domingo, 15 de maio de 2011

O desprezo elitista pelas alegações de abuso sexual - o caso Strauss-Kahn

Dominique Strauss-Kahn (DSK), director-geral do FMI e candidato socialista favorito à presidência da República francesa, foi preso ontem, 14-5-2011, já no avião da Air France que se preparava para partir para Paris, sob acusação de acto sexual criminoso (agressão sexual), violação tentada e sequestro, a uma criada do Hotel Sofitel, onde estava instalado.



O New York Post, de 15-5-2011, refere que Strauss-Kahn terá «alegadamente sodomizado» a mulher, de 32 anos - já o NY Daily News, de hoje, diz que Strauss-Kahn obrigou a empregada do hotel a sexo oral. O New York Post, que é mais detalhado, diz que a empregada terá entrado, pela uma da tarde de sábado, para limpar a suite do Sofitel de New York (de 3 mil dólares por noite), julgando-a vazia. Segundo relata o jornal, Strauss-Kahn, casado em terceiras núpcias com a jornalista  Anne Sinclair, estava no casa de banho e, alegadamente, perseguiu-a pelo corredor, puxou-a para o quarto, ela libertou-se, mas ele agarrou-a novamente e arrastou-a para a casa de banho, onde a agrediu sexualmente, tendo ainda tentado fechá-la na casa de banho. Ainda de acordo com esse jornal, a polícia de New York acredita que Strauss-Kahn, que terá deixado o seu telemóvel e outros pertences pessoais no quarto do hotel do hotel de onde saíu à pressa, tentava fugir às autoridades. A empregada do hotel foi levada de ambulância para o hospital, onde foi tratada a pequenas feridas. Strauss-Kahn, que continua detido, já negou as suspeitas.

A empregada trabalha há três no hotel e o seu desempenho e comportamento são descritos como totalmente satisfatórios pelo director do hotel Sofitel, o português Jorge Tito.

Strauss-Kahn já tinha sido referido em 2008 num caso de alegado abuso de poder no FMI (caso Piroska Nagy), noutro de favoritismo com contorno sexual nesse mesmo ano (o caso Émilie Byhet) e ainda num caso de agressão sexual à jornalista Tristane Banon em 2002, na sua garçonnière. Apesar disso, DSK era mais censurado pelo estilo sumptuoso de vida: soberba penthouse na Place des Vosges da capital francesa, além de outro apartamento em Paris, ultra-luxuoso riad em Marraquexe, valiosíssima colecção de obras de arte, hotéis sofisticados, Porsche Panamera, que justificou ser emprestado, alfaite de luxo em New York. Mas, como sabemos de experiência feita, casas caras, carros raros e alfaites finos, não parecem ser problema para os votantes da esquerda-caviar (e da esquerda cuscus) europeia. E acrescento que nem sequer o abuso sexual. A incoerência entre o carácter e o discurso não preocupa minimamente o eleitorado da esquerda europeia.

Com este caso nova-iorquino de alegada nova agressão sexual até o insuspeito Monde conclui que a candidatura de Strauss-Kahn à presidência francesa tem poucas hipóteses de se concretizar. Mas veremos como os media tratarão este caso de alegada violação em comparação com o caso Berlusconi de alegada prostituição com raparigas (de 17 anos...), pelo qual está a ser justamente julgado em Itália.

O ainda director-geral do FMI - e protector dos países europeus gastadores - não tem imunidade diplomática e, num julgamento que poderá começar já daqui a três meses, as penas máximas previstas nos EUA para as acusações que sobre ele impendem são pesadas, em comparação com as europeias: acto sexual criminoso ou agressão sexual (15 anos de pena máxima), violação tentada (15 anos) e sequestro (5 anos). A justiça norte-americana é muito mais dura, na pena, na aplicação da lei pelos tribunais e pelas polícias (como reconhece o José) e mais moderna na fundamentação teórica do que a portuguesa - veja-se o caso doloroso da ilibação pelo Tribunal da Relação do Porto da alegada violação de uma grávida de oito meses, em depressão profunda, pelo seu psiquiatra - acórdão do processo n.º 476/09.0PBBGC.P1, de 13-4-2011.


Pós-Texto 1: mais informação sobre o caso Strauss-Kahn no New York Post, no New York Daily News, no NYTimes, no WSJ, no Libération e no Monde, de 16-5-2011. O Figaro, de 16-5-2011, repete imputações de Michel Debré, de que Dominique Strauss-Kahn seria, alegadamente, um delinquente sexual, que já havia relatos sobre casos seus em França e na Bélgica, e que já tinha agredido outras empregadas no Sofitel, de New York, onde ficava, apesar de ter um apartamento (do FMI) na cidade.


Pós-Texto 2: escrevi o texto acima sem ter lido, a crónica «Strauss-Kahn and the European left», de Robert Kuttner, no mesmo sentido, que há pouco descobri no rápido Hunffington Post. Escreve Kuttner:
«O comportamento pessoal descuidado e faustoso de Strauss-Kahn é sintomático de uma doença profunda que afecta a esquerda europeia. O problema não é que pessoas como Strauss-Kahn exibam a sua riqueza, mas que partilhem a perspectiva financeira dos ricos.» (Tradução minha)
A acumulação financeira, o consumo luxuoso (casas, carros, arte, roupas, hotéis, restaurantes, etc.), o abuso sexual, de alguma esquerda europeia decorrem da sua posição de poder. E são tanto maiores, e mais depravados, quanto o serviço funcional à sociedade, que se tornou esquerdista devido à preguiça, beneficia da imunidade penal e mediática que essa representação incoerente presta e... cobra. Nem sequer existe a vergonha de ostracizar os casos de políticos expostos nas suas taras compulsivas: a imprensa omite que não existiram as imputações (múltiplas) e o povo finge ter-se esquecido - e o resultado são novos episódios de um comportamento cujo padrão já tinha sido descoberto. O povo, que virou ideologicamente à esquerda, perdoa o roubo e o mal que os políticos bandidos lhe fazem pelo bem que lhe sabe a sua política pródiga. Quem vier atrás que feche a porta do País. A dissonância cognitiva de grande parte da maioria ideológica de esquerda é resolvida pela dúvida irrazoável das provas evidentes, pela protecção selectiva dos media dependentes da aristocracia socialisto-burguesa e peloo veredicto da sua camarilha judicial. «Ainda não provaram nada» - dirá o povo, que ainda não provou o suficiente...

O ex-todo-poderoso Strauss-Kahn, detido,  no avião em que partia  à pressa para o recuo francês, cerca de quatro horas depois da alegada agressão sexual e tentativa de violação de uma emigrante africana, guineense (Conakry, Equatorial ou Bissau?) casada e mãe a quem mandaram limpar o quarto que supunha vazio, apresentado algemado à imprensa pela polícia norte-americana em trânsito da esquadra, depois de muita demora por alegada recusa de permissão de colheita do seu ADN (que só terá consentido quando a política se prestava para obter um mandado judicial que o obrigava), que era antes apelidado de «grande sedutor», é agora chamado abertamente de «coelho quente» e «chimpanzé no cio», depois de, na sequência do episódio do Panamera, ter sido rotulado de «La Porsche Tranquille» (em oposição, ao slogan «La force tranquille» de Mittérrand...).


Pós-Texto 3: O Figaro publica a queixa-crime apresentada pela polícia nova-iorquina contra Strauss-Kahn, em 16-5-2011, por sete alegados crimes perpetrados sobre O., uma empregada de origem ganesa do hotel Sofitel, em New York. Ouvido o caso em audiência, nesta segunda-feira, a juíza determinou que Strauss-Kahn ficasse detido preventivamente, sem direito a fiança.


Actualização: este poste foi actualizado às 7:52 de 16-5-2011 e 12:55, 14:07, 14:32, 16:07, 16:40, 19:06 e 23:39 de 16-5-2011.


Limitação de responsabilidade (disclaimer): Dominique Strauss-Kahn e Silvio Berlusconi, referidos nas notícias dos media, que comento, não são suspeitos ou arguidos do cometimento de qualquer ilegalidade ou irregularidade em casos anteriores, e gozam do direito à presunção de inocência até ao trânsito em julgado de eventual sentença condenatória nos casos pendentes.

13 comentários:

Anónimo disse...

"The great seducer"

http://finance.yahoo.com/news/Police-IMF-head-picked-out-of-apf-3204592659.html?x=0&sec=topStories&pos=main&asset=&ccode=

NEW YORK (AP) -- Dominique Strauss-Kahn's reputation with women earned him the nickname "the great seducer," and not even an affair with a subordinate could knock the International Monetary Fund leader off a political path pointed in the direction of the French presidency. All that changed with charges that he sexually assaulted a maid in his hotel room, a case that generated shock and revulsion, especially in his home country.

Police said the maid picked Strauss-Kahn out of a lineup. Unless the charges are quickly dropped, they could destroy his chances in a presidential race that is just starting to heat up.

The IMF, which plays a key role in efforts to control the European debt crisis, named an acting leader and said it remains "fully functioning and operational" despite Saturday's arrest.

Strauss-Kahn's lawyer, Benjamin Brafman, told The Associated Press that his client will plead not guilty. He and another lawyer went in and out of the Harlem police precinct where Strauss-Kahn was being held early Sunday afternoon, and declined to answer reporters' questions until the arraignment, which was expected later Sunday.

"He denies all the charges against him," Brafman said. "And that's all I can really say right now."

Brafman is one of the city's most high-profile defense attorneys. His clients have included mobsters and such celebrities as Sean "P. Diddy" Combs and ex-New York Giants star Plaxico Burress.

Strauss-Kahn, 62, was arrested less than four hours after the alleged assault, plucked from first class on a Paris-bound Air France flight that was just about to leave the gate at John F. Kennedy International Airport.

The white-haired, well-dressed, thrice-married father of four was alone when he checked into the luxury Sofitel hotel, not far from Manhattan's Times Square, on Friday afternoon, police said. It wasn't clear why he was in New York. The IMF is based in Washington, and he had been due in Germany on Sunday to meet with Chancellor Angela Merkel.
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Do que Angela Merkel se safou!

Anónimo disse...

Ana Peres por aqui?

Parece que em Portugal, só há 2 ou 3 Juízes. Carlos Alexandre. Ana Peres. E?????

Cadê os outros? Fazem o quê? Andam a pavonear-se pela TV, como o Irmão Rangel?
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http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?section_id=61&id_news=510500

Independente: Início do julgamento marcado para 2ªfeiira

Depois de três adiamentos, está marcado para segunda-feira o início do julgamento dos 23 arguidos do caso da Universidade Independente (UNI), acusados de crimes económico-financeiros, no Tribunal de Monsanto, em Lisboa.
O julgamento foi na segunda-feira passada adiado para a próxima segunda-feira pelo coletivo de juízes, presidido por Ana Peres, devido à falta injustificada de um dos arguidos do processo.

O arguido Carlos António Pereira Patrício e o seu advogado faltaram à primeira sessão do julgamento e não entregaram qualquer justificação.

Anónimo disse...

Afinal quem vota em Sócrates?

Não conheço quase ninguém que admita votar em Sócrates. O que é um dado surpreendente pois é certo que o patifório não perderá as eleições por muito. Também não dou conversa a qualquer um, os meus amigos são todos gente séria e trabalhadora, que não vive pendurada no Estado, nem tem medo do papão neoliberal.


http://www.peliteiro.com/2011/05/afinal-quem-vota-em-socrates.html

Anónimo disse...

Esta é uma mensagem para Sua Santidade, Policarpo - I:

O sucesso do Governo

Já tudo se disse sobre o memorando de entendimento entre Portugal e as organizações internacionais. Temos aí um plano, exigente mas equilibrado, para regressar à solidez financeira e crescimento económico. Basta que o próximo governo o assuma como prioridade e vença os grupos de pressão, aqueles que nos trouxeram a esta situação e ainda estão vivos e activos para se protegerem dos cortes.

O mais espantoso neste processo é que, na miríade de comentários, mal se tenha falado do pior problema estrutural do país que, apesar de compreensivelmente alheio ao memorando, está por baixo de boa parte das dificuldades actuais: a decadência demográfica. Portugal tem a taxa de fertilidade mais baixa da Europa ocidental, quase metade do nível de reposição das gerações. Somos um país em via de extinção.

A crise torna essa queda mais patente com o refluxo da imigração, que mascarou a situação, agravado pela retoma da emigração. A ausência de crianças e jovens, que afecta o sistema educativo há anos, sente-se já em múltiplas outras áreas. Falta de produtividade, envelhecimento da população, problemas de segurança social, saúde, assistência, etc., são crescentes. Até a solução da dívida, poupar mais e trabalhar melhor, fica difícil num país com percentagem crescente de idosos. Temos a atenção centrada na solução das futuras condições socioeconómicas, sem haver sequer a certeza de existir um futuro.

Nos últimos anos, o Governo teve uma posição clara e empenhada neste assunto, com decisões fortes e incisivas. Facilitou o divórcio, subsidiou o aborto, promoveu o casamento homossexual, criando assim a mais maciça campanha de ataque e desmantelamento da família da nossa história. Dados os resultados, pode dizer-se que, pelo menos aqui, a política governamental foi um grande sucesso e o Executivo pode orgulhar-se. Deu mesmo cabo do País!

http://www.dn.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=1852853&seccao=Jo%E3o%20C%E9sar%20das%20Neves&tag=Opini%E3o%20-%20Em%20Foco

Avelino disse...

O MAL NÃO É DO KAHN, ELE AT+E TEM ALIBI, A CULPA É DO VIAGRA, O VIAGRA É QUE DEVERIA SER PRESO

UM ABRAÇO

Anónimo disse...

Senhor Professor, acha que a justiça americana é justa?
Ora veja o que aconteceu a quem provocou a crise subprime e veja que o secretário do tesouro foi premiado pelo bem que fez em Wall Street, por osama obama.
O que fizeram no Egipto e na Líbia é típico de trabalho Mossad, Sarkas era Mossad, nem francês é e afinal o DSK fez acordo que enfureceu os mordomos de Wall Street na Europa, o BCE.
Deixe-se de não acreditar em teorias da conspiração aquilo é mesmo uma conspiração, e digo-lhe, mesmo que os ADN venham positivos.
O que está em jogo?
O USD, o Euro e a Europa e o ter colocado em causa as agências de rating e sabe há muita prostituta por aí a trabalhar para as secretas, especialmente Mossad, dão o rabinho em nome da causa, mesmo que seja para abater um judeu que não seja da tribo. Claro que foi armado.
Sobre Sócrates espero que ganhe,este país precisa de uma guerra civil.
Injurioso eu?

Analou disse...

Pode ser que o Presidente do FMI seja um tarado sexual mas estaa forma de agir da Justiça Americana é desoladora.Até os criminosos tem direito a descrição, não seria necessário tanto espectaculo. Parece tudo montado para destruir a imagem de DSK e a sua candidatura a PR Francesa. Lamento que a senhora que passou por esta situação não tenha, como adulta jovem que é, sabido dar um valente safanão ao idoso DSK. Não se pode nem se deve acreditar logo na culpa de DSK só pq ele representa a esquerda Francesa. É um ser humano acima de tudo que pode ter sido apanhado numa grande cilada.

Anónimo disse...

conspiração ...claro ..os problemas de falta de moral dos socialistas são sempre conspirações ..
vai-te catar ..

guerra civil ? venha ela

Anónimo disse...

Coitado do ser humano!
A tarada da criada violou-se com o pénis dele,foi o que foi.
E como sabemos,faz parte do curso de formação de camareira,ela podia ter aplicado um golpe de jiu-jitsu para se defender.

Claro que isto é tudo uma grande conspiração contra este estimável homem de esquerda,contrariamente a Berlusconi,esse malandro de direita.
E a conspiração está tão bem montada que há muitos anos que lhe vão passando rasteiras.
Esta rapariga não é a primeira que o força a relações contra vontade.Há um rol delas no passado deste grande democrata.E por vezes até com violência.
As malvadas raparigas espancam-se com as mãos dele.

Haja respeito pelos defensores dos pobres.Sobretudo pelos que andam de Porche e têm fortunas enormes,ganhas a lavar escadas.

Anónimo disse...

Gauche:

http://www.populaires.fr/11223-strauss-kahn-fortune

Anónimo disse...

A ingenuidade da Analou tem bastante graça.
Olhe,minha cara,deixo-lhe aqui as declarações de outra jovem que não "deu um safanão" neste pobre democrata:

"Dominique Strauss-Kahn poderá também ser alvo de novo processo judicial. A jornalista francesa Tristane Banon acusou o director do FMI de assédio sexual. Banon recorda uma entrevista que fez a Strauss-Kahn em 2002, em que o economista lhe “rompeu o sutiã e baixou as calças”. A jornalista, filha de um responsável do Partido Socialista francês, tinha na altura 23 anos."

http://www.ionline.pt/conteudo/123328-presidente-do-fmi-acusado-agressao-sexual-e-tentativa-violacao

Anónimo disse...

E,já agora,uma curiosidade.Porque será que um organismo apontado pelos socialistas e comunistas como expoente do capitalismo selvagem,e do ultra-liberalismo,cuja entrada em Portugal foi anátema até não poder ser evitado,afinal tem um socialista a dirigi-lo?
Ahahaha!

Anónimo disse...

A estupidez vale o que vale.
A esquerda e a direita não existem, mas a ingenuidade e a má intenção dos que aqui opinam emulam de interesses. Venha ela a guerra civil? pois venha vamos ver se tens tomates meu atrasado mental.
Deves ser um valente daqueles que desertaram em África.