sábado, 8 de março de 2014

Rússia, EUA e Barrosie

Toda a retórica mudada, do «leading from behind» à Rússia parceira do pedido de «observadores internacionais» (!?...), de um presidente fraco para as harsh words dele próprio e de Kerry e um simbólico navio despachado para o Mar Negro, tem o motivo de um índice de aprovação do presidente Obama, em queda (-17%). Em contraste, valha o que valha - e valerá pouco - o oficioso Pravda (a inflamada verdade a que eles têm direito) cita uma sondagem de uma agência russa que dá a Putin, 67,8% de aprovação.

Obama está envolvido numa guerra cultural prioritária para ele, e para todos os relativistas delirantes, de legalização do casamento homossexual e da adoção de crianças por casais homossexuais, de liberalização da droga (primeiro, o terrível cannabis...) e de defesa do aborto até ao coup de grâce da ponta de tesoura do partial birth abortion na nuca de algum bebé desgraçado. É essa a sua guerra. Das outras, das de ferro e fogo, foge - e recolhe as legiões.

Todavia, tal como dizia Trosky da dialética, tu podes não ter interesse na guerra, mas ela ter interesse em ti. You can run, but you can't hide... Desapiedada, a guerra vem ter contigo. «É a guerra aquela calamidade composta de todas as calamidades...». Mas, se ela te procura uma e outra vez, e a ilusão não a diverge, como a podes evitar? Se, como disse aqui um dia, te querem a pele, como fazer? Não é justa a firmeza?... Ao fugir, ao recuar, o cobarde aumenta o perigo, porque não o faz por tática, por juízo de oportunidade ou por busca de melhor campo: fá-lo por medo.

A Rússia prepara-se para oficializar a anexação da península da Crimeia (o 84.º território), com o disfarce de um referendo marcado de uma semana para a outra. E procede ao reforço de tropas para tentar enforcar o sudeste da Ucrânia, criando uma zona tampão e de abastecimento da nova província. Como não tem tido oposição, vai avançando. Pelo discurso dos políticos realistas norte-americanos, como Robert Gates e Henry Kissinger, que atendendo à debilidade política, aconselham prudência, se percebe que os EUA (e a União Europeia, a «Barrosie», como a descreve Dominique Jamet, numa outra versão do problema...) não querem opor a força à Rússia, nem sequer as inconsequentes sanções económicas - e menos ainda sancionar os oligarcas que enriquecem Londres e investem na NYSE. Estadistas compreendem que quando um peanut farmer ou um community organizer mostram a fraqueza de que são feitos, e que as ameaças de última hora apenas confirmam, mesmo assim, interessa-lhes proteger a missão - porque sabem que a fraqueza de agora reduz o poder do futuro. Portanto, mais do que aproveitar o embaraço, protegem a presidência (este presidente pouco lhes importa).

Se a Rússia se mover ainda mais para ocidente, ocupando o sudeste da Ucrânia - quiçá sonhando com Odessa e deixando a Ucrânia sem mar quente! -, o poder de Kiev responderá e entrará na guerrilha. Mas não terá o apoio de combate de um só soldado norte-americano, inglês, francês (muito menos alemão, por enquanto...). A Rússia ocupa a Crimeia porque... pode.

Putin quer resuscitar um império morto, reerguer as forças armadas, reocupar os confins sul e oste, criar oblasts por onde possa, depois corredores, depois a mancha de óleo espesso a alastrar pelo território contígo. Joga o que o deixam jogar. O Ocidente jaz morto - e arrefece.


Atualização 20:26 de 10-3-2014): Poste emendado. O tempo, ai o tempo...

9 comentários:

Anónimo disse...

Curioso que parece a História de Portugal. Dos Descobrimentos. Dos territórios conquistados e detidos por um pequeno Povo.

Depois, veio o conforto e o medo. Depois, criou-se, tal como criam os Democratas americanos, a ideia de que é possível viver em paz sem força. Treta. A falta de força acabará em frouxidão.

Portugal é hoje nada. Portugal tem umas supostas Forças Armadas, que nem defendem a Serra da Estrela.

A Europa é também um eunuco, tem dinheiro, mas não consegue fazer nada, para além de constatar que terá sempre que esperar pelo amigo Americano.

Razão têm os judeus, que são pequenos, mas não descuram a sua defesa. Apesar de terem menos do que 10 milhões (igual a Portugal) fazem frente a mais de 500 milhões de muçulmanos.

Entretanto, a China investe a cada ano 15% do seu orçamento nas suas Forças Armadas.

Um mundo amarelo à vista.....

Contudo, após o relativismo de Obama, lá virão os Republicanos repor a força americana. Inevitavelmente, pois a América ainda não caiu na frouxidão da Europa.

Anónimo disse...

http://www.ft.com/intl/cms/s/0/b5bc5f60-a499-11e3-b915-00144feab7de.html#axzz2vOuTru15

Vladimir Putin, strongman of Russia gambling on western weakness

To many in the west, Mr Putin’s actions are those of an authoritarian leader dangerously out of control. Yet back home approval ratings are rising for a man Russians see as having defended the national interest and boosted their living standards.
Surprising as this crisis may have been for Europe and the US, for Mr Putin it is the explosion of a grudge that has been building for most of his 14 years in power, a period when he has gone from flint-faced former communist spy to swaggering leader at ease with the trappings of traditional, conservative Russia. “He is disillusioned with the west,” says Igor Yurgens, a former Kremlin adviser. In Mr Putin’s eyes, the revolution in Kiev is only the latest in a long chain of western attempts to encircle and weaken his country.
Given the Russian president’s background, hostility to the west almost seems predictable. Born into a working-class family in 1952 in what was then Leningrad, Mr Putin spent his early years with his parents living in one room of a kommunalka, a communal flat. A childhood taste for rowdiness was tempered in his teenage years when he embraced the discipline of martial arts. He also volunteered to join the KGB, an ambition he realised in his early twenties.

The first time Mr Putin made real his threat – the five-day war with Georgia in 2008 – left relations with the US seriously damaged. Since then, the crises that emanated from the Arab uprising have further cemented Mr Putin’s belief that the US is engaged in dangerous “experiments” around the world.
While it is impossible for outsiders to tell when Mr Putin decided to move on Ukraine, there is consensus that it was long planned. “The level of precision with which this has all been rolled out is astounding,” says the former US official.
The question is where Mr Putin goes from here. If Russia is targeted with tough financial sanctions, the resulting damage could quickly undermine his power. “He has taken a big gamble but he can’t go back,” says the person with personal ties to Mr Putin. The calculus seems to be that Russia will get to keep Crimea as the west will not risk conflict.
Some Russian experts therefore have little more than scorn for German chancellor Angela Merkel’s reported observation that Mr Putin is out of touch with reality. “People in the west think Putin is irrational or crazy. In fact he’s very rational according to his own logic, and very well prepared,” says Andrei Illarionov, a former Putin adviser who is now one of his fiercest critics. “It is not Putin who is out of touch with reality – it is the west.”

Anónimo disse...

Entretanto, com um país a esvair-se a cada dia, só faltam mesmo os efeitos colaterais do chavizmo.

http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?id_news=689716

Cerca de sete dezenas de elementos da comunidade luso venezuelana na Madeira concentraram-se hoje no Funchal para homenagear as vítimas dos confrontos naquele país e apelar à intervenção do Presidente da República portuguesa.
“Portugal é um país amigo da Venezuela, tem interesses económicos lá. Portugal tem também de pensar nas pessoas e o senhor Presidente da República tem que pensar nos madeirenses, nos portugueses que moram na Venezuela e estão a precisar de viver num país em paz”, afirmou Enrique Vieira, do grupo 'Luso venezuelanos pela Liberdade' na Madeira.

Anónimo disse...

O que quer o Prof. ABC que os americanos façam? Quer que eles entrem em guerra com os russos?

Anónimo disse...

Muito bom o artigo de Dominique Jamet.

Bolota disse...

Para quem ainda tem duvidas nada melhor que...

A ligação Clinton-Pinchuk, uma oligarquia ucraniano-americana

http://resistir.info/ucrania/pinchuk_03fev14.html

Anónimo disse...

http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?id_news=689822

Papa Francisco quer que a Igreja estude a união homossexual

O Papa Francisco pretende estudar as uniões homossexuais para entender os motivos pelos quais alguns países optaram pela legalização do matrimónio de pessoas do mesmo sexo.
Segundo o cardeal de Nova Iorque, Timothy Dolan, em declarações ao programa Meet the Press, da NBC, o Papa não disse ser a favor do matrimónio homossexual, «mas que a Igreja deve procurar e analisar as razões que conduziram alguns Estados a aprovar as uniões civis entre pessoas do mesmo sexo em vez de as condenar».
Dolan defendeu que o casamento heterossexual não se refere apenas à religião e ao sacramento, «mas também é um elemento de construção da sociedade e da cultura. E, se retirarmos o significado sagrado do casamento, temo que não só a Igreja sofra, mas também a cultura e a sociedade».

Anónimo disse...

Depois do fim da URSS, a monarquia dos Castros lá arranjou um novos dador.

http://economico.sapo.pt/noticias/venezuela-que-futuro_188683.html

Até há pouco tempo, Angel Vivas era um ilustre desconhecido. Militar de carreira, abandonou o exército há sete anos depois de recusar-se a cumprir ordens de Chávez, então presidente da Venezuela.

Este ex-general de 57 anos, que se tornou num herói para muitos manifestantes anti-governo, ‘tweeta' regularmente sobre o executivo criticando-o de estar a mando de Cuba e de fornecer milhares de milhões de dólares de petróleo subsidiado a Havana.

Entretanto, no final de Fevereiro, o presidente venezuelano, Nicolas Maduro, ordenou a sua prisão em directo, na televisão, por ter recomendado aos manifestantes que barrassem as estradas com arame farpado para deter os raides dos gangues pró-governo.

Vivas vestiu um colete à prova de balas, agarrou numa arma e subiu ao telhado da sua casa, em Caracas, e gritou: "Jamais me renderei". Quase duas semanas depois, os manifestantes mantêm um cordão de segurança à volta de sua casa e o número de seguidores no Twitter disparou para os 240 mil.

Para Cuba, a importância comercial da sua relação com a Venezuela é tal que o programa "petróleo em troca de médicos" - no âmbito do qual Caracas envia 115 mil barris/dia para Havana, que retribui com 30 mil médicos -, representa actualmente 40% do comércio total da ilha. Pavel Vidal, antigo funcionário de topo do banco central cubano que agora lecciona na Universidade Javeriana de Cali, na Colômbia, publicou recentemente um artigo onde alega que, graças a esse programa, Cuba recebe um subsídio implícito no valor de 2,7 mil milhões de dólares (1,9 mil milhões de euros por ano). Vidal estima que a economia cubana possa contrair 8% se perder esse subsídio.

Anónimo disse...

Se a guerra entre a Rússia e a Ucrânia começar, é melhor começarem a rezar para que nenhum radical se lembre de utilizar o plutónio da centrais nucleares ucranianas para dar início à Terceira Guerra Mundial...

A Ucrânia tem 5 centrais nucleares e de certeza que não lhe faltam cientistas atómicos com o know how necessário para construir uma ogiva nuclear no espaço de uma semana ou menos ainda.

Depois é só meter a ogiva em cima de um missil SCUD que com certeza não lhe faltam às dezenas no seu arsenal militar e digam olá à Terceira Guerra Mundial...

Milhases escreveu no seu blog