sexta-feira, 29 de março de 2013

Redenção social face à corrupção política

«O corrupto não se apercebe do seu estado de corrupção. É como o mau hálito: dificilmente quem tenha mau hálito se dá conta disso. Há outros que se apercebem e devem fazê-lo notar. Em consequência, dificilmente o corrupto pode sair desse estado por remorso interior. Toda a corrupção social não é mais do que a consequência de um coração corrompido. (...) Podemos dizer que se o pecado se perdoa, a corrupção não deve ser perdoada». (Tradução minha).

Cardeal Jorge Mario Bergoglio (atual Papa Francisco), 8-12-2005
Meditações do cardeal-arcebispo de Buenos Aires recolhidas no livro «Guarire dalla corruzione»,
Editrice Missionaria Italiana, 2013
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Nesta Sexta-Feira Santa da Paixão do Senhor, período de redenção que Cristo põe ao alcance dos homens, enquanto cruz e ressurreição, é-nos renovado sempre o alerta para a necessidade de nos levantarmos, uma, outra e mais outra vez, em cada queda em que a natureza nos quebra. O que faz um homem não é não cair, é levantar-se, inclusivé nas nonas estações da via sacra da nossa existência. E Cristo, que teve experiência dessa provação, ajuda-nos sempre a suportar o peso da cruz, a levantar a vara, a reerguermo-nos depois de cada derrota. Somos humanos porque caímos e somos de Deus porque nos levantamos.

A corrupção - de fala o Papa Francisco, profundamente profundo na sua simplicidade tocante (veja-se  a sua «Oração dos cinco dedos», que me foi gentilmente enviada por um Padre amigo) - é talvez o pecado de maior dano social nesta fase penosa de decadência da democracia representativa por prevaricação dos representantes e por falência institucional. Como tenho insistido, a corrupção de Estado mata, adoece, fere, esfomeia, gela, embrutece, perverte, despeja, expulsa - porque o dinheiro desviado do seu fim necessário prejudica os concidadãos carentes da ação estatal que se deixa de realizar ou se atrasa. E a corrupção não mata, nem esfola, a uma só pessoa, mas a muitos, frequentemente a um povo inteiro. Por isso, tem de ser combatida pelos homens e mulheres de bem, enquanto guerra justa legitimada pela moral e pela Fé, em vez de ser propositadamente ignorada pela comodidade da abstenção ou pela adesão à promiscuidade. Apontar a corrupção de quem por fraqueza de caráter, ou até por maldade, se deixa tentar, ou solicita, uma percentagem, ou um prémio, de um negócio de Estado é uma obra de misericórdia. Quem se envolve nesse combate socialmente necessário, inspirado pelos bons princípios, não o faz por vontade de castigo, mas como oportunidade de redenção dos corruptos degenerados da graça do Bem, disponível para todos. São os atos que queremos eliminar e a pedagogia do rigor que queremos instalar, porque só assim se recuperam a política para a causa do bem comum e se melhora a vida de todos.

A nova conspiração socratina



José Sócrates acusou a Presidência da República de conspiração
, na entrevista «Sócrates, o fim do silêncio», do ex-primeiro-ministro José Sócrates à RTP-1, perante o diretor de Informação, Paulo Ferreira, e Vítor Gonçalves, ontem, 27-3-2013. O intrigrante diretor de informação, como assinla o José, e de quem se alega - e pode desmentir... - que terá difundido o email privado de dezassete meses antes que permitiu ao PS socratino desencadear a vitimização a nove dias das eleições legislativas de 2009, no quadro perigoso de um inquérito em curso a José Sócrates por «atentado contra o Estado de direito» - que dirigentes do Partido Socialista conheceriam, segundo consta do processo Face Oculta, desde 25 de junho de 2009, mas de que o povo não sabia. O objetivo é duplo: expor Seguro como traidor (por não defender o seu PS da «narrativa» da «direita») e condicionar Cavaco a devolver-lhe o poder.

Nesta entrevista, Sócrates gozou com a chamada de Cavaco a Belém dos dirigentes dos serviços de informação para verificarem potenciais intromissões no correio eletrónico da Presidência da República. Como se aquilo que tem sido publicamente exposto de operações negras das estruturas de informação do poder, à margem da lei, não tivesse existido e fosse apenas uma queixa isolada da Presidência e não, durante o lusco-fusco socratino, de «muitas queixas de deputados» sobre violação de correspondência eletrónica, desde logo do insuspeito socialista António Galamba, de «devassa da vida privada de jornalistas» (como Nuno Simas), de vigilância, intrusão e perseguição a juízes, e até o também insuspeito Procurador-Geral da República Fernando Pinto Monteiro («penso que tenho o telemóvel sobre escuta»)!...

O estilo de governação autoritária rosa-choque, ruinosa e nebulosa, do ex-primeiro-ministro merecia outro confronto de factos e questões, como aquelas «Dez perguntas para Sócrates» que o Correio da Manhã, de Octávio Ribeiro, estampou na sua edição de hoje, 29-3-2013, e o patriota José da Porta da Loja agudiza e completa no seu poste «Dez perguntas... para Sócrates responder», também de hoje. Outras nos ocorrem a todos.

O caso que Sócrates agora recuperou, na entrevista do seu regresso... ao passado, remonta aos idos de 2009 e foi tratado neste rincão do Portugal profundo. Tratou-se de uma operação montada pelo socratismo para tolher Cavaco e vitimizar... o primeiro-ministro, a nove dias das eleições e sob o medo pela banda socratina que ribombasse a música inédita do inquérito ao primeiro-ministro por eventual «crime de atentado contra contra o Estado de direito».

Agrava-se nessa altura o mal-estar entre Cavaco e Sócrates. Um mal-estar que era motivado por uma diferença de origem, de caráter e de comportamento, mal disfarçado pela cooperação institucional e pela utilidade mútua. Porém, quanto mais Cavaco se vergava - por conveniência de reeleição e comodidade -, mais Sócrates abusava. Uma rutura em dez etapas:
  1. O primeiro-ministro Sócrates teria prometido ao Presidente Cavaco Silva, em audiência privada, que corrigiria o Estatuto Político-Jurídico dos Açores. Não o fez, provavelmente pressionado por Carlos César. Sócrates nunca desmentiu essa desinteligência.
  2. O Presidente fez uma estranha Mensagem ao país, em 29-12-2008, sobre esse absurdo Estatuto dos Açores, onde deixa uma referência que, na altura, passou despercebida: «Está também em causa uma questão de lealdade no relacionamento entre órgãos de soberania»...
  3. O socratismo planta notícias no Semanário, em 7-8-2009, sobre uma pretensa colaboração entre assessores de Belém na elaboração do Programa de Governo do PSD. Como é evidente para quem não for ingénuo, essa notícia de colaboração de assessores (note-se o plural) parece só poder ser fruto de vigilância a esses assessores de Belém que se teriam alegado encontrado com amigos que pertenciam ao grupo de elaboração do Programa do PSD. Watergate?! Não: Watergate só existe nos EUA... Em Portugal não houve - nem há - pelos serviços de informação, e estruturas vagabundas  (à margem de ordens de serviço) vigilância ostensiva (esta palavra ostensiva é que lhes dói...), intimidação, perseguição, intrusão, escuta, intromissão,  infiltração, ameaça, chantagem, pagamento...
  4. Em 15 de Agosto de 2009, no Público, os dirigentes e deputados socialistas socratinos José Junqueiro, Vitalino Canas, Vítor Baptista e Vítor Ramalho - e depois António Vitorino! - atacaram a Presidência da República por esta não ter desmentido uma notícia que... o socratismo tinha plantado...
  5. O Público, em 18-8-2009, noticia «Presidência da República teme estar a ser vigiada», pela jornalista próxima dos socialistas São José Almeida; e no dia seguinte, 19-8-2009, «Belém preferiu não comentar e Sócrates falou em "disparates"» por São José Almeida e Luciano Alvarez, desenterrando um caso «velho de 17 meses» de infiltração de um assessor de Sócrates, Rui Paulo Figueiredo, nos círculos de assessores da Presidência durante uma visita oficial do Presidente à Madeira. A Presidência deve ter sido muito contida em qualquer confidência feita e não deve ter dito nem um décimo do que sofreu e sabia...
  6. O socratismo encaixa, mas, por estilo e também apertado pelo receio da explosão do inquérito por alegado «crime de atentado contra o Estado de direito», investigado pelos magistrados de Aveiro, no âmbito do caso Face Oculta, ao primeiro ministro por causa do seu alegado «plano para controlo dos meios de comunicação social» a meses das eleições legislativas, reagrupa. 
  7. Sócrates responde um mês depois, em 18-9-2009, a nove dias das eleições, no DN, com a peça montada «Homem forte do Presidente encomendou «caso das "escutas"». Segundo consta - mas pode ser desmentido facilmente - o jornalista Paulo Ferreira (que depois ganhou um lugar na controlada RTP socratina, como editor de Economia, com grande e inexplicável autonomia interna) difunde o mail de Luciano Alvarez pela redação do Público, o que provoca uma revolta interna - dificilmente apaziguada pelo diretor José Manuel Fernandes com uma nota de esclarecimento. Segundo consta um homem da confiança de Sócrates, mais tarde identificado como o seu íntimo secretário de Estado Filipe Boa Batista (que, pouco tempo depois, receberia a comenda choruda de um lugar de vogal da Anacom) apresenta ao Expresso um dossiê com o mail, datado de dezassete meses antes, do jornalista Luciano Alvarez para outro colega relativo à infiltração de um assessor do primeiro-ministro nos círculos da Presidência numa visita oficial, e que saltou para a ventoinha socialista. É o próprio diretor do Expresso dessa altura, Henrique Monteiro que agora, em 28-3-2013, reitera a natureza exata da manobra: «quando era diretor do Expresso não foi de Belém que me chegou uma conspiração contra o Governo, mas do Governo que me chegou uma conspiração contra Belém»... Existe, aliás, a suspeita, não confirmada de que o facto de Henrique Monteiro se ter oposto à difusão dessa notícia encomendada pelo socratismo, foi a causa da sua queda da direção do semanário de um grupo carente de apoio financeiro...
  8. Cavaco Silva não reage, mas a notícia, dada neste blogue, em 23-9-2012 - «O Dr. Fernando Lima continua a trabalhar na Presidência da República» - amplificada pelas declarações de Mário Soares no dia seguinte a veicular a suspeita de que o assessor se mantinha no posto, força Cavaco Silva a segurar o assessor, ainda que o mude de lugar (25-9-2009). Esta cedência do Presidente traduziu-se numa demonstração de fraqueza que, como outras, Sócrates explorou, e que teve o seu impacto na votação do PSD nas eleições legislativas.
  9. A mensagem de Cavaco Silva em 29-10-2009, dois dias depois das eleições legislativas que Sócrates ganhou, neste ambiente do socialismo autoritário, aparentado ao chavismo e ao kirchnerismo,  não repôs o equilíbrio, nem o respeito.
  10. O ataque insultuoso de Sócrates, em 27-3-2013, é o corolário da sua poupança do inimigo.

Vale a pena relembrar o que escrevi nessa altura e publicar, também, a explicação de «esse assessor», como Sócrates tratou Fernando Lima, na entrevista de ontem, 27-3-2012, que, segundo Sócrates «planeou, concebeu e executou essa operação» (sic). Tome o leitor a sua conclusão de qual foi a operação e de quem a concebeu, a planeou e a executou...

Em 30-9-2009, escrevi aqui, no poste «A vontade socratina de "cortar o mal [Cavaco] pela raiz"»:
«Uma notazinha sobre a mentira repetida, que o Dr. Pedro da Silva Pereira retoma para atenuar a gravidade das críticas socialistas à Presidência da República, de que a colaboração dos assessores do Presidente no programa do PSD foi confirmada no sítio desse partido. O sítio do PSD agrega notícias dos media que ao PSD dizem respeito. É mentira que o PSD tenha confirmado a participação de assessores do Presidente no seu programa, como a informação soprada ao Sol, de 18-8-2009, queria alijar. Insistir nessa mentira é manipular a declaração do Presidente da República. Como é evidente, foram os serviços socratinos que obtiveram a informação dos contactos entre assessores do Presidente e membros do seu partido e foi o centro de comando e controlo que a plantou no oficioso Semanário, de 7-8-2009, para que a seguir fosse comentada pelos cinco violinos socialistas indignados - Junqueiro, Vitalino, Vítor Ramalho, Vítor Baptista e António Vitorino. Obter a informação de modo ilegítimo, colocá-la disfarçadamente num meio, e a seguir vir dizer que foram os adversários que se denunciaram é o cúmulo da manipulação.»

Ainda no 30-9-2009, publiquei o seguinte no poste «O primeiro ataque foi do PS socratino»:
«"Homens fortes do PS falam em interferência na campanha
Socialistas próximos de José Sócrates lançam forte ataque a Cavaco Silva
15.08.2009 - 09h07 Filomena Fontes
É verdade, ou não, que foi o PS a abrir as hostilidades sobre o Presidente da República quando em 15 de Agosto de 2009 (três dias antes do Público, em 18-8-2009, e no dia seguinte, desenterrar o caso «velho de 17 meses» da conversa com um assessor da Presidência), no Público, os seus dirigentes e deputados José Junqueiro, Vitalino Canas, Vítor Baptista e Vítor Ramalho - e depois António Vitorino - atacaram a Presidência da República?»

E, 1-10-2009, no poste «O Presidente Ditador José Sócrates», notei:
«* Provado na mensagem presidencial o que desencadeou a crise («um tipo de ultimato dirigido ao Presidente da República», os socialistas respondem com a questão da precedência do ovo e da galinha, invocando a mensagem do Presidente da República sobre o Estatuto dos Açores, em 29-12-2008. Mas, então, importa o primeiro-ministro desmentir que não prometeu a Cavaco emendar, nesse diploma (honni soit...), as cláusulas de que este se queixou; e que não foi isso que justificou a declaração. Sócrates nunca desmentiu. Pode ainda fazê-lo. Basta uma declaração pública do género: «não faltei à palavra dada ao Presidente da República sobre o Estatuto dos Açores».

** O "ultimato[a Cavaco Silva] de quatro dirigentes socialistas (José Junqueiro, Vitalino Canas, Vítor Baptista e Vítor Ramalho), no Público, em 15-8-2009, e de António Vitorino (!!...), após o plantio da notícia, produto da intelligence, sobre a pretensa colaboração de assessores da Presidência, no Semanário de 7-8-2009 e sua agregação no radar do sítio da internet do PSD.»

Em 17-1-2010, no poste «Fernando Lima escreveu sobre caso das escutas», disse:
«Passada a época eleitoral e as suas sequelas, o Dr. Fernando Lima, assessor do Presidente da República, pronunciou-se ontem, 16-1-2010, num artigo no Expresso intitulado «A minha verdade» (mais tarde, quando disponível, colocarei aqui link para o texto integral), sobre o caso das «escutas», aquilo que chamei a Operação Encomenda: uma operação profissional da espionagem oficiosa com direcção política, montada com grande antecedência para eclodir sobre a campanha eleitoral. E o PS respondeu pelo seu inesquecível dirigente Dr. Ricardo Rodrigues que, como nota o José da Porta da Loja, tem uma «estupefacção» selectiva: uma estupefacção que vale para um artigo de jornal, mas não para as certidões de crime de atentado ao Estado de direito!... E logo a seguir, reforçou (?) com um ataque frouxo do líder parlamentar Francisco Assis.
O Dr. Fernando Lima explica no artigo do Expresso que a resposta à insistência na pergunta sobre o boato de colaboração de assessores presidenciais no programa eleitoral do PSD, serviu para as notícias, e manchete, do Público, datadas de 18-8-2009 («Presidência da República teme estar a ser vigiada») e de 19-8-2009 («Casa Civil da Presidência da República suspeita que está a ser vigiada há ano e meio» - sobretítulo) onde, para confirmar a suposta queixa da Presidência, se desenterrou a história da intrusão do assessor do primeiro-ministro, Dr. Rui Paulo Figueiredo, em conversas de assessores presidenciais durante a visita do Prof. Cavaco Silva à Madeira, cerca de dezasseis meses antes. O boato da colaboração de assessores do Presidente da República na campanha do PSD havia sido colocado no oficioso Semanário, de 7-8-2009 (ver a explicação do Semanário  de 21-8-2009) e comentado pelos dirigentes socialistas José Junqueiro e Vitalino Canas que lançaram a farpa sobre a relação do Palácio de Belém com o PSD, exigindo ao Presidente que desmentisse o boato previamente lançado: a conhecida táctica da pescadinha marmota. Os socialistas justificaram depois que essa colaboração não tinha sido desmentida pelo PSD e foi sustentada pelo facto do feed de notícias sobre o partido que o sítio do partido chupa automaticamente, onde apareceu a notícia do Semanário aí apareceu mencionada. O episódio da visita à Madeira foi retomado na encomenda do DN, de 18-9-2009 («Homem forte do presidente encomendou 'caso das escutas'»), onde se denunciou que a fonte de Belém que se queixou da vigilância (transformada, pelo DN, em «escutas») era o principal colaborador do Presidente da República, o Dr. Fernando Lima. A revelação do alegado autor da informação tinha como objectivo confirmar que a notícia das «escutas» (sic) tinha sido transmitida pela mesma fonte e, por isso, era verdade. Como diz o dr. Fernando Lima, no Expresso, de 16-1-2010, p. 19: «Quem suspeita de um, suspeita de todos, não parece evidente?». E não só: se o primeiro episódio passava a ser verdade com a revelação do seu autor, então também o segundo seria... Mais além, porque mais além se queria atingir: se foi o porta-voz de Cavaco Silva que o disse, o autor é o próprio Cavaco... Um círculo vicioso de mentiras. A «revelação» do DN foi obtida pela intercepção de um mail do jornalista Luciano Alvarez ao seu colega madeirense Tolentino da Nóbrega, com violação rude do sigilo e dever profissional, e fornecida por «fonte política» não nomeada (conforme foi contado, em 12-10-2009, no Prós e Contras da RTP-1, por Henrique Monteiro, director do Expresso, um jornal que foi contactado para a publicar). O Diário de Notícias, que foi o veículo da Operação Encomenda, era, e é, dirigido por João Marcelino, que num comentário à Declaração ao País do Prof. Cavaco Silva, de 29-9-2009, sobre o pseudo-caso das escutas, acusou nessa noite, na TSF, o Presidente da República de «desonestidades». O que o Dr. Fernando Lima, por motivo deontológico, não explica, mas já aqui se notou é que as notícias do Público de 18 e 19 de Agosto de 2009, foram elaboradas pela jornalista, e compagne socialiste de route, São José Almeida.
Qual era o objectivo da Operação Encomenda? Atacar o Presidente da República, que já vinha a ser exposto pelos dirigentes socialistas como alter ego da Dra. Manuela Ferreira Leite, eliminando de vez (houve um coro de vozes a reclamar a demissão do Presidente) ou debilitando o adversário de... José Sócrates nas eleições presidenciais; vitimizar o primeiro-ministro, de algoz da liberdade e da democraticidade transformado em presa inocente do maquiavelismo presidencial; e... enterrar o escândalo, cujo rebentamento se temia estar iminente, das certidões extraídas, para processo-crime contra o primeiro-ministro José Sócrates, pelo DIAP de Aveiro sobre alegado crime de atentado ao Estado de direito.
Alegadamente, a referência ao primeiro-ministro no processo Face Oculta terá sido discutida na «reunião na Procuradoria-Geral da República, que juntou o procurador de Aveiro, João Marques Vidal, o procurador distrital de Coimbra, Alberto Braga Temido, e Pinto Monteiro» (DN, de 2-12-2009) e «em 26 de Junho e a 3 de Julho, o DIAP de Aveiro remeteu ao PGR as primeiras certidões» (Sol, 4-12-2009) para investigação do primeiro-ministro por alegado crime de atentado ao Estado de direito. Porém, nada, que se saiba, vazou para a imprensa dessas diligências e nada foi tornado público na imprensa sobre o assunto antes da campanha eleitoral, apesar de respeitarem a actos gravíssimos atribuídos a um primeiro-ministro em funções que, daí a três meses, deveria ser sujeito a escrutínio completo do eleitorado relativamente ao seu mandato. Porém, o povo nem sequer soube em tempo útil que o seu primeiro-ministro tinha sido objecto de certidões para investigação do alegado crime de atentado ao Estado de direito.
A Operação Encomenda resultou, por três motivos: o PS controlava quase todos os meios; a oposição decidiu abdicar do ataque para passar a defender apenas os seus redutos; e o Presidente da Repúblkica preferiu adiar a resposta para depois da campanha eleitoral.
Nos media, o PS/Governo dispunha das televisões, rádios e jornais próprios e das meios dos grupos económicos dependentes (dos negócios, do crédito e dos subsídios), para difundir e amplificar o escândalo; e, embora existisse a autonomia da TVI e do Público face ao Governo, esses meios independentes foram rapidamente, devido à urgência, dominados pelo sistema no início de Setembro, antes da campanha eleitoral - e os blogues tinham uma audiência ínfima face à televisão. Por outro lado, nas cúpulas do poder judicial não era expectável nenhum movimento hostil, sequer prejudicial, ao primeiro-ministro e ao poder socialista - como não houve.
A oposição preferiu abdicar do ataque e limitou-se à defesa dos seus quintais. O Bloco e o PC, numa espécie de comportamento de frustração de retentor, foram neutralizados, pela expectativa de uma aliança que não surge. O CDS-PP tem ainda o problema dos escândalos do Portucale e submarinos a pesar na necessária imagem de um partido de valores e, além disso, tem seguido uma política de aliança com o PS com a alegação de que o faz pelo interesse nacional, seja o queijo ou o Pagamento Especial por Conta (PEC) a moeda de troca. E o PSD, que já tinha cometido o erro imperdoável de incluir António Preto e Helena Lopes da Costa nas suas listas de candidatos a deputado, decidiu, por péssimo conselho estratégico e táctico, optar por aquilo que chamei a táctica da neutralidade suave (nem bandeiras, nem ataques), esperando que o PS se contivesse também... Mas o socratismo não tem piedade, nem respeito: só se dobra perante a força. O resultado foi o crescimento do PS face às eleições europeias de Junho de 2009, ainda que tenha perdido a maioria absoluta e ficasse reduzido a um terço do eleitorado votante.
O Presidente da República, apanhado em contra-pé, decidiu adiar a resposta ao ataque socialista para depois das eleições de Setembro de 2009. O Dr. Fernando Lima, num gesto nobre e de sentido de Estado, sacrificou a vontade que teria de esclarecer, pública e imediatamente, o caso, áquilo que foi entendido ser o interesse da Presidência da República: não consentir pretexto ao socratismo para alegar interferência do Presidente na campanha eleitoral, explorando ainda mais a vitimização sobre uma conversa realizada dezassete meses antes (em Abril de 2008)... Porém, se o Prof. Cavaco Silva pediu o sacrifício do silêncio (temporário...) ao seu principal assessor, ao contrário do que o sistema noticiou (lembre-se o DN, de 22-9-2009) também não demitiu o assessor que a violência mediática socialista queria pendurar como bode expiatório das suas próprias campanhas. Depois das eleições, em 29-9-2009, Cavaco Silva fez uma declaração ao País extraordinariamente dura para com a direcção do Partido Socialista, ainda que não tenha concretizado as razões das suas queixas como deveria ter feito - alguém acredita que o Presidente da República tenha dito o que disse, sem que existissem evidências e relatórios das alegadas intromissões nos seus serviços?... Essa declaração do Presidente da República motivou a ameaça oficial do Partido Socialista, nessa mesma noite, pela voz do ministro da Presidência, Dr. Pedro Silva Pereira: «cortar o mal pela raiz»... Agora, Fernando Lima terminou o retiro e Cavaco Silva dá um sinal de força perante os adversários.
Apesar de tudo, na relação do primeiro-ministro com o Presidente, o saldo da Operação Encomenda e da sua exploração mediática, definindo um padrão de ataque consistente noutros episódios, é ainda muito favorável a José Sócrates

O alvo Dr. Fernando Lima, assessor do Presidente da República, tinha escrito, em 16-1-2007, um artigo no Expresso, intitulado «A minha verdade», que transcrevo, por precaução de evanescimento do texto da edição em linha:
«Fernando Lima escreve sobre o caso das escutas
A minha verdade
1:35 Quarta feira, 20 de janeiro de 2010 
O assessor de Cavaco Silva diz que o assunto nunca devia ter passado de um "episódio pícaro". Fernando Lima fala pela primeira vez sobre o caso das escutas, que incendiou o Verão.

Terminou o ano de 2009 e vários meses se passaram desde que, em Agosto, o torpor de veraneio foi sacudido por uma intriga política que pretendeu envolver o Presidente da República no palco da luta eleitoral que então decorria. Essa intriga não teve escrúpulo de tentar sacrificar o meu direito ao bom nome profissional, construído durante uma vida, e que me cabe defender e honrar. Agora que a poeira assentou, não queria deixar que o novo ano avançasse sem exercer o meu direito ao esclarecimento, tanto mais que a manifesta infâmia e a grosseira violação da ética profissional dos actores de tal enredo não foi suficiente para desmotivar, mais que não fosse por vergonha, a recorrente invocação dessa intriga sempre que a conveniência política assim o determina. Essa insistência tem como objectivo, aliás coerente com os propósitos que a motivaram, fazer passar à posteridade como verdadeiro o que não passou de uma teia bem urdida pelo fértil imaginário dos criadores de "factos políticos".
Aqui fica, pois, a minha verdade, para que conste e pese na consciência dos que deram eco insensato ou maldoso ao que não devia ter sido mais que um episódio pícaro da época estival: o que os gurus do marketing político baptizaram de "caso das escutas".Estarão lembrados de que, por alturas do Verão do ano que agora findou, começaram a correr com insistência insinuações de que haveria assessores do Presidente a colaborar na elaboração do programa eleitoral do PSD. Apesar de desmentida pública e categoricamente por um dos vice-presidentes e pela líder do PSD, alguns deputados do Partido Socialista insistiam publicamente na existência dessa colaboração. Tal estridência provocou permanentes tentativas de confirmação por parte dos jornalistas junto de elementos da Casa Civil da Presidência da República, procurando avidamente obter um comentário que alimentasse a falsa acusação. Um gesto de impaciência levou a que a resposta acabasse por ser dada sob a forma de uma pergunta: "Se não há registo de participação pública, como é que sabem o que faz cada um na sua vida privada? Andam a vigiar os assessores?"
Tanto bastou para dar origem a uma capa inesperada do jornal "Público", que transformou uma resposta irada, ditada pelo absurdo das questões, em "suspeitas gravíssimas" veiculadas por "fonte oficial". De nada serviu que a referida capa viesse com as interrogações, o que bastaria para ilustrar os leitores de boa-fé quanto ao tom e sentido da resposta, não fosse o coro afinado que, de imediato, comentou a "notícia", dando-lhe o clamor de um escândalo. Estava obtido o pretexto para fazer explodir a armadilha e ela funcionou. Decorreram assim vários dias em que políticos, comentadores de ocasião e jornalistas se multiplicaram em comentários e mais pseudo-notícias sobre a "gravidade" das suspeitas, procurando em vão que o Presidente da República, na altura em férias e ausente de Lisboa, viesse a terreiro alimentar o delírio e, desse modo, cunhá-lo com a chancela de tema a merecer atenção ao mais alto nível institucional e político. Bastaria uma palavra do Presidente da República para que uma polémica sem qualquer suporte factual passasse a ter uma existência confirmada mantendo-se a sua origem na bruma, como pretendiam os arquitectos da intriga. Não a conseguiram.
Ora, o tempo noticioso é curto e mesmo o mais descarado facto inventado tem o seu tempo de vida. Os interessados em trazer o Presidente da República para a liça política viam que o assunto perdia o brilho e a dinâmica política que proporcionava e lhes convinha, e decidiram que era preciso alimentá-lo, por quaisquer meios, sem olhar a princípios.Foi então que surgiu num diário concorrente do "Público" a publicação de um estranho e-mail - resta saber por que caminho terá ele lá chegado... -, tão estranho e despropositado que não deveria ter suscitado mais do que um impulso de rejeição enojada por parte de todos os profissionais de jornalismo e actores políticos.
O suposto e-mail era datado de há um ano e meio atrás, ou seja de Abril de 2008, e assinava-o um jornalista do "Público", que se dirigia a outro jornalista do "Público", numa correspondência de rotina profissional privada. Aí se relatava, em tom de cordial confiança próprio entre colegas da mesma casa, uma suposta conversa pessoal que o autor teria tido comigo e cujo tema teria sido o comportamento de um assessor do primeiro-ministro durante uma visita presidencial à Madeira, em Abril de 2008. Dessa conversa, que o autor do e-mail sublinhava como secreta e confidencial, teriam surgido indicações de haver matéria suficientemente interessante para que o colega, na Madeira, procedesse a averiguações, destinadas a confirmar factos que poderiam vir a ser noticiados pelo jornal "Público".
Nem na altura, nem durante o ano e meio que se seguiu, nem nunca mais, houve qualquer desenvolvimento de notícias decorrentes da suposta conversa referida no e-mail.No entanto, o diário concorrente dá honras de capa à publicação do e-mail - insisto, trocado entre dois jornalistas do "Público" um ano e meio antes, ao qual sou, como é óbvio, absolutamente alheio e sem correspondência com a realidade.Ao longo da minha actividade profissional, nunca revelei a ocorrência ou o teor de conversas com jornalistas e, por isso, não se espere de mim que alguma vez o venha a fazer. Do mesmo modo, e para que não restem dúvidas, nas minhas conversas com jornalistas jamais invoquei o nome do Presidente da República sobre algo que não decorresse de intervenções públicas.
A "notícia" do e-mail tinha, portanto, como único e exclusivo conteúdo relevante a divulgação do meu nome como sendo o do interlocutor citado, concluindo daí "a prova" de que "a fonte de Belém" que teria dado origem à suspeita das escutas de Agosto só podia ser a mesma pessoa que, em 2008, teria procurado o jornalista do "Público", "suspeitando" de um assessor do primeiro-ministro.
Quem suspeita de um, suspeita de todos, não parece evidente? E assim se deu um sentido supostamente lógico ao raciocínio que se queria induzir e que estava a cair em descrédito. Ou seja, valeu tudo. A "notícia", publicitada em parangonas na capa, foi construída com base numa eventual conversa pessoal obtida pela violação assumida do segredo profissional a que colegas de outro jornal estavam vinculados.A luta política eleitoral estava no seu auge e era preciso desviar as atenções do que podia esclarecer os portugueses ou informá-los sobre a real situação do país. Aquele e-mail gerava a confusão que convinha, impedia que o assunto das escutas morresse e, maravilha das maravilhas, era a "prova clara" de que a Casa Civil do Presidente da República estava na origem maléfica dos boatos que circulavam sobre as suspeitas de existência de escutas.
Entendamo-nos. Eu sei que esta trama raia o incrível e que é um daqueles casos em que a realidade ultrapassa a ficção, daí o ser virtualmente impossível pretender que alguém, de boa-fé e com lisura de sentimentos, acredite que tudo isto aconteceu e teve crédito na opinião pública, gerando mesmo quilómetros de artigos de opinião.
Sei que de pouco vale a razão de quem tem razão, se a intriga conseguiu crescer, infiltrar-se no espírito dos menos atentos ou menos habituados a estes meandros e produzir os resultados pretendidos por quem se determinou a tecê-la. Mas tenho o direito e o dever de apresentar as coisas tal como aconteceram. Aqui fica a minha verdade, para que a mentira não passe incólume à História.»

A verdade vence sempre. Mas antes a mentira produz os seus efeitos maléficos na vida das pessoas e dos povos. Sócrates é esta mentira que nos roeu e arruinou e, impenitente, quer voltar ao local do crime.


Atualização: este poste foi atualizado às 19:29 de 29-3-2013.


Limitação de responsabilidade (disclaimer): As entidades referidas nas notícias dos média, que comento, não são suspeitas ou arguidas de cometimento de qualquer ilegalidade ou ilegalidade nos casos referidos.

quinta-feira, 28 de março de 2013

Voltei, voltei..




A entrevista «Sócrates, o fim do silêncio», do ex-primeiro-ministro José Sócrates à RTP-1, canal público representado pelo próprio diretor de Informação, Paulo Ferreira, e Vítor Gonçalves, ontem, 27-3-2013, no horário mais nobre, depois do telejornal da noite, nas vésperas da ponte da Páscoa, obriga a um pequeno relato, que, a seguir, alinho.
  1. A entrevista começa com o anúncio pomposo pelo arauto Vítor Gonçalves: «Chegou a hora de quebrar o silêncio: José Sócrates está de regresso ao País...». Portanto, ficámos a saber, por informação que o jornalista deve ter obtido do próprio, de que o ex-primeiro-ministro acabou o seu exílio parisiense, para onde tinha ido após a tomada de posse do Governo PSD-CDS, num período de grande agitação judicial de processos que o referiam (sem chegar a ser arguido): aterro sanitário da Cova da Beira (do seu amigo Prof. António José Morais e de Horácio Luís de Carvalho...); Freeport; Face Oculta. E de queregressou ao comando das suas tropas fandangas.
  2. Portanto, José Sócrates parece ter abandonado o doutoramento em Ciência Política, na École Doctorale de Sciences-Po, na qual, segundo o anúncio da conferência em Poitiers, em 3-11-2011 «Quelques clés pour comprende le Portugal actuel», estava inscrito. Justificou ainda a mistificação da Filosofia, dizendo que Ciência Política e Filosofia Política são hoje a mesma coisa...
  3. Vem à entrevista, e à função de comentador residente na RTP num programa específico, mas afirma: «não tenho nenhum plano  para regressar á vida política ativa» (frase preparada que repete) - nem ser candidato a Presidente nem a primeiro-ministro, dizendo que é uma porta que fechou. Afirma que «quer contribuir para o enriquecimento da nossa vida pública no sentido da diversidade» (sic).
  4. Explica que quer contrariar a «narrativa» (chavão que repete inúmeras vezes) de que o seu pedido de ajuda externa à União Europeia e ao FMI para Portugal foi o resultado da sua governação ruinosa, mas sim a consequência inevitável do chumbo do PEC IV no Parlamento. E acrescenta que «foi a crise que levou à dívida e ao défice» e, daí a bocado, diz:  «não reconheço que tive uma política despesista». Note-se, todavia, para lá dos números do défice, da dívida, da falta iminente de liquidez para pagamento de salários, subsídios e pensões, do crescimento exponencial da taxa de juro das obrigações do Estado português, ao contrário, que a apresentação do PEC para votação no Parlamento foi um artifício para justificar uma demissão apressada que evitasse ter de governar sob a tutela austera da troika e suportar o peso do descontentamento popular.
  5. Apesar de auxiliado pelo seu partenaire deste circo mediático, Paulo Ferreira, a quem pedia para verificar os números, Sócrates enredou-se nos números da dívida pública, do défice orçamental e das parcerias público-privadas.
  6. Denunciou a preparação com o «front loading» do atual governo, na austeridade «à bruta», na expetativa da «curva em V» e insistiu num chavão memorizado de que o Governo deve «parar de escavar» a austeridade, «parar com esta loucura». Está um ainda mais refinado do que já era: atente-se no registo compungido da vitimização, logo ser substituído pela insídia rasca de chamar «bois» aos homens do Correio da Manhã...
  7. Fala na gravidade da eventual declaração de inconstitucionalidade do Tribunal Constitucional do Orçamento de Estado para 2013, sugerindo implicitamente a necessidade de queda rápida do Governo.
  8. Mas o prato principal do repasto convivial, ameno, amigável, familiar, da entrevista, na qual se comportou como se ainda fosse primeiro-ministro em função - numa radicalização do discurso contra «a direita» (ele o íntimo do grande capital...), foi o ataque ao Presidente da República e ao Correio da Manhã.
  9. Acusou o Presidente da República de conspiração relativamente ao caso que chamei de «Operação Encomenda», no DN, de 18-9-2009 (um assunto que tratarei à parte), de deslealdade,  de oposição ao seu Governo, nomeadamente no discurso da posse, e de que o Presidente «foi a mão escondida atrás dos arbustos» (sic) nos ataques contra o seu Governo, em contraste com a sua atitude perante este Governo em que se diz que «não faz nada». Também à parte tratarei dos motivos deste ataque.
  10. Atacou violentamente o Correio da Manhã  - «é preciso chamar os bois pelos nomes» (sic) - por «algumas campanhas que me fizeram», nomeadamente de que «tinha vida de luxo» em Paris, aparentamente sem meios para tal. Não tinha vida de luxo na bela casa naquele quartier, naqueles restaurantes, nos fatos do Bijan  norte-americano (tendo de se contentar em Lisboa, alegadamente, como nota o José, com a modesta Rosa e Teixeira)?... Todavia, justificou que tinha feito um empréstimo para um ano sabático em Paris, à Caixa Geral de Depósitos, e de que nunca teve contas a prazo, nem ações, nem offshores (falta demonstrar o inverso). Sócrates queixou-se ainda de «certa impunidade como o mundo da justiça trata essas campanhas» em que não defende o bom nome dos cidadãos, naquilo que constitui uma pressão inadmissível sobre o tribunal que aprecia nesta altura, precisamente, uma queixa de Sócrates contra aquele jornal por causa da dita campanha... Sócrates recrimina Nuno Morais Sarmento por ter dito, em 25-3-2013, que Sócrates era um homem sem «vergonha», mas ataca «os bois» como antes, em 21-4-2009 o «telejornal travestido» de Manuela Moura Guedes. E defende o seu partenaire Paulo Ferreira no caso do seu amigo Dias Loureiro.

No final cita a inscrição pendente sobre a porta do Inferno, na A Divina Comédia, de Dante - «lasciate...» -, uma narrativa onde na primeira frase o protagonista confessa que «la diritta via era smarrita»...

Este é o meu relato incompleto da entrevista. Para não rasgar mais o lençol neste poste, trato em separado dos motivos e dos efeitos desta entrevista.


Limitação de responsabilidade (disclaimer): José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa e demais entidades referidas nas notícias dos média, que comento, não são suspeitas ou arguidas de cometimento de qualquer ilegalidade ou ilegalidade nos casos referidos.

domingo, 24 de março de 2013

La stessa cosa


ABC, Saída do túnel para a Lusitânea, março de 2013


O País foi escandalizado pela notícia do DN, em 21-3-2013, do regresso do ex-primeiro-ministro Sócrates à posição privilegiada de comentador residente da RTP, no  rescaldo da revisão forçada das previsões dos indicadores económicos (em 15-3-2013), face ao desastre económico e financeiro do País, no círculo vicioso de depressão que sofremos, e à chantagem da União Europeia e FMI, que suspenderam o fornecimento da fatia combinada do empréstimo após o sétimo exame ao programa de ajustamento, sobre o Tribunal Constitucional relativamente ao orçamento de Estado para 2013 por causa do corte de salários e subsídios a funcionários públicos e pensionistas e aumento dos impostos sobre o trabalho aos empregados no setor privado.

O convite terá sido intermediado pelo diretor de Informação da RTP, Paulo Ferreira, um nome que intriga o meu amigo José, da Porta da Loja. Como é evidente neste País de média sujeitos ao poder político, ainda mais no principal meio público, não pode ter sido o diretor de Informação da RTP, Paulo Ferreira, o autor da ideia, como não terá sido o seu decisor. A ideia e a decisão de convidar Sócrates para comentador residente da RTP deve ter sido da dupla governativa Relvas/Passos. Portas não entra neste campeonato - por enquanto...

Dir-se-á que este regresso do socialista Sócrates à casa mediática que o viu nascer para a liderança do PS, demonstrará o aforismo de Karl Marx no início de "O Dezoito de Brumário de Luís Bonaparte" (Der 18te Brumaire des Louis Napoleon, Die Revolution, New York, 1852), de que a História se repete,  a primeira vez como tragédia, a nossa ruína, e a segunda como farsa, a dele, perante o povo que o abomina. Mas é imprudente confiar no marxismo...

Esta contratação do ex-primeiro-ministro para comentador residente da RTP, que indignou os portugueses, revoltados com a perspetiva do branqueamento do seu Governo ruinoso e prenhe de corrupção (só a principal petição contra a presença de Sócrates como comentador residente da RTP tem à hora em que escrevo, três dias depois de aberta, um conjunto de 125.159 assinaturas, enquanto a petição a favor de Sócrates como comentador residente só conseguiu reunir 7.022 adesões), e espantou a imprensa espanhola se espanta, justifica alguns comentários sobre o facto e o motivo.

Alinho os comentários sobre o facto da contratação de Sócrates para a RTP formalizada pelo diretor de Informação, Paulo Ferreira:
  1. Consta que Paulo Ferreira foi, no Público, o intermediário daquilo que chamei «Operação Encomenda», revelada pelo DN, de João Marcelino, em 18-9-2009 (a dez dias das eleições legislativas) - a difusão de um mail privado do jornalista Luciano Alvarez, datado de dezassete meses antes, sobre operações negras do socratismo efetuadas sobre a Presidência da República (uma pontinha do icebergue oculto), tal como fizeram sobre bastantes outros portugueses de forma propositadamente ostensiva. Consta, mas todos os recetores desse mail podem desmentir.
  2. Consta que, estando o Público em má situação financeira e com ameaça de despedimentos no horizonte temporal próximo, Sócrates compensou o serviço com a oferta a Paulo Ferreira de um lugar de editor de Economia na RTP. Consta, mas pode ser que na RTP fosse ganhar menos que no Público (e o jornal 24Horas se tivesse enganado na informação que veiculou na altura da contratação) e que o próprio se tivesse destacado como o melhor jornalista, ou editor, de economia do País e que, portanto, ocupasse por mérito próprio indiscutível esse lugar na televisão pública. 
  3. Consta também que outra boa compensação (um chorudo lugar de vogal da Anacom) foi obtida, logo após a posse do II Governo Sócrates, em novembro de 2009, pelo ex-secretário de Estado Filipe Batista, «o homem secreto do Governo» (Sábado, 20-4-2009), que terá sido o emissário ao Expresso, para a difusão por este jornal (que se absteve de participar no complot de vitimização de Sócrates nas vésperas da eleição) da notícia da «Operação Encomenda», que foi realizada depois pelo DN.
  4. Consta que na RTP socratina, o nóvel editor, sujeita a um controlo férreo de informação, Paulo Ferreira era o único com autorização para fazer comentário em antena sobre economia e... política. Consta, mas pode ser que os demais editores, e jornalistas, também desmintam e possam dizer que tinham autorização plena para a prerrogativa raríssima de entrar quando, e como, quisessem em antena, sem passar pelo crivo do delegado socratino.
  5. Consta que, na RTP, o nóvel Diretor de Informação da RTP, escolhido pelo Governo Passos/Relvas (e Portas...) - com intermediação interna, em novembro de 2012 - tem remuneração (e demais compensações) confidencial. Consta, mas tal pode ser desmentido pela RTP, revelando o seu salário e esclarecendo que nunca - jamais! - esse valor foi reservado.
  6. Consta, nos média, que o socratino Paulo Ferreira arrelvou. Consta. Mas essa análise ingénua acredita que a casaca foi virada do avesso, em vez de verificar que apenas foi engomada de novo, pela mesma sociedade de alfaiates.

Mas se esta é a parte das informações, importa mais evidenciar o motivo da inédita, em termos portugueses - e espanhóis, franceses, italianos, alemães, norte-americanos... - contratação do ex-primeiro-ministro Sócrates como comentador residente da televisão pública de um Governo PSD/CDS. O motivo é único: Passos/Relvas e Sócrates são la stessa cosa. Como concluí já neste blogue, Passos e Relvas são duas faces da mesma moeda - um no papel de polícia bom e outro no papel de polícia mau - e aliados de Sócrates.

Repito o que concluí e que me levou a escrever e a a agir: Sócrates bancou a ascensão de Passos/Relvas à liderança do PSD, desde 28 de janeiro de 2006, contra o setor cavaquista, seu inimigo. Para Sócrates, Passos/Relvas era um aliado fiável: a mesma origem jótica, a mesma falta de formação académica e de profissão civil, eventualmente a mesma natureza. Quando tivesse de deixar o poder, por aborrecimento popular generalizado previsível, Sócrates preferia muito mais ser substituído por Passos/Relvas do que por algum cavaquista ou PSD independente do sistema. Depois dos jogos florais da campanha de 2011, que enganaram meio mundo - e até eu acreditei numa miraculosa regeneração patriótica -, a transição do poder foi mais do que pacífica, manteve-se la même chose e não se efetuou nada do programa patriótico: nem auditoria imediata às contas públicas; nem renegociação a sério e imediata das parcerias público-privadas; nem responsabilização judicial dos eventuais prevaricadores dos governos anteriores (nem um só caso remetido pelo Governo atual para os tribunais?!...); nem demissão dos dirigentes socratinos (deu-se até o caso inédito de, numa espécie de corrupção da alternância democrática, se manterem os mesmos diretores do sistema de informações, dos impostos, da ASAE, da RTP...). Nada, de nada. Assim, manteve-se o mesmo sistema, ainda que com menos dinheiro e maior escrutínio (desde logo, a troika). Cheguei a pensar que fossem os dossiês sensíveis elaborados pelos serviços socratinos que aperreassem Passos/Relvas de cortar decisivamente com o socratismo; mas era simplesmente... uma aliança!...

Assim, não admira, que neste rotativismo sistémico, Passos/Relvas pretendam agora preparar o regresso eventual de Sócrates, quando o povo se cansar de vez do seu Governo PSD/CDS. O tiro de Sócrates não é apenas para a presidência da República... em 2016: o nervoso ex-primeiro-ministro espreita a possibilidade de voltar... ao Governo.

Engana-se quem, por credulidade, pensa que Passos/Relvas apenas pretendem jogar agora Sócrates contra o crescimento de Seguro, partindo o Partido Socialista. O regresso de Sócrates foi precipitado pela iminência de uma crise política seriíssima, que pode determinar a demissão do Governo antes da previsível derrota escandalosa nas autárquicas do outono de 2013. A falta de dinheiro disponível nos cofres por uma execução orçamental miserável, o cerco da troika, o aperto do Tribunal Constitucional e o descontentamento do povo, podem determinar uma partida abrupta de Passos/Relvas para a tranquilidade das seasons em Londres, New York e Brasil. Mas a demissão não ocorrerá por cansaço, muito menos por sentido de Estado: como Sócrates, Passos/Relvas só sairão do poder empurrados. É que o poder é demasiado compensador para o abandonarem.

Em qualquer caso, o regresso de Sócrates ao palco privilegiado da RTP é a confirmação da aliança com Passos/Relvas e a prova definitiva da natureza degenerada deste Governo, que deve ser demitido quanto antes. É que se os resultados económicos e financeiros são muito fracos, foi-se a esperança de uma redenção digna do País face ao sistema socratino.

E é por toda esta vergonhosa promiscuidade que, para lá das petições, da revolta das redes sociais, da indignação dos blogues e das caixas de comentários dos jornais digitais, e até de manifestações na RTP, é fundamental a ação dentro do PSD. Se o PSD quer sobreviver como partido digno, válido e viável, tem de cortar com a liderança Passos/Relvas. De outro modo, o PSD caminha para uma derrota terrível nas eleições autárquicas do outono de 2013 - sem falar nas eleições europeias seguintes -, que pode fazer quebrar o PSD, como eco da ruína nacional que o Governo não evita. Foi por causa desta consciência que lancei, e outros companheiros comigo, um pronunciamento patriótico para a realização de um Congresso Extraordinário do PSD, para a destituição da direção do Partido, e a substituição do Governo.


Atualização: este poste foi emendado às 11:37 de 28-3-2013, por causa de duas gralhas que borraram - «lá» e «quanto» - estes hieroglifos.


Limitação de responsabilidade (disclaimer): As entidades referidas nas notícias dos média, que comento, não são suspeitas ou arguidas de cometimento de qualquer ilegalidade ou ilegalidade nos casos referidos.

sábado, 23 de março de 2013

Verdade e humildade


ABC, São Pedro, sede vacante - fevereiro de 2013


Na volta de Roma, escrevi, em 26-2-2013, preocupado, um poste sobre a eleição do novo Papa, na qual pedi um «Santo Padre (...) independentemente do estilo, da pele, da idade e da origem». Creio que o Espírito Santo iluminou os cardeais do Conclave e que a Igreja Universal o obteve na pessoa de Jorge Mario Bergoglio, em 13 de março de 2013.

Apesar de não ser um dos favoritos dos totoconclaves, e das previsões dos vaticanistas residentes e ocasionais, o cardeal Bergoglio foi o segundo candidato mais votado na eleição de 2005: Bergoglio teria até chegado a 40 votos entre 115 e, de acordo com relatos fiáveis, só o seu pedido, «quase em lágrimas», aos seus apoiantes para que desistissem de votar nele, levou a uma eleição mais rápida do Cardeal Ratzinger, o já saudoso Papa Bento XVI. Porém, com 76 anos, jesuíta, descrito como «inimigo da estridência e da ostentação», visto como conservador pela imprensa - e note-se que, para a imprensa relativista dominante conservador é todo aquele padre ou cristão que não aprove  a união homossexual, o divórcio, o aborto e a eutanásia - já sem falar na agenda mais modesta do casamento dos sacerdotes e da ordenação de mulheres  -, o cardeal arcebispo argentino, descendente de piemonteses, não estava sequer no lote de papabili. Mas se o homem põe, Deus dispõe e quis que o colégio de cardeais fosse buscar o novo Papa ao «fim do mundo», como reconheceu aquele que era até ali o arcebispo de Buenos Aires, na sua apresentação ao povo, na janela da Basílica de São Pedro. Muito humilde, o primeiro Papa jesuíta, revela que  escolheu Francisco, em nome do de Assis, pela pobreza e pela paz, um nome também certamente abençoado pelo seu confrade Xavier, e previne a Igreja para a necessidade da orientação para a pobreza. Os supersticiosos vaticinarão problemas com a data, mas o 13 é para os católicos a data das aparições Nossa Senhora em Fátima aos pastorinhos; e o Padre Bergoglio, como gosta de ser tratado, nascido em 17-12-1936, foi ordenado presbítero também num dia 13.

Então, creio que temos um um Papa santo, simples e austero, informal, mas firme, escolhido para responder, na radicalidade cristã, ao desafio da agitação e da mudança do mundo de hoje, salientado pelo Papa Bento XVI na sua declaração de renúncia, de 11-2-2013.

Todavia, o relativismo ateísta não abranda a luta pela supremacia das mentes e os órgãos adversários, como o institucional NY Times - e com particular contundência os meios socialistas espanhóis, como El País, e Público -, começaram logo os ataques ao Papa Francisco, usando como pretexto a sua falta de poder (temporal...) para proteger os oposicionistas argentinos à ditadura militar. As imputações de silêncio e de cumplicidade têm como objetivo condicionar e tolher a ação e a palavra do Sumo Pontífice e da Igreja no anúncio do Evangelho. Nesse combate - uma espécie de tentativa de desforra comunista na sua nova aliança com o socialismo politicamente correto - a Igreja é sancionada por ser considerada a culpada da derrota marxista na América Latina, mais do que as ditaduras militares da América do Sul e Central. Ora, foi o comunismo, no seu delírio totalitário de ditadura de um proletariado de outra natureza, quem guerreou a Igreja e a sua doutrina de comunhão social; e quando, depois dos fracassos da Bolívia (onde o campesinato não se sublevou em massa com Che Guevara por causa desse desprezo pela religião), e aproveitando o notável exemplo de Camilo Torres, o marxismo tenta uma sincretização com a Igreja, através da teologia da libertação, era demasiado tarde porque as condições económicas e sociais tinham mudado e porque para os guerrilheiros urbanos da América Latina a religião era vista, para lá dos discursos táticos, como o «ópio dos povos». O marxismo queria o apoio temporal de uma organização espiritual que combatia! Crentes de que não perderam pela «espada», mas pelo crucifixo, os guerrilheiros revolucionários comunistas, reciclados no socialismo possível e no anticlericalismo ressentido, fizeram do ajuste de contas com a Igreja um móbil de aliança com o poder socialista, o qual também lhes agrada pelo seu autoritarismo.

No dia seguinte à eleição do Papa Francisco, 14-3-2013, a Democracy Now entrevistou Horacio Verbitsky, jornalista, ex-montonero, aliado dos Kirchner, que há muito persegue com insinuações - e não factos! - o arcebispo Bergoglio e a Igreja argentina (nomeadamente com os livros «El silencio» e «Doble Juego»). Verbitsky tomou como facto uma alegada admissão, segundo um relatório de um oficial militar, pelo Padre Bergoglio do carácter subversivo dos padres dissidentes Orlando Yorio e Jálics Ferenz (que se se recusaram a obedecer ao Superior da Companhia de Jesus, o padre Bergoglio) que transforma em denúncia, queixa-se de que a dissidência destes dois padres os levou à desproteção da Igreja, o que teria permitido a sua prisão e tortura (!...), procura ainda justificar a sua tese com a própria reconciliação do padre Jálics e inclusivamente insinua uma alegada participação do Padre Bergoglio no interrogatório militar do padre Yorio!... O padre Jálics esclareceu em 20-3-2013, que «Orlando Yorio e eu não fomos denunciados por Bergoglio», na altura, jovem Superior Provincial da Companhia de Jesus, Jorge Bergoglio; e o prémio Nobel da Paz Adolfo Pérez Esquível atestou, em 19-3-2013, que o padre Bergoglio «não tinha vínculos com a ditadura». Foi tentado inclusivamente no sistema judicial, já durante o kirchnerismo, o seu envolvimento com a ditadura argentina, mas foi totalmente ilibado das imputações maldosas. A verdade, segundo o que o cardeal arcebispo Bergoglio contou, em 2010, é que ele próprio intercedeu pelos dois padres, escondeu outros e até chegou a fornecer os seus documentos de identidade para a fuga de outros - veja-se a entrevista biográfica do livro «El Jesuíta», 2010 ou esta notícia do Clarín, de 23-3-2013.

Na Argentina contemporânea, o arcebispo Bergoglio, amigo dos pobres e desgraçados, e grande promotor do trabalho pastoral e social da Igreja nos bairros debilitados, era visto pelo poder kirchneriano como adversário da sua agenda socialisto-relativista autoritária. Como noutras latitudes - Venezuela - e longitudes - Espanha e Portugal - o socialismo afirma-se pelo carácter autoritário e vive do confronto para promover a sua agenda totalitária nos costumes, enquanto se lambuza na corrupção de Estado. Nestor chegou a comparar o arcebispo Bergoglio com o Diabo, apelidando-o de «chefe espiritual» da oposição política!.. E, após o seu falecimento, a sua esposa Cristina, que lhe herdou o poder, pouco atenuou esse ódio. Quando foi conhecida a eleição do cardeal Bergoglio, consta que sobreveio uma fúria à presidenta, enviou-lhe uma fria e lacónica mensagem de felicitação e nesse mesmo dia 13-3-2013, num discurso na Tecnopólis, cerca da capital argentina, a evidência da raiva contra Jorge Bergoglio, apesar de já eleito Papa, o primeiro Papa argentino, arcebispo dessa mesma capital, foi audível e muito dificilmente abafável («Y que le deseamos... y que le deseamos... y que le deseamos... y que le deseamos...»), como se pode ver no imperdível video desse evento, com apupos e assobios dos «militantes K» contra o... Papa eleito! Agora, o kirchnerismo nega esse enfrentamento e procura a reconciliação, com um pedido pressuroso de audiência da presidenta, imediatamente aceite - ela que negava ao arcebispo essas ocasiões -  e relatos de emoção... O habitual choque do poder temporal com a humildade espiritual.

Tal como João Paulo II, o Papa Francisco foi testado num ambiente muito duro, sob uma ditadura militar, com extremismos políticos, o que o qualifica para a ação, numa Igreja, Cúria e hierarquia, muito sofrida pelas notícias de abusos sexuais, pelas tentações temporais (o dinheiro), pelos escândalos de lutas internas e pela negligência na resposta aos problemas internos, que lhe diminuem a eficácia da mensagem pura. Confio na firmeza do Papa Francisco para reorganizar a casa, na comunhão desejada do Bispo de Roma com as diversas Igrejas nacionais.

Para além da miséria da hipocrisia política, que a verdade deve expor, fica-me das primeiras declarações do Papa, a esperança de relançamento da nova evangelização, com especial significado na América, em África e na Ásia, mas também nesta Europa fustigada pelo delírio relativista e pelo autoritarismo disfarçado do socialismo politicamente correcto. Politicamente correcta - mesmo! - é a paz, a bondade, a humildade e  a verdade.

terça-feira, 19 de março de 2013

Logo


Restabelecendo as comunicações. Meio problema resolvido pela PT, apesar da prontidão da resposta superior e da promessa. Só se pode melhorar com crítica e, quando surgem falhas que se percebem sistémicas, importa apontá-las para que os sistemas de atendimento e de serviço, sejam corrigidos a bem do cliente (que também é rei e senhor das empresas), para lá do consumidor específico. Espero que, sem grande demora, possa ter, em casa, comunicações fluidas e sem cortes.

Perderam pouco os leitores com este interregno forçado pelo blackout e ajustamento e, apesar do aborrecimento, talvez tenha ganho eu em distância e perspetiva.  Logo, algumas coisas a dizer, seguindo a ordem de prioridade de vida: Deus e os homens.

segunda-feira, 11 de março de 2013

A PT, os clientes, os cidadãos e o Estado

Atrofiado por falta de comunicações, os postes minguam. Outros postes crescem.

A Portugal Telecom mudou da prestação própria de serviços de rede, seja instalação, seja reparação, para a subcontratação. Despediu, rescindiu, indemnizou; e subcontratou serviços a outras empresas. Diminuíu custos fixos (contratos sem termo), eventualmente alguns custos variáveis, e passou a executar a instalação e reparação da rede e de equipamentos de comunicação através de empresas privadas.

Dir-se-á que é uma política de gestão moderna, sob a batuta de matriz financeira de Zeinal Bava, o boy mandado de José Sócrates. Mas a passagem para a subcontratação exige um controlo muito maior da prestação de serviços, de instalação, de desvio de traçado, de reparação. Controlo apertado dos prestadores de serviço e supervisão ainda mais apertada dos quadros e funcionários da PT encarregados da coordenação desses serviços prestados pelos privados. Supervisão apertada para prevenir e reprimir situações naturais de promiscuidade. Porque, como é natural, o interesse das empresas subcontratadas é fazer o mínimo nos contratos de manutenção que lhes garantem um montante anual e fazer o máximo de instalações no mínimo tempo possível. Em qualquer caso, o prejudicado é o cliente.

O cliente da PT é prejudicado porque é mal servido. É servido à pressa. É servido por quem não sabe responder às suas questões. É servido por contratados dos call centers que registam queixas e prometem ao cliente que a empresa lhe responderá, sem o fazer. É servido por contratados que dizem aplicar regras estritas, ainda que as suas reclamações justas decorram de má informação prestada pela empresa. É servido de custos adicionais para erros próprios da empresa. É servido por contratados que jamais deixam o cliente reclamar ou chegar à fala com quem lhe pode resolver o problema. Uma espécie de «Domínio dos Deuses», burocrático, onde o cliente se defronta contra um muro de silêncio, mouco e mudo.

A PT é uma empresa privada com o mau vício das públicas, com tiques de monopolista e hábitos autoritários. Na PT, o cliente não é rei: é súbdito. E as casas e propriedades dos súbditos também pertencem, para efeito de colocação de postes, tubos, cabos e caixas, à PT, mesmo que o cidadão não queira, ou até não seja cliente da empresa. Um Estado dentro do Estado. Um estado de desprezo, dentro de um Rstado que tudo lhe consente, legisla a seu contento e executa a seu proveito. Com as contrapartidas que o poder exija e que, por isso, fica sem força para nada lhe exigir, seja a rede de fibra ótica - Zeinal Bava disse «2009 vai ser o ano da fibra ótica»...-, seja serviços, seja preços.

Não se espere do Zeinal Bava uma mudança desta filosofia, apesar de toda a imagem de atenção ao cliente., envolvida no MEO e TMN. A promiscuidade do socratismo continua. Nós os clientes, nós os cidadãos, somos cartas fora deste baralho marcado.


Limitação de responsabilidade (disclaimer): As entidades referidas nas notícias dos média, que comento, não são suspeitas ou arguidas de cometimento de qualquer ilegalidade ou ilegalidade nos casos referidos.

quinta-feira, 7 de março de 2013

Pedofilia, abusos e a Igreja

A Igreja  não é isenta de pecado. Como qualquer organização humana, mesmo iluminada por Deus, tende para a proteção dos seus membros. É esta cultura de casulo do clero, na proteção e no silêncio, que o Papa Bento XVI - mais do que qualquer outro -, quis mudar no que respeita à pedofilia e à pederastia, estabelecendo regras claras de prevenção e repressão dos comportamentos horríveis e desumanos de abuso sexual sobre menores, normas muito mais exigentes e rigorosas na idade e na prescrição do que as leis civis - o que os média dominantes não veiculam.

A mudança de atitude da hierarquia da Igreja é clara e deve continuar a ser executada, dando prioridade às vítimas atuais, e potenciais, e não aos abusadores face à justiça, incumbindo nos casos conhecidos extra-confessionário, uma obrigação de denúncia às autoridades civis. A reputação e o bom nome de uma pessoa é um bem que importa salvaguardar; mas acima do bom nome de um clérigo, de uma religiosa, de um catequista, está  a proteção física e moral e a dignidade de uma criança, de um adolescente, de um jovem.

Em qualquer caso, importa que jamais se misture a compreensão da doença da pedofilia com a tolerância dos abusos sexuais de menores: a pedofilia é uma tara; o abuso sexual é um crime. A perspetiva da doença é perigosa para o foco da atenção no perdão do abusador-adulto-doente, em vez da proteção da vítima-criança-violadaE outra coisa é a homossexualidade, que não deve ser confundida com a pedofilia, com esta a ser incluída genericamente nessa prática.

A pedofilia é uma tara compulsiva - desvio de idade (agravado ainda, se é possível!, pelo desvio de sexo, nos casos de pedofilia homossexual), que a política de transferência, que a Igreja praticava no passado, não resolve - e não podemos contar exclusivamente com o Espírito Santo, para o controle das pulsões dos indivíduos.

Na prática da Igreja, o abuso de crianças tem de ser sempre mais grave do que a prática da homossexualidade por clérigos adultos e mais grave do que a prática heterossexual por um padre.

O recurso sistemático às autoridades civis, que é lei do Estado para os crimes públicos - como é o abuso sexual de menores - quando existirem indícios da prática desses crimes, é pedagógico para os potenciais abusadores e, ao mesmo tempo, uma demonstração do cuidado da Igreja com a atividade dos seus clérigos, das suas religiosas e dos seus educadores.

Não se pode esperar que a Igreja se torne uma organização livre de pecado, mas esta deve pôr em prática universal um sistema de vigilância interna que dissuada e resolva os abusos sexuais de menores. Contudo, o caminho que a Igreja tem feito na proteção das vítimas e na vigilância da pedofilia não tem sido valorizado, colocando toda a hierarquia, e de caminho os católicos, como membros de uma organização demoníaca que consente os abusos - ou os pratica!... Creio que a melhor maneira de resolver a diferença entre aquilo que a Igreja estabelece e executa e aquilo que é convicção mediaticamente arreigada do público é a exposição clara das normas e das ações concretas para resolver os casos emergentes e, quando surgirem, resolvê-los sem demora, comunicando sempre os factos apurados às autoridades civis. A transparência é o melhor remédio para a demonstração da mudança e para a reconciliação com os indignados.

quarta-feira, 6 de março de 2013

A morte de Chávez e o futuro da Venezuela

Morreu Hugo Chávez, neste 5-3-2013. Paz à sua alma, mesmo apesar da sua tirania. Ou ainda mais por causa de ser tirano. Perseguidor da Igreja, depois aflito com a doença, voltou-se para Deus, esperando o milagre da sua recuperação. Os médicos cubanos não o conseguiram salvar do cancro que o atingiu. E sobre o qual insinuou ter sido provocado pelos EUA!... Deixa uma economia arruinada,  situação criminal explosiva, superfícies comerciais vazias e com comida racionada, ajuda internacional demagógica (os transportes públicos de... Londres!...), um país dividido e à beira do confronto interno e a conclusão de que o socialismo marxista falha até nos países ricos e com grandes recursos naturais.

Os regimes baseados num líder, tendem a cair com eles. Espero que os venezuelanos possam agora recuperar o tempo de desenvolvimento perdido e sigam o exemplo vizinho, da Colômbia, de recuperação da ordem, do progresso e da liberdade.

sábado, 2 de março de 2013

Queremos as nossas vidas!


As manifestações de hoje, 2 de março de 2013, no País, com o lema «Que se lixe a troika! Queremos as nossas vidas!» constitui um protesto vigoroso contra a austeridade desigual que o Governo tem imposto aos portugueses. Entendido esse protesto nessa perspetiva - não contra a União Europeia e o FMI, que nos emprestam o dinheiro, mas contra a austeridade iníqua e a corrupção - conta com o nosso apoio.

Assim, esse protesto não absolve - jamais poderia absolver! - os dois governos anteriores de José Sócrates, nem todos os governos irresponsáveis e toda e qualquer instituição ou pessoal corrupto. É mais uma demonstração de repugnância contra austeridade seletiva, que poupa uns e castiga sucessivamente outros. E mais. Contra a política deste Governo - mas não só deste... Contra a polivalente corrupção de Estado. Contra o autismo político corrupto, seja em dinheiro, seja em tacho futuro - um autismo que levou ao extraordinário resultado de cerca de 90% do eleitorado contra as políticas iníquas de austeridade, nas eleições legislativas italianas, de 24-25/2/2013, em Itália... Contra a política de pressão,  controlo e intimidação do poder judicial. Contra a prioridade à proteção dos bancos, nomeadamente dos bancos estrangeiros credores de consórcios e bancos parasitas, em detrimento da economia portuguesa. Contra o desperdício de dinheiro nos BPNs dos amigos e as decisões de Estado (como a da nacionalização do BPN) tomadas para atingir fins políticos em vez de benfícios económicos e fiscais. Contra a irresponsabilidade, a imunidade e a impunidade judiciais dos dirigentes políticos prevaricadores, dos quais muitos se mantém em postos elevados da administração. Contra uma política monetária de moeda forte (euro caro para benefício dos reformados e assalariados alemães), em tempo de falência económica generalizada - ainda que a depreciação não resolvesse totalmente a perda de competitividade. Contra a proteção dos oligopólios (Galp, Brisas, EDP, PT, etc.) em vez dos consumidores. Contra uma política aduaneira distorcida, que beneficia a produção dos países mais ricos da União Europeia, enquanto abandona os produtores dos países pobres à concorrência desleal do dumping social chinês e de outros países asiáticos. Contra o desaforo das mordomias de políticos e dirigentes do Estado: carrro, motorista, refeições, só deveriam ser concedidos ao nível de ministro - o resto só mediante requisição justificada para deslocação de serviço. Contra a insistência de um modelo ideológico caduco que crê na capacidade do Estado criar diretamente empregos, quando os empregos são criados pelas empresas que não podem ser estrangulados por impostos. Contra a punição fiscal do trabalho, em vez do consumo e da riqueza. Contra obras faraónicas do Estado e das autarquias, decididas para gerar comissões para os decisores políticos. Contra as políticas de fomento económico seletivo, que servem principalmente para desviar dinheiro para as empresas em que os decisores políticos são parte, direta (sim, sim!) ou indiretamente (através de luvas), em vez de baixa geral de impostos, deixando as opções de investir, ou não, à iniciativa privada. Contra a supremacia do apoio dos abusos, em vez do louvor ao trabalho. Contra a venda de património do Estado ao desbarato corrupto.

E é - tem de ser! - uma manifestação a favor da Pátria.