quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Lições do incêndio de Monchique



O que o grande incêndio de Monchique - que dura, sem controlo, desde 3-8-2018 e consumiu já 21 mil hectares de floresta - adverte-nos para a necessidade de mudança de modelo no curto e no longo-prazo.

Em primeiro lugar, deve louvar-se a capacidade de decisão do novo comandante da Proteção Civil, coronel Duarte Costa, pois ainda que a área ardida seja elevada, bem como os prejuízos materiais, e o número de feridos seja de 32 (um dos quais em estado grave) até ao momento não houve mortes; e, ainda que com falhas e incompetência nas comunicações  a coordenação parece mais decidida, organizada e prudente, do que nos grandes incêndios do ano passado. Por muito grande que seja a dor das pessoas evacuadas contra vontade de suas casas e instalações, a perda de vidas é irreparável. Os conselhos dos especialistas parece também estar a ser aproveitado, em contraste com os anos anteriores. Em contraponto, o primeiro-ministro António Costa continua de férias, com pausa para um meme encenado, e, sem respeito pela cadeia de comando, o ministro Eduardo Cabrita anuncia decisões operacionais cuja decisão cabe apenas ao comandante!...

No curto prazo, importa que  o Estado crie corpos profissionais de bombeiros em cada área geográfica (tendencialmente municipal), com função mais larga de proteção civil, e de alargar a vigilância florestal a todo o País. Não chega a mudança do modelo de combate ao fogo: da t-shirt do bombeiro para fato mais adequado (falta farda do tipo Nomex para todos...), da mangueira para a máquina de rasto, da contenção em vez do ataque à cabeça do fogo, e do retardantes químicos em vez de água...


O combate aos incêndios exige também uma preparação científica, técnica e de boa forma física. É necessário criar, com urgência, no ensino politécnico de cursos superiores de bombeiros, com disciplinas de física, de química, de biologia, de sistemas de informação, de modelos de decisão, de liderança, de socorrismo, de gestão e planeamento de operações, de operação de meios e de técnicas de combate. Em vez dos cursos de formação, breves e de fim de semana, ainda que variados e úteis da Escola Nacional de Bombeiros (uma parceria da Liga de Bombeiros Portugueses com o Serviço Nacional de Proteção Civil). A certificação, que é indispensável, deve separada da formação e qualificação. E o modelo monopolista e extensivo de formação, por melhor que seja a intenção e os planos, não estão a responder cabalmente ao desafio do combate.

No que respeita ao combate, deve ser alargado o efetivo e cobertura geográfica dos eficacíssimos GIPS (Grupos de Intervenção de Proteção e Socorro) da GNR. Os atuais corpos de bombeiros profissionais  precisam de melhor preparação técnica - e física! - para acudir aos incêndios florestais. E a vigilância florestal deve ser confiada em exclusivo ao SEPNA (Serviço de Proteção da Natureza e Ambiente) da GNR, cujos efetivos precisam de ser aumentados. A vigilância do ICN (Instituto de Conservação da Natureza) que tinha 1.200 no ano de 2016, não serve para este propósito: os agentes não têm capacidade preventiva, nem dissuasora nem coerciva - desde logo, não andam armados...

No longo prazo, há que revitalizar a economia no campo e nas florestas, aplicando os recursos públicos em vez da concentração eleitoral do desenvolvimento nas grandes cidades do litoral, com relevo para Lisboa. Sem revitalização económica, o interior e as áreas afastadas dos grandes centros urbanos, ficam desertos e os campos cheios de matos e silvas, combustível de fogos descontrolados. O intrincado lóbi dos serviços e organizações do ambiente queixa-se, em pronunciamentos de soluções vagas, dos eucaliptos como o mal principal da floresta portuguesa, ignorando a necessidade da revitalização humana e económica do campo e a eficácia da prevenção prática - vigilância e sapadores! - e do combate eficiente aos incêndios. A proteção das pessoas, dos seus bens, da floresta e das suas espécies, deve ser a prioridade em vez da satisfação de lóbis de ministérios (agricultura, ambiente, administração interna) em competências e efetivos. O homem é a principal espécie da natureza! 


* Imagem picada daqui.

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