quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Arranjar as coisas


Saíu na revista Sábado, em 22-12-2010, mas só agora li, por aviso de um amigo. A questão dos diplomas académicos parece ser um problema crónico dos socialistas portugueses: já não bastava Sócrates, agora até o ex-«Dr.» (com o 2.º ano de Direito, mas sempre tratado por Dr.) e actual «Doutor» Manuel Alegre. A notícia «O diploma que não existia», que contém o fac-simile da carta de Manuel Alegre ao cunhado, enviada de Paris, em 1964, e interceptada pela Pide, e a respectiva transcrição, é a seguinte:

«O diploma que não existia
22-12-2010
Por Pedro Jorge Castro

Cinco dias depois de se ter refugiado em Paris, em Julho de 1964, Manuel Alegre escreveu ao cunhado, António Portugal, marido da irmã, e fez-lhe um pedido: “Preciso urgentemente dos meus documentos universitários, inclusive as cadeiras feitas e respectivas classificações. Junto do meu padrinho tenho possibilidades de completar o meu curso. Seria óptimo se ‘arranjassem’ as coisas de modo a que o certificado dissesse ter eu o 3.º ano completo.”
A seguir , juntou um alerta contra a PIDE: “Será conveniente que esses documentos venham por mão própria, para esses filhos da puta não os roubarem no correio.”
Manuel Alegre não concluiu o 3.º ano de Direito, daí o uso de aspas no verbo “arranjassem”. A carta, manuscrita, foi interceptada pela PIDE e está arquivada na Torre do Tombo, tal como uma transcrição dactilografada pela polícia política.
A ficha curricular de Manuel Alegre, guardada no Arquivo do Departamento Académico da Universidade de Coimbra, indica que o poeta concluiu o 1.º e o 2.º ano de Direito, mas quanto ao 3.º ano apenas regista aproveitamento na disciplina semestral de Direito Fiscal. Esteve inscrito também em Economia Política, a cujo exame faltou, e nas cadeiras anuais de Administração e Direito Colonial, Finanças e Direito Civil – mas não as concluiu.
Confrontado com esta questão, há um mês, numa entrevista dada à SÁBADO sobre outros aspectos da sua resistência ao salazarismo, Manuel Alegre respondeu que não se lembrava de ter feito um pedido ao cunhado sobre este assunto. Questionado sobre se, tendo em conta que não continuou o curso por ter resistido à ditadura, acharia natural pedir para lhe passarem o diploma como se tivesse o 3.º ano completo, Manuel Alegre respondeu: “Não, de maneira nenhuma. Nem tinha sentido, nem eles passavam. Então passavam a uma pessoa que é exilada? Não tem sentido nenhum. Não me lembro nada disso. Nem tem sentido.”
Nessa entrevista, o candidato mostrou-se ainda convencido de que tinha concluído o 3.º ano do curso: “A memória que eu tenho é que tenho o 3.º ano de Direito e que estava a fazer cadeiras do 4.º ano.”
Esta semana, confrontado com a informação oficial da Universidade de Coimbra (segundo a qual apenas completou uma cadeira do 3.º ano), Duarte Cordeiro, director de campanha do candidato apoiado pelo PS e pelo Bloco de Esquerda, disse que Manuel Alegre mantinha a resposta dada há um mês.
O candidato às presidenciais de Janeiro entrou na Faculdade de Direito em 6 de Novembro de 1956, e a sua última avaliação tem data de 19 de Março de 1964. Estes sete anos e meio foram marcados por uma intensa actividade contra a ditadura, nas lutas estudantis, durante o serviço militar em Mafra e nos Açores, e na guerra colonial em Angola, onde esteve preso cinco meses. Quando voltou a Coimbra sentiu-se vigiado em permanência: “Os gajos da PIDE não me largavam. (...) Percebi que estava arrumado e que, mais dia menos dia, ou ia para a cadeia ou teria de ir embora do país”, conta no livro Uma Longa Viagem com Manuel Alegre, escrito por João Céu e Silva. Na mesma página, diz que não completou o curso e sublinha: “Nem o quis fazer por via administrativa."»
(Realce meu)
Nota: as aspas (") na palavra "arranjassem" constam do fac-simile da última página da carta.


* Imagem picada daqui.


Actualização: este poste foi actualizado às 22:28 de 29-12-2010.

16 comentários:

Anónimo disse...

Mas, a Universidade Agostinho Neto está disposta a dar-lhe a equivalência a Doutorado. Coitado do Doutor Alegre, já com a história da Rádio Difusão Portuguesa, o incomodam, ele que sempre foi uma pessoa que só quis fazer caça, e logo vêm dizer que ele nunca trabalhou na RDP, ou andou por lá umas semanas!

Trabalhadores Argelinos Uni-vos.

kurtz disse...

Naquele antro de incompetentes, é mesmo "quem sai aos seus"....

Cidadão conformado disse...

Estão muito bem um para o outro: o falso engenheiro e o falso doutor.
Acho mesmo que, com tanta trafulhice, são as pessoas indicadas para governar este pobre país.
Mas, pergunta-se, que mal fizemos nós para ter de aturar esta corja?

Anónimo disse...

O AZAR DO ALEGRE FOI NESSES TEMPOS NÃO EXISTIREM AS INDEPENDENTES POIS SE EXISTISSEM TUDO SE TINHA "ARRANJADO" A CONTENTO E HOJE ATÉ JÁ ERA ENGENHEIRO CIVIL E TUDO E COISA COM MBA EM POCILGAS.O OUTRO AZAR DO ALEGRE FOI TER AFOCINHADO NOS ARQUIVOS DA PIDE ONDE HÁ DE TUDO COMO NA BOTICA PARA TODOS OS GOSTOS E DESGOSTOS.

Anónimo disse...

http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?id_news=485811

Face Oculta: juiz não destrói escutas que envolvem Sócrates


O juiz do Tribunal Central de Instrução Criminal só destrói as escutas telefónicas que envolvem José Sócrates depois de ouvir os arguidos do processo Face Oculta, refere esta quarta-feira a edição online do Jornal de Notícias.
Os arguidos e assistentes do processo estão a ser notificados para se pronunciarem sobre o último despacho do presidente do Supremo Tribunal de Justiça, Noronha Nascimento.

Os despachos anteriores em que o presidente do Supremo Tribunal de Justiça mandou destruir escutas com o primeiro-ministro foram cumpridos sem que os arguidos tivessem tido a oportunidade de se pronunciarem.

Anónimo disse...

Por este escrito, se percebe qual a aflição que vai pelo Império dos Ratos:

http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/opiniao/eduardo-cabrita/ano-de-todos-os-perigos

É difícil expressar júbilo pelo início do novo ano. A crise deixou de ser uma questão televisiva e certezas adquiridas em décadas de crescimento permanente são postas em causa por realidades próximas como as reduções de salários em Janeiro ou ameaças antes impensáveis como o desmantelamento do SNS ou da rede universal de escolas públicas.

Pela primeira vez para os portugueses com menos de 70 anos a dúvida não está no ritmo de melhoria de vida (sempre abaixo do desejado) mas sim do que iremos prescindir nos próximos tempos. A questão parece irreal para os que cresceram nas duas décadas em que os mercados, intocáveis para o inefável Cavaco Silva, promoveram a multiplicação do crédito fácil a juros baixos.

A implosão do modelo assente na especulação financeira e imobiliária exigiria que fosse dada prioridade absoluta à concertação social, ao diálogo político sem arrogância e à definição de um programa que, mais do que o incontornável mas circunstancial défice público, olhasse mais longe para as raízes do nosso desequilíbrio. Excesso de consumo assente em endividamento, défice de produção de bens e serviços competitivos e uma balança energética insustentável são os temas que exigem debate sereno, soluções corajosas mas realistas com impacto para lá das vistas curtas dos juros da dívida, das apressadas antecipações de dividendos ou de novos PEC que perdem coerência e deixam os cidadãos na angústia da falta de objetivos.

Sinais de rutura social promovida por setores poderosos no acesso à ribalta mediática como juízes ou professores, práticas de empresas privilegiando o lucro imediato, a generalização de atos de rebelião fiscal passiva e o primado do corte sem consciência do efeito em serviços públicos essenciais são riscos de criação de um espírito coletivo de barata tonta.

Anónimo disse...

Quando de clica no "fac-simile da última página" da carta diz: The page cannot be found.
Erro?

Anónimo disse...

Um azar do caraças, interceptaram a coisa e ficou fisgado nos arquivos da PIDE.
Hoje, com as novas oportunidades, o diploma já estava no papo, com data de domingo para não destoar do camarada chefe. Quanto à cartita para o cunhado, o camarada da PGR trataria do assunto com o maior desvelo e discrição, com o destino seguro da fogueira redentora.

Malditos arquivos da pide!...

Henrique Sousa disse...

O link para o fac-simile não está a funcionar. É este? http://goo.gl/gx5Zi

Anónimo disse...

«Olá, guardador de rebanhos,

Aí à beira da estrada,

Que te diz o vento que passa?»

«Que é vento, e que passa,

E que já passou antes,

E que passará depois.

E a ti o que te diz?»

«Muita cousa mais do que isso.

Fala-me de muitas outras cousas.

De memórias e de saudades

E de cousas que nunca foram.»

«Nunca ouviste passar o vento.

O vento só fala do vento.

O que lhe ouviste foi mentira,

E a mentira está em ti.»

Alberto Caeiro

"E a mentira está em ti" ó Trova Do Vento Que Passa.

Napoleão

Anónimo disse...

Por essas e outras piores,o que restou da fogueira "voou" para Moscovo e Washington.

Anónimo disse...

TGV arranca com estação Elvas/Badajoz

http://www.oje.pt/noticias/negocios/tgv-arranca-com-estacao-elvasbadajoz

A teimosia não tem limites.


Napoleão

Anónimo disse...

No "affaire" BPN, não se diz que a Caixa está a fazer o BPN de caixote de lixo. Como se explica que no tempo de Cadilhe, o buraco fosse de 500 milhões e agora é de 5.000 milhões? Onde estão os créditos do Fino, entre outros?

Anónimo disse...

Posso estar errado,mas...o dedo da Loja parece estar por detrás desta "libertação" de informação.

Andam por aí muitos "democratas" com diplomas martelados.
Um deles já foi PM,dose dupla.Era um cábula no Instituto.Passava os testes a copiar.Não me admirou que anos mais tarde não soubesse fazer uma conta simples.
Daqui por uns anos regressará em grande.
Assim vamos neste regime de fantasia trágica.

Anónimo disse...

Está explicada a fraude das Novas Oportunidade. O que interessa é ser doutor ou engenheiro, com diplomas "estranhos" e mesmo que se continue analfabeto...

Anónimo disse...

Eu conheci um vereador do PS que tinha a 4ª classe e também era tratado por doutor.
Uns pulhas, aldrabões, frustrados, incultos, ladrões...pedófilos e tudo do pior que existe está naquele partido. Querem combater a corrupção? comecem pelo PS, e erradicavam 80 % da corrupção no país.