O dr. António Marinho e Pinto, bastonário da Ordem dos Advogados, terá dito, segundo o PortugalDiário, hoje à noite, 31-1-2008, em entrevista a Judite de Sousa na RTP-1, a propósito do processo Casa Pia o seguinte:
O processo Casa Pia ainda está em julgamento: nesta altura, portanto, não há culpados. Nem inocentes: a presunção de inocência não é inocência declarada. Todos os que estão a ser julgados continuam a beneficiar dessa presunção jurídica e mesmo quem, além dos actuais réus, esteve preso, como o dr. Paulo Pedroso (ver abaixo), no âmbito desse processo, não foi declarado inocente pela juíza de instrução dra. Ana de Barros Queiroz Teixeira e Silva ou pela Relação de Lisboa: acusado pelo Ministério Público de 23 crimes de abuso sexual sobre 4 menores, não foi pronunciado. Já o dr. Ferro Rodrigues, mencionado na imprensa (ver abaixo) na imprensa como tendo sido referido no processo, nem sequer chegou a ser arguido.
Por isso, deixo algumas questões:
- O que sabe o dr. Marinho e Pinto que no processo não souberam?
- O que sabe o dr. Marinho e Pinto de um processo em que não é parte nem intervém?
- Merecerão os procuradores e a própria Polícia Judiciária a acusação de perseguição e prisão de inocentes que o bastonário lança sobre eles?
- E poder-se-á admitir, numa pessoa com a experiência e o estatuto forense que tem, um juízo tão ligeiro da informação concreta publicada?
- Embora não seja jurista, atrevo-me ainda a perguntar se é legítimo que o bastonário da Ordem dos Advogados se pronuncie sobre um processo que está a decorrer e onde participam outros colegas seus?
- Não seria de esperar do máximo dirigente dos advogados portugueses a reserva de não atirar pedras sobre um julgamento em conclusão?
Meu caro amigo José: eu acho que, sobre este processo, o dr. Marinho e Pinto não sabe o que diz, mas sabe por que o diz...
A verdade é que a a anunciada recessão da economia norte-americana (descida na taxa de crescimento do Produto Interno Bruto dos EUA de 4,9% para 0,6% do terceiro para o quatro trimestre de 2007, o que sugere a entrada em terreno negativo!...) e os seus inevitáveis efeitos na Ásia e na Europa, têm criado o contexto de que é possível outra vez (como se Ferro alguma vez o tivesse realmente querido ou Sampaio consentido...), sob a égide do Partido Socialista minoritário, organizar o grande rassemblement da esquerda portuguesa - ou, pelo menos, da mais fina, o Bloco - na esperança de um governo de coligação, chefiado pelo cabalístico dr. António Costa, numas contas em que Sócrates já não é parcela. Foi esse o ambiente da teoria da cabala e percebe-se que é esse ambiente frentista que sonham cantar amanhã os nostálgicos-utópicos-ex-PC-tendência-Bloco.
Culpada, mesmo, parece só ser a dra. Catalina Pestana, condenada ao calvário de 23 processos (entre arguida, assistente e testemunha) por causa do seu papel de denunciadora dos abusos sexuais de crianças na Casa Pia...
Limitação de responsabilidade (disclaimer): Paulo José Fernandes Pedroso não foi pronunciado pela juíza de instrução Ana de Barros Queiroz Teixeira e Silva pelos 23 crimes de abuso sexual de menores sobre quatro crianças de que fora acusado pelo Ministério Público no âmbito do processo de abuso sexual de crianças da Casa Pia. Em 9-10-2005, o Tribunal da Relação de Lisboa confirmou a sua não pronúncia. Eduardo Luís Barreto Ferro Rodrigues foi referido no processo de pedofilia da Casa Pia por "3 jovens" vítimas (CM de 10-11-2003) - a Lusa de 20-12-2007 fala em "duas" vítimas que o referiram "como estando envolvido em abusos sexuais ou presente em casas onde estes aconteceram" -, mas negou esses abusos sexuais sobre crianças, não tendo sido acusado pelo Ministério Público, nem sequer sido constituído arguido, nesse caso.
Actualização: este post foi emendado às 1:21 de 1-2-2008.