sábado, 30 de abril de 2011

A Central de Propaganda


Do Prof. Eduardo Cintra Torres, no Público, de 29-4-2011, «A campanha eleitoral da Central de Propaganda». Um artigo notabilíssimo para compreender a natureza da administração socratina do poder. Pela importância factual e analítica que tem, transcrevo o artigo (via Portugal dos Pequeninos):


«A Central de Propaganda
Eduardo Cintra Torres

Público, 29-4-2011

A TVI lá fez mais uma entrevista a Sócrates, ajeitando-se à agenda do líder do PS. Como se comprovou no final, a entrevista foi, para o país, totalmente inútil. Zero de conteúdo. Quaisquer que sejam as perguntas, ele repete à exaustão as mesmas cinco frases memorizadas. Hábil a intimidar entrevistadores, ignora-lhes as perguntas, debitando o menu decorado e queimando tempo.

Judite Sousa não colocou diversas perguntas importantes e não obteve respostas às que colocou. Resultado: um festival de propaganda pessoal, mais um em poucas semanas. Sócrates só falou de si mesmo — o seu tema preferido — ou repetiu as cinco frases combinadas lá na Central de Propaganda. E, ajudado pela entrevistadora, alimentou a agora habitual confusão total entre primeiro-ministro e secretário-geral do PS.
A estranha última pergunta de Sousa sobre a vida privada de Sócrates foi colocada ao secretário-geral do PS na sede do governo de Portugal. Sousa apresentou Sócrates como “divorciado” e “com dois filhos” e perguntou-lhe se “tenciona fazer campanha eleitoral com a família”. Recorde-se que nas presidenciais apareceram familiares de todos os candidatos nas campanhas e nenhum jornalista, nem Sousa, os interrogou sobre isso.
A pergunta permitiu a Sócrates fazer exactamente o que disse que não vai fazer: usar os filhos. Mencionou duas vezes o “amor aos meus filhos”. Disse também “sempre os procurei proteger”. Ora, na campanha de 2009, em entrevista à SIC, Sócrates fez “referências premeditadas” aos filhos (como lhes chamou então um dirigente da agência de comunicação LPM). Também a sua vida privada foi usada em ocasiões escolhidas a dedo ao longo dos anos. Mais de uma vez as revistas cor-de-rosa souberam com antecipação onde ele estaria em momentos “privados” com uma alegada namorada; e numa entrevista ao Diário de Notícias na campanha de 2009 ele falou da alegada namorada (i, 21.09.09).
Na acção mediática de Sócrates não há nada, mas rigorosamente nada, que surja ao acaso. As “respostas” em entrevistas são frases decoradas. Toda a sua agenda e a do Estado que comanda estão planeadas para obter ou evitar efeitos mediáticos. Por exemplo, a correcção para baixo do défice foi divulgada pelo INE no sábado de Páscoa, com o país político ausente. A gestão de danos é brilhante: a Central obliterou Teixeira dos Santos dos media quando este, a bem de Portugal, traiu Sócrates e falou da necessidade da ajuda externa.
A Central vai debitando diariamente pequenos “casos” para a imprensa: através de dirigentes e outras figuras do PS (as ordinarices de Lello não são “arreliadoras deficiências tecnológicas” mas declarações públicas calculadas, cabendo a Lello o papel de abandalhar os políticos em geral); ou através de “fontes”, ou nem isso, como nas campanhas negras na Internet. Essa acção permanente da Central, 24 horas por dia, desgasta os adversários, em especial o principal partido da oposição, sem a mínima preparação para enfrentar uma organização profissionalíssima, que hoje atingiu a dimensão de um embrião de polícia política de informações, agindo exclusivamente através dos media e Internet, directamente ou através de apaniguados ou ingénuos.
O desgaste dos adversários ainda está no princípio. Dado que Cavaco Silva e os ex-presidentes pediram uma campanha eleitoral esclarecedora, caberá à Central de Propaganda oculta e semi-secreta ao serviço do PS encher os media e a blogosfera de “casos”, invenções, mentiras, factóides descontextualizados, etc. Esta Central tem acesso a informações, por métodos quase científicos de busca, selecção e organização de informações, a que os jornalistas não têm ou não podem ter acesso, ou nem sonham que existem. A Central conhece o passado de todos quantos agem no espaço público e ousam desagradar ao PS-Governo. A Internet é usada para divulgar elementos “comprometedores” da sua vida. Fernando Nobre e família foram alvo desses ataques mal ele se candidatou pelo PSD. Nos EUA tem crescido igual tipo de desinformação, como a campanha negra por republicanos mais primários de “dúvidas” acerca da nacionalidade de Obama.
A brutalidade da desinformação e das campanhas negras atinge não só os adversários políticos, mas todos os que exerçam livremente a liberdade de expressão. Como o PS-Governo vive exclusivamente dos media, a Central visa em especial os comentadores e jornalistas que considere fazerem algo negativo para os seus interesses.
A jornalista Sofia Branco foi recentemente demitida de editora na agência LUSA por se ter recusado, com critérios editoriais, a pôr em linha uma “notícia” oriunda da Central de Propaganda. Recorde-se que o director de Informação da LUSA foi uma escolha pessoal de Sócrates e que o seu administrador principal é amigo pessoal de Sócrates. A demissão teve carácter de exemplo, pois visa recordar a todos os jornalistas, começando pelos da LUSA, que “quem se mete com o PS leva”.
O caso revela a Central em acção. Uma correspondente da LUSA recolheu uma declaração dum assessor do primeiro-ministro que este atribuiu a Sócrates. A editora da LUSA não quis divulgar declarações dum assessor como se fossem de Sócrates (dado que não eram de Sócrates!); disponibilizou-se para ouvi-las do próprio, mas o assessor negou a hipótese. A editora rejeitou a “notícia”. Acontece que a Central precisava que a “notícia” fosse vomitada para os media naquele dia; por isso, a chefia da LUSA soube logo do caso e colocou a “notícia” em linha; a editora foi liminarmente demitida, retaliação que já seria de dureza totalmente desajustada ao normal funcionamento de uma redacção se a editora tivesse procedido mal. No dia seguinte, Sócrates disse a tal frase que fora dita pelo assessor: é o habitual processo de inculcação pela repetição.
Sofia Branco foi demitida por ser jornalista. Se houve “quebra de confiança”, como a direcção socretista da LUSA invocou, não foi no profissionalismo da editora, mas sim quebra de confiança da Central de Propaganda numa jornalista que agiu como jornalista. “Hoje, 27 anos depois do 25 de Abril, faz-se jornalismo com medo”, disse Sofia Branco ao P2 (25.04).
A pressão infernal sobre os jornalistas deu resultados extraordinários nestes seis anos. Somada a campanhas negras e cumplicidades no seio dos media, permitiu a Sócrates ganhar em 2009 e está a permitir-lhe recuperar nas sondagens em 2011.
A estratégia da Central para esta campanha já está delineada. Um dos elementos tem passado despercebido: através de pessoas como Lello e de comentários anónimos produzidos pela Central e despejados na blogosfera e caixas de comentários, repete-se a ideia de que os políticos são todos iguais, todos corruptos, nem vale a pena ir votar. A Central sabe que a percentagem do PS pode subir se a abstenção crescer. O paradoxo de um partido fomentar subrepticiamente a abstenção explica-se: como os eleitores mais livres votariam mais facilmente na oposição, neutralizá-los diminui os votos nos outros e aumenta a proporção relativa do núcleo duro dos eleitores do PS.
Outro elemento que favorecerá essa estratégia será a habitual forma de as televisões cobrirem as campanhas na estrada. Apesar da crise no país, é provável que a cobertura televisiva se concentre, como habitualmente, nos almoços da “carne assada”, nas declarações da velhota na rua, do comerciante à porta, do militante de reduzida inteligência, no “isto está uma loucura” do jornalista empurrado por jornalistas, etc. Enfim, fait-divers sem conteúdo político e sem relação com o discurso dos responsáveis partidários.
Se as televisões juntarem às habituais reportagens da “carne assada” e da velha que grita na rua alguma cobertura aos “casos” emanados da Central, estará lançada a confusão que serve um único entre todos os partidos: o PS-Governo. Tudo o que não esclareça políticas, divirja para os “casos” do dia e para o diz-que-disse, em que a Central tem mestria absoluta, servirá para impedir um esclarecimento mínimo (desfavorável a quem governou) e para induzir descontentes a absterem-se. Se fizerem uma cobertura das campanhas como a de 2009, as televisões estarão a colaborar, não indirecta, mas directamente com a governação dos últimos anos e com a aplicação concreta, diária, da estratégia de desinformação e propaganda.»

Eduardo Cintra Torres explica que a oposição se defronta, de modo amador (e eu acrescento, descuidado) com uma «organização profissionalíssima». Uma organização, com pessoal e meios sofisticadíssimos, que bate as estruturas que enfrenta, por causa da força que tem e do medo e da negligência dos adversários.

O Eduardo escreve que esta Central de Propaganda consiste num «embrião de polícia política de informações». Mas a Central de Propaganda é apenas a secção «suave», semi-visível, de um sistema que contém uma secção clandestina de operações negras - , uma verdadeira polícia política, que com ela interage. A secção de operações negras é «a malta da pesada», tal como foi descrita por um dirigente socialista  (lamentavelmente o linque do Corta-Fitas para este poste, e outros, do Carlos Santos já não funciona, mas guardámo-los, bem como os comentários). A chave do poder real do socratismo não está na secção «suave» da Central, mas na secção de operações negras.


* Imagem editada daqui.

A subserviência dos media ao Supremo Líder



Apesar do aviso do Presidente da República no discurso do 25 de Abril de 2011 para que actue «com isenção e com independência» neste período anterior às eleições, a promiscuidade entre os media do Estado e os media dependentes aumenta. Um dos exemplos mais flagrantes dessa conivência, foi o Fórum TSF (tornadaTelefonia Socratina Familiar), de ontem, 28-4-2011, em que as questões dos ouvintes foram transformadas num festival de elogios ao «Supremo Líder» da Coreia do Norte de Portugal, Kim Jong-Sócrates.

O PS ameaça repetir nestas eleições o que fez nas legislativas de Setembro de 2009. E agora sem necessidade de comprar o que já está comprado.


* Imagem editada daqui, dali e dacolá.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Parcerias socialisto-privadas



A lista de Parcerias Público-Privadas (PPP) do Estado em Julho de 2010 foi divulgada pelo Governo (ver as páginas 23 e 24 do «Relatório PPP - Parcerias Público-Privadas», Julho de 2010, Ministério das Finanças e da Administração Pública). O esquema de adiamento de pagamentos foi praticado não apenas nas infra-estruturas de transporte (estradas, etc.), mas nas outras áreas: saúde, ambiente, barragens, energia, segurança (Siresp...) e portos. A lista está incompleta e o Governo tem a obrigação de providenciar informação actualizada sobre o assunto. Clique nas imagens para aumentar:







Pode ler-se uma análise deste tema no artigo «Parcerias e concessões de infra-estruturas foram as “menos aconselháveis”», de Rui Rodrigues no suplemento Carga e Transportes do Público, em 25-4-2011. O custo das barragens é enorme - apesar das contradições do Governo e do aumento do consumo de energia. E caso da Ponte Vasco da Gama, que terá custado três vezes mais do que o valor original, muito por causa do prolongamento do contrato de concessão. Agradeço ao Rui Rodrigues do Carga e Transportes o envio dos textos teve a paciência de converter o pdf e depois em jpg e me enviou os artigos.

O montante das parcerias público-privadas, cerca de 60 mil milhões de euros, é termosférico. Constitui um encargo tremendo deixado em herança às gerações seguintes, com pagamentos faseados muito pequenos no início e que aceleram após o prazo previsto de exercício do governo pelo Partido Socialista. O seu efeito retardado cairá em cima de qualquer recuperação da economia portuguesa, afundando ainda antes de reemergir. Se Portugal, quiser manter a sua dignidade internacional, será terrível o sacrifício do povo para pagar o desperdício e corrupção de Estado, dois filhos da mesma mãe desnaturada.


* Imagem editada daqui.

A batata quente da dívida portuguesa

A Reuters (ver também o quadro interactivo para comparar com a dívida de outros países) publicou ontem, 28-4-2011, à tarde, a exposição de países credores estrangeiros a Portugal, de acordo com dados, em dólares, do Bank for International Settlements (Banco de Compensações Internacionais). Os valores indicados pela Reuters para o final de 2010 são incompletos, pois faltam os valores dos Outros Países da Zona Euro e Resto do Mundo (vinte mil milhões de euros, no terceiro trimestre de 2010). Coligi os valores, comparei com o quadro que aqui tinha publicado, em 14-3-2011, sobre os dados do 3.º trimestre de 2010 e converto os valores para mil milhões de euros à taxa de câmbio de hoje, 28-4-2011, do EUR/USD=1,482):


Regista-se uma redução acentuada da exposição dos credores de países estrangeiros à dívida portuguesa entre o terceiro e o quarto trimestre de 2010, sendo os bancos e fundos privados estrangeiros substituídos pelo Banco Central Europeu que foi comprando, no mercado secundário, a dívida portuguesa. Embora seja mais importante atender aos valores absolutos, destaca-se: -20,9% da Espanha; -24,6% da Alemanha; -27,4% da Grã-Bretanha; e -40,9% da França. Note-se que embora a taxa de juro das obrigações do Estado português já estivesse a crescer (tenho apontado 6,78% para a taxa a dez anos em 23-12-2010), estava ainda muito longe dos mesosféricos 12,05% de hoje, 28-4-2011, da taxa... a dois anos.

No final de 2010, a dívida maior de Portugal era para com credores espanhóis: a dívida de Portugal à Espanha tinha quase a mesma dimensão da dívida portuguesa para com o conjunto da Alemanha, França, Grã-Bretanha e Itália. A Alemanha, que representava apenas 15,1% da dívida portuguesa no terceiro trimestre de 2010, reduziu ainda mais, no final do ano, a exposição ao nosso País. O que significa que a protecção do governo democrata-cristão-liberal alemão ao governo socialista português não decorreu do montante gigantesco do crédito concedido pelos bancos alemães a Portugal (verifique-se a diferença, por exemplo face à Espanha), mas do factor político.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

A desilusão dos vencidos do socratismo

A táctica eleitoral de José Sócrates foi anteontem, 26-4-2011, exposta na entrevista na TVIarmar-se em impostor de condestável do Reino face à invasão da União Europeia/FMI.

E o PSD não pode cair na esparrela de mostrar-se mais efe-eme-i do que o FMI, numa espécie de ameaça sobre o povo desconfiado em que se a troika FMI/União Europeia/Banco Central Europeu diz «mata!» e o PSD grita «esfola!». Assumir uma pseudo-postura de responsabilidade, mas que soa a mau agoiro, levará ao afastamento decisivo dos segmentos eleitorais desiludidos do socratismo que, chocados com a austeridade prometida pelo PSD e pelo seu pessismismo, voltarão à casa socialista.

Para além da deriva delirante para liberalismo extremo, num País em ruína económica e contra a corrente da preferência do eleitorado.


* Imagem editada daqui e dali
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Antónios há muitos

Telefonaram-me da Rádio Cister a perguntar se era eu o António Caldeira, candidato por Leiria pelo recente partido PAN - Partido Pelos Animais e pela Natureza, às eleições legislativas de Junho. Não sou. Há mais Antónios (na Maiorga, Alcobaça, até fazem uma festa só para nós...), Caldeira, e até Manuel. Balbino é que só eu.

O candidato do PAN chama-se António José Vieira Caldeira e é tenente-coronel na reforma. Felicidades para o meu homónimo.

terça-feira, 26 de abril de 2011

O discurso do 25 de Abril de 2011 do Presidente e a intervenção dos ex-presidentes


Analiso primeiro o discurso de Cavaco Silva e depois comento o facto do convite aos ex-presidentes da República para também discursarem nesta cerimónia, concluindo com a reacção de Sócrates.


Sobre o discurso de Cavaco Silva
Os resultados da análise de conteúdo indicam as referências mais frequentes no discurso: Portugal (16 vezes) e Portugal (4); futuro (10); Abril (9); povo (8); democracia (8); esperança (7); e liberdade (5).

A mensagem é esperança, de respeito pela democracia, de verdade e de rigor, de unidade, de responsabilidade, de necessidade de mudança e de optimismo. Um contraste com a estratégia governativa do medo  e com a mensagem errada da direcção do PSD de que as medidas a tomar serão ainda mais gravosas e a situação do povo ficará pior.

Os media dependentes apanharam do discurso do Presidente Cavaco Silva o que convinha ao Governo: os «espaços de entendimento» e o «esforço de concertação» e a censura de «crispações», «estilo agressivo», «trocas constantes de acusações» e «tensões permanentes». Não registaram a gravidade de Estado do Presidente que condena quem, vá, agora, «vender ilusões ou esconder o inadiável». Nem viram o alerta para que a comunicação social actue «com isenção e com independência», uma condição indispensável para que as eleições sejam livres e justas. E leram a seu jeito o aviso firme de, nesta «encruzilhada» da democracia portuguesa,  «o Governo saído das eleições de 5 de Junho deve dispor de apoio maioritário na Assembleia da República» - o que, tendo em conta a posição pública do PSD, implica que Cavaco Silva não nomeará um governo minoritário de José Sócrates.

Porém, o discurso do Presidente Cavaco Silva tem um sentido diverso do que os media socializantes interpretaram como a recomendação de um «entendimento antes das eleições», uma coligação pré-eleitoral PS-PSD. O sentido da mensagem é de respeito pela «soberana decisão dos cidadãos», as «grandes escolhas», de «respeitar as opções que o povo decidir tomar». Em vez de atender ao meta-sistémico golpe palaciano, de Mário Soares e que contou com o braço de Balsemão, de impor ao PSD um acordo pré-eleitoral com o PS (o «Compromisso Nacional», do mesmo tipo contra natura do «compromesso storico» de Berlinguer), num contrato apalavrado prévio de um governo de coligação de bloco central, que incluísse o Partido Socialista, com ou sem Sócrates. Uma insistência de um governo de salvação nacional que mais não seria do que salvação do poder do Partido Socialista sobre o Estado.

Essa opressão anti-democrática sistémica insere-se num peculiar retorno emocional ao salazarismo, dispensando o voto:
«O nosso povo é avesso ao voto, por temperamento, pela má recordação dos tempos idos, em que lhe arrastava dissabores e prejuízos, por comodismo, por confiança nas pessoas e até, quem sabe, por inata desconfiança no processo.»

António de Oliveira Salazar, discurso de 7 de Outubro de 1945, sala da biblioteca da Assembleia Nacional, em Lisboa
)
Aliás, um saudosismo paradoxal, como o de Otelo que confessa que «Precisávamos de um homem com a inteligência e a honestidade do ponto de vista do Salazar» (Negócios, 21-4-2011) e que agora ressurgiu em novo flash de totalitarismo da «democracia participativa» (i, 25-4-2011)  - democracia directa é outra coisa e envolve eleições primárias, não dispensando os partidos.

Porém, respondendo a essa pressão oligárquica, o Presidente Cavaco Silva opôs, neste discurso, o seu respeito pela vontade popular, expressa em eleições: «é a voz do povo que deve fazer-se ouvir». Creio que está contida a conspiração anti-democrática soaristo-sistémica, uma convicção que Passos Coelho confirmou, hoje, 26-4-2011, ao rejeitar essa «espécie de União Nacional».

Por outro lado, Cavaco também censurou a campanha abstencionista que o socratismo prevê lançar, na eventualidade das sondagens consolidarem uma derrota clara do PS: «seria incompreensível que, no momento crucial que atravessamos, os cidadãos se abstivessem de votar e de decidir o seu destino». Portanto, Cavaco declara que o povo poderá contar com o seu serviço e reclama a participação e responsabilidade do povo nas eleições.


Sobre a intervenção dos ex-presidentes
O Prof. Cavaco Silva arriscou ao convidar os ex-presidentes para a cerimónia que não pôde ser realizada na Assembleia da República por esta ter sido dissolvida. Cri que a ousadia saísse cara, com os ex-presidentes a aproveitarem a inédita ocasião e a possibilidade de falarem solenemente para o País, como jamais tinham podido desde que se esgotou o tempo dos seus mandatos, para criticarem... o próprio Cavaco Silva. Violando a regra de sentido de Estado e de respeito pela instituição presidencial, os socialistas Soares e Sampaio têm censurado com aspereza o Prof. Cavaco Silva e até o general Eanes descobriu recentemente uma intrigante, veia crítica. Porém, o saldo desta ousadia de Cavaco Silva é muito positivo, pois ajudou a compreender a mensagem da necessidade de união dos portugueses neste momento crítico da nossa história.

Sampaio, o mais novo dos três (nasceu em 1939, Soares em 1924 e Eanes em 1935), pareceu o mais cansado, ainda que a voz de Soares ultimamente já se arraste. Mas, Soares tenta disfarçar a degenerescência agora mais acelerada, com a esperança do último legado: a reorganização do Partido Socialista após a inevitável queda de José Sócrates.
Os discursos dos ex-Presidentes (Ramalho Eanes, Mário Soares e Jorge Sampaio) neste singular 25 de Abril de 2011 podem também ser lidos na página da Presidência da República.

Ramalho Eanes fez um discurso longo e pilático, seguindo o seu habitual distanciamento militar pela condução civil do Estado, ignorando os tempos da longa suserania do Conselho da Revolução, pondo no 25 de Abril de 1974 um encargo utópico que os dirigentes do Estado não cumpriram, e sugeriu a constituição, depois das eleições, de um governo «de amplo espectro político-partidário». Isto é, com o mesmo socialismo responsável pela ruína do Estado, que também tem denunciado.

Mário Soares desculpou o socialismo pela crise financeira e económica interna e pelo periodo eleitoral, que em sua opinião «poderia ter sido evitado» (talvez se Sócrates não se demitisse...) e determina que «os Partidos e os Parceiros Sociais se entendam».

Os ex-presidentes abstiveram-se de atacar o anfitrião, salvo a excepção do incorrigível Sampaio. Jorge Sampaio disse que «É chegada a hora de todos, mas todos, assumirmos as nossas próprias responsabilidades naquilo que não correu bem»... -, numa frase indirecta ao que pretendem ser a «pesada herança» do cavaquismo, uma década de desenvolvimento acelerado, que agora, 16 anos passados, a esquerda e a extrema-direita culpam pelo actual estado do País!... E, mais insidioso ainda, Sampaio afirmou que «o Presidente tem uma voz e um papel insubstituíveis, que, a serem activamente usados, podem e devem dar um contributo decisivo para a resolução dos problemas», requentando a crítica de Adriano Moreira, em 12-4-2011, na Rádio Renascença, sobre o silêncio e dificuldade do presidente Cavaco Silva no uso da palavra e o louvor a Mário Soares e a Jorge Sampaio (?). Aliás, não sei se, nessa entrevista, Adriano se referia ao «poder da palavra» de dize como Sampaio no seu discurso do 25 de Abril de 2003, «Há mais vida para além do orçamento. A economia é mais do que finanças públicas.»...Todavia, reparando na menção, por Sampaio, neste seu discurso, do «endividamento externo», admito que não fosse aquela a «palavra» a que se referia o professor Adriano Moreira - que ouvi em aulas, no Outono de 1984, apreciar o poder do silêncio de Ramalho Eanes... O que prova, afinal, que palavra e silêncio são duas faces da mesma dobra, a qual é declarada verdadeira ou falsa consoante a maleabilidade dos dentes que a mordem. No seu discurso, Sampaio criticou a sociedade civil, os cidadãos, os sindicatos, os media e o neo-liberalismo. Mas esqueceu-se da corrupção e dos governos Sócrates, o qual entronizou, com a dissolução da Assembleia da República, em 30-12-2004, com o pretexto da demissão do ministro da Juventude, Desporto e Reabilitação, Henrique Chaves, do Governo de Santana Lopes, em 28-11-2004...

O ministro Vieira da Silva, delegado de Sócrates para a organização das listas eleitorais e da campanha, chefe operacional dos ex e neo-férricos, não perdeu a oportunidade de dizer que o discurso de Sampaio continha uma «auto-crítica», um ataque que mais do que o lamento da decisão casa piana de Sampaio confiar o Governo a Santana Lopes em vez de optar por eleições antecipadas, o que levou à queda de Ferro Rodrigues, é uma marcação de posição na corrida interna pós-Sócrates.


Resposta de Sócrates
E enquanto neste 25 de Abril de 2011, o sensível (muito sensível) e bonzinho Sócrates se queixa da falta de «consenso», «diálogo» e de «concertação», um dos seus caceteiros de serviço, o dirigente socialista José Lello (membro do Secretariado Nacional do PS), segundo o Diário IOL, insulta o Presidente da República, Prof. Cavaco Silva: «este Presidente e mesmo foleiro» (sic) - o argumento é que não convidou todos os deputados do Parlamento... dissolvido para a cerimónia no Palácio de Belém - Lello já disse que foi um «lapso», que estava a trocar mensagens com um colega e o comentário saíu no Facebook, mas a explicação técnica é absurda. A mesma face dúplice, com uma reacção oficial condescente e paternalista (?) e uma reacção oficiosa violenta e insultuosa. Sócrates não joga com outro meio senão com a violência e, insisto, ilude-se quem na oposição lhe responda com suavidade e compromisso.


* Imagem picada daqui.


Actualização: este poste foi actualizado ás 19:54 de 26-4-2011.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Cinco motivos da queda do PSD e a necessidade de uma nova táctica


No meu poste anterior, manifestei a minha preocupação com os resultados das  sondagens de intenções de voto, realizadas em Abril de 2011, que indicam uma recuperação do PS, uma subida do CDS e uma descida proporcional do PSD (há um mês, em 25-3-2011, na sondagem da Marktest, o PSD tinha 47% das intenções de voto...), enquanto o Bloco permanece em convalescença e o PC mantém a sua quota militante habitual. Neste 25 de Abril, vou indicar cinco motivos desta tendência - descontando o incidente Fernando Nobre e até os amuos e os receios dentro do PSD - e depois alinhar uma táctica com cinco vectores.

Aponto cinco motivos da queda do PSD e da recuperação do PS (e também do CDS):
  1. O Governo socialista fez uma barragem mediática de propaganda para fazer o povo acreditar que não foi o Governo que se demitiu (por se lhe ter esgotado o dinheiro e os meios de financiamento) e que a culpa da bancarrota do Estado e da desgraça económica e social do País não se deve ao cúmulo de seis anos de Governo (ou treze anos e meio), mas à não aprovação do PEC IV pelos partidos da oposição e ao Presidente da República (!...) não ter obrigado o PSD a servir a vontade do PS. Essa pressão continua, através de Mário Soares e seus aliados, numa conspiração anti-democrática, à margem do sufrágio próximo, para impor ao Presidente da República e ao PSD (passando a mão pelo pêlo de Passos) a bênção antecipada de um Bloco Central que permita manter o socialismo no poder, eventualmente sem Sócrates. Como se o Presidente da República pudesse sobrepor-se ao sufrágio ou aos partidos!...
  2. Os portugueses estão assustados com o pedido de socorro financeiro ao Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEEF)/FMI e as condições que estes imporão para emprestar dinheiro ao Estado português.
  3. Os segmentos populacionais mais dependentes do Estado, como os pensionistas, os funcionários públicos e os que recebem subsídio de desemprego e rendimento social estão em pânico com a perda de bem-estar imediato das medidas financeiras que sentem que essas organizações decidirão.
  4. O Dr. Pedro Passos Coelho deu algumas indicações sobre uma política de austeridade mais severa que o PSD pretende aplicar no Governo, em contraponto com as anteriores promessas de não aumento de impostos:
    1. Admitiu, em 24-3-2011, que subiria os impostos sobre o consumo, ainda que explicasse que não desceria as pensões mais baixas, nem elevaria os impostos sobre o rendimento das pessoas.
    2. Informou no artigo «Our plan to fix Portugal», no WSJ de 30-3-2011, que o seu pacote de austeridade seria mais austero do que o PEC IV do PS: «votámos contra as últimas medidas de austeridade anunciadas não porque fossem longe de mais, mas porque não iam suficientemente longe» (tradução minha).
    3. E manifestou-se, em 19-4-2011, no Forum da TSF, favorável a um valor limite nas pensões, indicando os 2.500 euros de Espanha (corrigindo, na tarde desse dia, segundo o jornal i, que o limite se aplicaria apenas a quem entrasse agora no mercado de trabalho).
  5. Uma grande parte dos reformados dourados e dos funcionários públicos, órfã do socratismo desde o anúncio do PEC IV, em 11-4-2011, sentiu-se defraudada na sua expectativa de que o executivo do PSD garantisse no curto-prazo o nível de bem-estar que estavam habituados com os últimos governos socialistas e retornou ao socialismo efémero que lhes é vendido como uma defesa habilidosa da qualidade de vida portuguesa face ao papão do FMI. Os dourados sabem que a médio-prazo, esse bem-estar se esfuma, mas querem prolongar os últimos dias de Gomorra e iludem-se, preferindo o mal que vêem ao bem de que desconfiam.

Estes factos e interpretações recomendam a adopção de uma táctica firme, em que aqui tenho insistido, para concretizar a estratégia de alcançar o poder, reformar o Estado e recuperar o País. O PSD tem de mudar a táctica sado-masoquista, senão arrisca-se a uma vitória pírrica. Alinho cinco vectores da táctica do PSD:

  1. Atacar, com força e sem temor, a ruína do País, a corrupção de Estado, a loucura e a deriva ditatorial do socratismo, Sócrates e os candidatos socialistas (nomeadamente, Ferro Rodrigues, candidato a presidente da Assembleia da República; e Ricardo Rodrigues)
  2. Ser firme na impossibilidade de acordo pós-eleitoral do PSD com o socratismo e o PS.
  3. Insistir na necessidade de auditoria imediata e independente das contas do Estado e na publicação do estado real das contas públicas e dos indicadores económicos e estatísticos, a partir do trabalho da troika da Comissão Europeia/Banco Central Europeu e FMI. O primeiro exemplo de rigor e transparência verificou-se, neste sábado de Páscoa, 24-4-2011, quando a troika obrigou à inclusão no orçamento de Estado de 2011 do custo das parcerias público-privadas do Norte Litoral, Costa de Prata e Túnel do Marão, o que fez subir o défice de 2010, novamente, em 871 milhões de euros, para 9,1% do PIB.
  4. Subordinar a apresentação do seu programa de reequilíbrio orçamental do Estado ao conhecimento da real situação das contas públicas, pois não é possível planear sem conhecer a verdade. Importa ter a consciência de que é a esperança e não o sado-masoquismo que vence eleições. Não foi com os avisos de castigo que, num contexto semelhante, o Pasok venceu as eleições gregas de Junho de 2009, mas com optimismo -  além das promessas de aumento de salários de funcionários públicos, de pensões e dos salários mais baixos, de um pacote de investimento público e da demagogia de pagar a crise com aumento de impostos sobre os ricos... O PSD não tem de assumir agora como seu o programa da troika (como se denuncia no poste da Via Justa, «Um erro em versão revista e aumentada»). As medidas de austeridade que forem anunciadas - e pior se forem apresentadas com bastante antecedência - são sempre do tipo lose-lose (ou no-win): descontentam e fazem perder votos.
  5. Superar as divisões e escaramuças internas do PSD e expor a dissolução do Governo socialista, como a cisão entre Teixeira dos Santos e José Sócrates.

A batalha não é fácil. O socratismo não foi frito em fogo lento, como eu gostaria. Mas saíu chamuscado da demissão e pode ficar esturricado na bancarrota. Passos, e a direcção do partido, precisam de mostrar firmeza e consistência nas declarações públicas. E é preciso forjar uma frente unida e combativa que remova o socratismo do poder e crie as condições da restauração do País.


* Imagem picada daqui.


* Actualização: este poste foi actualizado às 12:05 e 20:35 de 25 de Abril de 2011.

Sondagens muito preocupantes



Os valores das últimas sondagens - a da Intercampus, para a TVI, de 12-4-2011 (ver depósito na ERC), que atribui 38,7% ao PSD e 33,1% ao PS;  a da Marktest para o TSF/Económico, de 20-4-2011 (ver depósito na ERC), que indica 35,1% para o PSD e 36,1 ao PS; e a da Eurosondagem, de 21-4-2011, para a SIC, Expresso e Rádio Renascença, de 21-4-2011, que dá 36,3 ao PSD e 32,7% ao PS - são muito preocupantes. Mesmo se não justifica a hipérbole da TSF, no seu tom épico-querido-líder, de a classificar como «recuperação histórica» (sic), conforme salientou, em 21-4-2011, o correspondente do Financial Times, em Lisboa, Peter Wise. Nota-se uma tendência de recuperação do Partido Socialista e de descida do PSD e também de subida do CDS-PP; enquanto o Bloco é penalizado pelos adeptos socialistas e o PC mantém a quota.

Mesmo num ambiente político contaminado como o nosso, não adianta menosprezar as tendências das sondagens, como erradamente, fizemos em 2009. Uma coisa são as sondagens das perguntas enviesadas encomendadas pelos editores de confiança - uma constante da imprensa dependente; e outra coisa são as sondagens em que apenas se perguntam intenções de voto. As empresas  de estudos de mercado deveriam recusar as sondagens com perguntas objectivamente enviesadas para provocar determinado resultado, porque isso prejudica a sua reputação, mas isso não acontece, restando-nos analisar e avaliar. E se não devemos negligenciar as sondagens também não as devemos aceitar acriticamente. E já que estamos em época de contrição, deve desconfiar-se mais da sua oportunidade, decididas pelos meios que as encomendam, e das campanhas que se preparam antecipadamente para explorar os seus resultados, do que dos resultados apurados.

Tratarei dos motivos desta tendência e do seu efeito no próximo poste.

sábado, 23 de abril de 2011

O reencontro do homem com Deus



A Paixão choca. Ainda que depois da morte, venha a ressurreição. No mundo de conforto em que vivemos o sacrifício perturba e enoja. É entendido como uma reminiscência de um tempo negro e repressivo do prazer. Todavia, vivemos já para lá do hedonismo, numa era de preguiça, em que o próprio prazer, que sempre envolve algum esforço, é preterido pelo dolce far niente. A inacção é uma evidência da abundância, do cansaço e da desmoralização. O homem está farto de tudo; cansado de um trabalho que não o enche; e desmoralizado pela falta de valores e de esperança.

Agora, o homem tem tudo e não tem nada. Tem todos os bens e todos os males. Os bens que lhe consolam o corpo e os males que lhe desconsolam a alma. Não produz porque não precisa e não se satisfaz com o trabalho porque não tem metas. Quanto mais defende absolutamente o nada, pois exalta a ideia do relativismo pós-moderno, mais vazio e perdido se sente. Sem sentido de vida, segue, frequentemente, a direcção da morte.

O homem culpa Deus pela desgraça actual do mundo, mas sente-se infeliz por não ser tocado pela Graça que o redimiria da fossa onde chafurda. Cria e adula bezerros de ouro, mas breve se desilude com a sua falsidade. Persegue o absoluto na matéria e acha-se só. Inebria-se-se com instantes e ressaca da sua fugacidade. Suspende a dor física, mas solta a dor espiritual. Aliena-se do mundo em que jura saciar-se e vicia-se. Dominado pelo egoísmo e pela inveja, fecha-se aos outros e cobiça o que não é seu. Deseja o calor dos outros, mas encerra-se na placenta fria da sua casa.  Busca a perenidade da espécie, mas aborta o seu futuro. Morre rendido à misericórdia, mas vive dorido de não crer.

Todavia, no princípio e no fim está a fé. A fé alimenta, alegra e puxa. Enche o coração, alegra a alma - mesmo na Paixão - e puxa pela vontade. A salvação está em Cristo. É Nele que descobrimos a plenitude. Paradoxalmente, esta fase de aflição financeira e de escassez material por que passam Portugal e os países do hemisfério norte pode levar o homem a sair de si, para se voltar para os outros e para Deus. E  reencontrando-se, finalmente, consigo próprio.


Nota: Este poste foi escrito na tarde de ontem, Sexta-Feira Santa de 2011, mas essa primeira versão perdeu-se, pois estou sem comunicações em casa (e com muito raros e muito breves períodos de acesso). A Portugal Telecom concessiona a manutenção da rede a empresas que sub-contrata. A desta zona chama-se Santos e Cordeiro, a qual adia, por ser aparentemente cara, a resolução de um problema por eles próprios identificado há mais de dois meses. Esperava-se que a política de sub-contratação da PT resultasse em melhor serviço, mas, por falta de supervisão e avaliação, afinal funciona pior.

«Sermão do Encontro», pelo padre Jorge Alves Barbosa

Nesta quadra pascal, em que passamos da dor da Paixão e da Morte à alegria da Ressurreição, transcrevo abaixo o «Sermão do Encontro», do Padre Jorge Alves Barbosa, pronunciado em Viana do Castelo, em 10-4-2011, a quem agradeço o envio deste notável texto, na forma e na actualidade do conteúdo.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

O silêncio e a palavra


Assisti à entrevista de D. José Policarpo, Patriarca de Lisboa, na RTP-1, na noite de 15-4-2011 (falta o linque do vídeo), na qual defendeu que o próximo Governo português deve ser o mais abrangente possível. Um alinhamento em que insistiu no programa da Rádio Renascença curiosamente intitulado «Portugal - Que Futuro?», em 20-4-2011, onde censurou «arranjos de circunstância» dos partidos e também criticou o Presidente da República, citando o Prof. Adriano Moreira, na mesma rádio, em 12-4-2011, que havia dissertado sobre o bom uso da palavra por Mário Soares e... Jorge Sampaio.

Na entrevista, D. José Policarpo manifestou discordância de mensagens da Conferência Episcopal e queixou-se de só saber de posições desta pela imprensa. Essa declaração invulgar, no sítio e no tom, não pode ser desenquadrada da eleição, prevista para a primeira semana de Maio, do presidente da Conferência Episcopal para o triénio 2011-2014. O arcebispo de Braga, D. Jorge Ortiga, reeleito em Abril de 2008, cumpre o último mandato, existindo a expectativa de escolha do bispo do Porto, D. Manuel Clemente, que, em 2008, tinha recusado essa possibilidade, apesar do resultado da votação inicial. D. Jorge Ortiga, foi reeleito, em 2008, numa segunda volta na qual teve mais votos do que o segundo candidato, D. José Policarpo, apesar da insistente campanha para que fosse D. José Policarpo o escolhido. É sabido que D. Manuel Clemente não é quem D. José Policarpo gostaria de lhe suceder no Patriarcado de Lisboa e esta eleição tende a ser entendida como primária da escolha pelo Papa do próximo Patriarca de Lisboa.

A despropósito do tema da entrevista, e do seu papel de entrevistadora, Fátima Campos Ferreira criticou várias vezes o facto do Presidente da República ter começado a comunicar com frequência directamente com os portugueses através do Facebook. Parece que os textos do Presidente incomodam a política de desresponsabilização e a barragem mediática de culpabilização do Presidente por não conseguir forçar o PSD a servir o PS...

O Prof. Cavaco Silva tem uma sina: é criticado pelos socialistas por dois motivos: por nada e por tudo. Pelo silêncio e pela palavra... O silêncio é de ouro e, quando não se adultera, a palavra é de prata.


* Imagem picada daqui.

O mistério de Teixeira dos Santos

José Sócrates não convidou Teixeira dos Santos para as listas de candidatos a deputados às eleições de 5-6-2011 - informa o Económico, de 21-4-2011.

O ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, foi desmobilizado da função de polícia mau, e passado à utilidade de bode expiatório da ruína socratina ) do País. Noto que a taxa de juro das obrigações do Estado português a cinco anos chegou a 11,51% e a taxa a dois anos subiu aos 11,18%, nesta manhã de 21-4-2011.

Um dia se conhecerá o motivo extra-político concreto e real da dependência de Teixeira dos Santos face a José Sócrates. O motivo por que Teixeira continuou a servir Sócrates, depois de verificar que não conseguia impor um limite, nem moderação, à política do desperdício do primeiro ministro, e de ruína financeira do Estado, e mesmo com a consciência de que seria sacrificado como bode expiatório da própria política que queria impedir.


* Imagem picada daqui.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

A política de quem-vem-atrás-que-feche-a-porta


Se os mercados não antecipam a bancarrota consumada, moratória e pagamento parcial da dívida do Estado português (por aí difundidos sob os eufemismos de default e haircut) para antes da última tranche do programa tri-anual de empréstimo do Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEEF) e do Fundo Monetário Internacional  a Portugal - ou seja Abril de 2014 - por que motivo os investidores nacionais e internacionais não comprariam os títulos de dívida (Bilhetes do Tesouro) de prazos curtos que o Governo emite, como hoje, 20-4-2011, de mil milhões de euros?... Outra coisa acontecerá com as necessidades de financiamento das empresas públicas, mas o Governo socialista apenas precisa de transferir o suficiente para lhes pagar salários e juros, atrasando os pagamentos aos fornecedores.

Esses títulos de dívida pública portuguesa de curto prazo - até dois anos - têm risco relevante? Sim, mas é o risco de o grande empréstimo do FEEF/FMI, de 80 ou 100 mil milhões de euros não ser concedido ou ser bastante atrasado. O que, apesar da oposição do provável parceiro de coligação finlandês, e dos opositores do apoio ao que chamam o Club Med na Alemanha, na Áustria, na Holanda, na Áustria e países nórdicos, e dos cépticos do euro, parece muito pouco provável. Portanto, os leilões de dívida a curtíssimo e a curto-prazo do Estado não ficarão vazios e os investidores emprestarão esse dinheiro. Não acredito que a tesouraria do Governo estoire antes das eleições de Junho de 2011 e convinha que os opinadores não se convencessem dessa probabilidade - aliás, Sócrates faria tudo, tudo, independentemente dos meios e das consequências, para que isso jamais acontecesse.

O problema desta política de quem-vem-atrás-que-feche-a-porta é que a slot machine onde o viciado Governo Sócrates enfia o dinheiro vai desbaratar ainda mais a riqueza sobrante do País, arruinando não apenas o Estado, mas também as empresas, as associações e os particulares.

A hipótese marxista de não pagar a dívida, ou de pagar apenas parte, não é viável para um País, que não produz para se alimentar a si próprio (nem desde o século XVI produziu). Quando a Argentina declarou bancarrota, depois de ter falhado pagamentos na última semana de 2001, tinha superavit alimentar e produtivo, podendo viver (muito mal) anos sem empréstimos externos. Mas se o delírio marxista do emprego-no-quadro-para-todos-os- precários - e que se lixem os desempregados que nem sequer recibos verdes têm... - e do não-pagamos (aventando o exemplo da Islândia, após a sua bancarrota, um país que nem sequer integra o euro ou a União Europeia) levasse os portugueses à loucura de aderir às promessas da esquerda radical, e a instituir um Governo que declarasse bancarrota, isso provocaria a falência dos bancos e das empresas e a insolvência das famílias, num contexto de desvalorização e depreciação acentuada da moeda, após a expulsão do euro. Os bancos e as empresas não teriam quem lhes emprestasse dinheiro. As famílias cairiam na insolvência, pois os montantes a pagar nos empréstimos contraídos passaria para o dobro ou o triplo na moeda nacional.

No futuro próximo do fogo deste artifício socialista, na fire-sale das privatizações-relâmpago a que o Governo será forçado para que as tranches de dinheiro vão chegando do FEEF/FMI, não  se esfumará apenas a Caixa Geral de Depósitos e outras jóias do Estado, mas também uma parte significativa das reservas de ouro. No final desta ordália que o socialismo corrupto, apoiado pela parte marxista dos eleitores portugueses (sim, a ideia invejosa de que o avanço económico do indivíduo não se deve fazer pelo trabalho, pela poupança e pelo investimento, mas abocanhando aquilo que é dos outros...), impôs a todo o povo, e inclusivamente a si própria, restará do País um farrapo e, então, talvez a centelha da recuperação moral que é a iluminação da recuperação económica e financeira e social do País pós-Estado social(ista). Até lá, e depois, sem conceder espaço às lágrimas, resta-nos, como sempre, o combate.


Pós-Texto (11:43 de 20-4-2011): Este poste foi escrito antes de conhecido o resultado da emissão de dívida de hoje, 20-4-2011, que o Governo conseguiu colocar. A partir do momento em que foi pedido o socorro financeiro, os mercados antecipam que haverá dinheiro no curto e médio prazo para pagar juros de empréstimos. Depois da emissão, à hora em que escrevo, a taxa de juro das obrigações do Estado português a cinco anos subiram aos mesosféricos 10,83% e a dois anos a 10,29%!... Caminhamos para os 22% na taxa a dois anos dos gregos...


* Imagem editada daqui.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Governo na contingência de empréstimo intercalar do FMI?

O envio do ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, à sede do Fundo Monatário Internacional (FMI), neste passado fim de semana, com a justificação floral do encontro da Primavera, sugere, para lá da preocupação do Governo socialista com a inspecção das contas públicas portuguesas pelos experientes técnicos do FMI, a eventual dificuldade em conseguir financiamento rápido do Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEEF).

O Governo socialista deve estar muito preocupado com a provável insistência do FMI na consolidação das contas do Estado português, pondo dentro do orçamento e da dívida pública, os défices e dívidas das empresas públicas (nomeadamente das empresas públicas falsas) e dos institutos públicos, mais a conta das parcerias parcerias público-privadas e os anexos dos contratos das obras socraónicas. Para tanto, Sócrates apela à solidariedade fraterna do francês Dominique Strauss-Kahn, como tem beneficiado do apoio alemão de Guido Vesterwelle.

A situação da tesouraria do Estado há-de ser tão aflitiva que o Governo deve estar a preparar segundo plano de contingência - à semelhança do socorro financeiro pré-negociado em Março de 2011 com a União Europeia - para a possibilidade de demora, ou reprovação, na concessão de financiamento pelo FEEF: um empréstimo intercalar, de curto-prazo do FMI. A situação foi provocada pela negligência do Governo socialista em pedir o socorro financeiro quando existia disponibilidade política geral para esse apoio, aquando do empréstimo à Irlanda, em Novembro de 2010. A justificação de que o Governo não quis fazê-lo nessa altura para negociar depois condições mais vantajosas está em contradição com a realidade actual. Dificilmente, o Estado não sofre algum género de bancarrota ainda durante o segundo Governo Sócrates com atrasos de pagamento de prestações sociais e devolução de IRS a todos os beneficiários (não vale a devolução selectiva em que se paga a uns e se atrasa na maioria).


* Imagem picada daqui.

domingo, 17 de abril de 2011

Domingo de Ramos



«Muitos estenderam as capas pelo caminho; outros, ramos de verdura que tinham cortado nos campos», Marcos 11: 8

Por agora, ainda vamos no Domingo de Ramos. Lá chegaremos à Sexta-Feira de Paixão, para expiar as culpas próprias, que são sempre mais duras de aceitar do que os pecados alheios. Mas devemos fazer do remorso do que não fizemos nem dissemos - e do que fizemos e dissemos mal - para nos emendarmos e melhorarmos a comunidade. Nas horas de tribulação é fácil desculparmo-nos com os outros. Mas é na consciência iluminada que encontramos a razão e a fé.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Um plano de reconversão profissional para jovens licenciados

A pedido de Pedro Correia, escrevi para o Delito de Opinião, o seguinte artigo «Um plano de reconversão profissional para jovens licenciados».



Um plano de reconversão profissional para jovens licenciados

Já para além da socratologia, é indispensável resolver o problema económico e social da «geração à rasca».

O problema não se pode reduzir à questão emocional dos Meninões (como traduzo os «bamboccioni»), pois, se é certo que as gerações mais novas dispõem de mais conforto familiar, elas estão constrangidas por uma entrada muito mais difícil no mercado de trabalho.

Não é só um problema de Portugal, nem sequer europeu, como nota Matthew C. Klein no artigo «Educated, Unemployed and Frustrated», no New York Times, de 20-3-2011, sobre a frustração desta «geração desesperada», onde refere o caso português. Consciente da perspectiva negra da economia e das finanças do Estado, o autor alerta para a previsibilidade de revolta, nos países desenvolvidos, dessa geração de jovens licenciados desempregados, que oscila entre 1/5 e 1/4  da sua coorte etária ou entre o quinto dos infernos e o quarto da casa dos pais...

Para resolver o desajustamento entre a oferta de trabalho (dos candidatos) e a procura de trabalho (dos empregadores) é mais viável agir sobre a oferta dos candidatos do que sonhar com a solução paternalista utópica do Estado que garantiria emprego para todos.  Enquanto a realidade não vence a ideologia, que, por causa da utopia da igualdade, se concentra na taxação dos rendimentos do trabalho e impõe uma fiscalidade proibitiva do desenvolvimento, em vez de se virar para a taxação do consumo e para formas mais eficientes de taxação da riqueza, defrontar-nos-emos com um impasse na contratação de trabalhadores. É sobre a mudança da oferta de trabalho dos candidatos que me concentro, visto que os remédios do lado da procura, como a subvenção da contratação, têm esbarrado, nos países onde (não!) funciona o desigual Estado Social(ista),  no custo insuportável do trabalho.

Eu creio que uma resposta do novo Governo ao problema da «geração à rasca» pode ser a criação de um Plano de Reconversão Profissional para Jovens Licenciados. Trata-se de, na medida dos recursos do Estado, partindo da reanálise das falhadas políticas em curso e da necessidade de reorientação de dinheiro para opções mais úteis e rendíveis, tentar criar e executar um plano de dimensão e desafio semelhante à G.I. Bill dos EUA, em 1944. O plano terá duas linhas de acção: um Programa de Especialização de Jovens Licenciados e um Programa de Aconselhamento Pessoal de Jovens Licenciados. Começo pelo último, a parte suave e também mais negligenciado, e depois sigo para a parte mais dura e de maior alcance.

Programa de Aconselhamento de Jovens Licenciados

Alinho os motivos e depois proponho uma resposta.

Da minha experiência de professor do ensino superior, e especificamente de cadeiras do ano terminal e de estágio, concluo, pelos resultados desse esforço, que o aconselhamento pessoal (mentoring) é um processo útil na orientação dos jovens e na sua mentalização da busca de oportunidades de trabalho.

A convicção entranhada nesta geração aflita é a de que as oportunidades são tão poucas que a probabilidade de encontrar trabalho na sua área é quase da mesma escala do que ganhar um prémio do Euromilhões. Mas, depois da criação, com um tutor (que pode ser o professor), de um projecto pessoal de verificação de competências e de vocação, de escolha do sector, de listagem de empresas e instituições, da referência de contactos pessoais, directos e indirectos, que podem fornecer pistas de trabalho, as oportunidades - várias - surgem e são exploradas metodicamente e com sucesso através de auto-candidatura. E a auto-candidatura resulta ainda melhor se for humilde, simples e directa.

Conseguir trabalho é hoje muito mais difícil aos candidatos e envolve muito mais esforço do que há cinquenta ou há trinta anos e a porta de entrada nas empresas e instituições é muito mais estreita. Mas as oportunidades são também mais vastas do que eram (a trilogia curta de médico, jurista ou professor) e a pesquisa organizada e intensa de trabalho compensa.

É claro que há cursos com maior empregabilidade do que outros. Talvez, até devamos, em vez da «empregabilidade», cunhar uma nova palavra, mais adaptada a estes tempos instáveis, sem a miragem do emprego clássico: trabalhidade - possibilidade de conseguir oportunidades de trabalho... Ou despir o conceito de empregabilidade desse albornoz pesado que é o objectivo da segurança, o qual manieta o candidato e o transtorna na miragem do tal emprego para toda a vida e bem pago logo à entrada.

Importa admitir que, ao contrário do que sucedia há uma ou duas gerações atrás, existe uma barreira do talento à entrada no mercado de trabalho. Ou seja, enquanto nas duas gerações anteriores, por falta de profissionais suficientes (médicos, enfermeiros, juristas, professores, engenheiros) num mundo que estava em desenvolvimento económico acelerado, existiam empregos - empregos para a vida - disponíveis e relativamente fáceis de aceder para quem concluísse o curso, agora, à parte a cunha, as contratações nas funções clássicas, e também noutras, são menores, mais criteriosas e os processos de selecção mais exigentes. Os motivos são fundamentalmente a depressão económica e, no delírio esbanjador do Estado Social, o aperto financeiro resultante de obrigações incomportáveis dos Estados, entre as quais se destaca a subvenção da preguiça e os direitos (mal)adquiridos - como podia o Estado ter assumido pagar um total de dois milhões de dólares de pensão de reforma (nem Bill Clinton recebe isso...), por exemplo, a um funcionário da Conservatória do Registo Predial, com o 5.º ano dos liceus, que se retirava aos 54 anos?!... O talento, aquilo que as empresas tentam descobrir nos candidatos, não é distribuído uniformemente por Deus Nosso Senhor, e existem candidatos com pouco ou sem vocação para a função que pretendem, teimando nela por conforto dos pais.

As novas gerações são também sujeitas a uma espécie de colete de forças da cultura e da pressão das gerações anteriores, criadas no referido paradigma do emprego fácil e seguro, que lhes atrofia os músculos da conquista de oportunidades e lhes distrai a energia da resolução do problema do trabalho. Esse paradigma, obsoleto mas que ainda permanece na mente dos que lhes provêem cama, mesa, roupa lavada e semanada, enquanto os pressionam para um resultado desejado inserido no seu modelo, desvia os jovens da procura do trabalho-como-hoje-existe e ainda do risco. Isto é, o modelo anterior era virado para o emprego por conta de outrém, entendido como uma solução mais tranquila, em vez do auto-emprego e da empresa.

Ora, nesta era de redução de postos-de-trabalho - expressão que é um conceito ideológico a vencer, pois supõe imutabilidade -, o auto-emprego e a criação de empresa são também opções válidas, até por requererem hoje bastante menos capital do que nas décadas precedentes. Porém, intervir sobre a oferta de trabalho com a pedagogia do empreendedorismo é um processo lento, pois implica a mudança de mentalidade. As teorias deterministas (do lado da oferta) sobre a origem do empreendedor entendem que o empreendedor é, ou não é, e não se produz. Mas, se, ao contrário, eu acredito que é possível incentivar o empreendedorismo com a melhoria das condições ambientais (capital, trabalho, concorrênci e regulação pelo Estado), sei que essa evolução é mais demorada.

Assim, proponho a criação de um programa de aconselhamento pessoal que consista na orientação individual dos jovens licenciados por professores do ensino superior da área técnica do seu curso ou de formação relacionada, através de gabinetes de aconselhamento nas próprias escolas que os alunos frequentaram, ou de áreas relacionadas ou de outras formações e profissões que os jovens licenciados queiram explorar. O que o Estado pouparia em subsídios de desemprego destes jovens, mais do que compensaria o financiamento destes gabinetes nas faculdades e institutos. Não seria necessário contratar técnicos para esta orientação, já que alguns professores poderiam assegurar, com vantagem técnica, este serviço. Basta criar um gabinete por escola, com logística muito simples, e com financiamento do Ministério do Emprego. A novidade é que a orientação não seria feita pelos técnicos dos centros de emprego, que tanto atendem o pedreiro como o administrativo, e que não estão especialmente vocacionados para o atendimento e informação de licenciados de formação e interesses elaborados.

Este programa é mais simples e mais barato, mas permitirá ter elevada rendibilidade. O aconselhamento pessoal tem sido negligenciado porque o poder opta por pacotes de respostas colectivas, frequentemente ineficazes, mas com maior notoriedade. Porém, mais grave do que as expectativas desafinadas e a pesquisa elementar, é o desajustamento entre as condições da oferta e da procura.

Programa de Especialização de Jovens Licenciados

Analiso a situação e a seguir apresento uma solução.

Existirão sempre casos de desajustamento entre formação e oportunidades, havendo sectores e funções em que só os candidatos de extraordinário talento ou com conhecimentos pessoais, têm entrada. Nesses casos, a reorientação profissional é necessária, seja dentro do domínio da formação adquirida mas para nova função e sem necessidade de frequência de novo curso, seja para uma formação especializada em nova licenciatura ou pós-graduação.

Actualmente, o Estado já criou programas de formação no ensino básico e secundário  - Cursos de Educação e Formação de Jovens (CEF) e Cursos de Formação Profissional - em que a formação já é financiada (alimentação, transporte, material escolar), e, noutro nível, os Cursos de Educação e Formação de Adultos (EFAs), além da habitual formação profissional desgarrada dos centros de emprego e de formação, na qual desempregados saltam de curso financiado em curso financiado, criados à escala local para dezenas de formandos de experiência e interesses diversos e com resultados penosos.

Porém, o Estado nada criou para o ensino superior, à excepção do programa dos Maiores de 23 Anos, que alargou, além dos chamados «exames ad hoc», a possibilidade de candidatura ao ensino superior de adultos com formação básica e secundária incompleta - um programa que tem sido um êxito de qualificação porque as escolas de ensino superior não são constrangidas, como nos níveis anteriores, a passar alunos inaptos e que não se esforcem.

Portanto, a exemplo dos níveis de ensino básico e secundário proponho que o Estado crie, integrado no acima referido plano,  um Programa de Especialização para Jovens Licenciados: um programa nacional da frequência por esses jovens licenciados de novas licenciaturas, de especializações e de pós-graduações. O programa proporcionaria: vagas adicionais nos cursos, em quantidade suficiente para o número de jovens desempregados licenciados existentes, nomeadamente naqueles de natureza mais prática e de maior procura de trabalho pelos empregadores; um mecanismo rápido de atribuição de equivalências; financiamento através da atribuição de uma bolsa para propinas paga às escolas superiores e um subsídio modesto para despesas do estudante (valores a descontar nos casos em que o indivíduo aufira de subsídio de desemprego ou de rendimento social). Não há que temer que os licenciados se desinteressem do programa por ser longo, na medida em que, com o processo de Bolonha, a duração das licenciaturas foi reduzida e, além disso, raramente a entrada seria ao nível do primeiro ano, pois o aluno teria créditos do curso anterior; já no caso de pós-graduações, especializações e mestrados (parte-curricular), o horizonte temporal seria de cerca de um ano, ou menos no caso da formação especializada.

O Estado canalizaria, assim, recursos da subvenção directa do jovem desempregado licenciado para a sua formação especializada no ensino superior e conseguiria, a médio-prazo, uma solução de empregabilidade para jovens licenciados desocupados, para além da poupança de dinheiro, da maior arrecadação de receita fiscal resultante dos novos empregos e, principalmente, maior bem estar económico e social dos jovens e das suas famílias.



Em conclusão, entendo que este Plano de Reconversão dos Jovens Licenciados, que proponho, nas duas linhas de acção referidas - Programa de Especialização de Jovens Licenciados e Programa de Aconselhamento Pessoal de Jovens Licenciados - poderá constituir uma solução útil para o problema do desemprego da geração à rasca.

Não podemos adiar a necessidade de auto-realização dos jovens. A não ser que queiramos desperdiçar a vida, o valor e a esperança, de uma geração justa.



Actualização: Este poste foi actualizado às 10:20 de 7-4-2011. Este texto acima sofreu algumas pequenas emendas relativamente à versão que saíu ontem, 7-4-2011, no Delito de Opinião.