O Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, apresta-se para nomear António Costa para primeiro-ministro, após a rejeição pelo Parlamento do programa de Governo do segundo executivo Passos Coelho.
Justifico com três recortes; e depois sintetizo.
Cavaco Silva recusa Governo de gestão, Expresso, 1.ª página, 17-10-2015.
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Luísa Meireles. PR mantém opções em aberto.
Expresso, p. 3, 24-10-2015.
Estes textos bastam para justificar
o golpe que se prepara. E que ainda pode ser travado pela sua exposição e denúncia. No entanto, justifico a minha afirmação.
A eleição de
Ferro Rodrigues como presidente do Parlamento em 23-10-2015, à primeira volta, rompendo a tradição de eleger o candidato do partido, ou da coligação, mais votado, indica que os seguristas se encolheram e que António Costa garantirá a unanimidade dos deputados do PS no chumbo do programa do Governo PSD-CDS.
Na
comunicação ao País, de 22-10-2015, o Presidente Cavaco Silva jamais contradiz o que os seus serviços haviam posto a circular, através do
Expresso, em 17-10-2015: «Cavaco Silva recusa governo de gestão».
Nem nessa comunicação diz recusar previamente nomear António Costa para um governo com apoio parlamentar do PC e do Bloco de Esquerda.
Descascado da chamada de atenção para os compromissos internacionais do País (União Europeia, euro e Nato) e para a gartantia da apreciação positiva dos credores, dos mercados e dos investidores, o discurso de Cavaco em 22-10-2015, traduz o seu medo genético na sistemática lavagem de mãos perante as manobras do socialismo radical. Esse medo inato transformou-se em
pavor, quase físico, por efeito da doença degenerativa de que padece, a que se soma o cuidado dos netos - «o preço da paz» (
conversa de 24-6-2009, do processo Face Oculta), aproveitado pelos socratinos e
espíritos santos, que lhe exploravam o ponto fraco.
A
reportagem, a partir do palácio de Belém, de Luísa Meireles no Expresso, de ontem, 24-10-2015, que coloco abaixo, explica que a presumida dureza do discurso de quinta-feira, é, ao contrário, do que o alijamento da própria responsabilidade no cumprimento dos seus deveres constitucionais:
«o Presidente da República representa a República Portuguesa, garante a independência nacional, a unidade do Estado e o regular funcionamento das instituições democráticas e é, por inerência, Comandante Supremo das Forças Armadas». (art. 120.º da CRP)
Em vez de evitar o sacrifício da Nação ao capricho do
derrotado António Costa, de recusar a viragem marxista e radical do Estado e de opor-se à ocupação do aparelho de Estado pelo Partido Comunista e pelos troksistas do Bloco de Esquerda (40 anos depois do 25 de Novembro de 1975!), mantendo o Governo PSD-CDS em gestão até à dissolução possível da Assembleia em 6 de abril de 2016 e às eleições legislativas ainda em abril de 2016, a que o seu sucessor não poderá furtar-se,
o Presidente Cavaco empossará um Governo socialista com o apoio de comunistas e troskistas. Como adenda, ainda se escudará na posição eleitoral de
Marcelo Rebelo de Sousa, em 24-10-2015, na sala da Voz do Operária semi-cheia, contra o governo de gestão, divergindo, no entanto, de Soares e de Sampaio.
Em troca, Cavaco Silva obterá uma tolerância especial pós-presidência, que lhe acautelará o futuro da família e lhe permitirá ir andar na rua sem risco de assédio da esquerda, neutralizando ainda o transtorno do escrutínio inquisitorial dos média controlados e das instituições controladas pelos socialistas. Como desculpa, poderá justificar-se com um vago acordo parlamentar da plataforma de esquerda para um Governo socialista (o partido vencido no sufrágio de 4 de outubro de 2015!) com a inclusão de homens e mulheres de palha do PC e do Bloco,
nuancée e omisso da posição do Partido Comunista e do Bloco à União Europeia, e aos seus tratados, ao euro e à Nato (veja-se o
comunicado do PC, de 24-10-2015, contra os exercícios militares da Nato na costa alentejana).
Os lamentos do Presidente e mais este «aviso à navegação» (reportagem de Belém, de Luísa Meireles, no
Expresso, de 24-10-2015, p. 3), não interessa nada aos portugueses. Menos ainda lhes diz a escusa de que não pediu «acordo escrito a António Costa» (
idem,
ibidem). O Presidente tem de usar as suas competências constitucionais para defender o futuro do País. Os portugueses não votaram maioritariamente em António Costa e no PS, mas na coligação de direita - e a maioria dos que votaram PS não sufragaram numa coligação pós-eleitoral de esquerda que nem imaginavam e abominam. Depois da jamais esquecida «
cooperação estratégica» com José Sócrates,
a nomeação pelo Presidente Cavaco Silva de um Governo liderado pelo PS e com um programa negociado com o PC e com o Bloco de Esquerda, não é uma apenas mais uma traição à maioria que o elegeu: é uma traição a Portugal.
Talvez agora se perceba melhor porque recomendei, em junho de 2014, a renúncia do Presidente Cavaco Silva...
Back to the future, voltámos, por capricho de um derrotado, António Costa, pelo misto de loucura e de receio de um partido dito do socialismo democrático, o PS, e pela resignação de um Presidente da República, Cavaco Silva, à
época revolucionária de 1975. Quatro décadas depois do Verão Quente, o outono tempestuoso. O retorno, com antigas colaborações (como a do «
camarada» PSD
Pacheco Pereira) à velha dicotomia explicitada pelo
primeiro-ministro Vasco Gonçalves, em 17-5-1975, no famoso discurso da Sorefame:
«E não tenhamos dúvidas — só há duas alternativas: ou se está com a revolução ou se está com a reacção. Não há terceiras vias, nem há lugar para neutros. Não pode haver neutros.» (Video)
Não há terceira via possível, com um Governo PSD-CDS-PS, pois António Costa não admite ser número dois. Já com um primeiro-ministro indigitado, e a não ser como manobra tática, é prejudicial
readmitir a aliança contranatura bloco-centralista, depois de se
romperem as negociações do PSD com o PS. Aliás, a entrada do PS no Governo poria em vigor a pressão sobre as magistraturas, e sobre o Tribunal Constitucional, para o
aggiustamento dos processos de corrupção política.
Apesar do significativo silêncio de Mário Soares,
desta vez o Partido Socialista, liderado pela fação costisto-ferrosa/socratina está do lado errado da história, aliado aos comunistas ortodoxos e dos comunistas trotkistas. E com uma provável
candidatura presidencial de José Sócrates («
Todos os meus direitos políticos estão intactos e tenciono exercê-los» - disse ontem, 24-10-2015, numa «
sala repleta», em Vila Velha de Ródão...) armado em candidato extrassistémico como
Otelo, em junho de 1976, e chegando a
comparar-se ao resistente Luaty Beirão. São precisamente
os quarenta anos do 25 de Novembro de 1975 que têm de ser assinalados com uma grande demonstração de defesa da democracia face ao delírio revolucionário em curso.
Vivemos tempos duros que justificam a
unidade dos patriotas para preservar a convivência social da Pátria e evitar uma agonia sirízica de degradação económica, num contexto de isolamento internacional face aos credores, os mercados, e os aliados.