terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Da lei da morte libertando


Recomendo a leitura do poste «Entalados excelentíssimos», do José na Porta da Loja, sobre a perseguição movida ao juiz Dr. Carlos Alexandre, por causa do cumprimento da lei e do dever da justiça que aplica.

A epígrafe do poste do José alude à sentença decretada pela máfia siciliana aos magistrados italianos e a figuras sociais de relevo que cruzavam o seu caminho tortuoso. Podiam ser eccellenti, mas cadaveri. E foram. Crentes - e mesmo que não fossem, que Deus não distingue - esperou-os a imortalidade que redimiu o seu sacrifício à comunidade. Não se trata(va) do jogo surrealista do cadavre exquis, em que um texto vai sendo escrito alternadamente pelos participantes, a quem só é concedido lerem a última palavra do que escreveu o anterior: na luta contra a Mafia, o drama está previamente escrito pela cúpula e pelos dirigentes operacionais -  e os galhos rebeldes são pressurosamente atados aos ramos seguros, para que a árvore não se incline e possa vir a tombar.

Sobre a luta dos juízes italianos contra a Mafia, que culminou no chamado Maxiprocesso de Palermo, o melhor que li foi do jornalista Alexander Stille, no livro Excellent Cadavers, Vintage Books, 1995. Veja-se ainda o documentário de Marco Turco, «In un Altro Paese», de 2005, feito também com base no livro e na colaboração de Stille.

O segredo do sistema em Portugal é ordenar não a morte física, mas cívica. Cá, o sistema ostraciza em vez de matar fisicamente, pois sabe, desde a I República, que matar é impopular no nosso País. Em Portugal, o sistema estafa, afasta e esfola. Estafa os adversários na luta incessante. Afasta os resistentes da sua posição, função e ganha-pão. E esfola a dignidade dos homens que não aceitam mudar de pele. Tudo ousa, sem pejo nem limite. Mas não dobra os homens direitos, de fé, de moral e de força. Quem resiste sabe intimamente que não está sózinho: Portugal é o de sempre, mesmo quando o conforto e a descrença afrouxam vontades e abrandam almas. Cadáveres virtuais não são os justos: são aqueles que morreram para a vida no dia em que se venderam ou vergaram.

sistema iníquo, por mais que se firme, dance e reconfigure - como agora tenta fazer junto de Passos Coelho -, não dura para sempre. Um dia destes, se a auto-avaliação não lhe fizer compreender que tem de aliviar o jugo sobre o povo, o Terreiro do Paço será a nossa praça Tharir.


* Imagem picada daqui.

5 comentários:

Anónimo disse...

Tenho esperança que não hei-de morrer sem ver estes criminosos pagarem pelo que estão a fazer. Quero acreditar que ainda há juízes decentes. Falta o "rastilho", pois vontade popular também existe.

Mani Pulite disse...

OS CRIMINOSOS XOCROSOCIALISTAS IRÃO TER EM BREVE O CASTIGO QUE MERECEM.

Anónimo disse...

Foi Você que pediu o PEC-IV? Ele está a ser preparado.

É só mais uns aumentozinhos de impostos.

A bem da nação!

Karocha disse...

Caro Prof ABC.
O Sr. foi um exemplo e, tem seguidores que também não vergam!
Bem Haja.

Anónimo disse...

Na tradução portuguesa do livro de Oriana Fallaci, "A Força da Razão", edição da Difel, pode ler-se, na página 273, uma passagem em que Oriana diz o seguinte :

(...) nos regimes inertemente democráticos o despotismo ignora o corpo e atira-se furiosamente à alma. Porque é a alma que quer encarcerar, seviciar, suprimir. Com efeito, não diz à vítima : "Ou pensas assim, ou morres". Diz : "Escolhe. És livre de não pensar, ou de pensar como eu. E se pensares de maneira diferente de mim, não te punirei com os autos-de-fé. Não tocarei no teu corpo, não confiscarei os teus bens, nem lesarei os teus direitos políticos. Inclusive, poderás até votar. Mas não poderás ser eleito porque afirmarei que és um ser impuro, um louco ou um delinquente. Condenar-te-ei à morte civil, farei de ti um fora da lei e o povo não te escutará. Mais : para não serem também punidos, os que pensam como tu também te abandonarão”

Se não é isto o que fazem os socialistas nas empresas públicas, em que colocam na prateleira os adversários políticos ou alguém que deles discorde, não sei o que seja.

Patrício