quinta-feira, 4 de junho de 2020

Eat the rich!


A terrível morte por estrangulamento do afro-descendente George Floyd, em 25-5-2020, em Minneapolis, EUA, com sufoco pelo joelho praticado pelo agente Derek Chauvin durante 8:46 minutos, após detenção motivada por passar uma nota de 20 dólares para compra tabaco sem que os três colegas presentes o tenham impedido, é a expressão de desprezo absoluto de um homem por outro. Não significa que exista uma culpa coletiva de racismo da polícia, do Estado e da sociedade norte-americana, nem que a polícia seja toda violenta. Mas há um racismo endémico vulgar que ainda não está resolvido, e tem sido acentuado pelas políticas de identidade nacionalistas e marxistas. O racismo tem várias cores, e nenhum é aceitável; tal como a escravatura teve - e tem! -, várias cores, e toda ela deve ser combatida.

Na bestialidade do racismo ainda presente, os descendentes dos africanos traficados para a Europa e as Américas, têm sofrido especialmente de discriminação, mesmo depois dos brados aos homens e aos céus dos padres António Vieira e Bartolomé de las Casas, sobre a sua humanidade e, mantiveram-se depois libertação da escravatura em meados do séc. XIX. Black lives matter. A promoção educacional, económica e social, de gentes originárias na maioria de zonas em que a cultura material era pobre, o consumo diferido era desnecessário porque a natureza tudo providenciava, e desenraizadas para plantações e trabalhos nos quais eram tratados como gado, sem direito a nada nem família, não se resolve em cinco gerações. E as políticas assistencialistas, de distribuição de welfare instantâneo conservaram paradoxalmente o hábito da miséria financeira, em vez da elevação social: nos EUA existe quase a mesma percentagem de pobres do que em 1964 quando o presidente Johnson declarou guerra à pobreza. O esforço das últimas décadas é ainda insuficiente e é urgente uma nova política eficaz de promoção económica e social das comunidades afro-descendentes, latinas e... white trash.

O crime é frequente nos slums onde o black-on-black crime é um tema banal que os média dominantes deliberadamente ignoram, porque não tem o glamour ideológico da luta de classes cuja cartilha cega impõem. A agravar a miséria de zonas degradadas, de camadas sociais que o socialismo viciou no assistencialismo de uma nova escravatura estatal e do abandono frequente das famílias pelos pais que se excluem dos deveres educacionais e alimentares, existe a droga que fustiga os jovens e os aliena de uma vida saudável e organizada. Um tráfico e vício que os mesmos média pressionam que se liberalize. O desprezo ideológico é o sinal de outro racismo.



Os tumultos que se seguiram ao conhecimento das imagens daquele estrangulamento derivaram da consciência de que o tratamento brutal pela polícia e a discriminação social não são casos isolados. Existe um racismo entranhado em setores da sociedade norte-americana que é necessário expor. Todavia, a panela de pressão da miséria, agravada pelo desemprego artificial do pânico político da pandemia da Covid-19, gerou não apenas o protesto de manifestações, mas os motins. Motins violentos, amplificados pelos diretos das televisões, que foram potenciados pelos coletivos Antifa (antifascistas) de origem burguesa e pendor marxista radical e anarquista, que os média dominantes desculpam e protegem.

As pilhagens generalizadas das cidades não tiveram origem na fome, que os food stamps e a caridade de instituições civis evitam, nem sequer da concertação de gangues: os primeiros alvos foram as lojas de luxo, de marcas de luxo, como a Louis Vuitton, a Gucci, a Apple... A resposta das autoridades foi ignorar e pôr-se de joelhos (kneeling) perante esta violência continuada, numa retoma pós-moderna da venting theory por contraponto à teoria da broken window.

A situação é mais negra do que a pintam. Há uma revolta dos pobres contra a riqueza despudorada e ostensiva dos ricos, que exibem a sua riqueza em programas que as televisões iluminam. Esta revolta parece uma nova versão da tomada da Bastilha, em 1789, do povo contra o espavento da corte. A corte agora é mediática, hollywoodesca, divertindo-se nas festas nos novos palácios, enquanto os mais pobres se desunham para conseguir sobreviver, carregados de dívidas e espremidos em salários estagnados. No fundo deste caldo pestilento que transbordou do tacho fino, está a mesma desumanidade, em que a cor é um aspeto e a condição de media poor a marca da repugnância. Do lado de fora do muro, a revolta: eat the rich!




4 comentários:

Carlos Conde disse...

Qual o motivo para a fixação num caso passado nos States quando tem um caso idêntico para citar passado aqui mesmo em Portugal, totalmente impune?
É por o ucraniano não ser afro-descendente?
Já agora qual o problema de dizer que o homem é preto?
Anda a perder a sensatez, objectividade e acutilância que o tornaram uma referência.
Espero que não seja da idade e melhore em breve.

Anónimo disse...

How the elites endanger democracy__By TU Darmstadt former Professor Michael Hartmann https://pacheco-torgal.blogspot.com/2019/11/how-elites-endanger-democracyby-tu.html

Anónimo disse...

Caro sr professor
Afro-descendente... lol, e os brancos serão euro-descendentes? E assim, continuamos e continuaremos eternamente a incentivar o racismo. Ops... mas, afinal não viemos todos de África?...

Talvez este homem dê algo em que pensar
https://www.youtube.com/watch?v=L9akcYf9BCY
E, não, não me sinto culpado de nada, seja do mau ou do bom.

https://www.youtube.com/watch?v=qa8hgLBrDEU
https://www.youtube.com/watch?v=a_bDc7FfItk
https://www.youtube.com/watch?v=FQHtY59PuuE
Carlos

Meggasaber.blogspot.com disse...

George Floyd is mártire,!!