terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Auto da feira

«E porquanto nunca vi
na corte de Portugal
feira em dia de Natal,
ordeno uma feira aqui
para todos em geral.» 
Gil Vicente (25-12-1527). Auto da feira. (Ortografia atualizada)

Desespero.

Regressou, contra todos os sinais prudentes de silvas, seixos e coelhos, do exílio de néon na cidade das luzes, da exibição do luxo da soberba penthouse no 16e, vue dégagée para a Torre Eiffel, decorada por architecte de renon, todavia apinocada de peças de nouveau riche, e com atendimento por majordome - oh là là!.. - para impressionar les amis et les nègres, abdicando, qual Jacinto («As noites são horríveis, hein, Zé Fernandes? Tudo negro, enorme solidão...»), do gozo de gourmand nos restaurantes da moda, das soirées com cheiros de êxtase e maneirismos de bon gré, para reviver, como admitia Carlos Queirós,
«O sonho maior, o mais sentido
seria triunfar na capital.
E depois de tê-lo conseguido
voltar à terra natal»,
como um volframista do poder, saudoso do ceptro e desejoso de vingança, para, como dizia Reinaldo Ferreira, se afogar no esterco do seu destino cumprido.

Perdeu-se. O poder é droga maior do que qualquer outra e a sua abstinência provoca um craving insuportável.

É no quadro de desespero desta tragicomédia política fantástica - de noites brancas em que teme ficar depauperado com o golpe Eliot Ness, que falta - que ocorrem três cenas patéticas lancinantes. A primeira é o rol de 81 friendly questions do Expresso da Costa, de 20-12-2014 (do género «[Carlos Santos Silva] é o seu melhor amigo?»...)... A segunda é a declaração de ontem, 22-12-2014, do advogado que representa o papel de bobo da corte do profeta Daniel, de que o recluso 44 não quer mais condições especiais de detenção e de visita do que o socialista maçon diretor-geral dos serviços prisionais já lhe proporciona... E a terceira é a romaria fraterna e profana à gloriosa prisão de Évora. Um mimo.


Atualização: este poste foi reescrito às 20:18 e 20:52 de 22-12-2014.

12 comentários:

Anónimo disse...

Quer-me parecer que a questão da sucessão do Chefe de Quadrilha foi mal resolvida.

Os Consiglieri andam numa azáfama. É preciso tomar o poder rapidamente para restabelecer os negócios da famiglia.

A falta de vergonha é notória.
Até Santo Guterres teve que ir ao beija-mão.
Foi este hipócrita que trouxe à ribalta o 44 e o Vara, entre outros espécimes do mundo criminal.
Qualquer destes peregrinos, onde pontificou também Don Coelhone, não mostra qualquer constrangimento, uma palavra de desagravo aos portugueses pelo descalabro e pela panóplia de crimes contra a nação do gang a que chamam partido socialista.

Anónimo disse...

Parece que o tal de Araújo já tinha sido advogado da ex-mulher e da mãe. Em quê?

De facto, "Carlos Santos é o seu melhor amigo?", é uma pergunta ao melhor estilo do jornaleirismo tuga, ao estilo do Espesso rolo de papel higiénico de Augusto de Carvalho e até de Marcelo.

Portugal precisa de continuar a purga, mesmo com danos colaterais significativos.

Serão necessárias vassouras gigantes, para limpar tanto lixo que se amontoa. Parece que o presidiário 44 terá dito em determinada altura "parem de escavar", a propósito dos casos de corrupção que começaram a aparecer. Tinha ele receio, por ele, e há muita gente que tenha receio pelo esventrar da nação por décadas. Que assim seja.

Pela dignidade!

Hoje há Palhaços disse...

Falta ainda inventarem uma doença....género cancro no recto ou sida...ou então vira sacristão como o Vale....

Anónimo disse...

Falta a quarta cena patética que o Dr ABC, obviamente, esqueceu: o que aparece nos jornais relativamente ao processo. Mas que diferenças de uns para outros. Uns dizem uma coisa, outros, acerca do mesmo assunto, dizem o seu contrário.
O Dr ABC acredita em qual?
Já sei: no CM ou Sol.
Aposto!...

Profeta Daniel disse...

Nunca acreditem no que dizem os meus jornais,rádios e TVs....

Pedrófilo disse...

Para quando a visita do Paulo P. ao 44 ?Para troca de experiências sobre a prevenção da preventiva...e depois o P. faz um estudo pago pela Cumissão...para ajudar o irmão que irá para a prisa não preventiva e anda a esmolar...

Costa Ferrugento disse...

Foram hoje em romagem a Évora...um para arrear um cagalhão ferrugento no segredo de justiça...o outro para telefonar de lá ao Souto Mora a meter uma Cunha...é pá está na altura do irmão do 44 ir falar com o rosário e rezar 383 milhões de Padrinhos Nostros...

Moderno disse...

Esquisito
São mais que evidente as trafulhices do 44.
Só os amigos socialistas e ex-governantes dele fingem não acreditar.
Porque será?
Quem acertar tem bolo-rei.
Já mandei pôr as fábricas de todo o país a fabricar bolo-rei

Anónimo disse...

Aliás, os Pedrosos ainda não o foram visitar? Logo, gente tão próxima do ambiente celular.

A Mim Me Parece disse...

Francamente não me recordo do comportamento dde um tal Pinto de Sousa, hoje mais conhecido pelo Zé-44, na apoteótica recepção dispensada ao Paulo Pedroso na Assembleia da República nos idos de 2003. E até acredito que, tendo em vista o seu próximo futuro de então, tenha sido discreto. E ele há ódios fraternos que enraízam assim.

Anónimo disse...

http://www.ionline.pt/artigos/dinheiro/joao-rendeiro-probabilidade-prescricao-no-caso-bpp-elevadissima/pag/-1

O assalto ao BCP – cuja verdadeira história ainda está por fazer no que representou de estratégia terceiro-mundista de Sócrates para controlar Portugal – resultou num dano brutal para a CGD, para o BCP e para o país. O dano directo de imparidades na CGD dificilmente será inferior a mil milhões de euros, mas toda a complexidade da transferência da gestão da CGD para o BCP, saída de Vara do BCP e eventual saída de Carlos Santos Ferreira contribui para um balanço muito negativo. Comparar este cenário com a alternativa que defendi, de fusão BCP/BPI, é a noite e o dia. Mas Sócrates não queria isso e assim se escreveu uma das páginas mais negras da história financeira portuguesa – uma história que o Ministério Público deveria investigar.

Anónimo disse...

Que instituições falharam?

A principal foi, sem dúvida, o BdP, que tem um papel decisivo na regulação macroprudencial. Depois, evidentemente, José Sócrates foi um político para quem a dívida não tinha limite – nem era para ser paga. A conjugação de um político voluntarista com um governador sem prudência deu os resultados que se conhecem. Obviamente, os banqueiros ajudaram à festa.

http://www.ionline.pt/artigos/dinheiro/joao-rendeiro-probabilidade-prescricao-no-caso-bpp-elevadissima/pag/-1