Pedro Magalhães deu hoje, 26-5-2011, uma entrevista ao i, que merece leitura atenta. Tenho chamado a atenção para aquilo que tem escrito acerca dos eleitores e dos partidos portugueses por que me parece a análise mais funda e produtiva feita no País.
Posso não concordar com a sua perspectiva política, e com algumas conclusões e justificações como ontem indiquei, e até com a sua acumulação, no passado do papel de árbitro (quando era, até ao final de 2009, director de centro de sondagens da Universidade Católica) e de comentador político ocasional - o que, noutro plano, também vale para Rui Oliveira e Costa. Não varro a realidade para debaixo do tapete. E não ponho em causa a sua honestidade científica e profissional, nem o relevo do seu estudo. Mais, porque não adianta brigar com os números, venho recomendando contra as teorias da conspiração, que se aproveitem os resultados das intenções de voto e as tendências, mesmo contraditórias que emergem, em vez de os contestar - e isso vale para todos (embora já não para a oportunidade e perguntas das sondagens, decidida pelos media que as encomendam). Desprezar e negligenciar os resultados da medição de intenções de voto conduz ao desastre, pois não permite a emenda dos erros e a exploração de vantagens.
Na entrevista, Pedro Magalhães salienta alguns factos e tendências que deveriam ser aprendidos:
Pedro Magalhães não fala da diminuição do patriotismo e do altruísmo no comportamento do eleitor - embora se perceba dos motivos do voto que aponta centrados no interesse - , nem ainda de outros segmentos de mercado além da velha tetralogia sociológica do sexo, idade, classe social e grau de instrução. Um novo segmento de mercado muito crítico é a volatilidade de voto dos reformados dourados e dos funcionários públicos não-professores
E no comportamento do eleitor, falta ainda abordar a questão tabu da corrupção. A verdade é que o eleitor europeu moderno resolve a dissonância cognitiva do voto no corrupto que lhe dá jeito, com a revisão da sua percepção, auto-justificando-se de que ele não é corrupto em vez de, em consciência, modificar o voto. Vivemos tempos de aflição e egoísmo: mas não de liberalismo. O único liberalismo em que o eleitor acredita não é «cada um por si», mas «cada outro por si»: para ele a máxima protecção do Estado e os menores impostos; para os outros a menor protecção e carga fiscal punitiva.
Posso não concordar com a sua perspectiva política, e com algumas conclusões e justificações como ontem indiquei, e até com a sua acumulação, no passado do papel de árbitro (quando era, até ao final de 2009, director de centro de sondagens da Universidade Católica) e de comentador político ocasional - o que, noutro plano, também vale para Rui Oliveira e Costa. Não varro a realidade para debaixo do tapete. E não ponho em causa a sua honestidade científica e profissional, nem o relevo do seu estudo. Mais, porque não adianta brigar com os números, venho recomendando contra as teorias da conspiração, que se aproveitem os resultados das intenções de voto e as tendências, mesmo contraditórias que emergem, em vez de os contestar - e isso vale para todos (embora já não para a oportunidade e perguntas das sondagens, decidida pelos media que as encomendam). Desprezar e negligenciar os resultados da medição de intenções de voto conduz ao desastre, pois não permite a emenda dos erros e a exploração de vantagens.
Na entrevista, Pedro Magalhães salienta alguns factos e tendências que deveriam ser aprendidos:
- As campanhas reforçam decisões íntimas: mobilizam apoiantes dos presumidos vencedores e trazem abstencionistas; e desmobilizam os apoiantes dos perdedores (os que não querem ir ao estádio ver a sua equipa perder). É por isso que as sondagens são importantes: aumentam os «Bernardinos» (os que «votam para a força!», que são em maior número que os «coitadinhos» (que votam nas vítimas).
- Uma eleição não é só uma avaliação da prestação passada, mas também do desempenho futuro. Digo eu que num clima económico e laboral de medo, muitos eleitores, apesar do registo de ruína do País, acoitam-se no partido que lhes pareça dar maior protecção social no curto e médio-prazo.
- Metade dos eleitores vota sempre no mesmo partido - e o PC tem eleitorado cristalizado - que só a esperança de vida atinge...
- Há uma importância maior das transferências de votos de um partido para a abstenção, e vice-versa, do que da transferência inter-partidária de votos.
- A tendência, evidente nas sondagens até agora publicadas sobre esta eleição de Junho, de transferência de votos do Bloco de Esquerda para o PS (cerca de um terço dos votos do Bloco em 2009) e do PSD para o CDS (cerca de um quarto de votos a mais face às legislativas de 2009).
- O PS é o «partido nacional com mais simpatizantes» e ocupou o centro ideológico; o PSD deslizou para a direita, estando ideologicamente em cima do CDS. Mais do que a deriva do eleitorado para a esquerda, devido à crise, houve um opção conservadora de Ferreira Leite e, agora, com Passos Coelho uma opção liberal na economia - enauanto o CDS adoptou uma política neutra em termos ideológicos... mais a protecção dos reformados.
- O carácter urbano-burguês dos eleitores do Bloco: votam no Bloco (ou no PS de Sócrates...) pela agenda radical nos costumes, mas são ainda mais liberais na economia do que o CDS. Aliás, digo eu, o CDS de Portas chegou a ensaiar o liberalismo de costumes (!), mas emendou rapidamente, pois perdia o eleitorado tradicional e não ganhava, porque tem uma imagem marcada de direita conservadora, o eleitorado radical nos costumes. Mais ainda: creio que Louçã guinou para a esquerda por pressão militante interna dos radicais trotskistas, para evitar a desunião do partido, mas a salada
russaamericana do liberalismo e comunismo do Bloco deslassará, mais tarde ou mais cedo, como a maionese discursiva utópica que a envolve. O segredo ideológico de Sócrates, em evidente contraste com o socialismo clássico de Soares, foi essa síntese: liberalismo radical nos costumes (aborto, casamento homossexual, anti-religião) e capitalismo burguês, temperado com o assistencialismo para os desvalidos. - «Se não houvesse o apelo do voto útil, não haveria razão para o CDS não ter quase tantos votos como o PSD». Não concordo e percebo a justificação.
Pedro Magalhães não fala da diminuição do patriotismo e do altruísmo no comportamento do eleitor - embora se perceba dos motivos do voto que aponta centrados no interesse - , nem ainda de outros segmentos de mercado além da velha tetralogia sociológica do sexo, idade, classe social e grau de instrução. Um novo segmento de mercado muito crítico é a volatilidade de voto dos reformados dourados e dos funcionários públicos não-professores
E no comportamento do eleitor, falta ainda abordar a questão tabu da corrupção. A verdade é que o eleitor europeu moderno resolve a dissonância cognitiva do voto no corrupto que lhe dá jeito, com a revisão da sua percepção, auto-justificando-se de que ele não é corrupto em vez de, em consciência, modificar o voto. Vivemos tempos de aflição e egoísmo: mas não de liberalismo. O único liberalismo em que o eleitor acredita não é «cada um por si», mas «cada outro por si»: para ele a máxima protecção do Estado e os menores impostos; para os outros a menor protecção e carga fiscal punitiva.
1 comentário:
Apenas não sigo este poderoso blog pois a ignorância deste brasileiro que vos escreve não permitiu encontrar o link. Mas aproveito o ensejo para dizer que, se algum dia algum português acessar meu blog http://www.guinablogspot.blogspot.com/, ficarei muito honrado.
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