sábado, 30 de abril de 2011

A Central de Propaganda


Do Prof. Eduardo Cintra Torres, no Público, de 29-4-2011, «A campanha eleitoral da Central de Propaganda». Um artigo notabilíssimo para compreender a natureza da administração socratina do poder. Pela importância factual e analítica que tem, transcrevo o artigo (via Portugal dos Pequeninos):


«A Central de Propaganda
Eduardo Cintra Torres

Público, 29-4-2011

A TVI lá fez mais uma entrevista a Sócrates, ajeitando-se à agenda do líder do PS. Como se comprovou no final, a entrevista foi, para o país, totalmente inútil. Zero de conteúdo. Quaisquer que sejam as perguntas, ele repete à exaustão as mesmas cinco frases memorizadas. Hábil a intimidar entrevistadores, ignora-lhes as perguntas, debitando o menu decorado e queimando tempo.

Judite Sousa não colocou diversas perguntas importantes e não obteve respostas às que colocou. Resultado: um festival de propaganda pessoal, mais um em poucas semanas. Sócrates só falou de si mesmo — o seu tema preferido — ou repetiu as cinco frases combinadas lá na Central de Propaganda. E, ajudado pela entrevistadora, alimentou a agora habitual confusão total entre primeiro-ministro e secretário-geral do PS.
A estranha última pergunta de Sousa sobre a vida privada de Sócrates foi colocada ao secretário-geral do PS na sede do governo de Portugal. Sousa apresentou Sócrates como “divorciado” e “com dois filhos” e perguntou-lhe se “tenciona fazer campanha eleitoral com a família”. Recorde-se que nas presidenciais apareceram familiares de todos os candidatos nas campanhas e nenhum jornalista, nem Sousa, os interrogou sobre isso.
A pergunta permitiu a Sócrates fazer exactamente o que disse que não vai fazer: usar os filhos. Mencionou duas vezes o “amor aos meus filhos”. Disse também “sempre os procurei proteger”. Ora, na campanha de 2009, em entrevista à SIC, Sócrates fez “referências premeditadas” aos filhos (como lhes chamou então um dirigente da agência de comunicação LPM). Também a sua vida privada foi usada em ocasiões escolhidas a dedo ao longo dos anos. Mais de uma vez as revistas cor-de-rosa souberam com antecipação onde ele estaria em momentos “privados” com uma alegada namorada; e numa entrevista ao Diário de Notícias na campanha de 2009 ele falou da alegada namorada (i, 21.09.09).
Na acção mediática de Sócrates não há nada, mas rigorosamente nada, que surja ao acaso. As “respostas” em entrevistas são frases decoradas. Toda a sua agenda e a do Estado que comanda estão planeadas para obter ou evitar efeitos mediáticos. Por exemplo, a correcção para baixo do défice foi divulgada pelo INE no sábado de Páscoa, com o país político ausente. A gestão de danos é brilhante: a Central obliterou Teixeira dos Santos dos media quando este, a bem de Portugal, traiu Sócrates e falou da necessidade da ajuda externa.
A Central vai debitando diariamente pequenos “casos” para a imprensa: através de dirigentes e outras figuras do PS (as ordinarices de Lello não são “arreliadoras deficiências tecnológicas” mas declarações públicas calculadas, cabendo a Lello o papel de abandalhar os políticos em geral); ou através de “fontes”, ou nem isso, como nas campanhas negras na Internet. Essa acção permanente da Central, 24 horas por dia, desgasta os adversários, em especial o principal partido da oposição, sem a mínima preparação para enfrentar uma organização profissionalíssima, que hoje atingiu a dimensão de um embrião de polícia política de informações, agindo exclusivamente através dos media e Internet, directamente ou através de apaniguados ou ingénuos.
O desgaste dos adversários ainda está no princípio. Dado que Cavaco Silva e os ex-presidentes pediram uma campanha eleitoral esclarecedora, caberá à Central de Propaganda oculta e semi-secreta ao serviço do PS encher os media e a blogosfera de “casos”, invenções, mentiras, factóides descontextualizados, etc. Esta Central tem acesso a informações, por métodos quase científicos de busca, selecção e organização de informações, a que os jornalistas não têm ou não podem ter acesso, ou nem sonham que existem. A Central conhece o passado de todos quantos agem no espaço público e ousam desagradar ao PS-Governo. A Internet é usada para divulgar elementos “comprometedores” da sua vida. Fernando Nobre e família foram alvo desses ataques mal ele se candidatou pelo PSD. Nos EUA tem crescido igual tipo de desinformação, como a campanha negra por republicanos mais primários de “dúvidas” acerca da nacionalidade de Obama.
A brutalidade da desinformação e das campanhas negras atinge não só os adversários políticos, mas todos os que exerçam livremente a liberdade de expressão. Como o PS-Governo vive exclusivamente dos media, a Central visa em especial os comentadores e jornalistas que considere fazerem algo negativo para os seus interesses.
A jornalista Sofia Branco foi recentemente demitida de editora na agência LUSA por se ter recusado, com critérios editoriais, a pôr em linha uma “notícia” oriunda da Central de Propaganda. Recorde-se que o director de Informação da LUSA foi uma escolha pessoal de Sócrates e que o seu administrador principal é amigo pessoal de Sócrates. A demissão teve carácter de exemplo, pois visa recordar a todos os jornalistas, começando pelos da LUSA, que “quem se mete com o PS leva”.
O caso revela a Central em acção. Uma correspondente da LUSA recolheu uma declaração dum assessor do primeiro-ministro que este atribuiu a Sócrates. A editora da LUSA não quis divulgar declarações dum assessor como se fossem de Sócrates (dado que não eram de Sócrates!); disponibilizou-se para ouvi-las do próprio, mas o assessor negou a hipótese. A editora rejeitou a “notícia”. Acontece que a Central precisava que a “notícia” fosse vomitada para os media naquele dia; por isso, a chefia da LUSA soube logo do caso e colocou a “notícia” em linha; a editora foi liminarmente demitida, retaliação que já seria de dureza totalmente desajustada ao normal funcionamento de uma redacção se a editora tivesse procedido mal. No dia seguinte, Sócrates disse a tal frase que fora dita pelo assessor: é o habitual processo de inculcação pela repetição.
Sofia Branco foi demitida por ser jornalista. Se houve “quebra de confiança”, como a direcção socretista da LUSA invocou, não foi no profissionalismo da editora, mas sim quebra de confiança da Central de Propaganda numa jornalista que agiu como jornalista. “Hoje, 27 anos depois do 25 de Abril, faz-se jornalismo com medo”, disse Sofia Branco ao P2 (25.04).
A pressão infernal sobre os jornalistas deu resultados extraordinários nestes seis anos. Somada a campanhas negras e cumplicidades no seio dos media, permitiu a Sócrates ganhar em 2009 e está a permitir-lhe recuperar nas sondagens em 2011.
A estratégia da Central para esta campanha já está delineada. Um dos elementos tem passado despercebido: através de pessoas como Lello e de comentários anónimos produzidos pela Central e despejados na blogosfera e caixas de comentários, repete-se a ideia de que os políticos são todos iguais, todos corruptos, nem vale a pena ir votar. A Central sabe que a percentagem do PS pode subir se a abstenção crescer. O paradoxo de um partido fomentar subrepticiamente a abstenção explica-se: como os eleitores mais livres votariam mais facilmente na oposição, neutralizá-los diminui os votos nos outros e aumenta a proporção relativa do núcleo duro dos eleitores do PS.
Outro elemento que favorecerá essa estratégia será a habitual forma de as televisões cobrirem as campanhas na estrada. Apesar da crise no país, é provável que a cobertura televisiva se concentre, como habitualmente, nos almoços da “carne assada”, nas declarações da velhota na rua, do comerciante à porta, do militante de reduzida inteligência, no “isto está uma loucura” do jornalista empurrado por jornalistas, etc. Enfim, fait-divers sem conteúdo político e sem relação com o discurso dos responsáveis partidários.
Se as televisões juntarem às habituais reportagens da “carne assada” e da velha que grita na rua alguma cobertura aos “casos” emanados da Central, estará lançada a confusão que serve um único entre todos os partidos: o PS-Governo. Tudo o que não esclareça políticas, divirja para os “casos” do dia e para o diz-que-disse, em que a Central tem mestria absoluta, servirá para impedir um esclarecimento mínimo (desfavorável a quem governou) e para induzir descontentes a absterem-se. Se fizerem uma cobertura das campanhas como a de 2009, as televisões estarão a colaborar, não indirecta, mas directamente com a governação dos últimos anos e com a aplicação concreta, diária, da estratégia de desinformação e propaganda.»

Eduardo Cintra Torres explica que a oposição se defronta, de modo amador (e eu acrescento, descuidado) com uma «organização profissionalíssima». Uma organização, com pessoal e meios sofisticadíssimos, que bate as estruturas que enfrenta, por causa da força que tem e do medo e da negligência dos adversários.

O Eduardo escreve que esta Central de Propaganda consiste num «embrião de polícia política de informações». Mas a Central de Propaganda é apenas a secção «suave», semi-visível, de um sistema que contém uma secção clandestina de operações negras - , uma verdadeira polícia política, que com ela interage. A secção de operações negras é «a malta da pesada», tal como foi descrita por um dirigente socialista  (lamentavelmente o linque do Corta-Fitas para este poste, e outros, do Carlos Santos já não funciona, mas guardámo-los, bem como os comentários). A chave do poder real do socratismo não está na secção «suave» da Central, mas na secção de operações negras.


* Imagem editada daqui.

9 comentários:

Anónimo disse...

Não tem a ver com o conteudo do post mas pela sua importancia deixo-vos aqui este link:
http://www.peticaopublica.com/PeticaoVer.aspx?pi=P2011N9329

Anónimo disse...

E hoje, Sábado, 17.00h, neste preciso momento, todos os canais de notícias (RTPN, SICN, TVIN) transmitem em directo mais uma encenação bacoca do socretino-mor em campanha com os "voluntários", ou lá que treta lhe chamam, por "Socrates".
...
Assim será a campanha socretina...
Imbecil, imbecilizante e oportunisticamente seguida por imbecis...e com o "trombone" da descomunicação social a ampliar este churrilho de vigarices.
A campanha, por mais que doa, terá que ser feita na rua...a bacoquice e bacocos em que o socretino-mor transformou as televisões e os seus jornalistas merece um claro repúdio por todos quanto quererão participar, honestamente e patrioticamente na próxima campanha. Por Portugal

Mani Pulite disse...

SÓCRATES E A QUADRILHA SÓ FORAM BEM SUCEDIDOS NA CRIAÇÃO DA CENTRAL DE INFORMAÇÃO,CONTRA-INFORMAÇÃO E PROPAGANDA E NA ESTRUTURAÇÃO DA SS-SECRETA SÓCRETINA PARA MALHAR TODOS OS ADVERSÁRIOS DO SÓCRATES PS-PARTIDO DOS SALTEADORES.O LEMA DE AMBAS AS ORGANIZAÇÕES É O SEGUINTE:"PARA NÓS TUDO,QUEM SE METE COM SÓCRATES E O SEU PS NADA E AINDA LEVA!"

Mani Pulite disse...

O SÓCRETINO QUER LER O PROGRAMA DO PSD A TODO O CUSTO.POIS PONHA PRIMEIRO CÁ PARA FORA O ACORDO QUE NEGOCIOU ATRAVÉS DE SABE-SE LÁ QUEM COM A TROIKA E DEIXE QUE SEJA FEITA UMA AUDITORIA INDEPENDENTE ÀS CONTAS PÚBLICAS.SÓCRETINO ALDRABÃO JÁ CONHECEMOS TODOS OS TEUS GOLPES.DEIXA DE GOZAR COM OS PORTUGUESES!

Anónimo disse...

Parte do "trabalho" do governo nestes anos socialistas foi transformar todas as estruturas estatais,que serviam Portugal,em mecanismos que operam para o PS e o seu governo criminoso.

Nas eleições precipitadas pelo baboso e ignóbil Sampaio,o sr Rui Pereira andava por todo o lado,acompanhando o crápula que nos levou à miséria e bancarrota.
Se nos lembrarmos era o líder do SIS.Andava de malinha...

Também sabemos,por desabafos de juízes,que este organismo estava ao serviço da quadrilha pedófila do Rato e vigiava os magistrados encarregues da investigação.
A centralização do comando de todas as polícias foi outra medida que foi aceite pacificamente por toda a oposição.

Podemos agradecer a uma oposição tão repugnante quanto o partido do poder,o facto de não terem mexido uma palha para evitar este descalabro.
E ao sr Teixeira dos Santos,arquitecto da maior vigarice que se conhece com as contas públicas e que permitiu ao Vígao esconder a bancarrota iminente.
Quem consegue esconder com tanto artifício buracos de biliões,mais fácimente consegue esconder uns milhões em offshores.
Há todas as razões para levar em conta as denúncias.

Agora venham dizer que a Wikileaks não faz falta!

Anónimo disse...

Parece-me que já começam a compreender que o adversário não é adversário; É INIMIGO!

Napoleão

floribundus disse...

há muito que é evidente a presença de agit-prop 'bem musculado' do tipo 'porrada neles'.
esta pide actua dentro e fora do partido a todos os níveis da sociedade.
são muitos os relatos em surdina

os miasmas do socialismo espalham o seu veneno pelo pântano

Joe Tooga disse...

Será possível que todos os simpatizantes socialistas estão integrados numa empresa do Estado (i.e. mafia socialista)ou à espera de o ser, ou não têm cabeça própria para pensar e olhos próprios para ver o que se passa à sua volta? Tal como em religião o fanatismo cega e faz perder a noção da realidade. Só uma mente doentia não reconhece que a mentira, a vaidade e o oportunismo são os únicos catalizadores deste charlatão Sócrates que consegue "mover" um povo na sua maioria ignorante (ao mesmo nível dos tempos salazaristas) ou corrupto... sempre à espera de uma oportunidade de meter ao bolso com o mínimo de esforço. Como se pode sair desta fossa com gente deste calibre?

Anónimo disse...

Se estes factos que Eduardo Cintra Torres relatou nesta crónica, forem verdade, e eu acredito que o são, a Democracia Portuguesa começa a estar em sérios riscos. Aos poucos Portugal vai-se transformando numa Democracia igual à que impera na Venezuela de Hugo Chávez. Há muito tempo que considero este Sócratino um homem demasiado perigoso para a Democracia em Portugal. Este Sócratino vai fazer de tudo para se manter no Poder a qualquer preço. As últimas Sondagens são arrepiantes, fazem-nos crer a ideia de que este Sócratino é imbatível em Eleições, tal e qual como Hugo Chávez na Venezuela, mesmo com o País em plena Austeridade e com a Economia de rastos. Meu adorado País, em que mãos foste tu caír!!!