«Não há machado que corte
A raiz ao pensamento.»
Carlos Oliveira (1969). Livre.
O DN, de 27-1-2020, com chamada de primeira página, um artigo de Fernanda Câncio sobre o jornal digital Notícias Viriato, citando também um relatório de 16-1-2020 sobre o Notícias Viriato, e outros textos, do MediaLab do instituto universitário ISCTE, e a opinião do seu coordenador, Prof. Gustavo Cardoso. Em 28-1-2020, Câncio reincidiu, en passant, no objeto e no modo, a propósito do sítio Bombeiros24, misturando um jornal digital, o Notícias Viriato, com um sítio de clickbait - aliás, uma prática metassensacionalista habitual da imprensa portuguesa. Outro naipe da orquestra desta sinfonia cacofónica, o Bloco de Esquerda, através do deputado Jorge Costa, pediu em 27-1-2020, no mesmo dia em que foi publicado o artigo de Fernanda Câncio no DN, requereu a audição urgente do Conselho Regulador da ERC (Entidade Reguladora para a Comunicação Social) no Parlamento.
Comento o artigo de Fernanda Câncio e a campanha associada contra o Notícias Viriato:
- O artigo de Fernanda Câncio abre com a seguinte frase:
- «Um dos 47 sites sob vigilância no projeto Monitorização de propaganda e desinformação nas redes sociais do Medialab do ISCTE/Instituto Universitário de Lisboa o sociólogo Gustavo Cardoso, coordenador do Medialab, descreve como "um site de propaganda", foi registado em novembro pela Entidade Reguladora para a Comunicação Social como "publicação periódica de informação geral".»
- A palavra «vigilância», que Fernanda Câncio não usa por acaso, tem uma objetiva conotação penal: sob vigilância estão arguidos, criminosos condenados, delinquentes ou facínoras. Vigilância é o que faz uma polícia política a pessoas insuspeitas de qualquer crime, exceto o de lesa-majestade - o que fez o SIED e SIS durante o socratismo, projeto político que a autora conheceu intimamente.
- Se o MediaLab do ISCTE, dirigido pelo sociólogo Gustavo Cardoso, «progressista», como se define na página da Wikipédia, ex-consultor do Presidente Jorge Sampaio e em 2018 candidato a reitor (!?...) do instituto universitário ISCTE, realmente pratica a vigilância de jornais, apesar de isso não constar do seu objeto nem do foco do projeto referido sobre as redes sociais (começado em março de 2019 e que terminou em 31-1-2020) e realizado «em colaboração e parceria com o Diário de Notícias», fá-lo-á ao arrepio da tradição universitária de liberdade de conhecimento e de pensamento, de expressão e de ação. E questiono-me se à margem da Constituição e das leis...
- Conta o Prof. Gustavo Cardoso, nessa atividade de «vigilância» do MediaLab, com a colaboração discreta (e não mencionada) do seu colega iscteano e spymaster do socratismo José Almeida Ribeiro? Se assim for, já se compreende melhor a «vigilância» que Fernanda Câncio refere ao dito laboratório.
- No artigo, Fernanda Câncio, diz que o Prof. Gustavo Cardoso é «taxativo» sobre o Notícias Viriato: «O site partilha uma visão ideológica que o afasta de poder ser um órgão de comunicação social tal como é entendido pela maioria dos profissionais jornalistas, académicos e público em geral». A forma como a frase está escrita a frase não permite perceber se Gustavo Cardoso disputa a visão ideológica assumida pelo Notícias Viriato, ou se contesta que um órgão de comunicação social tenha uma visão ideológica. Em qualquer das duas hipóteses: todos os órgãos de comunicação social têm uma determinada visão ideológica, e até política, subjacente, mesmo quando não a indicam, como é o caso da ideologia relativista do politicamente correto. A visão ideológica não prejudica a objetividade factual e não se opõe, em si, sequer ao «pluralismo», pois admite opiniões diversas. A declaração de princípios de um jornal constitui um sinal de transparência e de verdade. As presumidas visões neutras da história não passam de disfarces das convicções.
- Contudo, esta reportagem informativa de Fernanda Câncio está eivada de opinião da própria, apresentada como verdade absoluta (a categorização de «logro»), de generalizações («é uma preocupação cada vez maior nos últimos tempos, sendo vista como um perigo para a democracia) e até de incitação à censura («No combate ao fenómeno é suposto estarem, na primeira linha, as instituições que regulam os media, como a ERC»).
- Na justificação de fake news atribuída ao Notícias Viriato, Fernanda Câncio vale-se do fact checking (verificação de factos, e não de opinião) do MediaLab do ISCTE relativo a uma crítica cinematográfica de Nuno Capucha no jornal, de que não é quadro, sobre o filme «Assalto ao Santa Maria», na qual é referido Camilo Mortágua que, além do assalto ao paquete Santa Maria, participou na «operação de confisco» ao Banco de Portugal da Figueira da Foz, em 1967, e foi, em 1975, um dos líderes da ocupação da Quinta da Torre Bela.
- Fernanda Câncio alude ainda ao fact checking do Polígrafo e Observador sobre o Notícias Viriato. Sobre o fact-checking do Polígrafo relativo ao Notícias Viriato, veja-se:
https://www.noticiasviriato.
pt/post/os-donos-da-verdade- do-polígrafo-tentam-e-falham- difamar-o-notícias-viriato.
https://www.noticiasviriato.pt/post/polígrafo-fact- checking-ou-opinion-checking.
https://www.noticiasviriato.pt/post/verdade-vs-poligrafo- poligrafo-nega-exterminio-de- bebes-com-sindrome-de-down-na- islandia. Sobre o fact-checking do Observador ao Notícias Viriato, confira-se:https://www.noticiasviriato.
O relatório do MediaLab do ISCTE, de 16-1-2020, sobre o Notícias Viriato encontrou «315 publicações» escritas no jornal até 15-1-2020. E quando o Notícias Viriato, ou qualquer outro meio de comunicação, erra, deve corrigir, pedir desculpa e justificar-se. Como fez no caso dos autores da morte do estudante Luís Giovani. E como eu fiz no mesmo caso.pt/post/o-observador-difama-e- censura-o-noticias-viriato.
https://www.noticiasviriato.pt/post/verdades-vs- observador-ps-definiu- criterios-raciais-para- politicas-sociais-e-o- observador-defendeu.
https://www.noticiasviriato.pt/post/verdade-vs-observador- refutacao-do-fact-check- enganador-do-jornal-observador. - Jovens jornalistas, como o António Abreu e o António Santos, podem cometer erros e o neonato Notícias Viriato irá evoluir. É no esforço, na coragem e no risco da informação e da publicação de opiniões, que o trabalho melhora e o jornal se esmera. Esta coragem deveria ser apreciada em vez de punida por ser dissidente do mainstream politicamente correto.
- O Polígrafo é dirigido por Fernando Esteves, autor, em 2015, de «Cercado», um trabalho fascinado sobre a fase fatídica de José Sócrates, cujas imprecisões comentei em 23-5-2015 neste blogue, e que foi referido no processo Máfia do Sangue (i, de 13-11-2019), como tendo a empresa de que foi sócio até 2018, «Alter Ego (o mesmo nome de um blog da sua autoria)» prestado, ainda no tempo em que era jornalista da Sábado, serviço para «reabilitar» a imagem, e fazer «aconselhamento mediático de crise» (Sábado, 11-11-2019), dos marqueses Paulo Lalanda de Castro e Luís Cunha Ribeiro).
- Note-se que o Observador fez uma parceria de policiamento da informação e opinião, com a rede social Facebook em 25 de abril de 2019, tal como o Polígrafo, que produz o flagging e banimento de postes e fontes daquela rede social. Não se trata somente de fact checking, mas de colaboração no policiamento da informação e opinião, com censura dos postes e imagens colocados no Facebook. Ora, não parece que um jornal, como o ex-liberal e agora socialista Observador, ter uma «secção de combate às fake news» com este serviço de policiamento para o Facebook, seja conforme com os fins do jornalismo, a legislação e a Constituição.
- Independentemente da história dos personagens, o fact checking de cherry picking para classificar num grau de mentira toda uma notícia, ou até mesmo um jornal, é abusivo. Hoje, nem a ciência (a biologia, a física, as ciências sociais) resiste ao enviesamento do relativismo totalitário...
- Fernanda Câncio baseia-se ainda num relatório do MediaLab do ISCTE, de 16-1-2020, «"Notícias Viriato", Mamadou Ba e Luis Giovani: o triângulo da polémica nas redes sociais» que refere «grupos, páginas e até atores políticos associados com o populismo e a desinformação». Populismo e desinformação entram no mesmo saco do laboratório. E parecem coisa exclusiva da direita!...
- O dito relatório do MediaLab do ISCTE identifica o Notícias Viriato como de «pendor nacionalista», valendo-se do seguinte excerto da apresentação do jornal:
«projecto de informação e um espaço de comunicação que também assume claramente, sem tibiezas ou equívocos, como referências da sua acção e modelo de intervenção, a defesa e promoção clara dos Valores culturais ancestrais e contemporâneos comuns, genuinamente Portugueses, que nos definem como Povo e Estado Nação, Independentes e Soberanos, com uma Língua, uma História e um Património riquíssimo, singular e extraordinário».
Será, que para os vigilantes do MediaLab do ISCTE, a promoção dos «valores ancestrais e contemporâneos comuns, genuinamente Portugueses» caracterizam o jornal como nacionalista, classificação que costuma ser associada aos promotores de políticas identitárias, anti-emigrantes, de extrema-direita, fascistas, neonazis?!... É que, ironicamente, consta que o Notícias Viriato tem sido alvo de ameaças também desse setor!... - António Abreu cumpriu uma intimação da ERC, de agosto de 2020, para «regularizar a situação registral». Agora, é perseguido precisamente por ter correspondido a essa intimação da ERC!...
- A desclassificação do Notícias Viriato tem como alcance a proibição do jornal ser classificado como jornal e impedir a atribuição da carteira profissional de jornalista a António Abreu e parceiros. Uma situação de catch 22 para: prevenir outras tentativas de criação de órgãos de informação diversos do panorama marxista predominante nos média portugueses; e recusar a atribuição de novas carteiras de jornalista a quem não exercer a atividade nos média de confiança do poder esquerdista, e segundo a sua linha. Assim, jornal e jornalista será quem o poder quiser. Com a justificação de que não cumpre o estatuto ou as regras da profissão...
- Ora, «verificação, confronto de versões, ouvir as partes atendíveis, separar factos de opiniões e atribuir estas, não fazer acusações sem provas» é precisamente o que Fernanda Câncio não faz neste artigo...
- Muito menos, e ao contrário de António Abreu no Notícias Viriato, Fernanda Câncio obedece neste artigo aos deveres do jornalista, plasmados na lei n.º 1/99, de 13 de janeiro sobre o estatuto do jornalista, modificada pela lei n.º 64/2007, de 6 de novembro, que cita: «informar com rigor e isenção, rejeitando o sensacionalismo e demarcando claramente os factos da opinião», «abster-se de formular acusações sem provas e respeitar a presunção de inocência». E veremos se vai «proceder à retificação das incorreções ou imprecisões que lhes sejam imputáveis»...
- O artigo de Fernanda Câncio, o relatório do MediaLab do ISCTE (focado nos «movimentos populistas»), o simultâneo requerimento do Bloco de Esquerda para inquirir o Conselho Regulador da ERC no Parlamento, vão no mesmo sentido do trabalho da ERC «A desinformação - contexto europeu e nacional», de 4-4-2019, supervisionado por Mário Mesquita (o seu vice-presidente, socialista e apoiante de António Costa) que recomenda a sanção da «divulgação de notícias falsas e a a criação e divulgação de sites ou páginas comprovadamente de fake news». Constituem uma evidência intolerável da orquestrada perseguição da liberdade de informação e de opinião, decorrente da ideologia totalitária do politicamente correto.
- Tenho há muito a melhor impressão da seriedade da jornalista Leonete Botelho, presidente da Comissão da Carteira Profissional de Jornalista, entrevistada na reportagem de Fernanda Câncio, e espero que não se deixe arrastar nesta corrente censória e totalitária. Ainda que compreenda a defesa sindical da imprensa tradicional, tendo em conta o elevado desemprego dos jornalistas.
- Na análise do Notícias Viriato, e apesar da queixa sobre a falta de pluralismo, que manda ouvir as várias correntes políticas, Fernanda Câncio situa na extrema-direita o partido Portugal Pro-Vida/Cidadania e Democracia Cristã (fundado pelo mau malogrado Amigo Prof. Luís Botelho Ribeiro) e o padre Gonçalo Portocarrero de Almada, além do Prof. André Ventura. Então, agora, a democracia cristã, fundada na caritativa e não liberal doutrina social da Igreja, ideologicamente ao centro do espectro político, é atirada para a extrema-direita?!... Aliás, o movimento pró-vida também é assinalado em primeiro lugar nas temáticas identificadas no Notícias Viriato no relatório do MediaLab do ISCTE, além das questões da ideologia do género, do clima, da Igreja, e vegetarismo... Enfim, deve ser isso o «pendor nacionalista» e de extrema-direita...
- Se, em vez da perspetiva conservadora, o jornal Notícias Viriato procedesse da visão marxista - em qualquer das suas versões, leninista, trotskista ou socialista - seria difundido pelos média de confiança do poder socialista como um exemplo de genialidade, de ousadia, de serviço público. E o seu fundador e diretor António Abreu, seria comendado com prémios, parcerias, patrocínios e subsídios, e objeto de reportagens nos jornais e televisões sobre o novo jornal digital e o jovem prodígio de 20 anos que o edita.
- Porém, Fernanda Câncio identifica o nome completo do diretor do Notícias Viriato, António Abreu. Dir-se-á que o colheu do jornal, mas isso ainda justifica mais a transparência da publicação e o cumprimento rigoroso das normas da ERC. Em contraponto à habitual menção sintética do nome dos diretores, editores e jornalistas, dos média.
- Não satisfeita, Fernanda Câncio publica a morada (com foto) indicada no registo da publicação, feito meses atrás, no nome individual de António Abreu. Uma casa arrendada onde a sua família vivia até há poucas semanas (segundo me contou António Abreu). Mas Fernanda Câncio titula que «a morada do site é apartamento vazio», coloca a foto do prédio e o linque do anúncio do apartamento entretanto posto à venda, descrição e fotos do interior da casa, cujo proprietário, de acordo com as regras deontológicas, que a jornalista apregoa, também tem direito a uma privacidade e reserva da intimidade que a jornalista não respeitou. Vai pedir desculpa? E o que pretende significar: que a morada era falsa, a publicação uma fachada e o diretor um vigarista, a soldo de próceres extremistas?!...
- Além disso, como o jornal está registado no nome do diretor António Abreu, e não de uma empresa com contabilidade organizada, Fernanda Câncio conclui que «no caso não há pois transparência»!... Não é o jovem António Abreu livre de ter o jornal em seu nome individual em vez de uma empresa?... Onde está a conspiração? Não é muito mais transparente do que a efetiva propriedade, beneficial owners e constelação de negócios, do angolano-chinês Global Media Group, detentor do Diário de Notícias, que emprega Fernanda Câncio, e cuja composição formal nem sequer estará atualizada?... Quanto mais após a queda recente do poder político e financeiro da família dos Santos...
É ingénuo pensar que o totalitarismo politicamente correto não aciona a polícia de pensamento e da expressão. O totalitarismo politicamente correto é uma mutação orgânica do marxismo-leninismo, gramscizado para o relativismo de costumes, o eugenismo antropobiológico e a política identitária promotora do racismo e da xenofobia. Em vez dos «famélicos da terra» contra os capitalistas: negros contra brancos; islâmicos contra cristãos. Outras classes, a mesma treta. É o totalitarismo politicamente correto que os média de perspetiva marxista veiculam e impõem, como correias de transmissão do poder político, irmanados numa ditadura pretensamente suave. Porque querem impor a unanimidade e voz única, mesmo que aparentemente polifónica, quem pensa diferente, fala diferente, escreve diferente, expressa-se diferente, tem de ser perseguido, silenciado, banido e justiciado. De outro modo, o povo descobre os novos reis nus, balofos de nescidade, nédios de brilho untuoso, atabafados nas papadas burguesas, repletos de refegas gordurosas e inchados de fartura.
Esta atitude totalitária, encontra espaço na empobrecida classe do jornalismo, especialmente dos obsoletos jornais impressos, e versão digital, com pesada carga de pessoal, custos rígidos e receitas residuais, que tentam resistir à mudança do paradigma da imprensa oitocentista para um modelo de informação gratuita e baseado nos novos média. O mundo pula e avança, mas quem há quem nos queira amarrar.
Ficaremos todos atentos aos próximos capítulos desta novela lápis-lazuli fosco de censura e perseguição da liberdade de informação e de opinião.
Limitação de responsabilidade (disclaimer): As entidades mencionadas nas notícias dos média, que comento, não são suspeitas ou arguidas de qualquer ilegalidade ou irregularidade, neste caso. E quando arguidas gozam do direito constitucional á presunção de inocência até ao trânsito em julgado de eventual sentença condenatória.
Ortografia do idioma portugues adulterada, inglesismos idiotas, anti-marxismo bacoco, análises temáticas contraditórias.... enfim uma merda.
ResponderEliminarconstrua-se um cordão sanitário á volta de fernanda cancio.
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