade, os vossos pais fizeram faculdade como trabalhadores estudantes. As gerações anteriores de facto têem culpa numa coisa: em vos dar tudo, em vos facilitar tudo!
Aprendam a escrever português correcto, aprendam a ser mais humildes e a respeitar os mais velhos, a lutar e depois serão respeitados.
Quantos russos, ucranianos, teêm cursos superiores e vieram para Portugal trabalhar nas obras e como domésticas???
As novas medidas de austeridade vão sacrificar novamente os mesmos, ou vão ser outros agora? os gestores, os generais sentados? os bancos?
A geração à rasca teve facilidades e até facilitismo com novas oportunidades, sem chumbos, com licenciaturas de 3 anos, agora este é o resultado! Só contribuíram para as estatísticas do Eng. º Sócrates na EU, meus amigos, nada mais.
Agora quem trabalha desconta para as reformas dos idosos, eu quero ver se a geração à rasca um dia quererá saber dos seus idosos???
Opá os nossos governantes são tão incompreendidos, no outro dia, o Sr. Armando Vara, só estava atestar o SIMPLEX DO ATESTADO NA HORA, quando passou à frente do pessoal todo na fila do Centro de Saúde.
No outro dia, UM ministro só mandou remover uma ambulância que prestava auxílio a um doente, porque estava a testar o SIMPLEX DE CHEGAR A TEMPO NA HORA.
Tão incompreendidos pá!
A geração à rasca teve a facilidade de plagiar e encontrar trabalhos e teses feitinhos na net, na tiverem que andar a documentar-se em bibliotecas, a fazer verdadeiro trabalho de investigação como as gerações anteriores que lhes fizeram a papinha toda.
Transparência, Justiça e Liberdade - Em memória de Saldanha Sanches.
Lançamento FNAC Chiado, 10 Março 2011, 18H30
www.rcpedicoes.com
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