sábado, 26 de junho de 2010

O problema Carlos Santos e a «malta da pesada»

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A série de postes que o Carlos Santos vinha publicando no Corta-Fitas sobre a central de informações do Governo, mais as notícias no Correio da Manhã, «Campanha com meios públicos»), de 17-2-2010, e no Público, «Economista acusa Governo de ter utilizado recursos do Estado na campanha do PS », de 18-2-2010, com base nessas denúncias, provocaram uma ferocíssima reacção orquestrada do poder socialista e das suas ubíquas antenas.

Porquê?

Por causa do estrago que fez, num momento crítico actual, na base do poder socratino - as informações - e para controlo dos prejuízos sofridos.

Começo por uma explicação sumária do socratismo. O socratismo consiste num sistema político de poder análogo àquele que vigora na Rússia: é um putinismo brando. A sua versão socratina tem um esquema teórico-prático simples: uma super-estrutura política, um nível intermédio da Maçonaria, dos media, da finança e das cúpulas judiciais, e uma infra-estrutura de informações. A superestrutura tem um círculo interior, ramificações de fidelidade e lóbi, e convivas aliados nos agrupamentos adversários (CDS-PP, PSD, Bloco de Esquerda e PC). A Maçonaria (a irregular e a regular) no seu culto do poder, comércio de favores e agenda radical, providencia uma rede subterrânea de protecção e atenuação de tensões. Os media são controlados directa e indirectamente, através de financiamento, administradores e editores de confiança. A finança troca o seu patrocínio e dependência política pelo saque. E das cúpulas judiciais espera-se que contenham ataques e exerçam a acção punitiva sobre os adversários. Mas na base do poder socratino estão as informações. É este o segredo do socratismo, que se procura esconder com o máximo esforço e cuidado, «por questões de segurança» : as informações são a força de suporte e projecção do seu feixe de poder.

As revelações factuais e documentais do professor Carlos Santos puseram a descoberto o comando do poder socratino; a central de informações do Governo, a  ordem de batalha e os processos desta central.

No comando do poder socratino está José Almeida Ribeiromaster spyéminence grise da imminence rose, actual secretário de Estado Adjunto do Primeiro-Ministro e ex-chefe de gabinete do primeiro-ministro no mandato anterior.

Mas vamos analisar com minúcia a central de informações do Governo.

A ordem de batalha - «identificação, estrutura de comando, força, disposição de pessoal, equipamento e unidades da força armada durante as operações no terreno» - da central de informações do Governo, integra múltiplos comissários e colaboradores, que o Carlos Santos identificou, integrados em diversas unidades, cuja referência também foi publicada. As armas da central são as informações. Uma das unidades da central de informações é a secção de blogues. A secção de blogues não pode ser reduzida ao procedimento já clássico dos blogues institucionais sistémicos (de que a Câmara Corporativa é apenas um): chamo-lhe a táctica do Manuelinho: usa-se um tolo (ou mais), a quem se promete deferência e compensação, como  uomo de paglia de uma hidra de comissários com poder de edição e de uma vasta série de intermediários de informação e agentes políticos (com eventual recurso a técnicos administrativos para preparação de dossiês temáticos), para marcação, identificação, sinalização, recolha de informação e pressão mais ou menos subtil, mais ou menos clara. A secção de blogues é uma rede de informação. Pois bem, com as revelações do Carlos Santos e a participação de comentadores que exploraram o que publicou, a ordem de batalha da secção de blogues da Central - com  funções de aquisição de colaboradores, organização e logística, distribuição de informação, contra-informação e desinformação em blogues e caixa de comentários e recolha de informação - foi identificada e publicada. Está, assim, neutralizada. Quando a estrutura e os agentes de um serviço são identificados, esses agentes ficam neutralizados e têm de ser reciclados, pois já não podem ser usados em operações clandestinas, e a estrutura fica queimada, já que a sua existência e o seu funcionamento ficam expostos.

A parte soft dos métodos da secção de blogues da central de informações também foi desmontada, pelo Carlos Santos no Corta-Fitas. Para lá do limiar destes métodos ditos suaves da secção de blogues, ficam as outras secções com as negras operações activas daqueles que os próprios socialistas chamam a «malta da pesada»... Estas operações são a componente dura do sistema e são elas que asseguram os resultados extraordinários nos casos mais difíceis. O mando é único e a estrutura interdependente. Não há componente suave sem componente dura. Não há socratismo sem a componente dura. Nem inocentes.

Como as revelações do Carlos Santos eram factuais e tinham bastantes documentos de suporte, contagiaram outras pessoas a descobrir antigos insultadores sem nome, alguns com pseudónimos reciclados ou duradouros, que finalmente perderam o chinó que lhes cobria a careca suja, e o momento actual de translacção do poder é delicadíssimo, importava minorar os danos e cortar a infecção. Para tanto, utilizou-se a clássica técnica estalinista: isolar o alvo através de uma campanha de insultos e acusações. Os insultos e acusações provêm do próprio campo sistémico e também, com maior eficácia, pois enganam inocentes, do suposto campo adversário. No campo sistémico, trata-se de acusar de pidesca a denúncia de... uma nova Pide, rasgando as túnicas, manchadas pelos métodos que já tinham usado com aplauso frenético (publicação de mails e relato de conversas...), e sugerindo que o tresmalhe de Carlos Santos, ex-colaborador do blogue Simplex, se deveu a descontentamento por falta de recompensa - que este provou ter-lhe sido oferecida, mediante a nomeação como assessor de um secretário de Estado e como «conselheiro especial» de um ministro e de as ter recusado. E nos supostos campos adversários - afinal, parceiros! -, estranhos e violentíssimos insultos e acusações, através de colaboradores activados e induzidos por agentes do sistema e do serviço, arranhando a cara de vergonha pelos ataques pessoais do Carlos, que pouco depois também usam em caso próprio com ainda maior violência... Aliás, chega-se até à finura de despertar colaboradores no sector resistente, para que estes tomem a iniciativa de insultos e ofensas duríssimas, de inédita  e pseudo-espontânea indignação. Dir-se-á que é suave, pois alguns apenas acusam o denunciante de doido e não chegam ao cúmulo estalinista do internamento compulsivo em clínica siberiana do elemento nocivo. Mas suave é para quem não lhes sofre os métodos.

O caso chegou à patética ameaça de processo (a última coisa que o sistema deseja é discutir em tribunal o comando, a ordem de batalha, os meios e os métodos, que utiliza...) seguida da consequente expulsão do Carlos Santos do Corta-Fitas, em 24-6-2010, o seu denegrimento simultâneo em blogues aparentemente insuspeitos, e tenta prosseguir com a habitual táctica de sugestão de despedimento. Mas, tal como em Itália, na eliminação física, o isolamento do alvo era indispensável e o ataque decisivo só era feito depois desse trabalho preparatório estar feito, em Portugal a eliminação cívica pelo sistema, carece da imposição do ostracismo político. Se não for conseguido o ostracismo político do alvo, não é possível a sua eliminação cívica.

O objectivo da campanha orquestrada, que envolveu, como soe, e soa, outros meios, é conter a propagação da mensagem, através da pedagógica perseguição e punição dos difusores, e isolar e neutralizar o mensageiro, já que a factualidade e documentação da mensagem torna impossível a sua contestação. Contida a mensagem pela desacreditação do autor e punição dos difusores, a actividade manter-se-ia mais ou menos incólume e os seus fins prosseguiriam com o sucesso rotineiro que faz os ingénuos crerem que o êxito socratino é a consequência fatídica da conjunção estelar ou o caótico efeito em cadeia (salvos sejam!) do esvoaçar errante das borboletas na China. Em vez de um sistema cruel de administração do poder baseado nas informações.

Tudo isto resultaria assim, se o sistema, moribundo, não viesse a ser assado. Carlos Santos não está sozinho.


* Imagem picada daqui.


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