terça-feira, 27 de março de 2018

Um programa patriótico gradual




A análise da marcha do relativismo (DPP, 24-3-2018) em que somos embalados, suscita a questão da ação. O que fazer?

A pergunta já estava sumariamente respondida, num diagnóstico duro da realidade política portuguesa que fiz nos postes «Criar as condições de mudança cultural e política», de 25-2-2018, e «Regras e caos: o exemplo de Jordan Peterson», de 5-3-2018. Mas é vantajoso sumariar e depois desenvolver.

A democracia direta, que tenho defendido, continua a ser o sistema necessário para o exercício da intervenção política. Contudo, não pode esperar-se que um sistema corrupto decida regras (as da democracia direta) que o destroem. Portanto, não pode esperar-se que o sistema se reforme, tem de ser revolucionado a partir de fora.

E seria leviandade crer que o estabelecimento de regras e a sua aplicação, por si, bastariam para tornar virtuosos homens viciados no crime e instituições degeneradas na corrupção. Ao contrário, a experiência recomenda que se ajustem os valores, se lute para alcançar o poder e, só então, se proceda à reforma das leis. Porque os protagonistas corruptos e servos - mesmo enquanto líderes!... - da longa e ramificada cadeia de corrupção, jamais consentem a alteração que os afaste.

Tal como seria ingenuidade acreditar que a conquista do poder por homens virtuosos chegaria para garantir o funcionamento escrupuloso do Estado de direito democrático no médio prazo. Como advertência, lembre-se o aforismo de John Emerich Edward Dalberg Acton, em carta a Mandell Creighton, citado por J. Rufus Fears, in Selected Writings of Lord Acton, Volume III, Indianapolis, Liberty Classics, 1988, p. 519: «O poder tende a corromper e o poder absoluto corrompe absolutamente». Para limitar as tentações, será depois preciso alterar a Constituição, as leis e a sua aplicação, para estabelecer um sistema de democracia direta, que garante o escrutínio rigoroso do governo e das instituições.

Em consequência, se o sistema partidário português está dominado pela corrupção, e amparado pela desumanidade da maçonaria, importa definir e executar um programa patriótico gradual:
  1. Traçar um vetor ideológico e político.
  2. Criar os meios.
  3. Organizar as hostes.
  4. Combater.
Em próximos postes, procurarei sintetizar as minhas ideias sobre cada uma destas fases.


* Imagem picada daqui.

sábado, 24 de março de 2018

A marcha do relativismo



O paradoxo do totalitarismo do politicamente correto é a aparente suavidade dos meios de coação. Apenas aparente. Porque a polícia do pensamento também é violenta, na medida em que dobra psicologicamente o indivíduo. Trata-se de uma espécie de waterboarding (afogamento simulado) virtual em que o indivíduo arrisca o afogamento social, um ostracismo interno, para além da punição profissional, se contrariar a ideologia única admissível.

A escatologia ambiental é apenas mais uma que procura ingenuamente resolver a falta de fé nas palavras, que não passam. O fim da Terra e do tempo ocorreria por causa dos pecados capitalistas dos homens: a indústria, a agricultura intensiva, o consumo, os fármacos e os químicos, a energia nuclear, os hidrocarbonetos, os plásticos e a exploração  de matérias-primas finitas. A manipulação genética, individual e social, faz-se em simultâneo, à adoração panteísta do «ambiente», do qual o homem passa a ser o objeto em vez do sujeito. A morte do homem - que não do animal ou da planta - é, afinal, toda boa, do salto no ventre, ao sono da veia até ao coma do imprestável (o velho, o doente, o deficiente). Uma ideologia absoluta que impõe que tudo é relativo (valores, instituições, relações, fenómenos) e líquido, menos ela mesma. Até a Igreja está a ser atraída por este novo bezerro de ouro a que chamamos Nada (o vazio da descrença).

Um pós-modernismo, ou relativismo, ou politicamente correto - marxismo transmutado de superação de Deus pela descrença, de dissolução do ser, primeiro da sociedade e depois do indivíduo. Dir-se-á que é apenas filosofia. Mas, para quem for atento, verá nesta doutrina totalitária uma consequência prática e tangível: a lei garante o abuso e a sua aplicação garantística protege-o. Como exemplo, veja-se a segurança pública: os militares tornam-se polícias de vigilância, os polícias tornam-se mediadores entre vítimas e criminosos, os criminosos tornam-se vítimas da sociedade, as vítimas tornam-se bombeiros, os bombeiros tornam-se acusados e os acusados políticos de negligência evaporam-se na irresponsabilidade. E quando a tragédia acontece, varre-se o lixo da verdade para debaixo do tapete político que tudo encobre, sejam os incêndios de 14 a 16 outubro de 2017, o furto de armamento em Tancos ou os atentados do Islão belicista. O resultado da irresponsabilidade concorre para a degradação social que, por sua vez, justifica a doutrina totalitária.

O efeito deste delírio ideológico, e da corrupção política associada, é o cansaço do povo e o regresso do autoritarismo, patente nos EUA e Rússia e emergente no Brasil e na Europa. Contudo, as elites mediáticas preferem fechar os olhos ao beco de desordem social e abuso, onde a corrupção nos conduziu. Siga a marcha do relativismo!...

quarta-feira, 14 de março de 2018

Dieb

O caso do currículo do secretário-geral de PSD, Feliciano Barreiras Duarte, revelado no Sol, de 10-3-2018, fez-me lembrar o caso do currículo falso do social-democrata relvista António Dieb, de julho de 2015, que este governo socialista-comunista-radical, significativamente, ainda mantém como presidente do Conselho Diretivo da importante Agência para o Desenvolvimento e Coesão (ADC) que coordena os fundos europeus... 

sábado, 10 de março de 2018

Malaise

Niilismo e malaise parecem ser as tendências que estão a conduzir a vida dos jovens a um beco. Jordan Peterson, em 27-2-2018, menciona, além desta crença no nada, o desespero e acrescenta ainda um desejo de notoriedade, presente nos assassinatos maciços (“maciço” ê mesmo a palavra original portuguesa, “massivo” é um anglicismo ou galicismo sem sentido)

que apavoram os norte-americanos. O mal-estar de não ter valores morais pelos quais governar a vida, de não ter Deus, de não ter fé, de não ter rumo nem caminho, precipita o desespero. E, nos casos mais graves, a alienação nas drogas e até a desistência da vida.

As gerações têm fenótipos diferentes. A mesma classe etária tem comportamentos diversos ao longo da história. Importa compreender a aflição das gerações mais jovens. Porque a satisfação material dos jovens, por pais preocupados em tudo proporcionar imediatamente aos filhos e aliviá-los de todo o sacrifício, não resolve a solidão íntima que a descrença instala.

Sem fé, caminhar é um ato inútil. Por isso, importa propor aos jovens uma resposta espiritual e cultural que lhes dê - a eles - um sentido de vida. Servir em vez de servirmo-nos.E fazê-lo com os meios, e com o modo, mais adequados para chegar a eles. Tocá-los no seu coração, provocar a sua adesão aos valores e ensinar-lhes a virtude do sacrifício pelo outro. De amar até ao último suspiro.

Atualização (21:43 de 14-3-2018: agradeço aos leitores a correção do meu lapso na palavra massiço/maciço. Coloquei o linque da entrada explicativa do Ciberdúvidas sobre o português “maciço” versus o anglicismo ou galicismo “massivo” e... tropecei. Um erro maçico de que peço maciçamente desculpa.

segunda-feira, 5 de março de 2018

Regras e caos: o exemplo de Jordan Peterson

«First they ignore you. Then they ridicule you. And then they attack you and want to burn you. And then they build monuments to you.» 
Nicholas Klein, 1914 (esta citação é comummente mal atribuída a Gandhi).

Recomendo a leitura do livro «12 Rules for life: An antidote to chaos» do professor Jordan Peterson, publicado em janeiro de 2018, pela Random House Canada.

O canadiano Jordan Peterson, psicólogo e professor universitário, perseguido na academia, e que banido dos media controlados pela esquerda, ganhou projeção com o seu canal no Youtube (tal com o professor brasileiro Olavo de Carvalho) com mais de oitocentos mil subscritores, especialmente jovens, (nomeadamente da nova geração Z, das florzinhas de estufa) pelo seu combate cultural ao relativismo pós-modernista, à ideologia do género (e da identidade) e à ditadura do politicamente correto. Baseia-se na psicologia da evolução, na etologia, na ciência do comportamento e nos dados científicos, para contrariar os mitos da esquerda radical totalitária que hoje impera na sociedade, nos média e na política, ocidentais. Inspira-se em Jung, Kierkegaard, Solzhenitsyn e Dostoyevsky. A sua prédica moral tem o maior relevo ideológico, apesar do seu agnosticismo (ainda...).

O livro está em primeiro lugar na Amazon norte-americana e tem liderado vendas nos EUA, Canadá e Grã-Bretanha. Não há por aí uma editora com coragem para o editar em Portugal e o trazer cá para uma conferência?

Que fique claro que, Do Portugal Profundo, não abdico do combate político imediato. Que continuarei a fazer enquanto Deus me permitir. First in, first out, como sempre: na informação que me chegue ou que cheire. Sem contemplação, nem demora. Todavia, é fundamental fundar os meios de combate mediático para promover a doutrina, agregando vontades intransigentes e criando um movimento social, que resultará na vitória.

O problema da direita patriótica em Portugal tem sido a obsessão com a conquista imediata do poder. Essa obsessão turva a análise e enviesa a conclusão. Assim, inverte-se a ordem racional de tomada do poder para uma absurda convicção de que interessa primeiro conquistar o poder através da adesão a personagens que não comungam dos mesmos valores cristãos e são, na verdade, quase tão perversos, na transigência dos valores, na negligência da administração pública e na corrupção de Estado, quanto os socialistas radicais a que, intermitentemente, dizem opor-se. Julgam, por urgência e impaciência, que após a conquista do poder por uma vanguarda de insiders corruptos - que usa eleitoralmente o setor patriótico como atestado de bom comportamento cívico -, então conseguiriam impor os valores cristãos e obter os meios de comunicação que consolidarão a mudança social. Os personagens atuais que representam a direita não servem! As prioridades estão desordenadas. Mas precisamos de meios para veicular as ideias e expor os adversários, necessitamos de agregar as vontades e criar movimento: só depois virá o poder.