segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

A lusofonia também é minha pátria



A partir de hoje, em conformidade com a lei do Estado, que o determinou nas publicações oficiais a partir de 1 de janeiro de 2012, passo a tentar usar a nova grafia do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, de 1990. A nova grafia custa-me, habituado que estou à antiga desde as carteiras da escola da minha professora Fernanda, e não me agrada, em muitas expressões, ainda que a mudança, em Portugal, seja menor do que aquela que se verificou em 1945 (e maior do que a de 1973). A minha adesão foi difícil e longa. Mas, se sei que continuarão a existir ortografias divergentes nos vários países lusófonos em bastantes palavras, apesar da uniformização, aceito o propósito do Acordo. E discordo respeitosamente das teses nostálgicas do império perdido, da superioridade racial/continental ou dos vitimistas que entendem a língua como último reduto de soberania, que se afirma precisamente pela influência que um País projecta nos outros e que rejeita sobre si próprio - é incompreensível que o Brasil tenha criado, em São Paulo, em 2006, um Museu da Língua Portuguesa e Portugal não tenha nenhum. Digo que vou tentar usar a nova grafia porque, viciado na anterior, vou errar com frequência face ao novo vocabulário, macrobiótico da língua, nem carne nem peixe. Creio, no entanto, que a pouco e pouco, me habituarei. Aos comentadores e leitores que preferem a grafia anterior, peço a necessária tolerância, a mesma que mantenho com quem fique na ortografia anterior, e, a uns e outros, agradeço a colaboração, usual por aqui, na deteção de erros em que caio.


* Imagem picada daqui.

29 comentários:

Anónimo disse...

As coisas fazem-se, fazendo-se. Não é necessário ser contra a mudança. Mas, a mudança pela mudança, não passa de tontice.

Continuarei a escrever "facto", porque não me soa bem dizer "o fato do Dr. Passos ter admitido que Portugal entrou em bancarrota".

Assim, como se quer acabar as letras mudas, ou seja acabar com o "h" de hipopotamo, e o "h" de hospital.

Deveríamos olhar para o exemplo britânico versus os exemplos dos EUA ou da Austrália. Cada macaco no seu galho.

Com a natural força do Brasil, Portugal curvar-se-á em menos de 20 anos.

Vamos todos jogar "bólingue"!

Assim, como assim, Portugal já não é um país independente.

OCTÁVIO DOS SANTOS disse...

Ou seja, o senhor, que há tanto tempo, e muito bem, denuncia e combate José Sócrates, os «só-cretinos» e as «socretinices», decidiu passar a escrever em «socretinês»!

Não tem vergonha? A sua credibilidade desapareceu a partir deste instante. Passei a ser um ex-admirador seu.

JPG disse...

Que tristeza, António. Que tristeza.

rendadebilros disse...

Não esperava isto neste blogue... Afinal...

Ana Mendes da Silva disse...

Lamento.

Continuo a escrever em Português, dentro e fora da aula. Ainda para mais, quando apenas 3 países ratificaram o acordo, o que me levanta sérias dúvidas sobre a legalidade da sua utilização.

Ana Mendes da Silva disse...

E mesmo de acordo com as leis do estado só é obrigatório a partir de 2014.

Anónimo disse...

Caro António,

A única orthographia que valia a pena um combate para manter seria aquella que estou a usar agora: a orthographia classica portugueza, Essa respondia a tres aspectos:

(1)mantinha uma conformidade estricta com a etimologia latina e grega;

(2) continha sufixos identitarios importantes do portuguez escripto;

(3) Adicionalmente, facilitava o accesso ás orthographias franceza e ingleza.

No entanto, a orthographia classica foi aniquilada em Portutal pela reforma de 1911 feita completamente á revelia do Brazil e castelhanizanto a orthographia.

Depois de 1911, o portuguez clássico ainda foi usado no Brazil por mais de 20 anos num "cisma" que só se poderia resolver pelo regresso de Portugal ao formato anterior, ou pela dopção no Brazil do formato simplificado decretado unilateralmente por Portugal. Os brazileiros cederam e, tambem eles, adoptaram o formato simplificado.

A partir desse ponto, é tão importante escrever aspeCto como oCculto. Os nossos "c" e outras consoantes mudas, são um contracenso num sistema ortographico simplificado, são pexisbeque, e ninguem como os portuguezes para dar valor a pechisbeque.


Abç,
RR

OCTÁVIO DOS SANTOS disse...

Identifique-se, «RR», se é que tem coragem para tanto. Então porque foram feitas asneiras (e muitas) no passado, neste âmbito como em outros, isso é «argumento» - e desculpa - para agora «valer tudo»?

Anónimo disse...

Dantes eramos homens rectos.Agora somos só retos.Continuo a preferir ser recto do que reto.Abaixo o aborto ortográfico!

Anónimo disse...

O.Santos disse: "Então porque foram feitas asneiras (e muitas) no passado, neste âmbito como em outros, isso é «argumento» - e desculpa - para agora «valer tudo»?"

O AO não é um "vale tudo", é um acabar o que foi começado unilateralmente em Portugal em 1911 e quye só foi adotado no Brasil bem mais tarde. A reforma ort.portuguesa de 1911 foi tão má que, por exemplo, "occidente" perdeu o 'c' duplo (apesar do 'o' átono aberto) e "adopção" manteve o 'p' para... abrir o 'o' átono. Isto é completamente ridiculo. Há mtos mais exemplos do nível de incongruência na manutenção de consoantes mudas. Se a ortografia se pretende simplificada (sem y's, ch's gregos e consoantes mudas) então, retirem-se todas as consoantes mudas.

Nada de usar pechisbeque para subtituir o ouro deitado fora.

Luís Ferreira disse...

Assinem e divulguem:

http://ilcao.cedilha.net/docs/ilcassinaturaindividual.pdf

Luís Ferreira disse...

RR,

escreva como escreveu. Talvez todos nos habituemos a escrever e talvez este povo, por causa da forma como escreve, vá encontrar de novo a sua raiz e razão de viver e resistir.

Estou farto de modernaços e vencidos. O que ABCaldeira fez foi votar vencido em questão tão fundamental quanto a língua.

António Balbino Caldeira disse...

Caros amigos

O Luís Ferreira colocou bem a questão: votei vencido. Forçado a adotar profissionalmente a nova ortografia, julguei que não seria viável manter duas escritas, uma pessoal, enquanto professor, e outra pessoal, enquanto blogueiro, separadas por uma ténue cortina, como sombras chinesas de uma identidade que tem de ser una. Em vez de confundir uma e outra, vou tentar seguir apenas aquela que se tornou lei do Estado.

Mas respeito quem ousa teimar manter a ortografia anterior.

Anónimo disse...

O Museu da Língua Portuguesa não é naquele prédio mas num contíguo (ali é uma estação). Aliás nesse museu, que me pareceu um tanto desequilibrado do ponto de vista de autores, endeusam Fernando Pessoa pela mão da ministra da Cultura Isabel Pires de Lima o que ainda assim não deixa de ser bom para Portugal (mas podia ser melhor).

Anónimo disse...

O aborto ortográfico deve ser boicotado e objecto de desobediência civil e de um movimento para a sua revogação e denúncia unilateral.É o verso ortográfico das Novas Oportunidades e do abandalhamento geral do Ensino.Por coerência não se pode combater as Novas Oportunidades e aplicar o aborto ortográfico mesmo contrariado.Quanto às leis do Estado a que este Regime nos levou só é possível mandá-las para a puta que os pariu mais os seus antecessores de 1911 do bando de assassinos e ladrões do Partido Republicano Português que iniciaram a destruição de Portugal e da língua Portuguesa.

OCTÁVIO DOS SANTOS disse...

«Forçado a adotar»? Mas como? Porquê? Apontaram-lhe uma arma? Bateram-lhe? Ameaçaram despedi-lo?

«Vou tentar seguir apenas aquela que se tornou lei do Estado.» Já agora, porque não acrescenta «A bem da Nação?»

«Parabéns», ABC! Acabou de se converter ao «português técnico». Algures em França, há um sacana que se está a rir.

Anónimo disse...

Ontem perdi um mail, que hoje vou reproduzir mais ou menos. Veremos se chega ao destino.

Nele começava com a frase: Do Dr. Caldeira esperava tudo menos que aderisse ao A.O.
Depois perguntava-me (e que hoje deixa bem claro o que o leva a adoptar a nova ortografia e não me enganei) talvez o facto de ser professor e naturalmente ter de aceitar as regras impostas pelo Ministério.

Ainda citei o caso da notável Profª Maria do Carmo Vieira (e muitas/os mais professores/as, além de inúmeras e prestigiadas figuras da nossa intelectualidade): esta Professora não aceita de modo algum o aberrante Acordo e não o vai respeitar. Ela, como muitos colegas de profissão, bem como d'outras áreas da sociedade, assinaram o ILCAO.

Esta Professora suspendeu a docência já vão alguns anos (entretanto tem-se batido vigorosamente em vários programas de televisão e jornais, em defesa da nossa língua), por considerar uma afronta e um crime de lesa-língua os programas de português saídos do M.E. e só voltará ao ensino quando aqueles forem alterados por completo.

Esta Senhora é um exemplo do que é ser-se uma Patriota. É uma notável Professora e uma Grande Portuguesa.

Cumprimentos e renovo os votos de um Próspero Ano Novo para si e família.
Maria

THOMAZ DE ALLCUFFURADO disse...

Viva a barafunda orthográfica!Para não ter de realizar o aborto orthográfico vou passar a escrever como a minha tetravó escrevia português no sec.XIX.Vou já à pharmácia aviar um unguento e fazer um sangramento que este posthal provocou uma dor rheumática,um inffluxo e uma appoplexia.

Anónimo disse...

A máfia dos tratudores e livreiros portugueses, aquela que transforma os livros estrangeiros publicados em Portugal nos mais caros da Europa, está seriamente preocupada com a concorrência brasileira. Daí o pânico com o AO.

Para tentar o "ó tempo volta pra trás", a máfia dos tradutores e livreiros inculda falsa informação em dois ou três histéricos saudosos do "Angola é Nossa"; depois é ver cada um deles a meter uma dúzia de comentários carregados de ódio e rancor anti-brasileiro por toda a parte e ficam a parecer muitos. Mas não são, são poucos. A única coisa que são muito é desiquilibrados, ignorantes, ressabiados, tacanhos, carpideiros e quintaleiros.

Se a máfia dos livreiros e tradutores quer sobreviver, ganhem menos e vão vender livros para o Brasil.

O ORTÓGRAPHO INDIGNADO disse...

PROPONHO QUE EM VEZ DE FALARMOS E ESCREVERMOS BRASILOGUÊS ADOPTEMOS DEFINITIVAMENTE O CRIOULO CABO-VERDIANO.A CESÁRIA ÉVORA MERECE ESSA HOMENAGEM.

Luís Ferreira disse...

O ABC pode fazer uma coisa para se redimir de tamanho pecado: Dar visibilidade à ILC e ao ficheiro pdf que funciona como documento de subscrição.

Aí... ficava semi-perdoado :-)

Anónimo disse...

Pelo que vejo só o Brasil é que conta para a sua “lusofonia”, pois Angola, Moçambique, C. Verde, Guiné, S. Tomé, Portugal ou Timor não contam nada! Mas, só agora é que acordou para a lusofonia? Olhe, Sr. Dr.,os Portugueses, pelo menos da sua idade, a partir praticamente da 3ª classe da chamada Instrução Primária já iam aprendendo algo sobre isso. Por outro lado, é inadmissível que uma pessoa que é professor aceite utilizar uma ortografia apalhaçada, à revelia de quaisquer estudos filológicos ou linguísticos para credibilizar tal alteração. A situação é tão escandalosa que até grandes intelectuais brasileiros têm relutância em empregarem certos termos com a ortografia que nos querem impingir. Por outro lado, o “socretinês” resulta de nenhum acordo, pois o que aconteceu foi quase exclusivamente a substituição da Língua Pátria pela sua vertente do brasileiro popular. Quanto aos nostálgicos de que fala seria bom, “seo “ Caldeira, que tivesse mais respeito pelo povo Português e a sua idiossincrasia. Conseguiu enganar-me muito tempo, até que chegou o dia em que o seu patriotismo não é mais que uma ânsia desmesurada de protagonismo. E parafraseando, com o devido respeito, o Senhor Octávio dos Santos: “Não tem vergonha? A sua credibilidade desapareceu a partir deste instante. Passei a ser um ex-admirador seu”.

katrina a gotika disse...

Olá António, e bom ano!
A lusofonia não é a minha pátria. Lamento que se sinta forçado a escrever mal (e já começou, mas não lhe vou dizer onde) quando antes escrevia bem. Bem vindo ao mundo dos escravos. Bem vindo ao mundo dos ignorantes por decreto. Este, sim, é o Portugal Profundo. Profundíssimo. Nada como trocar as voltas aos cultos para os desorientar. Dividir para reinar, já dizia o outro. Lamento vê-lo embrulhado nessa armadilha. Mas não é a primeira em que cai, e perdoo-lhe porque sei que cai por lirismo. Acredito que acredita mesmo na lusofonia. Eu já nem na telefonia acredito, só ouço rádio na internet.
Posso dar-lhe um conselho profissional. Escreva como sabe e gosta, e depois passe-lhe um corrector ortográfico daqueles rascas que vêm no Google e traduza para os seus alunos. E se alguma palavra falhar ao acordo do Eduquês eles não vão perceber nada, pk eles excrevem pitêx, que xe excreve axim, e qualquer dia ninguém sabe como se escreve porque não há língua que resista a tantas alterações no mesmo século.
Faz tudo parte do smoke and mirrors, my friend. Smoke and mirrors. You've just become a mirror for their smoke and they're loving it.
As for who are they, just follow the money.
Porque não escrevi em português? O inglês trata melhor os seus falantes, say I.

Mesmo assim, bom ano!

Alice Samora disse...

Fico bastante triste com esta comunicação.
Um homem que revelou a digndade e força de carácter para enfrentar quem enfrentou e sofrer as consequências que conhecemos; que milita e defende valores fundamentais para a nossa identidade como humanos, não se sente minimamente incomodado e torna-se cumplice de um aborto e de uma monstruosidade como o dito acordo ortográfico.
Poderia demonstrar-lhe longa e fundamentadamente o sentido ridículo e criminoso de tudo aquilo. Mas a minha experiência diz-me que que "adopta" aquilo não esteve vem está para pensar. Pelo menos naquilo. Como sempre, venceu o mais forte.
Mutatis, mutantis, é uma situação igualzinha à do aborto: Já está na lei, e toda a gente o pratica. Principalmente as pessoas sem valores e cultura. "Bora lá mas é avacalhar isto tudo".
Os meus cumprimentos, com desilusão.

Anónimo disse...

Parabéns, Dr.Caldeira, por não pactuar com a nacional-imbecilidade daqueles que, desconhecendo a valor filológico do AO, prentendem ficar agarrados a um passado "filologicamente correcto".

Parabéns, também, por não ter uma visão estreita do valor do Portugal. Parece-me que percebeu, e bem, que o Brasil é o Portugal-Grande, e que o nosso Portugal tem tudo a ganhar com isso.

Parabéns, ainda, por olhar e seguir em frente, alheio aos "recados" dos mais ignorantes que se auto-imaginam conhecedores, aqueles que não percebem que um 'C' faz menos sentido ortográfico em "aCtual" do que em "oCcidente", e que se "oCcidente" já não é usado em Portugal ha mais de cem anos, muito menos deveria continuar a ser usado "aCtual".

OCTÁVIO DOS SANTOS disse...

Que «evolução», ABC! A receber parabéns de «só-cretinos»! Então, está satisfeito?

Anónimo disse...

Afinal adopta o AO em defesa da lusofonia ou porque não quer perder o emprego?

Votar vencido é o que 100 (ou mais) marmanjos fizeram na AR nos últimos 8 anos.

Anónimo disse...

Fez a sua opção de classe:aderiu ao neo-socialfascismo "socretino", ideologia que os escorraçados em 5 de Junho quiseram impor ao Povo Português.

Anónimo disse...

Muita força tem a maçonaria neste país.
Esta de começar a escrever à moda do Brasil de há 85 anos e chamar-lhe evolução tem a sua graça...
E já agora, quem fez " reformas " ortográficas foi o Brasil, em 1907 - tudo copiado das modas francesas (até o nome dos meses com letra minúscula). Claro que os franceses que há 160 anos tinham falado da ortografia fonética, se abstiveram de " reformar" fosse o que fosse, que a língua francesa não é para brincadeiras de tolos, mantendo-se hoje igual ao que era há 250 anos. O mesmo se diga, ainda com mais propriedade do inglês, já que quanto mais culto é um país mais estável é a ortografia.
O resto é atraso, subdesenvolvimento e colonialismo brasileiro.
O que diz de ser a lei do estado não é verdade. Quem lhe disse tal? E imagine que era mesmo - que não é! - e era uma lei racista. Cumpria?
Muito lastimo este blog que visitava e m dava longas leituras e que deixarei de frequentar.