quinta-feira, 13 de abril de 2017

A Geração Florzinhas de Estufa


«You are not special. You are not a beautiful and unique snowflake.» 



Por interesse cultural e ofício de professor, tenho refletido muito sobre marketing geracional, isto é, o estudo dos valores e comportamentos próprios de cada geração, e pedagogia consequente com essa distinção. A ideia de geração é de cada coorte é marcada por acontecimentos que se derem na adolescência e juventude e que os marcam para o resto da vida, gerando uma atitude própria que tende a manter-se independentemente da idade.

O caso dos distúrbios de Torremolino pelos jovens do ensino secundário em viagem de finalistas nas férias da Páscoas, referido nesta excelente crónica do Prof. Pedro Afonso, no Observador, de 12-4-2017, justifica uma reflexão profunda por parte de pais, educadores e Estado. Não é apenas o excesso do rito de passagem - que as viagens de finalistas são - que preocupa. Mas a relação dos jovens com os pais, os educadores, as instituições e o Estado.

Creio que a melhor designação da geração nascida em 1995 e depois (e que tem agora 22 anos ou menos) é a de Geração Florzinhas de Estufa. Há um excesso de preocupação com o seu bem estar emocional pelos pais e educadores. Criam e mantém os jovens em estufas de auto-estima, como florzinhas delicadas em ambiente, umas "safe zones" que só permitem medrar em condições ótimas de pressão e temperatura. O resultado é uma geração impreparada para enfrentar a dureza e impiedade da vida.

Este nome de Florzinhas de Estufa, que proponho, parece assentar melhor do que Flocos de Neve (Snowflakes), que se vai consolidando nos EUA, sobre outros nomes equívocos: Nativos Digitais, Geração da Net (Net Gen), Geração Tecnológica (Gen Tech), iGeração (iGeneration), Geração das Consolas (Gen Wii), Plurais, e até Geração Z. As fontes de informação são abundantes e não existe um consenso sobre quando começa e quando acaba cada geração. Todavia, pode arriscar-se uma divisão adequada à circunstância portuguesa e europeia: Geração dos Maduros ou Tradicionalistas (1930-1945); Geração do Pós-Guerra ou baby-boomers (1946-1963); Geração X (1964-1977); Geração Y dos Milenários-Millennials (1978-1994) e Geração Z (1995-?).

Entre outros, têm sido referidos vários factos identitários desta geração:
  1. emocionalmente muito frágeis, sentimentais e facilmente deprimidos;
  2. individualistas;
  3. empreendedores;
  4. desfocados;
  5. multi-tarefas;
  6. ambiciosos;
  7. ousados;
  8. competitivos;
  9. procuram o grátis e custos baixos;
  10. começam mais cedo a trabalhar e conciliam estudos com o trabalho (arrastando a conclusão dos cursos...);
  11. menos consumidores de drogas e álcool do que a geração anterior, mas maior excesso dos consumidores;
  12. espontâneos e instantâneos;
  13. fiéis a marcas;
  14. estilosos;
  15. globalistas;
  16. viciados em jogos digitais;
  17. permanentemente em linha;
  18. inocentes;
  19. gostam mais de videos, fotos e memes, do que postes e textos;
  20. música, música, música;
  21. direto e imediato, em vez de editado ou passado;
  22. mais Instagram, Whatsapp e Snapchat, do que Facebook ou Blogger;
  23. horror a atividades «chatas»;
  24. hoje!, hoje!, hoje!;
  25. prazer, e não frugalidade nem temperança;
  26. menos trabalhadores;
  27. procastinadores;
  28. zelosos com o seu tempo, que querem dedicados a atividades que lhes tragam prazer;
  29. maior interação virtual, consumo de serviços e experiências; do que comunicação face-a-face e acumulação de produtos (coisas).
  30. mais utilizadores do que possuidores, mais renda e aluguer do que compra;
  31. informais;
  32. privados na informação pessoal;
  33. ausentes dos meios coxos não interativos (televisão, rádio, 
  34. rústicos nas roupas e adereços, nas mobílias e espaços (hostels em vez de hotéis, Primark em vez de Zara, Lx Factory em vez de centros comerciais luxuosos);
  35. adoram viajar e aventuras de novas atividades e lugares;
  36. desprezam a política;
  37. desligados das instituições tradicionais;
  38. sozinhos, auto-educados por permissividade ou ausência dos país;
  39. menos relativistas do que os antecessores, ainda perdidos, mas à procura de direção e valores.
  40. embriões do pós-relativismo.
Este catálogo de atributos, que arrisco, são paradoxais, mas expressam a contradição a que esta nova geração está sujeita. Vivemos tempos de fim de uma era relativista, totalitária, ainda sujeitos à ditadura do politicamente correto que está em estertor e por isso é mais violenta. A fragilidade dos nossos jovens é o resultado da educação «politicamente correta».

Há sinais preocupantes de falta de preparação desta geração. Mas a comodidade será infelizmente resolvida pela guerra que vivemos e que as eliters desprezam. Até que a guerra híbrida das ruas, ainda morna, aqueça, será útil que o ambiente mediático relativista, os pais e os educadores e as autoridades (nomeadamente, nas regras de consumo de álcool e drogas!) não podem deixar de ser... pais e educadores e autoridades! Nem os jovens desprezarem a sua responsabilidade. Contudo, nesta nova geração, o saldo de qualidades sobre defeitos é positivo, principalmente para a construção de uma nova era pós-relativista.


Atualização: este poste foi atualizado às 11:52 de 16-4-2017 e às 9:52 de 17-4-2017.

6 comentários:

  1. Penso que a geração dos progenitores que vem mergulhando há algumas décadas na filosofia dominante do agora,do consumo e do neoliberalismo,aliada a um sistema educativo obsoleto e criador de utilidades para o sistema produtivo têm muita responsabilidade. O que enumera é muito interessante para uma analise segmentada e concordo com o seu optimismo final.

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  2. o caldeira merda tem isto para apresentar:

    http://www.ipsantarem.pt/wp-content/uploads/2014/02/Comunicacao-no-Worshop-sobre-Plano-de-Marketing.pdf

    isto é que é obra caralho!

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  3. Isto são gerações de espermatozóides perdidos ou mal encaminhados.
    Provavelmente entraram pelo buraco errado e só dão mrd.
    Como dizia a outra que até ascendeu a ministra destes deseducados:
    ... É uma festa!!!!

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  4. Parabéns pelo estudo apresentado. Tenho 65 anos e nunca tinha lido um estudo tão completo sobre esta geração.

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  5. Porquê que o senhor não se limita apenas àquilo que sabe ou àquilo que, mesmo não sabendo, consegue fazer bem?

    Porquê que, notando os paradoxos que lá estão, não pensa um pouco sobre eles?

    Faz uma figura tão triste, de vez em quando...

    Luís Pacheco

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  6. João Marques Figueiredo4 de outubro de 2017 às 09:48

    Obrigado Prof. Caldeira, pela reflexão.
    Há muito que venho observando estas mudanças na camada mais jovem.
    Algumas, óbvias de tão marcantes, urras bem mais subtis.
    Sinais do tempo, a evolução continua.

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