segunda-feira, 22 de julho de 2019

A sina de Vieira da Silva - e o destino de Sócrates



Em fevereiro de 2005, José António Vieira da Silva aderiu, com surpresa geral, ao governo de José Sócrates. Registe-se que o calculado aparatchik não foi envolvido no abuso sexual de crianças da Casa Pia e podia, portanto, livre para deixar a sua habitual sombra e aguentar os holofotes. O fiel jardineiro da quinta do grupo estava cansado do trabalho duro do campo, a vista estrábica a precisar de novas lentes, a ferrugem do tempo a corroer-lhe a ambição, a filha doméstica a precisar de tacho e lugar à mesa. Convencido de que o escândalo de abuso sexual das crianças, mártires vivos, da Casa Pia tinha afetado irremediavelmente a carreira política dos líderes da sua fação, traíu o grupo e juntou-se ao arquirrival de Paulo Pedroso. Enquanto os outros despenados aguentavam a fome de poder com migalhas universitárias e subsídios para custas, Vieira da Silva banqueteava-se com o poder e estendia pelo País a sua rede de criadagem.

No hiato social-democrata de 2011-2015, depois da ruína financeira e económica do Pais em que também participou, e dos escândalos de corrupção, que conheceu por dentro do Governo, Vieira da Silva que até havia sido promovido em 2009, da pasta do Trabalho para a da Economia com a função de distribuição dos fundos europeus, conseguiu, todavia, não ser responsabilizado judicialmente.

Note-se que Pedro Passos Coelho, tolhido pela manivérsia na Tecnoforma - de muito mais calado do que aquilo que surgiu à tona da água suja - de que os serviços de informação socialistas tinham conhecimento, decidiu poupar o inimigo. Em vez da barrela aqui então recomendada, não solicitou a investigação do Ministério Público sobre os polémicos negócios dos governos socratinos: Vivo-Oi, Siresp, parcerias público-privadas rodoviárias (que ainda anda aos tombos no DCIAP...), cartões de crédito rosa-choque do IGCP, Magalhães, Venezuela, Líbia, etc. E veio a morrer-lhe nas mãos. Os táticos caiem sempre por causa da negligência da estratégia...

No momento em que o compagnon de route da fação ferrosa, António Costa, depois de várias hesitações, avançou para candidato a secretário-geral do PS contra o medroso António José Seguro, Vieira da Silva foi o homem escolhido para organizar a campanha, energizando as ligações concelhias da Segurança Social e tratando da logística da chapelaria. E  quando Costa desceu, em janeiro de 2014, do quinto andar do n.º 105 da Avenida da Liberdade, em Lisboa, onde residia por gentileza da holding Violas Ferreira, para o Largo do Rato, e depois, em novembro de 2015, para o governo da coligação socialista-leninista, Vieira da Silva acompanhou-o. Tudo em família, até conseguiu promover a ministra e da Presidência, a sua filha Mariana...

O homem discreto foi apanhado em relações raríssimas, de que, apesar de esforço denodado e pedidos aflitivos de ajuda, não conseguiu que o livrassem. Isolado, ele e sua filha, pela fação poderosa, de que os jovens turcos Ricardo Paes Mamede e Pedro Adão e Silva são operacionais, e sem esperança de suceder a Ferro Rodrigues, cujo fígado tem aguentado o stress do Parlamento, chegou a hora do ostracismo. António Costa que o usava como amortecedor face à pressão da fação poderosa radical, não o conseguiu aguentar. Já sem forças, e sem vocação para cantar (o que é uma pena!...), Vieira da Silva não escapa ao fado da sua sina.
«Reza-te a sina nas linhas traçadas na palma da mão,
Que duas vidas se encontram cruzadas no teu coração. (...)
E mais ainda te reza o destino que tens de amargar,
Que a tua estrela de brilho divino deixou de brilhar...»
Vieira da Silva é, nesta altura do campeonato socialista de um país onde a coligação governamental (PS, Bloco e PC) vale 59,2% das intenções de voto, e PSD e CDS apenas 27,6%, segundo sondagem da Pitagórica publicada pelo DN, de 22-7-2019), apenas um calhau no caminho das pedras. Pode recuperar mais tarde, e é cedo para dizer que prever que terminou a carreira política. Mas dificilmente regressará à ribalta. Veio da sombra para os holofotes e agora cai para a penumbra. Os ex-colegas de grupo não esquecem a traição.

Destino ainda mais negro é o do seu aliado circunstancial José Sócrates. Dos cromos da escola aos negócios de Estado, de que importa ao homem possuir o mundo inteiro se vier a perder tudo?... Não adianta ao ex-primeiro-ministro andar por aí a pedir batatinhas para o guisado do costume, que as portas socialistas fecharam-se-lhe. Um eventual cofre de trezentos milhões pode garantir muitos favores, mas o dinheiro é pestilento... E não há rosa nenhuma que o possa safar. Muitos anos depois, chegou a hora da vingança de Paulo Pedroso sobre o rival que, indiretamente e com justiça, o nocauteou em 2003. O povo - homens, mulheres, velhos e crianças - e a razão não importam nas guerras fratricidas do poder.


Limitação de responsabilidade (disclaimer): As personalidades referidas neste poste, objeto das notícias dos média que comento, não são, que eu saiba, suspeitas ou arguidas de qualquer ilegalidade ou irregularidade; e, quando arguidas, gozam do direto constitucional à presunção de inocência até ao trânsito em julgado de eventual sentença condenatória.

5 comentários:

  1. Mamãe eu quero, mamãe eu quero
    Mamãe eu quero mamar!
    Dá a chupeta, dá a chupeta, ai, dá a chupeta
    Dá a chupeta pro bebê não chorar!
    Dorme filhinho do meu coração
    Pega a mamadeira em vem entra no meu cordão
    Eu tenho uma irmã que se chama Ana
    De piscar o olho já ficou sem a pestana
    Eu olho as pequenas, mas daquele jeito
    E tenho muita pena não ser criança de peito
    Eu tenho uma irmã que é fenomenal
    Ela é da bossa e o marido é um boçal

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  2. Os ratos abandonam o navio

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  3. ma·mão
    (mamar + -ão)
    adjectivo
    1. Que mama muito.

    2. Que, depois de desmamado, ainda pede mama.

    substantivo masculino
    3. Animal que ainda mama.

    4. Burro de um ano.

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  4. Importa dar a conhecer:

    "Em Aveiro o presidente da câmara pagou horas extraordinárias à equipa responsável pela revisão do PDM em junho-julho de 2019 (coisa nunca vista nos últimos 7 anos), para cumprirem os prazos já muito apertados para as entregas da revisão do PDM. Contudo, ao mesmo tempo autorizou férias de várias semanas, exatamente durante o mesmo período, ao recurso humano mais importante da equipa, ou seja da respetiva chefe - da divisão de planeamento! Para que serve esta chefe afinal, se não é necessária quando não há técnicos suficientes para acabar os trabalhos no horário de expediente normal para ser possível cumprir prazos?! Os recursos humanos, fretados para serm melhor pagos com horas extras não precisam de orientação da responsável maior pelo trabalho, numa altura de tão grande exigência?!….
    Dinheiro bem gasto em horas extraordinárias ou não?! "Muito boa gestão de recursos", tal como autoapregoa o presidente?! Bizarro! Esperemos que os resultados do plano também não o sejam - contudo a competência fica já posta em causa! Importava investigar se as horas extraordinárias são lícitas, pois o responsável maior foi de férias, deixando os subordinados em autocontrolo!!! O presidente que diz gerir tão bem os recursos humanos da autarquia, não quer o responsável do trabalho a fechar os trabalhos?! Competência em causa ou favorecimento ?! São necessárias explicações!!! Exijam-se!"

    Muito estranho ser publicado nas notícias (2019-08-02) que este documento de revisão (assim feito...) ter sido aprovado, por unanimidade, em sede de comissão consultiva – que é composta por 32 entidades!

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