25 de Abril Revolução para instauração das liberdades políticas e sociais, estabelecimento da democracia representativa e pluralista e realização da descolonização. No meio das tragédias, que as revoluções comportam e geram, os dois primeiros objetivos - liberdades políticas e sociais e democracia representativa e pluralista - foram alcançadosvencida a tentativa do PC e do MES, e das suas antenas militares, para a imposição violenta de uma ditadura político-militar. O terceiro objetivo foi conseguido de forma sangrenta e vergonhosa.
A maior tragédia do 25 de Abril de 1974 foi a provocada pela descolonização, nas guerras civis e invasões estrangeiras que se seguiram: cerca de 1.000.000 de mortos em Moçambique; 500.000 em Angola; 200.000 em Timor; e 1.000 na Guiné-Bissau (fuzilados pelo regime do PAIGC) entre os 27 mil soldados guineenses que haviam lutado nas fileiras portuguesas e que Portugal abandonou. Ou seja, a confiar nas fontes que linco, cerca de 1.701.000 mortos provocados pela descolonização. Demasiados mortos para uma «descolonização exemplar» (ainda não descobri quem cunhou a expressão) ou «possível»... Mortos que na crueza dos números, aritmética que desconhece ideologias, se comparam com os 8.289 mortos das forças armadas portuguesas (cerca de metade em combate) e os cerca de 66.000 mortos do lado independentista (50.000 em Angola, 10.000 em Moçambique e 6.000 na Guiné) da guerra colonial. E claro que se devem também contar os mortos durante a colonização e o tráfico de escravos, mas não referentes ao 25 de abril e seus efeitos. A contabilidade dos mortos em conquistas, guerras e revoluções, não prova quem tem razão, mas desfaz mitos de exemplaridade. Cada homem vale toda a terra, riqueza e bem-estar, dos outros. E, para além dos mortos, os feridos, e os refugiados não apenas brancos mas de todas as cores (cerca de 600 mil retornaram a Portugal, fora aqueles que fugiram para a África do Sul, o Brasil e outros países), que perderam as vidas que tinham construído, os negócios, as casas, as propriedades, os móveis e equipamentos, os carros, o dinheiro...
O desenvolvimento, o último dos 3 Dês, ficou pendurado na corrupção, de pernas para o ar, como as cuecas molhadas que o pudor das mulheres da minha infância penduravam nos estendais ao contrário. «Desenvolvimento» que tem sido visto, desde os anos 1960, como uma meta idílica em vez de um processo esforçado. Em vez de um caminho, uma espécie de Eldorado de refastelamento, onde escorreria leite e mel, num sistema em que trabalhariam os outros, enquanto a maioria abancava à mesa farta do Estado, em «órgias» de despesa socialista. E, como se não chegou a estádio escatológico de nível de vida, ingenuamente visto como obtido sem sacrifício por certos (não todos...) segmentos de populações dos países do centro e norte da Europa, diz-se que a revolução do 25 de abril falhou.
O 25 de Abril não é, nem nunca foi, o mesmo para a esquerda e a direita portuguesa. Ambas ressacadas do Império, se bem que uma admita e a outra não, para a esquerda o regime desejado desejado não era a democracia liberal, que entendia como burguesa, mas a ditadura dos satélites da União Soviética ou, para os mais moderados, a «via chilena al socialismo» de Allende, de que é herdeiro o moderno «bolivarianismo» de Chávez.
Desse projeto mítico, os cravos viçosos de abril de 74 foram substituídos pelas rosas secas de abril de 2011. Desfolhadas por roubos de estrume e negligência. Ficaram os espinhos e um emaranhado de silvas que envolve o regime, convalescente da saída do protetorado.
E nós, portugueses, que vivemos fora da macrocefalia corrupta? Nós resignámo-nos. Manietados pelo medo de trocar o conforto da quietude pelo arrojo de romper o cerco desses laços abr'olhos (outros abrolhos, de olhos apartados). Estamos presos dentro de nós. E, todavia, a vontade tudo pode.
Atualização: este poste foi atualizado às 21:53.
A maior tragédia do 25 de Abril de 1974 foi a provocada pela descolonização, nas guerras civis e invasões estrangeiras que se seguiram: cerca de 1.000.000 de mortos em Moçambique; 500.000 em Angola; 200.000 em Timor; e 1.000 na Guiné-Bissau (fuzilados pelo regime do PAIGC) entre os 27 mil soldados guineenses que haviam lutado nas fileiras portuguesas e que Portugal abandonou. Ou seja, a confiar nas fontes que linco, cerca de 1.701.000 mortos provocados pela descolonização. Demasiados mortos para uma «descolonização exemplar» (ainda não descobri quem cunhou a expressão) ou «possível»... Mortos que na crueza dos números, aritmética que desconhece ideologias, se comparam com os 8.289 mortos das forças armadas portuguesas (cerca de metade em combate) e os cerca de 66.000 mortos do lado independentista (50.000 em Angola, 10.000 em Moçambique e 6.000 na Guiné) da guerra colonial. E claro que se devem também contar os mortos durante a colonização e o tráfico de escravos, mas não referentes ao 25 de abril e seus efeitos. A contabilidade dos mortos em conquistas, guerras e revoluções, não prova quem tem razão, mas desfaz mitos de exemplaridade. Cada homem vale toda a terra, riqueza e bem-estar, dos outros. E, para além dos mortos, os feridos, e os refugiados não apenas brancos mas de todas as cores (cerca de 600 mil retornaram a Portugal, fora aqueles que fugiram para a África do Sul, o Brasil e outros países), que perderam as vidas que tinham construído, os negócios, as casas, as propriedades, os móveis e equipamentos, os carros, o dinheiro...
O desenvolvimento, o último dos 3 Dês, ficou pendurado na corrupção, de pernas para o ar, como as cuecas molhadas que o pudor das mulheres da minha infância penduravam nos estendais ao contrário. «Desenvolvimento» que tem sido visto, desde os anos 1960, como uma meta idílica em vez de um processo esforçado. Em vez de um caminho, uma espécie de Eldorado de refastelamento, onde escorreria leite e mel, num sistema em que trabalhariam os outros, enquanto a maioria abancava à mesa farta do Estado, em «órgias» de despesa socialista. E, como se não chegou a estádio escatológico de nível de vida, ingenuamente visto como obtido sem sacrifício por certos (não todos...) segmentos de populações dos países do centro e norte da Europa, diz-se que a revolução do 25 de abril falhou.
O 25 de Abril não é, nem nunca foi, o mesmo para a esquerda e a direita portuguesa. Ambas ressacadas do Império, se bem que uma admita e a outra não, para a esquerda o regime desejado desejado não era a democracia liberal, que entendia como burguesa, mas a ditadura dos satélites da União Soviética ou, para os mais moderados, a «via chilena al socialismo» de Allende, de que é herdeiro o moderno «bolivarianismo» de Chávez.
Desse projeto mítico, os cravos viçosos de abril de 74 foram substituídos pelas rosas secas de abril de 2011. Desfolhadas por roubos de estrume e negligência. Ficaram os espinhos e um emaranhado de silvas que envolve o regime, convalescente da saída do protetorado.
E nós, portugueses, que vivemos fora da macrocefalia corrupta? Nós resignámo-nos. Manietados pelo medo de trocar o conforto da quietude pelo arrojo de romper o cerco desses laços abr'olhos (outros abrolhos, de olhos apartados). Estamos presos dentro de nós. E, todavia, a vontade tudo pode.
Atualização: este poste foi atualizado às 21:53.