quarta-feira, 3 de maio de 2017

O caso Madeleine McCann revisitado: comunicação não-verbal e pontas soltas



Por ocasião dos 10 anos passados sobre o desaparecimento da menina Madeleine Mccann, na praia do Luz, indico uma análise muito aguda da comunicação não-verbal dos pais, Kate e Gerry Mccann, sobre uma entrevista recente do casal: https://youtu.be/N6uQNt969DQ. Neste blogue, na altura do crime e depois, escrevi bastante sobre o caso.

Destaque ainda para o garboso esforço persistente do inspetor-chefe Gonçalo Amaral na descoberta e exposição da verdade, de que é exemplo a louvável reportagem da CMTV, de 1-5-2017, de reconstituição da noite do crime e de referência de novas pontas soltas da investigação.

Para além da tese já conhecida da eventual morte acidental da menina por administração do anti-histamínico Calpol (de efeito soporífero), surge agora a pista do seu eventual congelamento num apartamento alegadamente frequentado pelo grupo dos McCann e amigos (onde? Para quê?), para onde o pai a poderia ter levado. Note-se que uma testemunha irlandesa disse ter visto um vulto na noite do desaparecimento que lhe pareceu depois ser Gerry McCann, com uma criança ao colo. O congelamento explicaria o fluido de ADN da menina encontrado no carro alugado cinco semanas depois e usado pelos McCann.

Outra pista aberta nesta reportagem da CMTV, de 1-5-2017, foi a  alegada possível introdução noturna do corpo da menina maddie na urna de uma pessoa falecida e depois cremada, pois terão sido avistados vultos com um saco a entrar na igreja - parece ter sido descartada a alegada hipótese de sumiço posterior do corpo da menina no trajeto para Málaga.

Foi ainda mencionada nesta reportagem da CMTV a pena de não terem sido  realizadas escutas - subentende-se, escutas telefónicas e ambientais - do casal, e dos seus companheiros de férias ingleses. Ficou por explicar se as escutas foram pedidas pelo inspetor, e negadas pelo Ministério Público ou pelo juiz de instrução. É útil que o inspetor Gonçalo Amaral esclareça.

Por fim, em minha opinião, parece evidente a pressão política exercida pelo governo britânico, através do seu embaixador e eventualmente outros canais, sobre o governo Sócrates, e indiretamente sobre a própria Polícia Judiciária. O ministro da Justiça Aberto Costa, e depois Alberto Martins, que lhe sucedeu, poderiam clarificar este assunto.

Sem ser necessário chamar qualquer teoria de conspiração, o eventual envolvimento de nacionais de um país num caso criminal noutro, ainda mais se for globalmente mediático como tende a ser o desaparecimento de meninos, é algo que leva as autoridades desse país a interceder na sua defesa, protegendo ao mesmo tempo a reputação nacional. Ao mesmo tempo, o assunto do desaparecimento de uma menina, é muito incómodo para o governo do país onde o crime aconteceu. O governo do país onde o crime aconteceu também quer preservar o bom relacionamento com o país de origem dos envolvidos e resguardar-se de acusações de xenofobia da sua polícia que afeta mais o fluxo turístico do que o sentimento de insegurança gerado por um crime raro. Os envolvidos - e os média que também pressionam o governo de origem para a proteção dos suspeitos - também exploram esse sentimento xenófobo a seu favor.

No delta de interesses, que transvasam da bacia de lágrimas da comoção do crime para o pântano político onde se decidem as magnas questões de Estado, impõe-se o poder da nação mais forte sobre a fragilidade da nação dependente e pretensamente incivilizada. E os alegados suspeitos da nação superior, politica, cultural e mediaticamente, anglo-saxónica ou outra, tendem a livrar-se das penas: repare-se nos exemplos de Amanda Knox e de Joran van der Sloot. Na batalha mediática que se segue, ganha o partido da solidariedade nacional pelos envolvidos da «nação superior» sobre qualquer prova que não seja ostensiva, gritante e indesmentível, maxime a sua confissão. Aliás, como quando se trata de suspeitos com grande poder mediático sobre qualquer pobre de Cristo. E quando a verdade, finalmente como é comum, se sobrepuser à água suja do banho político e racista, os Estados, os média e os povos que tomaram partido pelos suspeitos, perdem pouco tempo a escusar-se das culpas, quando não as negam ou ignoram. As vítimas, duplamente sacrificadas, pelo crime e pela injustiça, só podem ter a certeza do descanso eterno onde Deus as acolhe e conforta.



* Imagem picada daqui.


Disclaimer (limitação de responsabilidade): Kate e Gerry McCann mencionadas nas notícias, que comento, que chegaram a ser arguidos no caso, não são considerados suspeitos de qualquer ilegalidade ou irregularidade nos inquéritos sobre o assunto, e insistem que a menina foi raptada e não morta.

3 comentários:

Anónimo disse...

Por acaso acho que um inspector que fez parte da comissão de honra da candidatura de um traficante de droga às eleições de um clube de futebol não tem credibilidade nenhuma (ainda bem que os jornais ingleses nunca pegaram nisto, senão era mais uma vergonha para a PJ...). O que me parece é que a investigação foi uma grande barraca e depois tentaram arranjar teorias para entalar os pais, só que os McCann não são os algarvios que fizeram desaparecer a Joana.

Uma polícia como deve de ser apresenta provas, não inventa teorias para vender livros, pondo em causa o direito à presunção da inocência dos outros.

Anónimo disse...

... «Neste blogue, na altura do crime e depois, escrevi bastante sobre o caso.»
escreveu Vexa (abc). Procurei e nada encontrei excepto uma referência recente onde elogia uma senhora que também andou a procurar a Verdade.

Cumprimenta def

Unknown disse...

Claro. Temos de ser todos pelo Ronaldo, pelo Mourinho e pelo Inspector Amaral, pois os portugueses têm sempre razão.