sexta-feira, 4 de março de 2011

A dívida falida

Recomendo a leitura e análise atentas do artigo «Portugal, a broken debt market», de Joseph Cotterill, em 2-3-2011, no FT/Alphaville. Copio dois gráficos (elaborados por Laurent Frasolet do Barclays Capital) - Fluxos mensais da dívida do Estado português, Jan.2009-Out.2010 e Obrigações do Tesouro e Bilhetes do Tesouro portugueses detidos por investidores estrangeiros, 2005-2011 - e traduzo um excerto desse artigo:





«Os gráficos mostram que os investidores portugueses compraram o equivalente à emissão líquida de dívida em 2010 (os bancos 10 mil milhões de euros, seguradoras e similares cerca de 5 mil milhões - estes dois conjuntos tinham muito poucos títulos destes antes). Excluindo o BCE, os investidores estrangeiros venderam 20 mil milhões de euros no ano passado [2010], passando da quase totalidade da dívida do Governo português em 2009 para cerca de metade em 2010.
O BCE comprou quase 19 mil milhões de euros em 2010, de acordo com o cálculo do Barclays Capital, que está em linha com outras estimativas que nós fizemos antes. A emissão bruta de obrigações do Estado português totalizou 21,7 mil milhões de euros em 2010. (...)
Podemos concluir que a dívida portuguesa sobrevive, enquanto o BCE mantiver o seu programa de compra de obrigações [soberanas], o que não durará - mas isso, agora, já é bastante óbvio.» (Tradução minha)

Joseph Cotterill conclui que o socorro financeiro não resolve o problema do País porque a questão fundamental é a falta de competitividade da economia portuguesa no longo-prazo. Ou seja, sem o aumento sustentado de competitividade da economia - fazer melhores produtos e serviços e de modo mais eficiente do que os concorrentes internacionais (isto é, a custo mais baixo) - não é possivel amortizar a dívida externa e o Estado terá de admitir a bancarrota (moratória, reescalonamento e pagamento parcial) a que se segue a recusa dos investidores à concessão de novos créditos. E é por causa desta conclusão da falta de competitividade da economia - que o socratismo não resolveu -, uma conclusão que é dominante nas instituições internacionais que nos podem emprestar dinheiro, como a União Europeia e o Fundo Monetário Internacional (FMI), que, além da contrapartida de um pacote de austeridade, o Governo vai ter de se comprometer com um programa duríssimo de reformas económicas que diminuirão o bem estar do povo no curto prazo.

2 comentários:

Anónimo disse...

Portugal está falido em consequência de três décadas de enganos e patifarias e por a maioria dos portugueses não querer trabalhar nem construir uma comunidade nacional decente.

Orlando Braga disse...

Competitividade da economia = custo mais baixo = sair do Euro.

Para termos uma economia baseada em mão de obra barata, é um absurdo estar no Euro.

O argumento segundo o qual podemos baixar salários (através da inflação) e permanecer no Euro = morte lenta --- porque estaremos sempre sujeitos à politica de importações controlada pela Alemanha.