terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

O apoio - por agora... - da União Europeia a Sócrates e os cálculos políticos incertos

(Em actualização)


José Sócrates terá conseguido o apoio da União Europeia - Comissão Europeia e Banco Central Europeu - para derrotar já, com o voto contrário, ou a abstenção, do PSD e a abstenção do CDS, a moção de censura do Bloco de Esquerda
 prometida para 10 de Março de 2011 e para segurar o juro que lhe evite a derrocada financeira já amanhã, 16-2-2011, na venda de Bilhetes do Tesouro (750-1.000 milhões de euros). Justifico abaixo a minha interpretação.

Se o PSD e CDS avisassem já que votariam a favor de uma moção do Bloco ou até do PC, o Governo socialista estava morto não daqui a um mês, mas hoje mesmo. Pois, nos mercados financeiros a taxa de juro dispararia para os 9% e Sócrates teria de implorar o socorro financeiro do Fundo de Estabilização Financeira da União Europeia (para evitar a bancarrota do Estado), que implicará a supervisão financeira e económica pela União Europeia e pelo FMI.

Ora, o Banco Central Europeu (BCE) parece estar, hoje, 15-2-2011, a comprar obrigações do Estado português, tal como pelas 9:30 da passada quinta-feira, 10-2-2011, quando a taxa de juro desses títulos chegou a 7,64%. Note-se que a taxa de juro das obrigações do Estado português fechou ontem, 14-2-2011, a 7,58% e, hoje, é a taxa portuguesa que desce, em relação a ontem, 10 pontos percentais (cotações do Finantial Times) e não a espanhola, que subiu, o que significa um movimento particular e não um efeito de grupo da decisão de adiamento de reforço e flexibilização do Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEEF), na reunião de 15-2-2011 do Ecofin (reunião dos ministros das Dinanças da União Europeia).

O ministro das Finanças Teixeira dos Santos informou ontem, 15-2-2011, segundo o Económico, que o governo português pretende que
«sejam introduzidas possibilidades de intervenção no mercado da dívida, quer no domínio do chamado mercado primário ou mercado secundário, bem como a possibilidade de efectuar operações de empréstimo, em diferentes modalidades, e em condições de financiamento com taxas de juro mais favoráveis»
Isto é, Teixeira dos Santos quer que a União Europeia, através do Fundo Europeu de Estabilização Financeira além do BCE, compre obrigações do Estado português no mercado secundário para baixar a cotação do juro, mas também que o fundo compre títulos nas emissões do Estado português e ainda lhe empreste dinheiro a juro mais baixo do que os mercados cobram... O Governo português quer evitar o pedido formal de socorro financeiro, conseguindo empréstimos de favor, a juro baixo, sem a tutela directa da União Europeia e do FMI.

Hoje, 15-2-2011, a ministra das Finanças francesa, Christine Lagarde deu uma entrevista ao Spiegel, que é útil ler. Lagarde parece admitir que o Fundo Europeu de Estabilização Financeira possa comprar, no mercado secundário, obrigações de Estados europeus muito endividados, como Portugal, e emprestar-lhes dinheiro para comprarem os seus próprios títulos no mercado secundário de modo a reduzir a oferta dessas obrigações e a taxa de juro - a compra de títulos nas emissões dos Estados não parece ser considerada. E admite francamente a reestruturação da dívida grega à custa dos credores: os credores receberiam apenas uma parte dos seus créditos e num prazo mais dilatado, o que provocará em seguida a recusa dos mercados em emprestar dinheiro à Grécia - um destino que nos espera, se não houver uma rápida substituição do Governo e uma mudança radical de política. A divergência com a Alemanha é clara, ainda que a França, que aproveita o isolamento alemão para ganhar poder, também queira a instituição de um mecanismo de governo financeiro europeu para a flexibilização e reforço do montante desse fundo, no qual apenas cerca de metade é operacional.

A Alemanha está quase sózinha perante os Estados europeus mais pródigos e financeiramente indisciplinados, mas como é ela que detém a maioria do capital, não quer abrir os cordões à bolsa para emprestar, sem garantia de disciplina e austeridade, dinheiro a Estados gastadores, como Portugal. Isto é, a Alemanha entende que quem quer o apoio financeiro da União Europeia, como Portugal, deve pedir o socorro financeiro do Fundo Europeu de Estabilização Financeira e apresentar um plano de austeridade credível e de execução supervisionada pela União Europeia e FMI. A chanceler Merkel está debaixo de uma pressão interna insuportável, além de eleições próximas, e não concorda com a flexibilização do fundo, sem equilíbrio orçamental e disciplina financeira férrea, imposta pela União Europeia. Agora, depois da demissão do presidente do banco central alemão, Axel Weber, que  o Spiegel, de hoje, 15-2-2011, conta - por causa da sua oposição à compra pelo BCE de obrigações dos Estados endividados para lhes segurar as taxas exponenciais, o que furava o princípio blindado (que resultou da ressaca de Weimar) de que «não deve ser impresso dinheiro para financiar dívidas dos governos» -, Angela Merkel não pode sequer aceitar a dita flexibilização do Fundo, sem perder a face ao seu povo. Não está em causa apenas o apoio ao Governo socialista português, mas o futuro do euro.

Por agora, Durão Barroso, após auscultação do Presidente Cavaco Silva em 14-2-2011, salvou a pele de Sócrates da queimadura de terceiro grau: Sócrates ferve, mas em lume brando, na panela de pressão dos mercados financeiros. Em vez de atacar Cavaco, Sócrates deve pedir-lhe perdão e rogar-lhe que o deixe no Governo mais uns mesitos. Não é fácil, pois o Presidente sente a pressão popular para a substituição do Governo socialista e assiste com perplexidade à lassa execução orçamental, não sendo fácil resistir aos partidos que reclamam a demissão do Governo. A relação política entre Governo e Presidência mudou face ao primeiro mandato presidencial: Sócrates depende de Cavaco na política interna - para travar a queda imediata do Governo - e na política externa - o apoio financeiro da União Europeia só é dado em função da durabilidade previsível do Governo e da opinião do Presidente.

Todos sabem que o pedido formal de socorro financeiro do Governo Sócrates é inevitável. E todos sabem que quanto mais tarde for implorado esse apoio, pior para o País. O adiamento da intervenção europeia e da substituição do Governo provoca o agravamento das medidas de austeridade, uma recuperação mais lenta e maior perda de bem-estar. É nosso mister - de português - afirmar que o nosso País não deve sofrer por causa do cálculo político incerto.

Resta saber quando tempo dura a paciência alemã, o jogo francês de poder e a protecção (e o dinheiro) do BCE se mantém a conter artificialmente a subida inevitável da taxa de juro portuguesa, face a nova recessão económica portuguesa e à frouxa execução orçamental do Governo socialista. O Governo Sócrates está preso nesses arames e pode ser forçado a qualquer momento a pedir socorro e, mesmo assim, afundar-se no pântano.


Pós-Texto 1 (22:06 de 15-2-2011): O tempo do PS
A direcção do PSD informou esta noite de 15-2-2011, que o grupo parlamentar do PSD se absterá na votação da moção de censura que o Bloco de Esquerda prometeu apresentar em 10 de Março próximo. Passos Coelho diz que «este ainda é o tempo do PS governar». Passos Coelho não disse quando dura este tempo... Mas parece ser curto.


Pós-Texto 2 (9:05 de 16-2-2011): Se houver situação de ruptura financeira...
O Público, de 16-2-2011, completa a notícia do Económico. Passos Coelho terá dito, na reunião em que foi decidido que os deputados do PSD se absteriam na moção de censura do Bloco de Esquerda, o seguinte:
«“Se algum dia chegarmos à evidência que o Governo não cumpre aquilo a que se comprometeu, que há uma situação financeira de ruptura em Portugal, que o país está num impasse, num beco sem saída, então nós arranjaremos uma saída”, afirmou aos jornalistas.

Na reunião, o Público sabe que Passos falou em duas situações – “não cumprir os seus compromissos” e de uma situação de “ruptura financeira” – para justificar qualquer acção dos sociais-democratas num futuro próximo.»
O Governo «não cumprir os seus compromissos» parece significar não proceder à execução integral das medidas acordadas no Orçamento de Estado; e «situação financeira de ruptura» sugere a aceleração da subida da taxa de juro ou a impossibilidade de financiamento que leve o Governo socialista a efectuar o esperado pedido formal de socorro financeiro do Fundo Europeu de Estabilização Financeira. O «beco sem saída» é o buraco negro financeiro onde o Governo Sócrates já está. E no plano económico a situação está ainda pior: o governador do Banco de Portugal afirma em entrevista, no Diário Económico de 16-2-2011, que «pode dizer-se que estamos em recessão».

Convém o PSD preparar-se já para o Governo: um desígnio, um programa, uma equipa.

* Imagem picada daqui.


Actualização: este poste foi emendado às 16:36 e 21:57 de 15-2-2011.

6 comentários:

Anónimo disse...

20 MOTORISTAS TEM O SÓCRATES:


Se a rambóia for com 20 motoristas já será aceitável???

De acordo com a revista Sábado de 21-10-2010, artigo intitulado "As Despesas de Sócrates Durante a Crise", apresentam-se de seguida algumas das despesas do Gabinete do sr. Sócrates:


- 436,70/dia em combustíveis (aos preços de hoje são 4549 km/dia);
- 382,00/dia em chamadas de telemóvel (são 53 horas/dia ao telefone);
- 370,00/dia em deslocações e estadas;
- 750,00/dia em despesas de representação;
- 276,00/dia em refeições;


Só aqui já vamos em cerca de 2.216 por dia, mas há mais:


- 220,00/dia em locação de material de transporte;
- 72,81/dia em telefone fixo;
- 1.434/dia em aquisição de bens;

Já vamos em cerca de 3.940 por dia.

E então que dizer do seguinte:

- 448 são as viaturas da presidência do Conselho de Ministros (gabinete do Sócrates e do Boquinha Doce);
- Desde Outubro de 2009 Sócrates nomeou 71 pessoas para o seu gabinete, onde se incluem 13 secretárias e 20 motoristas;


No total é um gasto médio diário de 11.391

Anónimo disse...

Sócrates é um jogador. De póker. Dos mais irresponsáveis. Pode ficar sem nada. Mesmo sem os dedos. Mas, não se importa. Quer manter o poder, custe o que custar. Não cederá, a não ser que a Maçonaria o alivie. Mas, a Maçonaria teme ser apeada do poder, se Sócrates saltar.

Só há um detalhe que pode mudar o jogo todo, se a penalização dos detentores dos títulos públicos da Grécia e da Irlanda se vier a concretizar, então, a desconfiança virá em força. E aí, pode ser uma hecatombe.

O maior Partido da Oposição da Irlanda, e próximo líder de Governo, quer negociar um corte nos pagamentos aos credores. Se levar isso para a frente, portugal paga por tabela.

Anónimo disse...

Sócrates é o pretty boy da União Europeia.

Tem o apoio da Merkel e do Sarzoky e da restante direita europeia.

Dificilmente o Sócrates vai ser apeado.

Anónimo disse...

http://www.ft.com/cms/s/0/424b8414-3937-11e0-97ca-00144feabdc0.html?ftcamp=rss#axzz1E4CgSsSg


Portuguese yields rise on rescue fund doubts
By David Oakley in London and Peter Wise in Lisbon

Portugal’s cost of borrowing reached fresh euro-era highs amid doubts in financial markets over European leaders’ efforts to beef up the eurozone rescue fund.

Portuguese five-year bond yields rose to more than 7 per cent on Tuesday for the first time since the euro’s launch as Fernando Teixeira dos Santos, Portugal’s finance minister, said “delays and hesitations” in improving the fund were destabilising the eurozone.


Ten-year bond yields have been stuck over 7 per cent – a level considered unsustainable by the market – for the past week.


Gary Jenkins, head of fixed-income at Evolution Securities, said: “Unless there is a comprehensive agreement soon [on the rescue fund], then it becomes more probable that investors will turn away from Portugal and the EU will have no choice but to bail it out.”

Mr Teixeira dos Santos said it was important that the EU rescue fund, known as the European financial stability facility, be allowed to buy the government debt of crisis-hit countries such as Portugal. This would enable it to take over from the European Central Bank in buying government debt to shore up the bond markets of peripheral EU countries, he said.

Confusion surrounding reforms to the rescue fund also hit Irish and Greek bonds.


But there were further signs that Spain is being viewed more favourably than Greece, Ireland and Portugal by investors as confidence is rising that Madrid can turn round its economy.


Ralf Preusser, head of European rates research at BofA Merrill Lynch, said: “I am very negative on Ireland, Portugal and Greece, but Spain’s reform appetite has clearly picked up and I am now getting more confident they can avoid being painted with the same brush as the rest of the periphery.”

Portugal faces two tests on Wednesday as it aims to sell short-term debt and also buy back bonds, due to mature in April and June, from the market early to prove it is able to fund itself without external help.

Anónimo disse...

Ora F...... lá isto tudo. Ainda ninguém percebeu que a crise montada é só para escravizar o povinho? Comprar dívida para emprestar por detrás!! O que é isto!! nem nas mais sujas feiras se fazem negócios destes!!!

DIGAM A VERDADE QUE TALVEZ NÃO MEREÇAM O CASTIGO: O PAÍS HÁ JÁ MUITO TEMPO QUE ESTÁ NA BANCARROTA!!!!!!!! ISTO É QUE É A VERDADE!!!!!!

(pobre povo palerma, enfim...)

AG disse...

Bom post. Estamos efectivamente faz meses nesta situação em que por capricho político de não querer assumir o fracasso da gestão do Estado. O Governo se ainda hoje existe deve-se somente ao programa de compra de dívida soberana do BCE (que mesmo assim não evita a realidade da taxa estar nos 7.4%). O PM espera pelo milagre vindo da UE e dos camaradas socialistas que querem implementar à força o conceito do "Eurobonds" ou algo parecido; em que dívida boa compra dívida má, sem que para isso o Governo tenha que assumir que o país está insolvente, e sem que se tenha humilhar uma nação a pedir ajuda e cobrar-lhe reformas.