sábado, 29 de abril de 2017

Os sete pecados capitais de Putin




Enquanto não assenta a poeira do vento frio e seco da história contemporânea, que limita o alcance das tendências e fustiga os povos aburguesados, importa marcar uma posição firme da direita moderada cristã democrática ocidental contra o expansionismo russo de Vladimir Putin.

Putin não é um líder político virtuoso. Pelo contrário, devem ser-lhe apontados sete pecados capitais:
  1. Putin é um tirano, sanguinário, antidemocratico, opressor da liberdade e perseguidor de adversários que manda abater através de assassínios cénicos com intuito pedagógico de impor o medo da sua crueldade às elites e ao povo.
  2. Putin funciona ao modo dos ditadores soviéticos do centralismo do poder ou czares russos, chamando a si a riqueza do Estado, com operacionais oligarcas que dirige para domínio económico e serviços de política externa.
  3. Putin elaborou e pratica uma política expansionista de satelitização dos países limítrofes e não se acanha de estabelecer sangrentas testas de ponte militares naqueles que resistem ao seu controlo.
  4. Putin, beneficiando da passividade dos adversários externos, avançou para o controlo de potências ocidentais, através do financiamento de aliados  na extrema-esquerda ou extrema-direita (tanto lhe faz...), após controlo por kompromat,e espionagem eletrónica (e humint...), nomeadamente nos EUA e em França (Marine Le Pen).
  5. Putin controla Donald Trump, através de kompromat antigo e dos favores de fornecimento de informação e de desestabilização da eleição presidencial norte-americana de 2016, pois, de outro modo, atendendo ao registo de comunicações da NSA e o poder da CIA, não seria possível ao magnate imobiliário ganhar a presidência (tal como hoje, pelo mesmo motivo, e nomeadamente em Portugal) é quase impossível a qualquer força da oposição ganhar eleições no ocidente
  6. Putin usa o cristianismo como instrumento ideológico de expansão meridional e como fator de embaraço das desorientadas e medrosas elites ocidentais relativistas. mais do que qualquer cruzada anti-islâmica (o Irão chiita serve-lhe de aliado no Médio-Oriente...).
  7. Putin tem a economia russa em crise estrutural, devido ao controlo estatal através da sua rede de oligarcas, e projeta o domínio de países, como a Síria, mediante a projeção militar, como meio de saque de riquezas naturais e cobrança de tributo de defesa.
Portanto, Putin não pode ser modelo político para nenhuma pessoa de bem, nem ser aliado do Ocidente que entende como adversário principal.


* Colagem picada daqui.

domingo, 16 de abril de 2017

Redenção



Na Páscoa, ocorre a redenção. Uma ressurreição da alma primitiva. Um passo mais neste trajeto variado, trôpego e sinuoso, em que seguimos por atalhos ingénuos, sobre obstáculos tamanhos e por desvios do trânsito reto. De alfa a ómega, perdemo-nos por todas as letras do alfabeto em que nos lemos gregos. Contudo, chegamos. Variadamente chegamos

Crer é ter esperança de que querer sucede. De que podemos... se. Na verdade, a perfeição tangível não é a ausência de pecado, mas a procura sincera da Graça. Engana-se o homem que supõe em si a capacidade do serviço constante da consciência e, além dele, do exercício pleno da doutrina. Isso não significa uma resignação com o pecado: corresponde à condição humana, imperfeita e limitada.

Na luta que dentro de nós damos, entre a tentação e o sacrifício, ganhamos quando a fé persiste e perdemos quando a fé amolece. E, quando caímos, cada hora é de ressurgir na fé e de reerguer a vontade sobre o prazer. A quietitude fica para o encontro final. Até lá, importa assumir a convicção cristã e trabalhar no serviço dos homens para a glória de Deus.

quinta-feira, 13 de abril de 2017

A Geração Florzinhas de Estufa


«You are not special. You are not a beautiful and unique snowflake.» 



Por interesse cultural e ofício de professor, tenho refletido muito sobre marketing geracional, isto é, o estudo dos valores e comportamentos próprios de cada geração, e pedagogia consequente com essa distinção. A ideia de geração é de cada coorte é marcada por acontecimentos que se derem na adolescência e juventude e que os marcam para o resto da vida, gerando uma atitude própria que tende a manter-se independentemente da idade.

O caso dos distúrbios de Torremolino pelos jovens do ensino secundário em viagem de finalistas nas férias da Páscoas, referido nesta excelente crónica do Prof. Pedro Afonso, no Observador, de 12-4-2017, justifica uma reflexão profunda por parte de pais, educadores e Estado. Não é apenas o excesso do rito de passagem - que as viagens de finalistas são - que preocupa. Mas a relação dos jovens com os pais, os educadores, as instituições e o Estado.

Creio que a melhor designação da geração nascida em 1995 e depois (e que tem agora 22 anos ou menos) é a de Geração Florzinhas de Estufa. Há um excesso de preocupação com o seu bem estar emocional pelos pais e educadores. Criam e mantém os jovens em estufas de auto-estima, como florzinhas delicadas em ambiente, umas "safe zones" que só permitem medrar em condições ótimas de pressão e temperatura. O resultado é uma geração impreparada para enfrentar a dureza e impiedade da vida.

Este nome de Florzinhas de Estufa, que proponho, parece assentar melhor do que Flocos de Neve (Snowflakes), que se vai consolidando nos EUA, sobre outros nomes equívocos: Nativos Digitais, Geração da Net (Net Gen), Geração Tecnológica (Gen Tech), iGeração (iGeneration), Geração das Consolas (Gen Wii), Plurais, e até Geração Z. As fontes de informação são abundantes e não existe um consenso sobre quando começa e quando acaba cada geração. Todavia, pode arriscar-se uma divisão adequada à circunstância portuguesa e europeia: Geração dos Maduros ou Tradicionalistas (1930-1945); Geração do Pós-Guerra ou baby-boomers (1946-1963); Geração X (1964-1977); Geração Y dos Milenários-Millennials (1978-1994) e Geração Z (1995-?).

Entre outros, têm sido referidos vários factos identitários desta geração:
  1. emocionalmente muito frágeis, sentimentais e facilmente deprimidos;
  2. individualistas;
  3. empreendedores;
  4. desfocados;
  5. multi-tarefas;
  6. ambiciosos;
  7. ousados;
  8. competitivos;
  9. procuram o grátis e custos baixos;
  10. começam mais cedo a trabalhar e conciliam estudos com o trabalho (arrastando a conclusão dos cursos...);
  11. menos consumidores de drogas e álcool do que a geração anterior, mas maior excesso dos consumidores;
  12. espontâneos e instantâneos;
  13. fiéis a marcas;
  14. estilosos;
  15. globalistas;
  16. viciados em jogos digitais;
  17. permanentemente em linha;
  18. inocentes;
  19. gostam mais de videos, fotos e memes, do que postes e textos;
  20. música, música, música;
  21. direto e imediato, em vez de editado ou passado;
  22. mais Instagram, Whatsapp e Snapchat, do que Facebook ou Blogger;
  23. horror a atividades «chatas»;
  24. hoje!, hoje!, hoje!;
  25. prazer, e não frugalidade nem temperança;
  26. menos trabalhadores;
  27. procastinadores;
  28. zelosos com o seu tempo, que querem dedicados a atividades que lhes tragam prazer;
  29. maior interação virtual, consumo de serviços e experiências; do que comunicação face-a-face e acumulação de produtos (coisas).
  30. mais utilizadores do que possuidores, mais renda e aluguer do que compra;
  31. informais;
  32. privados na informação pessoal;
  33. ausentes dos meios coxos não interativos (televisão, rádio, 
  34. rústicos nas roupas e adereços, nas mobílias e espaços (hostels em vez de hotéis, Primark em vez de Zara, Lx Factory em vez de centros comerciais luxuosos);
  35. adoram viajar e aventuras de novas atividades e lugares;
  36. desprezam a política;
  37. desligados das instituições tradicionais;
  38. sozinhos, auto-educados por permissividade ou ausência dos país;
  39. menos relativistas do que os antecessores, ainda perdidos, mas à procura de direção e valores.
  40. embriões do pós-relativismo.
Este catálogo de atributos, que arrisco, são paradoxais, mas expressam a contradição a que esta nova geração está sujeita. Vivemos tempos de fim de uma era relativista, totalitária, ainda sujeitos à ditadura do politicamente correto que está em estertor e por isso é mais violenta. A fragilidade dos nossos jovens é o resultado da educação «politicamente correta».

Há sinais preocupantes de falta de preparação desta geração. Mas a comodidade será infelizmente resolvida pela guerra que vivemos e que as eliters desprezam. Até que a guerra híbrida das ruas, ainda morna, aqueça, será útil que o ambiente mediático relativista, os pais e os educadores e as autoridades (nomeadamente, nas regras de consumo de álcool e drogas!) não podem deixar de ser... pais e educadores e autoridades! Nem os jovens desprezarem a sua responsabilidade. Contudo, nesta nova geração, o saldo de qualidades sobre defeitos é positivo, principalmente para a construção de uma nova era pós-relativista.


Atualização: este poste foi atualizado às 11:52 de 16-4-2017 e às 9:52 de 17-4-2017.

segunda-feira, 10 de abril de 2017

Páscoa: martírio e combate



Ontem, 9-4-2017, Estado Islâmico da Síria e do Levante atacou duas igrejas no Egipto durante a celebração do Domingo de Ramos, através de bombistas suicidas, matando 44 cristãos e ferindo mais de uma centena. Os atentados foram perpetrados na Catedral de São Marcos em Alexandria (cuja missa estava a ser transmitida, em direto, na televisão egípcia quando ocorreu a explosão)  e na Igreja de São Jorge, em Tanta, ambas no Egipto. Lembrei-me da anáfora do padre Lereno, na Rádio Renascença dos perigosos tempos pós-revolucionários: «Cristo é crucificado hoje!». É: a Páscoa chegou mais cedo... A morte teve uma vitória, temporária.

São atentados lá longe, que o racismo cínico despreza: os 5 mortos da Suécia provocaram mais notícias e consequente indignação do que os 44 do Egipto... Noticiar massacres de cristãos é politicamente incorreto... 

O genocídio e a limpeza étnica dos cristãos - coptas, maronitas, gregos-melquitas, siríacos, caldeus e arménios - do Médio-Oriente continua no Egipto, depois do Líbano, do Iraque e da Síria. Os cristãos foram os sacrificados da aventura geopolítica norte-americana e europeia de regime change, para travar a influência iraniana. Como se o desastre iraquiano nada tivesse ensinado a Obama e aos líderes europeus, que fomentaram as chamadas «primaveras árabes» que devastaram os países em guerras civis de iniciativa sunita radical e abandonaram os cristãos ao azar do martírio. A guerra na Síria tem origem não apenas no financiamento dos países sunitas da Arábia, mas também no apoio militar norte-americano.



Putin aproveita o vazio e o medo, alargando as fronteiras russas na Europa, alcançando a velha ambição de chegar ao mar quente através da aliança ruso-chiita com o Irão, os 65% de iraquianos chiitas, a Síria dos alauítas de Assad e o Líbano do Hizbala - até com o novo sultão Erdogan (ao modo do Imperador Ivan III. Não se contenta com isso, e influencia as eleições norte-americanos, com chantagem sobre a administração Trump, enquando financia, e ajuda na informação, a extrema-direita europeia. Uma extrema-direita fascinada com o autoritarismo de Putin e esquecida de que este é... russo.



Nada de novo. Em 1978-1979, Giscard d'Estaing, ávido do controlo do petróleo pérsico por empresas francesas, e depois, James Carter, um pacifista ingénuo, descalçaram os militares e aliaram-se ao manhoso aiatola Khomeini, arriscando a o apoio ao clérigo que desencadeou a revolução islâmica no Irão. O Próximo-Oriente ficou mais longe, e atolado em conflitos étnico-religiosos.

A desumanidade do Islão radical tem de ser revertida. É necessário promover a reforma do Islão, atualizando a doutrina bélica original do Corão e dos Ditos para uma versão pacífica e respeitadora dos crentes de outros ritos e religiões e dos não-crentes. Um combate cultural e político para enfrentar a guerra híbrida das ruas europeias e das redes de comunicação mundiais. Em vez da negação da ameaça da ideologia radical e da expetativa de que os serviços de informação e as polícias resolvam o problema, investigando virtualmente e detendo umas dezenas de indivíduos... É uma patetice, pensar que o mal se limita ao isolar meia dúzia de árvores contaminadas, negligenciando a moléstia que afeta a floresta. Para lá da repressão dos atentados, é a ideologia que importa combater. Islão significa «submissão» - a paz da doutrina fundamentalista é uma falácia.

E não se pode esperar que sejam os governos dos países do cordão islâmico, que está a apertar a cintura do globo até rebentar, porque são eles mesmos poderes quem promove a leitura radical dos textos fundamentais como instrumento político de domínio do povo e ameaça dos países adversários. A reforma cultural deve desenvolver a exegese pacífica da doutrina e resolver o nó-górdio do conflito islâmico com o norte do globo: a emancipação da mulher - como indica Bernard Lewis.  Só com a reforma religiosa do Islão e a reforma cultural das sociedades agora sujeitas a ditaduras de comportamento em que a mulher é um ser inferior e o não-crente um subalterno, se pode vencer a III Guerra Mundial em curso.

O padrão de governo não pode ser o califado com uma sociedade civil submissa. A reforma do wahabismo, versão do Islão que a Arábia incentiva - comparada à Reforma luterana -, acentuou a severidade fundamentalista da doutrina. A reforma religiosa será um meio de laicização da sociedade muçulmana, com o poder político separado do poder religioso, com liberdade de culto e de vida, com a ciência, a cultura e as artes, alforriadas do grilhão arcaico, a economia a renascer e o bem estar a emergir.

Um combate cultural e político do Ocidente contra o Islão radical, semelhante ao que derrubou o poder comunista no mundo. No mundo... à exceção de Portugal, aparentemente esgotado pela mama da cobra comunista que nos vai infestando as fazendas, engolindo os valores e estrangulando a liberdade...