terça-feira, 30 de agosto de 2011

Facturas, novelo e reizinhos

Disse. E repito. Por aqui, tudo quanto for positivo terá o nosso apoio. Tal como toda a inércia, demora, medo e promiscuidade, sofrerão a nossa crítica.

O envio para o Ministério Público de todas os casos de eventuais ilegalidades e irregularidades, como alegadamente o caso das facturas não contabilizadas do Instituto de Desporto de Portugal (denunciado em 23-8-2011), deve ser o procedimento seguido imediatamente em todos os ministérios e organismos dependentes do Governo. Não se trata de vingança, trata-se de reposição da legalidade.

O Governo não deve deter-se perante notícias lançadas para lhe travar o impulso de recuperação do Estado. Como é a notícia da Lusa (nem as moscas mudaram?!...), de 28-8-2011, sobre as quase quinhentas nomeações para os gabinetes ministeriais em dois meses, desde a posse.  Suponho que sejam bem menos do que os do anterior e presumo que ainda sejam poucos para tentar controlar todas as toupeiras socratinas que ainda esburacam o Estado nas direcções gerais e institutos públicos. Não precisamos de limpar apenas os gabinetes políticos, mas também de desenrolar o novelo do socratismo na administração pública e da substituição dos apaniguados por patriotas (apenas os absolutamente necessários) que sirvam o Estado e não uma clique corrupta. Uma barrela geral do Estado socratino.

Este caso das quinhentas nomeações constitui uma campanha socratina para tolher a limpeza da administração pública que espero ocorra após a publicação da prometida lei sobre o preenchimento de cargos na administração pública, processo que o Governo escolheu em detrimento da nomeação simples. Nessa proposta, parece-me bem que o recrutamento e selecção caiba a uma entidade independente - a «Comissão de Recrutamento e Selecção para a Administração Pública». O que me parece muito mal é o previsto prazo de «cinco anos» para o desempenho dos cargos, que excede o mandato do Governo e degenerará na entronização de reizinhos que se julgarão acima dos ministros e farão oposição ao próprio Governo. Além desse perigo, os novos reizinhos inamovíveis não estarão isentos da pressão corrupta, que também se exerce ao nível intermédio (administrativo) e não apenas político.


* Imagem picada daqui.


Actualização: este poste foi actualizado às 14:20 de 30-8-2011.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

A reforma dos programas sociais

Continuo à espera da notícia da reforma destemida dos programas sociais do Governo PSD-CDS, no Ministério da Solidariedade e da Segurança Social, do ministro Dr. Pedro Mota Soares. Neste poste faço perguntas sobre a situação real do trabalho e dos apoios sociais no nosso País e proponho dez soluções.

O problema do País é fundamentalmente económico e social, para lá da aflição financeira. É por causa do desequilíbrio absurdo entre o rendimento de quem trabalha e o rendimento (em dinheiro, géneros e serviços gratuitos) dos que vivem de apoios sociais e não trabalham, e do efeito de ócio, e da falta de trabalhadores, na economia, que a reforma dos programas sociais do Estado é necessária. O Portugal socialista e os demais Estados socialistas europeus - e tendencialmente os EUA de Obama... - não deixam de ser... socialistas só porque mudou a cor dos seus Governos: os Governos podem ser conservadores ou liberais, mas os Estados não são: continuam socialistas. E como os Governos têm medo de reformar o socialismo - ou, nalguns casos, vivem na promiscuidade da corrupção, o que é pior, pois toleram os abusos da classe baixa e da alta para continuarem a governar e embolsar -, por recearem reacção social e por cálculo eleitoral, a situação financeira e económica dos Estados deteriora-se.

Algumas perguntas que os portugueses nesta altura colocam e que cada um vai respondendo, de acordo com a sua moral e angústia:
  1. Por que motivo um adulto menos qualificado há-de trabalhar, por conta de outrém ou por conta própria, se a sua família pode receber mais do Estado por nada fazer?
  2. Por que motivo um profissional que não passe recibo do que faz, seja profissão manual ou outra, há-de desperdiçar a oportunidade de solicitar rendimento social de (des)inserção, se pode complementar o seu rendimento laboral com um apoio financeiro do Estado para si e para a sua família?
  3. Por que motivo alguém não há-de acumular o salário do trabalho real com o subsídio de desemprego, durante o período mais ou menos longo em que o recebe?
  4. Por que motivo deve alguém trabalhar, poupar e arriscar, para comprar e pagar as duras prestações de uma casa se o Estado/câmara lha dá, estipulando apenas a compensação de uma renda irrisória que bairros inteiros (e água,  gás e electricidade...) não pagam? 
Só por causa da sua consciência, já que estes apoios são fáceis de obter e não existe uma sanção efectiva para o abuso - e quando existe o funcionário tem medo de a exercer por causa do que chamo o poder bélico civil.

Em minha opinião, a reforma dos programa sociais deve conter, entre outras, as seguintes dez soluções:
  1. Obrigação de trabalho para todos os beneficiários de apoio social (na idade activa) que tenham condições físicas e mentais para trabalhar  e salário conforme os dias de trabalho efectivo;
  2. Apoio financeiro por baixa por doença para quem não possa trabalhar;
  3. Cheque social único por família beneficiária de apoios sociais, mencionando também o valor em dinheiro de todos os apoios do Estado em géneros e serviços consumidos; 
  4. Cartão de crédito social para aquisição (e contabilização do valor em dinheiro) de apoios sociais em géneros e serviços;
  5. Tecto no montante dos apoios estatais por família;
  6. Redução do tempo de subsídio de desemprego para seis meses;
  7. Perda de benefícios estatais por recusa de trabalho;
  8. Apoio do Estado à reconversão profissional dos jovens licenciados e sua inserção no trabalho;
  9. Recapitulação de verbas do programa de Novas Oportunidades (a reformar) para formação profissional qualificante e consultoria profissional para a criação, pelos desempregados, de auto-emprego e micro-empresas.
  10. Desconto das rendas de habitação social no cheque social único e sua entrega às câmaras municipais ou outras entidades públicas detentoras das habitações.
A situação do País é tão grave que não admite temor.


* Imagem picada daqui.


Actualização: este poste foi emendado às 13:40 de 26-8-2011 e actualizado às 21:39 de 27-8-2011 e 12:46 de 29-8-2011.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

A necessidade de um jornal digital da direita moderada cristã

Refiro do poste anterior um tema novo: a necessidade de criação pela direita moderada cristã de um  jornal digital, de baixo custo.

Os cristãos portugueses têm muito a aprender com os espanhóis na intervenção mediática e não apenas com a clareza doutrinária da Cadena Cope. Convém estudarmos os exemplos de Libertad Digital e Intereconomia. E note-se que estes dois projectos não foram reacções a uma imprensa  dominada pela esquerda - já havia, em Espanha, o ABC, El Mundo, La Razón, La Vanguardia (Catalunha) e a Antena 3, para além de rádios e outros meios destes grupos.

Em Portugal, os meios de comunicação estão quase todos nas mãos da esquerda. Ainda que os grupos mediáticos portugueses tenham patrões que se presumem serem de direita usam esses meios para a prossecução dos seus outros negócios com o poder político. A linha ideológico-política desses meios é claramente esquerdista, mesmo a do Público do católico Belmiro de Azevedo. Por outro lado, para além de jornais locais e de algumas rádios locais, de influência muito limitada, a própria Igreja tem a agência Ecclesia, que apenas emite informação estritamente religiosa, e uma Rádio Renascença que foi neutralizada e socialistizada. Ora, sem voz não é possível evangelizar e realizar.

Os cristãos portugueses devem criar eles mesmos os instrumentos mediáticos de intervenção activa, independentes. Convém que sejam meios independentes, pois se a propriedade pertencer à hierarquia da Igreja o meio será tolhido pela pressão inevitável do poder político e acaba neutralizado, sem notícias e depois sem audiência e sem dinheiro. O projecto de televisão da Igreja, que soçobrou principalmente por contradições políticas internas à própria Igreja - tudo o que não é carne nem peixe, acaba por ser repelido pelo mercado - não pode ser desculpa para a inacção. E não admito que este Governo PSD-CDS ousasse opor-se à intervenção cristã em novos meios de comunicação, precisamente da sua área sociológica.

No nosso País, a direita moderada cristã, conservadora e liberal, portuguesa não dispõe neste momento de qualquer meio de comunicação. É interessante discutirmos a possibilidade de criação de um (ou mais) jornal digital de informação livre e opinião franca, de baixo custo, que seja a base de um projecto mediático consequente.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

A Igreja pelos mares da história


Continuo a reportagem à distância sobre a Jornada Mundial da Juventude, em Madrid, e concluo pela necessidade de intervenção mediática dos católicos em Portugal.

Na sua linguagem intemporal e simples, o Papa Joseph Ratzinger, o filósofo profundo do Amor incitou os jovens, na Via Sacra, da praça Cibeles, na tarde de 19-8-2011, «a carregar sobre os (...) ombros o sofrimento do mundo» e a superar essa dor partilhada com «a Boa Nova que devolve a esperança ao mundo».

Na sua visita, de sábado, 20-8-2011, à Fundación Instituto San José, da Ordem Hospitaleira de São João de Deus, organizada para demonstrar ao sector laicista, o relevo da função assistencial da Igreja em Espanha, neste caso no tratamento de deficientes, o Papa acentuou «a dignidade de cada vida humana», «a dignidade inestimável da vida, de cada vida», «demasiadas vezes» posta em dúvida pelo egoísmo humano. Defendeu os jovens cristãos, «protagonistas» da «civilização do amor», confortando-os na sua fé fustigada pelo assédio secularista, dizendo-lhes que «a nossa sociedade (...) precisa de vós».

Na noite de 20-8-2011, já no recinto do aeroporto de Cuatro Vientos, na Vigília de Oração, no meio da «grande aventura», e da «força maior do que a chuva» perante a tempestade que é também um sinal dos tempos que a Europa e o mundo atravessam, o Papa concentrou os jovens cristãos na relação íntima com Cristo, para lá das «verdades abstractas», com que os dogmas são simplificados pelo ateísmo dominante, e especialmente dominante nos jovens sujeitos à ubíqua e constante mensagem secular. Bento XVI denunciou, uma vez mais, «a cultura relativista dominante» que «renuncia e menospreza a busca da verdade» e apelou para a generosidade dos jovens no amor a Deus. Apresentou-lhes ainda a alternativa do matrimónio face à convivência informal, que se assume como regra social, relações mais ou menos curtas, experiências de euforia rápida e mágoa duradoura, cada vez menos registadas por casamento sequer civil, com o efeito colateral de mães solteiras e pais ausentes, quando a vida perdura, pelo amor condicionado das mães, para lá da borracha, das pílulas abortivas e do negócio do aborto cirúrgico tardio, pago pelo Estado e incentivado com subsídio de maternidade (!?...).

Na missa da manhã de domingo, 21-8-2011, onde estiveram dois milhões de pessoas, a culminar uma jornada redentora onde também tive a família, o velho Papa pediu aos jovens para serem assíduos à eucaristia dominical e aos demais sacramentos e se inserirem na vida das paróquias, pois «não se pode seguir a Cristo solitariamente», numa espécie de religião à la carte, a que se recorre, selectivamente, em alturas de ansiedade. No caminho individualista, um comportamento que predomina na sociedade actual, em que o jovem vai por sua conta, e sem apoio, à procura da fé - procurar Deus sem a Igreja -, este corre o risco de «não encontrar nunca Jesus Cristo ou acabar seguindo uma falsa imagem Dele», uma espécie de ídolo fátuo de uma ânsia desorientada. O vigário de Cristo avisou-os para não se deixarem «seduzir pelas falsas promessas de um estilo de vida sem Deus», vazio nos momentos largos de amargura que pontuam uma geração (entitled generation) que reclama direitos materiais já perdidos e sofre na frustração dessa expectativa terrena ou se angustia na ressaca do êxtase virtual fugaz, perante a falta de plenitude que só se alcança verdadeiramente em Deus. Na despedida, enquanto o Papa dava a bênção final, ouvia-se um coro rociero a cantar «Cuando un amigo se va», que talvez fique, a exemplo do «Amigo» para João Paulo II no México em 1979, como a canção popular de memória de Bento XVI, praticante de música clássica.

À saída para Roma, na tarde de ontem, 21-8-2011, no aeroporto de Barajas, onde compareceram os reis, e as autoridades locais e regionais, uma representação protocolar do Governo e do Parlamento e a representação do poder judicial e do poder militar (alegadamente proibido pelo ministro da Defesa de honrar o Papa com exibição de aviões e paraquedistas), Zapatero não esteve. O máximo objectivo do Governo socialista, para além da provocação e reacção (que não ocorreu, pelo compartamento pacíficio dos católicos), era também limitar a liberdade de expressão do Papa sobre a situação social espanhola, refreando a exposição dos valores cristãos. Na sua alocução final, o Papa, que raramente revela os seus sentimentos íntimos, confessou-se «feliz», afirmou que «sentiu-se muito bem na Espanha» e deixou aos espanhóis, nesta hora de provação política, a mensagem da «confiança na Providência, que guia a Igreja pelos mares da história».

A Jornada Mundial da Juventude, de Madrid, de 18 a 21 de Agosto de 2011, foi um êxito muito maior do que se previa. Festa, paz, humildade, alegria e força. Um sucesso organizativo: dois milhões de peregrinos na missa final (a maior missa de sempre em Espanha), 600 milhões de telespectadores, 24.500 voluntários, sem mortes conhecidas, decorrendo tudo com muita calma e paciência nos recintos, segundo me contaram - apesar da quadrícula não funcionar a partir de certa altura porque a preocupação da polícia era evitar atropelos - e com logística eficaz, serviços de saúde, água e comida. Para além de desmontar a falsidade do argumento do custo da Jornada para o Estado, uma desculpa para os protestos anti-religiosos, pois o evento terá gerado 160 milhões de euros de receita para a Espanha, face a um custo de 50 milhões de euros auto-financiado pelos próprios peregrinos (70%), donativos particulares e empresas patrocinadoras (30%), que também cobravam pelos serviços.

A Jornada foi um exemplo de concórdia para a Espanha dividida pelo Governo socialista e de humildade perante a arrogância e o assédio, favorecido pelo Governo do PSOE, dos extremistas laicos, criticados até pelo insuspeito Arturo Pérez Reverte. E uma luz especial na alma dos jovens que ficaram marcados pela alegria da fé partilhada, num tempo de crescente abandono da Igreja pelos jovens e adolescentes, também em Portugal - um fenómeno muito preocupante que carece de muito maior empenho institucional e laical de conversão, num trabalho que não deve - não pode! - ser clandestino e medroso.

Em Portugal, a posição institucional confortável de desdém pela militância religiosa do episcopado espanhol e de colaboração obediente com o poder político maçónico anti-religioso - ao mesmo tempo crítico dos políticos católicos decentes... -, numa opção cómoda por um estilo de catolicismo clandestino, silencioso e fechado nas capelas, de discurso nuancée e doubletalk, até ligeiramente herético para amplificação dos sectores anti-religiosos, e que confina a acção à assistência social, declinando a responsabilidade da Nova Evangelização, tende a reduzir o rebanho de Cristo ao reduto dos idosos. Noutro plano, desaproveitam-se os instrumentos de intervenção próprios, com a socialistização da Universidade Católica, a neutralização da Rádio Renascença e a limitação da agência Ecclesia à informação estritamente religiosa, em contraponto ao proselitismo das universidades espanholas ligadas à Igreja e à clareza corajosa da Cadena Cope.

Contudo, os cristãos portugueses não podem alienar a responsabilidade da intervenção mediática para a hierarquia, queixando-se depois da inocuidade ou compromisso, ou prolongando eles próprios uma relação interesseira contra-natural com o poder anti-religioso. Os cristãos portugueses têm muito a aprender com os espanhóis na intervenção mediática. Convém estudarmos os exemplos de Libertad Digital e Intereconomia. Os cristãos portugueses devem criar eles mesmos os instrumentos de intervenção activa, independentes da pressão política a que a hierarquia seria sujeita se deles fosse proprietária. O projecto de televisão da Igreja, que soçobrou principalmente por contradições políticas internas à própria Igreja - tudo o que não é carne nem peixe, acaba por ser repelido pelo mercado - não pode ser desculpa para a inacção. E não admito que este Governo PSD-CDS ousasse opor-se à intervenção cristã em novos meios, precisamente da sua área sociológica. No nosso País, a direita moderada, cristã, conservadora e liberal, portuguesa não dispõe neste momento de qualquer meio de comunicação. É interessante discutirmos a possibilidade de criação de um projecto mediático-digital de baixo custo, de informação e opinião.

sábado, 20 de agosto de 2011

A violência dos homens que se julgam deuses perante a humildade de Deus que se fez homem

A XXVI Jornada Mundial da Juventude, em Madrid, entre 18 e 21 de Agosto de 2011, que congrega cerca de dois milhões de jovens com o Papa Bento XVI, tem decorrido com notabilíssima temperança e caridade da parte dos cristãos, objectos da estratégia de tensão do Governo socialista espanhol, a três meses das eleições que removerão o PSOE do poder.

As eleições marcadas por José Luiz Rodríguez Zapatero para 20 de Novembro de 2011, aniversário da morte de Francisco Franco e de José Antonio Primo de Rivera, já indicavam essa estratégia de confronto das duas Espanhas, que o primeiro ministro anti-católico radical, impôs nos seus mandatos, numa espécie de desforra da guerra civil de 1936-1939, com a reabertura das suas feridas fundas e a reaparição dos seus fantasmas. A estratégia de Zapatero, numa versão suave da strategia della tensione aplicada na Itália do pós-guerra em Itália pelo arco da direita ao centro esquerda e Nato, através dos serviços de informação, pretende a crispação político-religiosa, através da provocação e desinformação, para induzir uma resposta dos cristãos que desencadeie nova corrente de provocações, num círculo vicioso de conflito frio. Zapatero aliás, sintomaticamente, recupera para o poder socialista a estratégia de acção-repressão-acção violenta da extrema-esquerda, que a ETA tornou doutrina oficial em 1964 e que socialistas, anarquistas e comunistas, espanhóis praticaram com maior intensidade desde o início de 1936, e que já vinha de Maio de 1931 (PÍO MOA, Los Mitos de la Guerra Civil, La Esfera de los Libros, 2003).

Tal como a direita e o centro-esquerda italiano, com o apoio da Nato, usaram a extrema-direita como idiotas de serviço, os socialistas espanhóis usam a extrema-esquerda, ateia radical, para o trabalho sujo de provocação e confronto, para virem depois apresentarem-se como conciliadores pacíficos face ao perigo ultramontano do catolicismo... Excepcionalmente ao mimetismo habitual dos países ibéricos, José Sócrates não precisou de ir tão longe em Portugal porque a direita lusitana (?) institucional foi complacente e timorata, uma parte Igreja colabor(acion)ou ou acomodou-se, e os meios de comunicação com excepção dos blogues, foram totalmente controlados. Mas Sócrates, ao contrário de Zapatero nem sequer tinha um objectivo político: tinha um objectivo financeiro.

O maçon Zapatero, de saída do Governo ao qual não se recandidata, faz a visita de cortesía ao Papa na Nunciatura, em contraste com a sua ausência na recepção do Sumo Pontífice em 6-11-2010, em Santiago, apenas comparecendo num breve encontro protocolar no aeroporto de Barcelona. Ao mesmo tempo, solta e controla o nível da tensão inaudita na capital espanhola durante um encontro de jovens cristãos pacíficos, de dimensão mundial, pouco se importando com a imagem da Espanha no mundo e a ofensa aos católicos e o assédio agressivo aos visitantes. Zapatero falhará a sua prancha, pois o PSOE será corrido do poder em Novembro, mas a ruína económica e a guerra fria em que deixou a Espanha terão efeitos muito perniciosos até no longo prazo.

A utilização da Jornada dos cristãos para a estratégia de tensão dos socialistas era previsível, mas a ousadia do Governo socialista tem surpreendido. Desde a broma do perigoso terrorista que planeava um atentado contra os manifestantes anti-Papa, noticiada com estrondo na véspera da chegada do Santo Padre (e que a organização Europa Laica acusa os bispos de incentivarem), até à permissão de marcha anti-papa pelo meio dos jovens e adolescentes peregrinos, manifestação que depois reprime e que assusta os espavoridos jovens cristãos, quase tudo vale numa Espanha dividida, onde o seculararismo se impôs face à liberdade de pensamento, de crença, de devoção e de expressão. A perseguição dos crentes e a tentativa de erradicação da Igreja do espaço público (sempre na obsessão comunista do controlo físico das ruas) chegaram em 2011 a um nível perigoso, como: profanação de igrejas, com mulheres manifestantes interrompendo uma celebração religiosa e desnudando-se no altar de uma capela; grafittis de ameaça («Arderéis como en el 36!»); ao botellón de cervejas e droga em capelas universitárias, enquanto increpam as católicas a afastar os rosários dos seus ovários.

Agora, os protestos laicos, precisamente durante a Jornada, encabeçados pelo grupo Europa Laica e pela Asociación de Ateos y Librepensadores (AMAL),  com o tema oficial "Dos meus impostos, ao Papa, zero. Estado Laico já"», redundaram rapidamente em insultos e empurrões. O objectivo é atemorizar os cristãos - e especialmente os jovens e adolescentes e os seus pais - a não participarem nas celebrações, conquistando a sociedade maioritariamente crente através da violência de uma vanguarda totalitária, num controlo crescente dos media e do poder político. Pretendem a perseguição do Papa onde quer que ele vá, com o propósito de confinar os clérigos ao espaço vedado das igrejas. Os anti-religiosos emulam os tumultos dos anarquistas burgueses da extrema-esquerda nas cimeiras dos países ricos. Porém, debaixo da mensagem de responsabilidade financeira contra os gastos do Estado espanhol com a recepção do Papa - 50 milhões de euros pagos por patrocínios e donativos, em contraponto às receitas de 100 milhões de euros de inscrição dos jovens, mais 150 a 250 milhões de gastos directos dos jovens, além da publicidade a Madrid e Espanha no mundo, com extraordinário ganho de notoriedade e consequentes receitas turísticas -, irrompe o ódio desumano, o desrespeito por quem crê diferente e a injúria desavergonhada, como se pôde ler nas frases dos cartazes da manifestação e ouvir nas palavras de ordem.

Os protestantes laicos não querem consentir ao Papa a mesma liberdade de expressão de um «indignado» da Puerta del Sol - como disse Ana Botella, mulher de José Maria Aznar -, mas o Papa conjurou os jovens, logo à chegada, em 18-8-2011: «Que nada e ninguém vos tire a paz; não vos envergonheis do Senhor». Ele já tinha prevenido na mensagem para esta Jornada, e repetiu ontem, 19-8-2011, no Escorial, que
«hoje (...) se constata uma espécie de "eclipse de Deus", uma certa amnésia, senão mesmo uma verdadeira rejeição do cristianismo e uma negação do tesouro da fé recebida, com o risco de se perder a própria identidade profunda».
Foi ainda no Escorial que Bento XVI, em 19-8-2011, chamou a atenção de jovens professores universitários para não perderem a sensibilidade e o encanto com a verdade» (realce meu) e para a ameaça de uma «visão utilitarista da educação mesmo universitária», cujo objectivo é «a capacitação meramente técnica», até  ao perigo dos «abusos duma ciência que não reconhece limites para além de si mesma, até ao totalitarismo político», ou seja, a secundarização da moral e o apagamento de Deus. Universidade que Joseph Ratzinger chama «a casa onde se busca a verdade própria da pessoa humana», pois «o ensino não é uma simples transmissão de conteúdos, mas uma formação de jovens».

Logo no acolhimento dos jovens, na quinta-feira, 18-8-2011, na praça Cibeles da capital espanhola, o Papa havia alertado para a futilidade das modas «que se contentam com seguir as correntes da moda, se refugiam no interesse imediato» e o totalitarismo do politicamente correcto:
(...) há muitos que, julgando-se deuses, pensam que não têm necessidade de outras raízes nem de outros alicerces para além de si mesmo. Desejariam decidir, por si sós, o que é verdade ou não, o que é bom ou mau, justo ou injusto; decidir quem é digno de viver ou pode ser sacrificado nas aras de outras preferências; em cada momento dar um passo à sorte, sem rumo fixo, deixando-se levar pelo impulso de cada instante. Estas tentações estão sempre à espreita. É importante não sucumbir a elas, porque na realidade conduzem a algo tão fútil como uma existência sem horizontes, uma liberdade sem Deus. Pelo contrário, sabemos bem que fomos criados livres, à imagem de Deus, precisamente para ser protagonistas da busca da verdade e do bem, responsáveis pelas nossas acções e não meros executores cegos, colaboradores criativos com a tarefa de cultivar e embelezar a obra da criação.» (Realce meu).
A resposta cristã deve estar na humildade humana e na firmeza pacífica e paciente dos princípios, como Bento XVI. Crentes na vitória de Deus e corajosos na fé, mesmo que cansados e sofridos.


* Logótipo da XXVI Jornada Mundial da Juventude, Madrid, Espanha, 18-8-2011.



Actualização: este poste foi emendado às 1:21 de 21-8-2011 e às 10:55 de 22-8-2011..

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Socialismo e desordem social



Os distúrbios na Inglaterra, entre 6 e 10 de Agosto de 2011, que ocorreram após a polícia ter abatido Mark Duggan, alegado líder do Star Gang e traficante de droga (uma amiga da família contesta, dizendo que ele andava «envolvido em coisas», mas não era violento), numa tentativa de detenção no quadro da Operação Tridente (investigação de crimes com armas na comunidade negra), trouxe várias lições.

À manifestação pacífica de protesto no bairro de Tottenham seguiram-se motins, incêndios e pilhagens, noutros bairros de Londres que mais tarde alastraram a outras cidades inglesas. Os primeiros motins de membros da comunidade local negra foram engrossados por gangues, jovens e adolescentes, de todas as cores, tendo os distúrbios passado da reacção de grupos étnicos que se sentem marginalizados para a destruição e pilhagens da sub-cultura do crime e a degeneração daquilo que o primeiro-ministro Cameron chamou a «sick society» (sociedade doente). Entretanto, perante a passividade inicial da polícia, em inferioridade numérica, e as tácticas inúteis de kettling face a multidões e bandos móveis, foram as próprias comunidades locais, nomeadamente as oriundas sub-continente indiano, que se organizaram na protecção das lojas e casas.

O Governo britânico conseguiu debelar os tumultos, sem recurso a munições de borracha, canhões de água e granadas de choque, ao contrário do que a polícia e o exército fazem, na Irlanda do Norte (uma expressão dos double standards britânicos), nem a reclamada intervenção do exército. Para tal, a polícia usou tácticas menos duras, como: ameaça de emprego da força (o que levou muitos pais a reterem os adolescentes e jovens em casa e os próprios adolescentes e jovens a atemorizarem-se perante o fim da ausência da lei nas ruas), infiltração dos bandos, preferência pelo controlo dos grupos em vez de defesa de perímetros, detenção de cabecilhas, polícia de choque com cães para assustar pilhadores, publicação de fotografias e videos da destruição e pilhagens nos media e penas rápidas e pesadas. Apesar da desorientação inicial os tumultos foram contidos de modo muito mais eficaz do que os émeutes nos subúrbios franceses, em 2005, ou os riots em Los Angeles, em 1992.

Mas mais importante do que as tácticas policiais é compreender as causas e responder-lhes. Até porque a polícia não está preparada para as tácticas dos jovens e adolescentes delinquentes e revoltados: o arrastão brasileiro foi agora actualizado, nos tumultos ingleses, com hoodies e Blackberry, e nos EUA já evoluíram para roubos através de flash mobs, para os quais se pede o bloqueio temporárioe localizado da rede móvel - o mais próximo disso, em Portugal, são as pilhagens de algumas claques clubísticas em estações de serviço. Os tumultos com origem racial, que também tivemos no bairro da Bela Vista, de Setúbal, em Maio de 2009, e que podiam ter-se verificado de forma mais grave em Março de 2010 com a morte do rapper MC Snake, de Chelas.  A próxima faísca pode fazer explodir o caldeirão e convém que a polícia se previna para conter o alastramento da violência.

As causas são várias e, como habitualmente, os diagnósticos são enviesados por perspectivas ideológicas. A esquerda pretende ver nos tumultos ingleses a culpa do Governo Cameron na austeridade da reforma do Governo Cameron nos programas sociais, de Fevereiro de 2011 - um só cheque por família (em vez de uma floresta de apoios - em Portugal, o rendimento social de inserção é acumulável com 15 outros apoios...), tecto anual de 30 mil euros por família nos apoios sociais (em Portugal, não há tecto...), incentivo ao trabalho com perda de apoios durante três anos para quem se recuse a trabalhar -, no corte do financiamento de clubes de jovens e nas reduções na polícia.

Outras causas dos distúrbios apresentadas do lado da esquerda são: depressão económica, desemprego, exclusão social, pobreza, tensão face à polícia, racial profiling, discriminação racial e emulação de consumo por partes dos pobres face aos ricos, para além do subjacente marxismo da luta de classes. Do lado da direita atira-se: parasitismo social, cultura de gangue, irresponsabilidade, ineficácia policial, multiculturalismo, comportamento da classe baixa e até emulação dos negros pelos brancos (uma espécie de doutrina Eminem aplicada à análise fleumática da delinquência...).

No meu entendimento, embora a questão étnica deva ser considerada no contexto da discriminação e principalmente da vitimização, de um racismo que tem dois sentidos, os tumultos são o resultado inevitável do Estado socialista, uma transmutação marxista nos anos 1990 do Estado social. Um Estado que dá tudo - alimentação, seguro de desemprego, ensino, saúde, habitação e inclusivé... dinheiro, não exige trabalho, nem comportamento social, e consente excepções de delinquência e de abuso. Como o Estado dá, uma parte dos que se viciaram nos subsídios e/ou são adolescentes ou jovens (mesmo de classes média e alta...) pretende agora o resto: smartphones, wide screens, roupas e adereços de marca, stereos, bebidas alcoólicas, etc.. A Entitled Generation habituou-se a exigir e a obter, e alguns, desorientados em valores que não receberam ou que entretanto subverteram, entendem que roubar é socialmente aceitável e quanto muito, se forem apanhados, objecto remoto de penas brandas pela sociedade adulta complacente.

O socialismo projectou a preguiça e agora a preguiça cobra-lhe o preço da desordem social. O mundo vai demorar muito tempo a recuperar do socialismo e o custo social será enorme. É melhor começar já a reforma do Estado para a remoção efectiva do socialismo.


Actualização: este poste foi emendado às 0:50 de 20-8-2011.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

«Razoavelmente inserido na sociedade»


Ainda a tempo. Uma reportagem exemplar de Sílvia Caneco, no i, de 19-7-2011, sobre a situação degradante do Estado social(ista) português «Ramiro tramou-se por não ter espelhos em casa».


* Imagem picada daqui.

domingo, 14 de agosto de 2011

O Estado não devia pagar o pato do socratíssimo BCP


Relato da sessão de bolsa de Lisboa de 11-8-2011, da Agência Financeira: «o BCP desliza 2,96% para 26 cêntimos».

Diário Económico, de 9-8-2011:
«Fontes do sector bancário nacional consideram natural o possível interesse dos franceses [do BNP Paribas] no Millennium BCP. "Só um banco como o BNP Paribas ou outro da mesma ‘divisão' poderá comprar o BCP, porque só um banco desses pode suportar o défice do fundo de pensões do BCP. É isto que tem protegido o banco de uma OPA, aliás", afirmou um responsável do sector, que não quis ser identificado. O gestor referia-se ao défice actuarial do fundo de pensões do BCP, que em 2010 aumentou em 407 milhões de euros para 1,9 mil milhões.» (Realce meu)

Jornal de Negócios, de 12-8-2011, noticiando o segundo pacote fiscal anunciado pelo ministro das Finanças Vítor Gaspar (que incluem subida, em Outubro de 2011, do IVA de 6% para 23% na electricidade e gás):
«Os fundos de pensões da banca [privada] vão passar para a Segurança Social. (...)
O presidente do Millennium BCP, defendeu no ano passado que os fundos de pensões deveriam ser todos transferidos para a Segurança Social. O BCP tem o maior fundo de pensões do sector, com activos superiores a cinco mil milhões de euros, tendo efectuado, no ano passado, uma transferência de cerca de 50 milhões de euros para o fundo. (...)
Estas responsabilidades vão ser todas transferidas para o Estado, de acordo com o anúncio feito esta manhã pela troika. Com a transferência dos fundos de pensões, o Estado encaixa cerca de 500 milhões de euros. O objectivo é o de cobrir despesas extraordinárias referentes ao BPN e à Região Autónoma da Madeira. Segundo as contas da Comissão avançadas hoje em conferência de imprensa, o custo líquido do BPN deverá rondar os 320 milhões de euros, a que se juntam 277 milhões de euros com a Madeira.» (Realces meus).
Aparentemente, a colossal cratera socratina desmentida foi agora reconhecida pela União Europeia e FMI (a chamada troika), sob a forma de um buraco orçamental que teria forçado o Governo a apropriar-se dos solventes fundos de pensões da banca privada,  Mas, eu, efectivamente, não gosto de aparência.

O Estado português não devia suportar o custo da urgente venda do aflitíssimo e socratíssimo BCP-dos-26-cêntimos, assumindo a responsabilidade pelas pensões dos seus funcionários que, segundo se alega, o seu insuficientemente capitalizado fundo teria muita dificuldade em conseguir, e assim resolvendo um problema  de solvência que dificultava a sua venda. Tal como não devia assumir a responsabilidade pelas pensões dos funcionários dos demais bancos privados. Nem sequer é justificável um road show estatal de venda de um banco privado. Ainda que os Estados que na União Europeia decidem os empréstimos à República Portuguesa, queiram assegurar o fluxo de pagamentos dos créditos concedidos pelos seus bancos aos bancos privados nacionais.

Mais uma vez, condeno o axioma neo-socialista da nacionalização dos prejuízos dos bancos privados para a sustentação da economia, que é influenciado pela polivalência de interesses e rotativismo de cargos, e que se tornou doutrina oficial até para cá dos EUA. Nos EUA ainda existe a justificação dos 44 milhões de reformados que recebem pensões de bancos e seguradoras privados, cuja falência podia fazer perder as reformas, um caso que não se regista neste Portugal do BPN. O axioma da necessidade de nacionalização dos prejuízos dos bancos privados não era brandido nos tempos dourados dos seus lucros reais astronómicos. O axioma entronca no debate das causas da Grande Depressão económica de 1929, quando a administração norte-americana contraíu a liquidez e deixou muitos bancos falir, mas que negligencia a estagnação económica japonesa das últimas duas décadas, na qual a protecção das instituições financeiras privadas, cheias de crédito malparado, e dos grandes conglomerados too-big-to-fail, não trouxe a recuperação económica, e que também a persistência da crise económico-financeira nos EUA e na Europa, desde 2007, refuta. A protecção dos bancos privados é a doutrina dominante destes tempos de crise e determina, por exemplo, empréstimos do Banco Central Europeu aos bancos privados a uma taxa de juro bastante mais baixa do que para os próprios Estados... A nacionalização dos prejuízos pode chegar à nacionalização total - como no caso do BPN, que custou ao Estado 5 mil milhões de euros (!) para que o socratismo o pudesse agitar perante o Presidente Cavaco Silva e o PSD - ou à subvenção através de variados esquemas, mais ou menos dissimulados. O axioma da nacionalização dos prejuízos bancários degenera no absurdo de o Estado não admitir a falência de qualquer banco privado, mas arriscar a sua própria falência muito provocada pelo custo dessa nacionalização...

Ora, o Estado não existe para a solvência dos bancos privados e a protecção dos seus accionistas e depositantes caçadores-de-taxas: o Estado existe para a solvência e a protecção dos cidadãos.


* Imagem picada daqui.

sábado, 13 de agosto de 2011

Limpeza Tide



No meio da perplexidade, importa louvar duas decisões do Governo recentemente conhecidas:
  1. A «limpeza» nos serviços de informação do Estado para a reintrodução da legalidade da República nesta área sensível.
  2. E a demissão pelo Governo Passos Coelho do famigerado Luís Capucha de dirigente da Associação Nacional para a Qualificação, que geria o Programa Novas Oportunidades, que foi anunciada pelo Prof. Nuno Crato, em 5-8-2011. Ficamos à espera de uma decisão sobre o POPH (Programa Operacional do Potencial Humano) do Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social (http://www.mtss.pt/) Ministério da Solidariedade e da Segurança Social.
Aqui serão encorajadas as medidas positivas que o Governo tome, tal como se contestam os adiamentos e as suas decisões negativas.


* Imagem picada daqui.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

A ponte é uma miragem

O ataque de Mário Soares à política do Governo PSD-CDS, na sua crónica na revista Visão, nesta quinta-feira, 12-8-2011, prova o erro do convite que lhe foi formulado para ser orador na Universidade de Verão da JSD e, ainda mais, a ingenuidade da estratégia de ponte do PSD com o PS sistémico. O único compromisso que o PS sistémico admite é aquele que mantenha a sua supremacia sobre o Estado.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Carta aberta ao Dr. Pedro Passos Coelho

Caro Dr. Pedro Passos Coelho
Presidente do PSD e Primeiro-Ministro de Portugal

É chocante o convite a Mário Soares para ser um dos oradores na Universidade de Verão da JSD, que decorrerá de 29 de Agosto a 4 de Setembro de 2011, em Castelo de Vide (e que tem ainda o Eng.º Ângelo Correia como conferencista, em 31-8-2011). O convite é chocante por causa do País e por causa do PSD.

Por causa do País. Mário Soares é: o responsável-mor pela tragédia de guerras civis e fuga apressada da «descolonização exemplar» - da Guiné a Timor - e provocador do mau relacionamento com os novos países africanos independentes; o causador da instabilidade governativa permanente; o instituidor do sistema promíscuo - entre poder político, poder financeiro, poder judicial e poder mediático - que transformou o País num pântano insalubre; o chefe máximo do meta-sistema que nos oprime; o controlador de media e perseguidor de jornalistas (lembre-se, por exemplo, o caso de Joaquim Vieira); o pseudo-monarca que tentou impor a sua dinastia política à democracia portuguesa; e o percursor do Estado socialista, que levou Portugal à beira da ruína.

Por causa do PSD. Mário Soares é: o arqui-adversário do partido, desde 1974; o homem que vilipendiou soezmente Francisco Sá-Carneiro e Snu Abecassis; o insidioso apoiante da divisão do Partido, através da ASDI; a principal força de bloqueio, enquanto enviesado Presidente da República, ao desenvolvimento do País liderado por Aníbal Cavaco Silva; o patrono da ascensão de José Sócrates ao poder, aproveitando - sem pudor - o impacto político dos crimes horrendos de abuso sexual de crianças da Casa Pia; o defensor de Sócrates à outrance, até ao fim e depois do fim; o apoiante da ensaiada candidatura presidencial de Sócrates em 2011 (manobra prevista neste blogue Do Portugal Profundo, em 22-10-2009, e que Soares confirma na entrevista ao Expresso, de 30-7-2011), uma candidatura que agora pretende pré-lançar para 2016; e o reorganizador da tutela socialista sobre o Estado de direito e o regime democrático.

Soares não pode ser legitimado pelo PSD, nesta ocasião e noutras, como pai do regime político português, numa posição de tutela sobre o próprio PSD e o Estado, acima do Presidente da República Cavaco Silva, uma espécie de padrinho de uma coligação oculta com o Partido Socialista, e sob o seu comando, que só permitiria ao PSD governar sujeito ao aparelho que o socratismo deixou a minar o Estado. É precisamente Mário Soares o adversário maior deste Governo PSD-CDS.

Não é tolerável a sugestão doce de compromisso com os socialistas sobre a porcaria: é urgente a limpeza do Estado. Não consta que, para lá da reserva ao apuramento do défice e dívida reais de Portugal nesta época de turbulência dos mercados financeiros, a União Europeia e o FMI se oponham à responsabilização judicial dos prevaricadores na corrupção dos negócios de Estado - não se trata sequer do processo à húngara pela negligência na condução das finanças do País, nomeadamente a infracção sucessiva da lei orçamental. O povo deseja a responsabilização dos envolvidos na corrupção de Estado, verificada através de auditoria e remetida, depois, ao Ministério Público para investigação, porque a corrupção é a causa principal da ruína do País.

Mário Soares não devia ter sido convidado para a Universidade de Verão da JSD, mas já que foi, sugiro que para cotejo da oração cor-de-rosa que proferirá, seja distribuído aos jovens, e adultos, participantes, a história negra do livro «Contos Proibidos - Memórias de um PS desconhecido», de Rui Mateus (o livro está esgotado, mas o download pode ser feito aqui), de 1996, e do meu livro «O Dossiê Sócrates», de 2009.

Dr. Pedro Passos Coelho: várias pessoas me deram boas referências suas, que não se sujam no pó de imputações conhecidas. É hora - porque não há outra -, de pôr em acção o carácter e demonstrar vigor na condução do Estado.

O PSD não pode renegar, nem sublimar, a história do País e do Partido. Tem de livrar o Estado do monstro da corrupção, enfrentar com coragem o desafio da limpeza da administração pública e da recuperação da soberania e demonstrar firmeza contra qualquer aliciamento de compromisso sistémico. A esperança de quem sofreu e venceu o socratismo não pode deixar de ser patrioticamente cumprida. A força está na autonomia face ao sistema.

Se, e só se, o Dr. Passos Coelho romper a teia de interesses financeiros e políticos, com que o pretendem cercar, e furar a membrana do medo, que os tíbios lhe recomendam preservar, terá o apoio decisivo dos combatentes de seis anos de socratismo para a salvação de Portugal.

Com os melhores cumprimentos patrióticos,

António Balbino Caldeira
a.b.caldeira@gmail.com
http://doportugalprofundo.blogspot.com/
http://viajusta.blogspot.com/



Entrevista de Mário Soares ao Expresso, de 30-7-2011, 1.ª página (linque temporário).
Clique na foto para aumentar.

Retrovisor



No blogue Retrovisor, de Vera Futscher Pereira, a revisitação da memória da criação do Governo PS-CDS (Janeiro-Agosto de 1978) desvelada por António Alçada Baptista, um escritor que tinha na Covilhã, uma dessas famosas casas que têm história. A aliança PS-CDS perdurou. Recomendo o blogue, bem como o livro homónimo, da capa acima. 

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Decadência dos EUA

Sobre a situação financeira da administração Obama, salva in extremis por um acordo com os republicanos, veja-se esta notícia da FoxNews, de 29-7-2011: «Apple has more cash than US».

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Uma tragédia anunciada

O composto de promiscuidade, medo e ingenuidade, é trágico. A promiscuidade envolve; o medo tolhe; e a ingenuidade perde. Um desastre.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Saldo actual da nacionalização do BPN=.... -5.000.000.000 euros


O Governo socratino, através da Caixa Geral de Depósitos, torrou pelo menos 5.040 milhões no BPN (valores de Janeiro de 2011). Ontem, 31-7-2011, o Governo PSD-CDS vendeu o BPN ao angolano BIC por 40 milhões de euros. Na estrutura accionista do BIC português prepondera Isabel dos Santos (filha do presidente José Eduardo dos Santos) com 25%, outros 25% são de Américo Amorim e a maioria do capital da filial portuguesa pertence a angolanos (agradeço a informação do Skeptikos). Saldo actual da nacionalização do BPN: -5.000.000.000 euros!! Além disso, segundo o Dr. Mira Amaral, no telejornal das 21 horas da SIC-Notícias, de 31-7-2011, que o ango-lusitano BIC apenas ficará com 750 funcionários e a indemnização de despedimento dos restantes 850 será paga pelo Estado, o que acrescerá ao custo afundado público da operação. Esta é mais uma herança negra do socratismo.

Se queria salvar o banco, o Governo socialista podia ter aceite, em 2008, a alternativa muito mais barata do plano Cadilhe, que implicava a injecção de 600 milhões de euros. O Governo socialista nem sequer ganhou, como esperava para jogar contra o Presidente da República, o baú de segredos de Cavaco Silva, que afinal apenas continha um saldo de compra a venda de acções preferenciais. Safaram o seu dinheiro os accionistas da SLN (em vez de o perderem todo) e os depositantes. Ora, os investidores sabiam o que compraram e quem tinha depósitos no BPN sabia ao que ia: melhores taxas de depósito e maior risco. Como aqui defendi, o Estado devia ter deixado falir o BPN. O Estado não pode cobrir o chamado «risco sistémico», absorvendo o vício do próprio sistema.

Já se pode concluir que é uma ilusão (e uma promiscuidade repulsiva) o presumido dogma revelado pela grande depressão económica de 1929, de que não se devem deixar falir os bancos deficitários, para que a recessão não seja tão funda e tão longa. O Estado gastará uma grande parte do dinheiro angariável no apoio dos bancos, das seguradoras e dos conglomerados, durante mais duas décadas (como no Japão), a economia irá regredir no curto, médio e longo-prazo (como nos EUA, apesar da aceleração da máquina rotativa governamental de produção de dólares) e sobrará menos dinheiro ao Estado para acorrer aos mais necessitados e à própria economia. Já os banqueiros e os investidores financeiros ficarão mais ricos com essas tranferências directas para os seus bolsos. Até que o povo aqui e nos outros países sujeitos ao mesmo dogma e à mesma promiscuidade financeira, se canse. Importa lembrar que o Estado não existe para o serviço prioritário dos bancos e dos investidores financeiros.


* Imagem picada daqui.